Observe uma fileira de crianças, ajoelhadas, amordaçadas, mãos atadas e sonhos fundindo-se a parede da construção. Expressões de terror e medo, quase que patológicos. Quando perscruta as mesmas com as gargantas cortadas e uma balbúrdia sonora que só demonstra o vazio humano ante o que pensa ser certo, percebe-se que os homens transpuseram a sua guerra aos olhos que denotam apenas cegueira.

Para combater a escuridão que apodera-se dos nossos corações, que transforma o mais pungente corpo num amontoado de ossos frágeis, é necessário misturar-se e paulatinamente, tornamo-nos o próprio escuro, agentes diluídos. Não condene se nalgum momento abrirem a minha cabeça e morcegos enfermos voarem altivos num purgatório baixo de corpos prestes a morrer, é a minha última tentativa de fazer justiça.

Pouco a pouco entramos num ponto sem volta, quem define o que é justo ou injusto? O que me diz que paga-se um crime com grades? Se perpetuamente o pensamento do estupro, do homicídio, volta a atormentar a mera sanidade de uma mente doente? Não que eu não acredite em segundas chances, pois quando não fui morto num beco, reconstruí meu emocional com esparadrapos e adegas, e tomei a segunda chance como uma vingança eterna.

Sempre olhei para o abismo, e o condão que me tirava dele sempre era a ideia de estar lutando por algo, mas como se reage com essa inversão de valores? Em que heróis são perfeitos (inexistentes)?

Meu melhor remédio contra os pesadelos continua sendo socar uma face até que metade dela esteja incrustrada no meu punho. Sou autodestrutivo e melancólico, pouco a pouco não existe mais Bruce. Não é mais pelo hipotético bem que faço valer o sangue, é na verdade uma terapia para que eu não termine com uma corda no pescoço, ou um tiro sem máscara.

Luto para eu não me torne um “Coringa da vida”, o resto é consequência.

Nesse traço de papel, são apenas palavras jogadas numa noite tempestuosa... A chuva nunca me impediu de sair, mas talvez essa carta seja para notificar que se eu não voltar vivo, corrija essa sentença, pois eu já estou morto há muito tempo.

O negro por fora é só para definir como eu me sinto por dentro.

FIM

01/06/2016