It's Not Goodbye

Saga x Kanon

Ambas as mãos seguravam o apoio de maneira da ponte.

Abaixo, o rio corria, em um ritmo moroso e delicado. O semblante em seu rosto era cansado ao observar o movimento uniforme da água.

Os orbes de íris esverdeadas eram consternados. Trava-se do olhar de alguém que não conhecia a felicidade. Aquele brilho desolado em seus olhos falava pelo seu coração machucado e por sua alma melancólica. Não possuíam o mesmo brilho anterior, que outrora, variavam entre vivazes e completos ou uma mescla dessas emoções.

O destino transformou sua felicidade em dor.

A morte chega assolando qualquer sonho, planejamento e vidas. E não foi diferente com Kanon. Um vazio afligia seu âmago de um modo dolente, e cada dia, a dor parecia altear de maneira que o sufocava como se estivesse submerso naquelas águas e sua respiração falhasse.

Permitiu lágrimas silenciosas fazerem uma trilha sobre sua face, sentindo o gosto brandamente salgado surgiu em seus lábios.

Now what if I never kiss your lips again

or feel the touch of your sweet embrace.

How would I ever go on?, without you there´s no place to belong

Well someday love is going to lead you back to me,

but till it dose I'll have an empty heart.

So I'll just have to believe some where out there your thinkingof me

Seria o primeiro natal que passava sem seu gêmeo. Saga se foi junto com o inverno, como uma mudança de estações. Ele ascendeu do plano carnal ao espiritual, mas não era tão simples como esta mera descrição. Kanon nunca aceitou sua partida, culpava-se todos os dias, todos os meses, dias, horas e segundos de sua vida pela morte dele, se houvesse escolha, preferia estar em seu lugar.

Não, não vivia mais, sentia apenas como um corpo inanimado ás vezes. Perdeu seu emprego, amigos e agora com o aluguel atrasado, perderia sua casa. Mas isso era irrelevante.

 Mantinham a descrição, mas o amor entre os dois, não era uma forma comumente entre irmãos, era cândido, sincero e ia muito mais além que um mero anseio carnal. E agora sem seu amor, Kanon não tinha mais caminho, perdeu-se pela vida, como um estrangeiro criado no subúrbio de rompante emergir em uma grande metrópole. Não sabia qual rua seguir, estava sem rumo, sem rota.

Não poderia cessar seu sofrimento copioso pela promessa feita ao irmão — em seu encontro derradeiro com Saga — no leito de morte do mais velho.

Não esqueceu da palavra que deu, rememorando-se diariamente dela quando alguma idéia de suicídio, agora tão corriqueiramente em seus pensamentos, surgia, com o intento de arrefecer sua dor.

Till the day I'll let you go,

till we say our next hello its not goodbye.

Till I see you again I'll be right here remembering when.

And if time is on our side

there will be no tears to cry on down the road

their is one thing I can't deny it's not goodbye

— Kan... — Sua voz não passava de um rumorejo, com a mesma sutileza que uma pétala caía sobre a água. Apesar de possuir uma leve entonação arrastada, ao se referir ao seu amor, sempre possuía dulçor.

Saga sabia, sabia que seu tempo estava chegando ao fim, mas em seus olhos não eram visto tristeza, a única coisa que lamentava era sua separação coagida de Kanon.

Porém o gêmeo mais moço não o fitava, deixando os soluços calarem qualquer resquício de fala, e gradativamente, apertava um pouco mais a mão que mantinha envolvendo a de Saga com a sua.

— Olhe para mim, amor — insistiu o mais velho, permanecendo com o tom de antes; Kanon finalmente o observa, as lágrimas marcavam caminho por suas linhas faciais, soltou-o, fazendo força para manter o olhar fixo no gêmeo.

—  Saga —  limpa com os dedos a trilha feita pelo choro involuntário, que insistia em se estender, mas perdendo a forma vultosa anterior — eu não viverei sem você... Saga, meu amor... Eu não posso. — Interrompeu sua fala, respirando fundo com o intuito de não tartamudear, mas não obteve sucesso — queria... fazer mais para ajudá-lo.

— Você já fez muito, Kan. —  Saga deixou um sorriso lânguido pender em seus lábios. Não era do seu agrado ver o namorado naquela situação, ainda mais por ser o motivo de sua melancolia. Para o mais velho o tempo passaria e Kanon certamente conseguiria superá-lo. Só que os pensamentos do caçula diferiam dos seus, nem se tivesse a eternidade, para Kanon, cada dia iria doer em uma escala de intensidade igual. —   Você viverá. Prometa. Viverá por esse nosso amor.

— Eu não posso prometer isso, eu...

— O momento certo para nosso reencontro irá chegar, mas, por favor, prometa, ou eu não poderei descansar em paz. — Kanon sentiu os lábios tremularem, mas a resposta não saía de seus lábios.

A voz do seu gêmeo se tornava ainda mais baixa, não existia mais dores físicas, a visão de Saga abruptamente se tornou turva e enegreceu.

 Conseguia ver as estrelas e relances de sua infância, tudo estava abafado e distante, já não sentia as mãos de Kanon apertando as suas e o chamando de um modo mais urgente.

You think I'd be strong enough to make it trough

and rise above when the rain falls down.

But it's so hard to be strong

when you've been missing somebody so long

Não sabia responder com exatidão quantas horas permaneceu sentada na beirada de sua cama, folheando um álbum de fotografias. Cada foto em que seu gêmeo emergia tocava com a ponta de seus dedos.  Cada sorriso, careta, choro, mudanças de expressões em geral, despertavam fortes lembranças. Conseguia sentir a presença dele ali.

 "Saga, fala comigo."

Pediu mentalmente. Mas o silêncio foi à única resposta, sem algum significado. Estava certo que estava enlouquecendo, lágrimas brotaram em seus olhos de um jeito maquinal, mas reprimiu a nova vontade de chorar.

Foi até a sala, visualizando a imagem que se formava fora da janela de sua casa, deixando sua testa tocar sobre parte vítrea que o separava do que ocorria no exterior.

 A neve começava timidamente, conseguia ver alguns pequeninos flocos colidirem contra o vidro.

“Ele amava a neve.” Respirou fundo, deixando o ar sair lentamente. Até as pequenas coisas faziam sua manteve invocar lembranças do gêmeo, e agora as rememorações alteavam o modo como exercia sobre seu estado psicológico, estava ficando obsessivo.

Alguns amigos, como Milo, instigaram a fazê-lo se erguer, sair daquela depressão, mas todas as tentativas foram frustradas, fazendo Kanon sentir-se ainda pior. O outro grego tentou coisas simples e por último, algo mais radical, o que culminou o rompimento da amizade de ambos.

—  O que você está fazendo? — Sua voz saiu em um tom alto, quase um grito, segurando com força o pulso de Milo —  tire as mãos...

—  Kanon —  a voz era séria, replicando em um volume similar, ainda obtinha o objeto em suas mãos — você está louco! Por que guarda isso?

Milo segurava a primeira pulseira que Saga utilizou quando esteve internado no hospital britânico. Não tinha conhecimento amplo da dimensão do relacionamento dos dois irmãos, porém, já presenciou situações em que poderia desconfiar que Saga e Kanon possuíam laços mais estreitos que um amor fraterno, uma maneira mais íntima, como um casal.

Nunca estavam longe um do outro e não poderia dizer a amplitude da dor do gêmeo mais novo após seu irmão ser internado com leucemia; foram otimistas no início, até que a transfusão de medula óssea não saiu como planejavam.

Ninguém imagina o pior, sempre excluindo que as coisas poderiam acontecer de outra forma e Kanon não achou que perderia seu gêmeo daquele modo, mas o estado de Saga que os médicos afirmaram que tinha tudo para melhorar, apenas declinou, até o dia em que sua vida dependia apenas dos aparelhos hospitalares.

Kanon não foi ao enterro de Saga organizado por seus pais de forma meticulosa. Os gêmeos moravam juntos, mas ainda eram ligados com os dois e os visitavam com certa freqüência. Todos ficaram muito perturbados com o falecimento de um dos jovens membros da família, mas não mais que o caçula; Kanon ficou sumido por dias, o que preocupou pessoas próximas. Haviam alertado as autoridades, até que reapareceu prontamente em um estado bastante deteriorado, não falava com ninguém e preferia a solidão.

Ainda mantinha aquele objeto relevante para o outro seguro em suas mãos, ignorando o modo como ele tentava o arrancar, conseguiu desvencilhar-se dos braços do outrem grego.

Fazia oito meses que Saga morreu, e o caçula ainda agia como se os acontecimentos tivesse se realizado na noite anterior. Milo não sabia como era perder alguém próximo, seu namorado — Camus —, estava saudável. Para o escorpiano a dor era passageira, o amigo deveria se conformar, sua vida estava apenas desandando.

Kanon fez menção que avançaria e sem pensar muito, Milo retirou o isqueiro do bolso e queimou na frente dele o pedaço de papel azulado com o nome do gêmeo mais velho. Queria libertá-lo daquela lembrança, achou que o outro compreenderia, mas não. Kanon não compreendeu e nunca compreenderia.

Os olhos se tornaram dolentes ao verem o pedaço de papel queimando, tinha a impressão que as chamas queimavam e corroíam seu coração, apertando-o com força.

Its just a matter of time I´m sure,

but time takes time and I can't hold on,

so wont you try as hard as you can

put my broken hearth together again?

Frio. Saudade. Dor. Seus sentimentos eram descritos nestas três faces, alimentando-se a cada instante da sua ínfima essência vital.

Ajeitou-se sobre a soleira de sua porta, com os pés sobre a escadinha, descansando em cima da neve branca e delicada. Vestia simples roupas de frio, que não eram suficientes para suprir a necessidade de seu corpo para manter-se quente, e com isso, trouxe consigo uma garrafa contendo uma bebida forte.

Só queria sentir, assim, poderia se conectar com seu gêmeo. Aquele véu branco e gelado lhe invocava reminiscências. Distantes. Quando os dois observavam juntos os flocos caindo. Conseguia ouvir sua voz, comentando como gostava daquele tempo. Inevitavelmente sorriu, para levar sua bebida até sua boca.

— O que está fazendo agora, Saga? —Ergueu seu olhar, e com isso, uma pequena centelha caiu sobre seus olhos, que limpou com o auxilio de um dos ombros. Não tinha mais noção de nada e nem do frio. O tempo era insignificante.

Till the day I'll let you go

Untill we say our next hello it's not goodbye

Till I see you again

I'll be right here remembering when

And if time is on our side

There will be no tears to cry on down the road

There is one thing I can't deny

It'snotgoodbye

Sua respiração se tornava mais pesada e seu corpo, sob o efeito do álcool, quente.

Acabou sentindo-se sonolento. Cansado. Suas pálpebras pesadas o fizeram titubear, deixando a garra rolar de sua mão.

 Quando ia fechar os olhos, algo os fez abrir, novamente, uma voz.

— O eu faz aqui, Kanon? Pode se resfriar — levou seu olhar ao dono daquelas palavras, conhecia-o muito bem.

— Saga? — Balbuciou, vendo o amado emergindo da imensidão branca. Vestia-se como no último Natal que passaram juntos.

Não queria pensar. Não se importava se havia se tornado louco, ou apenas, fosse uma ilusão criada por estar sob o efeito do álcool.

Todo o peso que carregava pareceu sumir. Toda a dor havia se dissipado e seu coração, agora era preenchido por apenas a felicidade. Não o replicou com palavras e nem fez interrogações, levantou-se do seu lugar, e foi em direção aos braços do amado, que o recebeu com carinho. Unindo-se como um em um abraço cheio de amor.

— Não quero ter que viver sem você... de novo... — murmurou, entre um pranto, enquanto o namorado lhe afagava seus cabelos, com carinho. Aquele toque foi tão real, tão terno.

— Não iremos nos separar. Jamais. — Assegurou, enquanto o mantinha em proteção, em seus braços — e nunca nos separamos. Eu sempre estive com você.  

Kanon não conseguia o retorquir, deixando suas lágrimas livres, apenas querendo senti-lo e apertá-lo, desejava que aquilo não fosse um sonho.

O toque de Saga era quente e cuidadoso, sabia que agora estavam juntos e era apenas o que importava. Seu coração dizia que agora era para sempre.

It's not goodbye

Till I see you

I'll be right here rememebering when

Time is on our side

No more tears to cry

And I can't deny

It's not goodbye

No more tears to cry

It's not goodbye

— Milo? — Não compreendia a ligação, ainda mais, pelo tom de voz usado pelo namorado.

— Camus, o Kanon... — deixou entre essas palavras, respirou fundo, contendo suas próprias lágrimas.

O ruivo compreendeu, de imediato.

— Como aconteceu? — Indagou apressado, sentindo o coração apertar. Não era amigo de Kanon, mas o conhecia e sabia de tudo que havia passado.

—Hipotermia... eu o encontrei ao amanhecer, na soleira de sua porta... — a voz hesitou, sentindo um nó na garganta ao rememorar a cena.

— Eu... sinto muito... — foi a única coisa que conseguiu dizer.

Um silêncio desconfortante foi seguido, mas não demorou muito para o loiro se pronunciar.

— Não sinta, Cam. E sabe? — Respirou fundou, enquanto olhava para a janela. Sabia que a hora de Kanon chegaria, ainda que tentasse evitar, Saga esperava por ele, a vida de um, não ocorreria sem o outro. Seus lábios moldam um sorriso enquanto uma lágrima solitária molhou o canto esquerdo do seu rosto — ele estava sorrindo...