Memórias de Uma Vampira escrita por Yabi


Capítulo 1
Chapter O1 - the beginning.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Paris – 1609.

Para iniciarmos, precisarei dizer que... Se você está lendo isso agora, provavelmente eu já não pertenço mais a este mundo. Sim, é isso mesmo, não deixaria ninguém tocar nesse livro enquanto minha presença for sentida. Considere-se sortudo, ou não.

Por que escrever minha lúgubre vida aqui? Primeiramente porque tenho 300 anos e, com o passar do tempo as memórias se perdem na história, mesmo coisas marcantes, uma hora você não consegue mais se recordar. Mesmo que meu passado tenha sido marcado por sofrimento e angustia, não acho justo comigo mesma esquecer-lo, todos temos nossas origens, e é isso que no final das contas, diz quem você é. Sem muita enrolação, contarei em partes, começando com uma das principais, minha infância...

[...]

Morávamos eu e minha irmã, juntamente com nossa mãe. Nosso pai havia falecido há tempos, quando eu nasci, para ser exata. Nossa casa era simples, como uma tradicional moradia de campo, alguns dias do ano, onde a colheita era escassa, nós mal tínhamos o que comer, e minha mãe, como mulher autêntica que era, trabalhava arduamente no campo, suportando de tudo para termos o que por a mesa.

Eu as amava. Mesmo com as dificuldades que passávamos, era impossível me ver sem elas. Mas o destino é incerto, e nos reserva coisas inesperadas, não é mesmo?

Certa noite, chovia muito. Me lembro bem do céu acinzentado coberto de nuvens, indicando uma nociva tempestade. Nossa mãe não havia voltado, e minha irmã andava de um lado a outro da sala, atônita. Eu também não conseguirá dormir, e fiquei sentada num dos degraus da escada, assistindo os relâmpagos e trovões projetarem sombras surreais nas paredes.

Não me lembro quanto tempo havia ficado ali, só que sem perceber, adormeci, envolta numa colcha de retalhos velhos, um sono leve, e ingênuo. Comum de crianças.

A campainha. O som do sino badalou sobre minha cabeça, seguido de um grito abafado de minha irmã. Abri meus olhos vagarosamente, e vi que ainda estava escuro. Um relâmpago se propagou, e deixou a mostra a sombra de um homem, que trazia em suas mãos uma mulher que eu conhecia bem. Minha mãe.

Corri até ela, descendo as escadas rapidamente, ambos estavam cobertos de lama, e minha irmã não sabia o que fazer, perguntando coisas sem parar, enquanto o homem acomodava minha mãe em sua cama... Estava viva, e havia desmaiado antes da tempestade começar, o trabalho árduo a fez perder as forças, e se não fosse por aquele homem, ela não estaria conosco, nos fazendo sentir tão bem...

Pelo menos era isso que pensávamos.

De início, o homem, que se chamava James, passou a freqüentar nossa casa, trazendo coisas que comprava na cidade, e nos tratando como suas próprias filhas. Nos presenteando com adornos, e mantendo um relacionamento instável com minha mãe. Eu e Alice o considerávamos um pai. Até o dia em que ele resolveu se mudar para nossa casa. Mostrando sua verdadeira face.

Um dia, eu e minha irmã o vimos discutir com nossa mãe, e depois lhe levantar o braço, batendo-a na face, aterrorizando a mim e a Alice, que assistíamos de camarote as brigas que ficavam mais e mais recentes, até virarem rotina.

Atordoadas, começamos a cultivar um sentimento de ódio contra ele, que para piorar, obrigou minha mãe a continuar trabalhando, dia e noite no campo, resultando em uma doença em seu pulmão. A deixando na cama, em estado critico, tossindo sangue e passando noites em claro, sempre comigo e minha irmã a seu lado. 

James deu início a uma das épocas mais tristes de minha vida, quando vi pela primeira vez a morte de alguém, e esse alguém foi minha própria mãe, que permaneceu assolada numa cama até o fim de seus dias.

Para mim aquela fase foi difícil, mas para minha irmã foi pior ainda... Por quê? Ela sentia que devia cuidar de mim a todo custo, como dever de irmã mais velha. Já havia perdido as contas de quantas vezes ela deixou de comer para me alimentar, de ficar no frio para me aquecer, ou de dormir no chão frio, para que eu tivesse conforto.

Ela agora trabalhava dobrado, cuidava de mim e da casa, saindo a matina, e voltando ao escurecer, com algumas espigas e muito cansada, tendo que cozinhar, e apenas depois, conseguir dormir. Aquilo estava a matando. E naquela época eu nem havia me dado conta, apenas chorava e reclamava das coisas. Claro que não fazia por querer, mas se soubesse o que se passava no interior de minha irmã, aproveitaria cada segundo com a pessoa maravilhosa que ela foi.

Tudo parecia ruim, mas conseguiu ficar ainda pior quando James apareceu em casa, vindo morar novamente conosco.

Numa noite, ouvi sons estranhos, e desci as escadas. Vendo através das grades, Alice e James discutindo. Ele queria se casar com ela, e a ameaçava tomar a posse da casa, caso ela recusasse. Felizmente, ela não tinha medo de recusar todos os seus íngremes pedidos.

As coisas só pareciam piorar com o tempo, mas finalmente uma luz se mostrou ao fim do túnel, quando Alice conheceu Edward, um lindo jovem que havia a ajudado na colheita do milho. Eles se apaixonaram repentinamente, e ela parecia mais feliz do que nunca a seu lado.

Edward era extremamente protetor, não gostava de ver minha irmã trabalhar, e a comprava tudo de que necessitava, desde grãos, até a coisas mais caras como sacos de arroz e cereais. Lembro me até de ter três refeições fartas em um único dia, coisas raras naqueles tempos difíceis.

Após uma visita de James, onde mais uma vez ele importunou Alice com seus pedidos, ela se deu a vontade de contar tudo a Edward, desde a proposta até as ameaças do homem. Edward por si ficou furioso, queria ir atrás de James a qualquer custo, porem minha irmã disse que isso apenas pioraria a situação. Por fim, para tentar nos ajudar, ele a pediu em casamento. Assim James não poderia tomar posse da casa, obviamente. E ela, sorrindo para ele, aceitou.

Pensava estar tudo bem depois daquilo, entretanto, um dia eu os ouvi no quarto, Edward tentava a todo custo persuadir Alice para se mudar com ele, abandonar aquela miserável vila e ir para bem longe, apenas os dois. Ela não aceitava, sempre falando em mim, e na responsabilidade que não podia deixar para trás.

Após aquele dia, comecei a odiar Edward, afinal... Por que levar minha irmã para longe de mim? Mesmo que eu fosse um peso em suas costas, nada podia fazer. Não tinha independência, e muito menos noção da vida lá fora. Uma vida difícil e dolorosa.

E o céu... Desde tempos não havia sol, apenas nuvens, escuras e densas. Trazendo chuvas fortes, que as vezes pareciam derrubar nossa casa, que a cada vento, ameaçava ceder sobre nossas cabeças. Foi numa dessas noites, que Edward viajou, prometendo que voltaria. Disse que assuntos importantes teriam que ser resolvidos, e que se não fosse agora, pessoas iriam procurar por ele, o que resultaria em problemas.

Eu e minha irmã ficamos em casa, quando a chuva começou, ela me colocou na cama. Estava cedo, e não dormi, um mau pressentimento me atingiu, e fez meu peito doer, como se algo ruim fosse acontecer. E aconteceu.

James, que se embebedava no bar, ficou sabendo por bocas de estranhos, da notícia de minha irmã. Furioso, ele pegou sua arma de caça, e se dirigiu até nossa residência, berrando e gritando coisas que não conseguia entender.

Minha irmã percebeu sua aproximação, e trancou as portas. Mas a velha madeira de cedro estava fraca, e facilmente cedeu a força daquele homem, que num gesto espontâneo, apontou a arma para o peito de minha irmã. Sua palavras... Suas frias e secas palavras... Nunca vou me esquecer. 

“_Se você não for minha, não será de mais ninguém”... 

Ele atirou em seu peito, cruelmente, sem piedade de sua alma, ele a matou. Ver minha irmã caída no chão fez um medo tão intenso se manifestar, que as palavras mal conseguiam sair, se prendiam umas as outras, embaralhando meus pensamentos. Continuei vidrada a minha irmã, meu olhos se enchiam de lagrimas. Minha melhor amiga estava ao chão da sala, a mesma garota que sempre havia feito de tudo para eu me fazer sentir melhor, mesmo que seu interior estivesse muito mais machucado, a mesma garota que havia largado seus sonhos e ambições, para cuidar da irmã mais nova, e ela estava ali, caída, manchando o chão num tom avermelhado. Seu corpo ainda se contorcia um pouco, quando senti que ali já não abrigava mais vida, e sim um cadáver de uma pessoa que um dia eu amei.

_Bella... Cadê você? – A voz me fez voltar a atenção a James, que subia as escadas subitamente, o tom de sua voz era amedrontador, ele queria me matar, apagar todos os traços da família Swan. E eu, apavorada com a situação, não pensei duas vezes antes de correr até o armário de casacos, o primeiro lugar que veio a minha mente.

_Eu vou te pegar, garotinha... Não adianta se esconder do titio James... – Ele me sentiu ofegar, e se aproximou de mim, abrindo a porta, pronto para puxar o gatinho. Porem nada disso aconteceu, quando aquele porco sujo tocou a maçaneta, ouvi seu gemido, em seguida seu corpo caindo ao chão, como se alguém o tivesse atacado. E havia, olhei bem para o sujeito em pé, a minha frente. Senti que estava sonhando, o garoto era Edward!

_Ed... – As lagrimas se misturavam as palavras. Agora já não me contia, chorava e berrava diante dele, sem reprimir a magoa que habitava minha alma.

_Onde está sua irmã? – Perguntou. Não disse nada, apenas apontei para o andar inferior, onde seu corpo estava caído, sem vida. Edward correu até lá, e se ajoelhou diante de seu cadáver, chorando e a abraçando. De tantas coisas que vinham a minha mente, a que mais me questionava era “como Edward havia chego tão rápido?”

Desci as escadas, e me deitei no sofá, ainda chorando e chamando pelo nome de minha irmã. Edward tirou seu casaco, e cobriu o cadáver, fazendo um gesto católico e a beijando na testa, como se dissesse um último adeus. Então ele se ergueu, e parou, olhando pela janela as gotas que caiam, contrastando com o silêncio que pendia ali.

_Vá arrumar suas coisas, eu irei partir e você vai comigo. – Sua voz estava fria. Como se aquele não fosse seu desejo, e sim o de minha irmã.

_Mas...

_Apenas obedeça. – Ele se fitou em meus olhos, senti o ódio transbordar.

Juntei algumas coisas e tralhas, e coloquei numa bolsa de panos, Edward a levou em suas costas, sem reclamar. Durante todo o percurso, evitei a conversa, não queria correr o risco de ser abandonada outra vez, ou de aumentar ainda mais o ódio e a angustia que habitavam seu olhar. Continuamos andando, até que o sol nasceu, minhas pernas estavam cansadas, e eu ofegava, de tanto caminhar sobre a brita.

_Afinal, onde estamos indo? – Quebrei o silêncio existente, era preciso.

_Para o meu castelo, descanse um pouco. Não podemos perder tempo.

_Você tem um castelo? – Ironizei, jogando minha bolsa ao chão.

_Responderei todas as suas perguntas quando chegarmos, garota. – Ele olhou para o céu, em seguida vidrou-se em meus olhos. – A partir daqui Bella, as coisas vão mudar muito...


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Notas finais do capítulo

Se gostarem, postem reviews.