Amarras do Passado escrita por Gustave Tremblay


Capítulo 1
Salve-me


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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— Você sabe que uma hora terá que visita-los, certo?

— Sim, eu sei.

— Mas você vai?

— Não sei.

Os cabelos dos dois voavam com o vento, a varanda era totalmente aberta e mostrava a cidade grande, reluzente, com seus grandes prédios. Os cabelos loiros da mulher estavam amarrados em um rabo de cavalo, enquanto os do menino permaneciam soltos.

— Augusto, eles não te odeiam como você pensa.

— Mel, não quero falar sobre isso, por favor.

Melanie se levantou da cadeira e se dirigiu até a cozinha, o menino a seguiu. O apartamento em que os dois moravam era grande. Totalmente Branco repleto de grandes janelas de vidro que deixavam o ambiente bem iluminado. A cozinha era simples, não muito grande e possuía os moveis necessários para toda cozinha. Mel abriu a geladeira e ficou encarando os alimentos por um tempo, até tirar um pequeno pote de iogurte.

— Você come muito isso – Falou Augusto enquanto enchia um copo com água

— O que eu posso fazer? Iogurte é extremamente bom – Revidou Melanie.

— Vai sair hoje a noite com o Felipe?

— Ele vai me levar a um restaurante francês - Melanie falou enquanto pegava uma colher para comer seu iogurte.

— Seu namorado é rico, não sei como ele se apaixonou por você.

Mel ao ouvir isso arremessou uma colher na cabeça de Augusto, o menino riu e saiu da cozinha, indo para seu quarto. Um ambiente que cheirava a incenso, lá havia uma cama de casal, um grande guarda roupa, uma cômoda, que ficava um pouco a frente da cama, onde estava a TV de 35 polegadas. Ao lado da cama, estava um criado mudo, onde havia um incenso queimando, algumas pedras e dois porta-retratos. Augusto se deitou na cama e permaneceu olhando para o teto. Depois de um tempo, o menino se sentou na cama e olhou para seu criado mudo, em um dos porta-retratos estava uma foto dele e de seu namorado, Augusto pegou o objeto e ficou olhando para a foto, os dois estavam abraçados, na época estavam no Rio Grande do Sul, os dois se vestiam com suéters, calças jeans, botas de couro, cachecóis e toucas. Estava nevando, e as arvores estavam cobertas por neve. Ele lembrava-se do dia em que seu namorado apareceu no apartamento com um grande buquê de rosas e as passagens em suas mãos. Lembrava-se da pequena cabana, alugada, em que os dois ficaram. Era perto de um rio, e ao lado de uma floresta, Augusto nunca tinha visto um lugar tão lindo. Lembrava-se também da noite de amor que os dois tiveram, e da aliança de prata que ganhou. Nem fazia tanto tempo, dois anos não era tanto. Mesmo com todo esse tempo os dois ainda se amavam muito. Augusto colocou o porta-retrato no lugar e encarou o outro. Esse continha a foto de seus pais, seus amados pais que ele não via a tanto tempo, nem era tanto tempo na verdade, cinco anos não era tanto. Depois de um tempo não resistiu ao peso de olhos e foi se deitar.

—x-

Estavam os dois na casa de Melanie, a menina com 16 anos possuía um cabelo loiro escuro, uma face branca cheia de espinhas ,  olhos castanhos, cobertos por óculos, e um corpo nem tão magro, nem tão gordo. Ao seu lado estava um garoto gordinho, com o rosto cheio de espinhas e os cabelos pretos, também de 16 anos, mas com a cara de 13, os olhos eram tão negros quanto os cabelos.

—  Esse lugar me sufoca muito – Falou Melanie com uma cara triste.

— Também me sufoca, principalmente os segredos, as mentiras, cansei delas –Retrucou o menino gordinho.

— Augusto prometa que vamos embora daqui, que vamos deixar todos para trás, todos esses problemas.

— Eu prometo – Falou Augusto.

 Melanie no mesmo momento abraçou seu amigo, lagrimas começaram a descer de seus olhos.

— Nunca se esqueça da sua promessa.

 

—x-

Augusto acordou suado, tinha sonhado com sua infância novamente, aquele terrível período de sua vida, o menino se levantou e foi para o banheiro, lá tirou suas roupas para tomar um banho, antes de entrar no chuveiro encarou-se no espelho, seus cabelos agora eram avermelhados, a mesma tinta que sua avó usava no cabelo, seu corpo agora era magro, começava a mostrar sinais de músculos, mas não eram tão evidentes assim, em seu rosto não havia sinais de nenhuma espinha ou cravo como antes,  Augusto colocou a mão em sua barriga, no mesmo momento todas as lembranças vieram, lembranças de sua adolescência, quando ele ficava horas em seu quarto trancado, chorando por não ser bonito, por não ser magro, ou mesmo quando ele fazia dietas absurdas para perder a barriga, ou até quando fazia coisas mais absurdas, bem mais absurdas. Afastou as lembranças, elas não lhe faziam bem. Entrou no chuveiro, e lá ficou por alguns minutos. Depois de se vestir, Augusto foi até a sala procurando por sua amiga, lá havia um pequeno bilhete escrito com a letra de Melanie.

Sai com Felipe, não quis te acordar, deixei um pouco de comida na geladeira se quiser, beijos Mel”

 

Augusto sentou-se no sofá e pegou seu celular, foi na discagem rápida e achou o número de seu namorado, o telefone tocou cinco vezes antes que Frederic atendesse.

— Oi amor

— Frederic, onde você ta meu príncipe?

— No momento estou indo para o tribunal, a professora quer que os alunos vejam como ela é genial em ação.

— Ah sim, então depois eu ligo. – Falou Augusto

— O que você queria? – Perguntou Frederic

— Só queria conversar.

— Podemos nos falar por telefone enquanto eu não chego – Sugeriu o namorado de Augusto.

— O que você acha de nos dois irmos visitar meus pais? – Perguntou Augusto

— Visitar seus pais? – Questionou Frederic – Pensei que... eles não gostavam...

— Talvez eu tenha exagerado um pouco, vamos nesse fim de semana?

— Claro que sim, vou preparar minhas coisas quando chegar em casa – Falou Frederic

— Obrigado amor, Tchau.

— Tchau, até.

—x-

 

— Finalmente chegou o dia – Falou Melanie, enquanto ajudava seu amigo a levar as malas para a sala.

— Não estou tão animado como você, na verdade estou nervoso – Retrucou Augusto.

— Deveria estar, você não vê eles a cinco anos.

— E uma das ultimas vezes que os vi estavam gritando que eu era nojento e que iria para o inferno – Afirmou Augusto, tentando afastar ao máximo suas lembranças.

— Seu pai que estava gritando isso, mas depois ele até que aceitou.

— Mas minha mãe estava chorando sem fazer nada, e sua definição de aceitou é um pouco estranha Mel – Enquanto Augusto falava a campainha tocou.

— Deve ser o Frederic – Falou Mel, já carregando as malas para a porta.

Augusto lembrava-se bem de seus pais, e do dia que contou para eles que gostava de beijar garotos, lembrava-se de seu pai quase o batendo e de sua mãe que não parava de chorar, lembrava-se de seu pai o expulsando de casa, e lembrava-se principalmente de quando foi se despedir de sua família, na época que estava se mudando para São Paulo, seus pais mal olharam em sua cara, simplesmente disseram para ele se cuidar.  Mas Augusto tentava afastar essas lembranças, essas malditas lembranças que nunca iam embora.

 


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler.



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