Hermione Granger nunca foi o maior ou melhor exemplo de independência. Continuava a ser levada para os lugares pelos pais e tinha hora para voltar. Não tinha um emprego, como quase todas suas amigas, porque seu pai recebia o bastante para sustentá-la. Namorava há três anos com seu vizinho por comodidade, era muito mais simples ficar junto do cara da casa ao lado do que com qualquer outro.

Contudo, uma coisa era certa em sua vida por uma escolha própria: sua faculdade. Hermione sonhava em ser engenheira desde que, aos seis anos, vira um dos maiores prédios de seu bairro ser erguido sob as ordens de um só homem. Ela até perguntou o nome dele, mas não se lembrava mais. O que ficou em sua memória foi a grandiosidade da engenharia à qual foi apresentada naquele dia.

E era o primeiro dia do seu terceiro semestre. Em alguns anos, teria seu diploma e estaria construindo prédios. Hermione sempre ficava animada com os inícios das aulas, a expectativa em saber quais novas coisas iria aprender e quais novos professores teria a deixavam acordada durante toda a noite anterior.

Mas, aquela era a primeira vez que isso não acontecia. Ela não estava em êxtase, pelo contrário, estava com sono e desejava ter ficado em casa dormindo. Era um dos maus pressentimentos que sua mãe dizia que a filha tinha. Desde a hora em que acordou, nenhuma coisa realmente boa acontecera.

A pior de todas talvez tenha sido a discussão entre Hermione e seus pais. Ela se recusou, pela primeira vez em anos, a ser levada para faculdade, e eles insistiram no contrário. Resultou em três pessoas insatisfeitas e nela indo a pé. Ao menos, teve a chance de apreciar a paisagem com mais calma.

Seu destino começava a se impor no horizonte. Cada passo a mais era um passo a menos até chegar lá. Faltavam dois quarteirões, não era tão longe, a experiência de ir sozinha não foi tão ruim afinal de contas. Hermione sorria com seu primeiro ato verdadeiramente independente.

Estava feliz por ter conseguido sem se perder, como seu pai disse que faria, até sentir seu corpo ser puxado para trás, para fora de seu caminho. Ela tentou gritar, mas teve a boca tapada por um pano com algum produto forte. O cheiro era inebriante.

Seus sentidos falharam um a um. Primeiro, já não era capaz de ouvir nada ao seu redor, nem mesmo as próprias negações e pedidos de socorro. Depois, sua voz ficou em silêncio e apenas seus braços funcionavam em uma tentativa falha de se soltar ou atingir de qualquer forma quem a segurava.

Por fim, sua visão tornou-se escuridão total e absoluta. Hermione não ouvia nem via e nem sentia mais nada. Estava totalmente vulnerável e indefesa.

Exatamente como ele queria que ela estivesse.