Em minhas viagens com Elidas já tinha enfrentado um gigante, mas eles eram pacíficos geralmente e não eram muito bons de luta também. Logo, aquele fora meu maior desafio na vida. Até aquele momento é claro.

Quando abri os olhos novamente, a chuva caia sobre o vilarejo, o monstro estirado no chão próximo ao riacho assustava a todas as pessoas que passavam por ali:

—O que aconteceu? -- Perguntei a Elidas que estava sentado perto de mim

— Enquanto ele se preocupava com você, eu aproveitei e o ataquei de surpresa na ferida do abdômen. Era óbvio que ele era vulnerável ali – respondeu Elidas com um quê de decepção.

— Parece que eu ainda tenho muito que aprender. Afinal, o que era isso?

—Eu não sei, de qualquer forma, isso já foi levado ao rei. Um grupo partiu há algumas horas para informa-lo

—Logo precisamos ir também não é?

Elidas respirou fundo e balançou a cabeça negativamente para mim. Esqueci-me de mencionar, mas aquele seria um dia muito importante. Um torneio de luta estava pra começar em Camelot para comemorar o aniversário de dezesseis anos da princesa Urtha Pendragon. O prêmio ao vencedor seria a honra de viajar com os cavaleiros de Camelot por um mês inteiro. Todos que viviam nos arredores poderiam participar e eu, é claro, estava ansioso. Os cavaleiros de Camelot eram os mais respeitados de todos os reinos por sua excelência em batalha.

—O que? Por que não? – Perguntei a Elidas

—Tenho que ajudar a manter a ordem por aqui Emrys. As pessoas estão com medo.

—Mas eu não posso desistir Elidas! Você não pode me impedir de ir, este é um passo em direção ao meu sonho. --Disse eu indignado.

—Meu garoto, você sabe que eu de forma alguma atrapalharia você nisso. Vá e enfrente o seu destino sem mim.

—O que quer dizer?

—Chegou a hora de você mostrar do que é capaz, usar tudo o que aprendeu nesses últimos anos. Vá sozinho, e volte como um campeão.

Então estava decidido, eu iria até Camelot  disputar no campeonato e enfrentar o meu destino, sozinho, pela primeira vez .

Eu ficara ansioso com a ideia, mas também estava um pouco assustado, pois nunca tinha viajado para longe sozinho antes:

— É melhor partir agora, sabe que o caminho é longo  – Alertou-me Elidas.

—Mas vocês ainda precisam de ajuda aqui.

— Não se preocupe com isso, deve ir agora se quiser chegar a tempo. Pegue suas coisas e vá.

Logo após ter falado isso Elidas se levantou e me abraçou desejando boa sorte. Meia hora depois eu estava pronto, com uma pequena mochila, um peitoral de couro por cima de uma túnica azul com capuz.

Falando de aparência, ainda não contei como eu era antigamente. Tinha longos cabelos prateados que iam até as orelhas, pele clara, e olhos mais azuis que o lago Avalon. Era meio magricela, embora praticasse muitos exercícios físicos, mas eu me achava atraente apesar de tudo.

Peguei um pequeno escudo de cobre que ganhei do ferreiro  e o prendi na cela do cavalo. Finalmente tudo estava pronto. Parti quando sol estava nascendo. Despedi-me pela ultima vez de Elidas e dos outros que estavam por lá:

— Quero saber mais desse monstro quando eu voltar – Disse a Elidas.

— Todos nós queremos, eu presumo.

E então comecei a minha jornada, estava ansioso para saber o que me esperava. Pelo caminho passei por florestas, lagos e outros vilarejos também. Depois de quase dois dias de viagem. Finalmente cheguei à cidade, era quase meio dia, os grandes portões estavam abertos. Desci do cavalo, ao me aproximar o guarda que estava ali perguntou:

—Veio para o torneio?

—Sim senhor. — Afirmei meio sem graça.

—Quantos anos você tem garoto?

— Quinze senhor, por que a pergunta?

— Quinze... Não posso deixa-lo entrar, tenho que confirmar se você não é novo demais.

Aquela situação começara a me preocupar. Depois de uma viagem tão longa, eu não podia ficar para fora:

—O que? Mas no aviso dizia que qualquer um das redondezas podia participar!—Disse eu indignado.

—Não esperávamos crianças no torneio!—disse ele com desprezo.

Respirei fundo e continuei a conversa:

—Olhe, por favor, será que posso entrar na cidade? Eu venho de Eldera.

— Como eu disse tenho que perguntar se posso deixa-lo entr...

De repente dois cavalos brancos surgiram de trás do portão quase me atropelando:

— Princesa! Exclamou o guarda ajoelhando-se.

Quando olhei para cima do primeiro cavalo minhas bochechas coraram. Era uma garota linda que o montava, seus cabelos eram cor de mel, seus olhos mais azuis que os meus, como se um pequeno pedaço do céu de verão estivesse cintilando dentro deles, e sua pele era branca e suave como a neve que caia no inverno.

— O que está acontecendo aqui?-- Perguntou a princesa

—Minha senhora, este rapaz deseja competir no torneio, mas ele é muito novo, tem apenas quinze anos. – Respondeu o guarda.

Ela me encarou com um olhar sereno por alguns segundos e depois...:

—Há ha!-- Ela riu --Este garoto acha que tem alguma chance no torneio? Vou te adiantar uma coisa: o ultimo que ficar de pé lutará comigo.

Naquela época, os nobres eram o pior tipo de gente, sempre se colocando acima dos outros. Mas aquilo que ela disse me fez ficar ainda mais ansioso.

 -Senhorita, eu mal posso esperar pela nossa luta. – Disse eu confiante.

Ela franziu a testa e me olhou como se estivesse prestes a lutar ali mesmo:

—Não ouse desafiá-la imbecíl – Disse a mulher que estava no outro cavalo

— Deixe-o Magna! Permita que ele participe.--Falou a princesa calmamente-- Afinal, eu tenho quinze anos também não é? Meu aniversário é amanhã

Eu confesso que me surpreendi com aquela reação, eu realmente consegui chamar a atenção dela.

— Qual é o seu nome? Perguntou ela

—Sou Emrys e venho de Eldera, alteza.

— Bom Emrys de Eldera, é melhor estar preparado para a sua tão aguardada batalha.

Ela chicoteou o cavalo e partiu junto com a serva. A partir daquele momento eu de alguma forma tinha certeza que o meu destino estava ligado com o daquela garota...