Eternidade escrita por Vulpe


Capítulo 1
solidão


Notas iniciais do capítulo

depois que eu assisti pela segunda vez, o único jeito de superar era escrevendo. mas não posso garantir que não aumente os feels alheios.
boa tristeza, quer dizer, leitura.



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Twelve não se sente mal com tanta frequência quanto Nine.

É claro, ele tem seus momentos, dias em que não consegue sair da cama porque suas pernas esqueceram como se manda impulsos para o cérebro e dias em que poderia levar um tiro e não sentir nenhuma diferença. Mas são eventos espaçados, inusuais. As dores de cabeça de Nine não são assim. Elas o acometem várias vezes por semana, fazem com que se encolha no canto do sofá e vomite o que comeu.

Twelve não sabe o porquê disso. Nine chegou algum tempo antes dele na Instituição, mas não tanto assim. Só dois números os separam. Passaram pelos mesmos testes e processos, pelo que Twelve sabe. Então por quê? Por que Nine parece estar definhando enquanto ele corre e pula e anda de moto?

O que ele vai fazer se Nine morrer primeiro?

O tempo dos dois está contado e Twelve sempre soube disso. Ele viu outras crianças sendo levadas para nunca mais voltar. Viu o sangue escorrendo dos olhos e das orelhas de Two durante uma refeição. Ainda tem pesadelos com isso às vezes. Ultimamente, o rosto de Nine substitui o de Two.

Twelve nunca havia cogitado a possibilidade de ficar sozinho. Não se lembra de um tempo no qual esteve sozinho. Antes da Instituição não existe na sua memória; durante a Instituição, era cercado de crianças silenciosas e adultos frios; depois, Nine. Twelve não sabe o que é solidão. Ele tem medo de descobrir.

Mishima Lisa também vive com pessoas à sua volta, mas o seu mundo é solitário. Twelve percebe assim que a vê na piscina. As outras garotas riem e falam com ela, e ela escuta e aperta os lábios, mas não está ali. Está em um plano separado, onde as únicas coisas existentes são ela e o vazio.

Twelve não entende como isso é possível. Não sabe como ela sobrevive. Ele não aguenta a visão do que pode se tornar. Ele pula na piscina.

Não sabe por que toma interesse por Lisa. Não sabe por que a traz para casa. É por ela? É por si próprio? É por Nine? Quem ele quer impedir que fique sozinho, qual dos três? Os três?

Eles são três agora. Nine perde a paciência com mais frequência e fala alto e reclama. Enquanto as crises não atacam, Twelve sente que ele está mais vivo do que jamais foi.

Quando as crises vêm, são mais fortes do que nunca. Twelve tenta não pensar nisso.

Está contente. É divertido provocar Lisa. É engraçado vê-la nervosa. É bom vê-la sorrindo e passando da sua dimensão paralela e sombria para a deles. Faz com que ele sinta que fez algo certo. Que talvez não seja egoísta como acha que é.

Ele é egoísta quando Lisa vai embora. Não quer que ela vá. Não tem certeza do plano. Só sente medo, tanto medo. Não sabe ficar sozinho. Antes, estar completo era estar com Nine. Agora, estar completo demanda Nine e Lisa, e se ela desaparecer ele nunca mais vai ficar inteiro.

Corre para uma metade, mas deixa outra para trás. É uma escolha impossível. Depois que as bombas são desativadas, depois que os segredos caem da sua boca, ele sente uma das suas próprias crises chegando.

Uma daquelas nas quais sentimentos bons deixam de existir.

A crise passa. Lisa fica ao lado dele o tempo todo. E, como não podia deixar de ser, assim que sua cabeça volta para o lugar, Twelve volta para onde pertence. Pertencem, ele e Lisa. Para Nine.

Twelve nunca teve um dia perfeito, mas acha que está tendo um agora.

Nine sorri, e Lisa também. A missão está completa. Eles podem brincar e correr, não existe dia seguinte. Só existe a eternidade e o sol e Twelve não tem preocupações. Talvez seja assim que outros adolescentes se sentem. Talvez seja assim que ele poderia ter se sentido a vida inteira. Talvez ele seja eterno.

Mas não é ele que importa, nunca foi. Naquele momento, naquele lugar, Nine e sua música são eternos. Lisa e sua camiseta amarela são eternas. Solidão não existe e nunca existirá.

(solidão não existe e nunca existirá, porque é Twelve que morre primeiro. e se ele tivesse tido tempo para um último pensamento, teria sorrido.)


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Notas finais do capítulo

eu peço desculpas, mas eu não me arrependo



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