Estamos Distantes escrita por Anny Andrade


Capítulo 1
Capítulo Único




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Nós estamos distantes.

Sinceramente eu não entendo o motivo. Sei que sou um pouco maluca, e um bocadinho cabeça dura. Sei também que não sei demonstrar muito bem o que sinto, e que na maioria das vezes pareço um robô quando se trata de gostar de alguém. Porém, apesar de ser tudo isso, eu também sempre tentei me manter por perto. Sempre tentei ser um pouco melhor.

E agora, nós estamos tão distantes.

Eu sinto falta do seu jeito reservado com a maioria das pessoas, mas que falava tanto comigo que eu somente ficava escutando. Escutando histórias que eu já conhecia, mas que não me importava de escutar de novo. Sinto falta do beijo na bochecha, provavelmente é do que mais sinto falta, do beijo na bochecha.

Agora ele está sentado na mesa da Corvinal. E eu estou aqui na Lufa-Lufa. E não conversamos sobre como finalmente estamos quase acabando a escola, como só faltam três anos, como já estamos cansados e precisamos de algo mais. Estamos apenas sentados, de costas, e eu esperando o momento em que ele irá levantar e vir até minha mesa.

            — Lily, será que você pode parecer menos animada? – Essa poderia ser a voz da minha consciência, mas é só minha colega Britty.

            — Eu estou animada... – Respondo. Na verdade não sei sobre o que ela estava falando, estava muito ocupada odiando o idiota da outra mesa.

            — O que eu acabei de dizer? – Britty me questiona.

            — Desculpa, eu só... Pode repetir... – Eu tento voltar minha atenção para a morena em minha frente.

            — Eu estava dizendo que vai ser ótimo uma festinha para o retorno das aulas. – Britty sorri. – Quem sabe eu consigo fazer você me contar quem é o motivo da sua abnegação.

            — Com certeza os monitores vão descobrir isso, acho melhor nem ir. – Estou sendo sensata, quando Rose descobrir vai acabar com toda a festa.

            — Dessa vez não. Eles estão de acordo. E você vai comigo!

            Eu gosto muito da Britanny, e eu na maioria das vezes sou tão animada quanto ela. A Lily Luna Potter é uma pessoa animada, que abraça as outras pessoas, que sorri o tempo todo, e que provavelmente ajudaria a organizar a festa. Essa é a Lily. Mas ultimamente não estou me sentindo muito eu mesmo. É como se outra Lily precisasse sair para respirar e guardasse a animada dentro de uma gaveta, prometendo resgatá-la assim que possível.

            — Tudo bem Britty, você me espera nas poltronas. – Estou me esforçando para parecer muito com a outra Lily, aquela que sufoquei dentro da gaveta.

            — Melhor Amiga do Mundo! – Britty me abraça e beija na bochecha.

            Eu costumava fazer isso o tempo todo. Abraçar. Beijar. Entrelaçar os braços. Ser sorridente e feliz. Ultimamente estou cansada demais para tudo isso, e estou distante demais para me preocupar com isso.

            Por um segundo enquanto me levanto e nossos olhares se encontram sinto que a Lily da gaveta consegue colocar alguns dedinhos para fora. Quando ele vira-se para a direção contraria, fecho a gaveta por completo e jogo a chave fora.

            Queria que as pessoas entendessem que isso tudo não me transforma em uma garota frágil, que vive para agradar o idiota da Corvinal, ou que eu preciso de um garoto para sobreviver, e para ser feliz. É só que eu não consigo entender como que nos afastamos tanto. Sem bom dia, sem abraços, sem conversas longas no corredor, sem beijos na bochechas. E isso que me incomoda. Isso que me prende em gavetas.

            — Lily, você ainda está nessa? – Escuto a voz de um dos meus irmãos.

            — Nessa? – questiono.

            — Nessa coisa de não se arrumar, de viver pelos cantos com folhas de papel e penas, você está parecendo a Rose. – Alvo anda ao meu lado. – Eu amo a Rose, mas uma já é suficiente.

            — Não estou igual a Rose. Só não estou tão animada.

            — Eu sei. – ele sussurra. – E esse é o problema, estou começando a ficar preocupado e acho que vou precisar avisar a mamãe...

            — Alvo, não precisa se preocupar comigo! – Falo o mais irritada o possível. – Está tudo bem.

            — Não, não está. – Ele teima. Nós teimamos. Somos todos teimosos.

            — Por favor... Eu... Só... – Tento explicar que está tudo bem, e que eu não preciso de ajuda, mas acabo chorando.

            — Eu disse que não está tudo bem. – Alvo me abraça escondendo minhas lágrimas. – Você está sempre triste, o que aconteceu com minha irmã irritantemente feliz?

            Nos sentamos em um dos degraus das muitas escadas que temos em Hogwarts. E eu continuo chorando. Chorando até meu nariz escorrer e a cabeça doer. Porque eu realmente precisava chorar. Estava a quase dois anos segurando as lágrimas.

            — Eu estou com tanta raiva! – digo enquanto as lágrimas continuam a escorrer. – Tanta raiva. E eu queria gritar muito, e queria também bater nele, bater principalmente na boca até que ele sangrasse muito. E eu queria não me importar, não pensar, e não ficar questionando o que eu fiz de errado para ele se afastar.

            — Você sabe que não pode bater no nosso primo né? – Alvo pergunta assustado.

            — É claro que eu sei! Mas eu queria. – Grito em resposta. – Eu não sei o que fiz para ele se afastar de mim. O Hugo simplesmente sumiu. Evaporou. Me deixou sem explicações. E eu odeio isso. Eu odeio não saber os motivos das coisas. Eu preciso saber dos motivos. E eu preciso que as pessoas permaneçam.

            Finalmente as lágrimas param de cair me deixando com um nariz entupido e dificuldade de respiração.

            — Talvez ele precisasse se afastar. – Alvo responde sendo o irmão sensato que me deixa com mais raiva.

            — Por quê?

            — Porque ele não consegue agüentar. – Alvo diz. – Algumas pessoas não são fortes o suficiente para agüentar a pressão. Lily, ele não consegue agüentar os olhares, as risadas, as pessoas apontando, ele não é forte o suficiente para sentir o que sente.

            — Eu não preciso que ele seja um namorado. – suspiro cansada. – eu preciso que ele seja meu amigo.

            — Talvez ele precise que você seja a namorada, mas não tenha capacidade de agüentar as conseqüências e por isso não saiba lidar com a amizade. – Meu irmão me abraça.

            — Ele não deveria ser tão fraco. – resmungo.

            — Nem você... – Ele me amassa. – Seja tão forte quanto sabemos que você é.

            — Um dia o Hugo vai voltar a falar comigo e me beijar na bochecha? – Questiono.

            — Um dia você não vai mais se importar com um beijo na bochecha, talvez nesse dia ele seja forte o bastante para agüentar as conseqüências. – Meu irmão quase nunca é tão direto, mas nesse momento ele é.

            — Tomara, porque eu não quero me importar. – respondo finalmente me afastando e ajeitando a roupa.

            — Pode começar indo na festa, e... – Ele sorri muito animado.

            — E o que? – Eu sabia que ele não estava sendo o irmão do ano atoa.

            — E me apresentar aquela sua amiga animada que vive sorrindo pelo corredor. – Alvo fica tão vermelho quanto meus cabelos.

            — Você sabe que a Britty tem a minha idade né? – Fico encarando-o. – E que se sair com ela estou automaticamente autorizada a sair com seus amigos.

            — O que? – Ele quase grita, mas já estou andando para longe de suas palavras.

            Escuto seus passos apressados.

            — Lily, você estava tão triste e agora quer sair com meus amigos? Por quê? – Meu irmão quase chora.

      — Me disseram para não me importar. – Sorriu. – Alvo, estou brincando... Britty vai me encontrar nas poltronas, chegue antes de mim...

        Pisco para ele, e saiu andando.

        Eu ainda me importo. Eu ainda tenho a gaveta dentro de mim. Deixei a Lily alegre sair, a deixei respirar, mas ainda me importo. Mesmo que ele seja covarde demais para se importar.

            Vou me recuperar.  


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e que deixem reviews...
Beijinhos...



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