Dois mundos escrita por Justine Matsu


Capítulo 3
Treinamento duro e adeus ao mestre


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura !!



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Uma semana depois estávamos novamente ajoelhados no tatame, meu mestre e eu, foi tudo muito rápido, a casa de  minha patroa tinha sido vendida ela e a família tinham partido, fiquei com os móveis de meu antigo quarto e uma quantia razoável de dinheiro;  mestre Mauro disse;

—Outra coisa que tenho pra contar é que .....além de mestre em artes marciais sou um guerreiro samurai, estou te contando isso algo que muito raramente é feito, por mim ou por outro samurai, porque quero que se torne samurai também

—Mestre, não tenho interesse em ser samurai, quero lutar somente com os punhos

—Nada te impede de lutar com os punhos e  ser  samurai, apenas começará a treinar com espadas de agora em diante

—Não quero lutar com espadas mestre.

—Eu sinto que você tem um destino para cumprir com as espadas, assim como meu mestre um dia também sentiu isso em mim

—Não sei se quero esse destino 

—Não se foge do destino, quanto mais se tenta fugir mais se aproxima dele, mas vamos fazer um teste se conseguir escapar de seu destino,não falaremos mais sobre espadas

—Que teste ?

—Hoje a noite te apresento minhas espadas e você só observa, agora as regras que tenho já que vai morar comigo, primeiro a sala tudo que esta la é insubstituível, objetos  que ganhei de pessoas que não verei mais ou que comprei em lugaras que não mais irei visitar então o melhor é que nunca toque em nada que tem la, cozinha sujou lave, quebrou substitua, tirou do lugar use e deixe onde estava, dúvidas?

—Não mestre entendi tudo

—Agora vá limpar seu quarto, te espero no salão de apresentação a noite

 Fiz uma limpeza rápida, acomodei as poucas roupas que tinha  não precisava de muitas visto passava o dia de abadá ou kimono e o tirava pra vestir o uniforme escolar, passei o resto da tarde meditando, a noite fui ter com o mestre.

A noite, contra minha vontade fui ao salão lamentando o papel ridículo que o mestre faria, as luzes estavam apagadas  para clarear havia tochas acesa a cada metro do salão, o mestre estava de saia mais tarde fiquei sabendo tratar-se de uma hakama roupas usadas por samurais para se diferenciarem de cidadãos comuns, mas naquele momento pra mim era uma saia na verdade uma calça com pernas largas que lembra muito uma saia, e senti ainda mais vergonha pelo meu mestre

Trazia consigo duas espadas, daisho, dai de daito espada longa a katana, e sho de shoto espada curta ou seja a wakizashi, o portador das duas, era considerado um samurai, um guerreiro espadachim, o cabelo estava preso numa espécie de coque e delineador nos olhos, definitivamente eu estava muito envergonhada da situação do mestre, e naquele momento não via a hora que aquilo acabasse

Mestre Mauro começou com seu show de acrobacias com saltos simples, duplos e triplos, estrelas, claro  impressionante para quem nunca viu algo assim, mas eu já estava me incomodando, quando ele começou a correr pelas paredes, uau fiquei em pé para ter certeza que não era ilusão causada pelo ludibriar das chamas, então ele começou a girar as espadas, e eu ouvi aquele som, não era um" vrum" de quando corta-se o ar com elas, mas uma melodia como quando corre-se o dedo na borda de um copo de cristal, mas com ritmo  e sequência definidos, uma melodia nostálgica que invadiu minha mente trazendo lembranças que não eram minhas, mas que mesmo assim me emocionou de tal modo que chorei, sem saber porque uma saudade, dor e sofrimento  invadiu minha mente e meu coração começou a acelerar, sem motivo surgiu uma obstrução etérea em minha garganta, e uma agonia tomou conta de mim quando consegui recuperar o controle de minhas emoções prestes a gritar pelo fim daquela dança de sentimentos conflituosos meu mestre encerrou sua apresentação ajoelhando-se perante mim com a cabeça baixa e as mãos segurando as espadas suspensas no ar atras do corpo, observei aquela posição como se fosse algo cotidiano mas não de meus dias

—Avalie seus sentimentos e responda, quer ser um samurai ?

—Sim, não entendi oque aconteceu comigo mas eu quero sim

—Jiasi, você ouviu a canção das espadas?

—Sim, é isso mesmo, eu ouvi 

—Eu sabia que ouviria, você pode me descrever como é?

—Mas o senhor não ouviu também?

—Não eu nunca ouvi, mas conheço outro que ouve, as espadas cantam pra todos mas apenas uns ouvem

Tentei explicar do melhor modo que pude como era o som, mas é difícil sem ter como reproduzir -lo

—Tudo bem, vá dormir, amanhã começa seu treino, te encontro as três na cozinha vou te ensinar a fazer seu café, e preste muita atenção pois farei isso só uma vez

As três da manhã eu estava na cozinha fazendo meu primeiro "asa gohan" ou arroz matinal , sopa de pasta de soja, algas marinhas, ovos mexidos, chá verde e claro arroz cateto

No pátio meu mestre me deu duas pedras de um quilo cada pediu que as suspendessem uma em cada mão num angulo de 90º 

—Quanto tempo mestre 

—Até você vomitar seu café da manhã

Eu nunca levantei uma tonelada mas depois de segurar aquelas pedras das quatro da manhã até meio dia elas pereciam ter uma tonelada cada

—Você é resistente, vista isso ------ me deu um par de luvas de plástico sem dedos, estofadas com gel gelado que ia até o ombro e se prendiam nas costas 

— Descanse seus braços, e comece a pedalar, pedalei uma bicicleta ergométrica até as dez da noite minhas pernas formigavam e pareciam blocos de cimento, jantei o mesmo que comi de manhã apenas o arroz que era diferente pois era negro, fino e comprido, nem tomei banho desmaiei na cama não sentia meus braços e pernas

No dia seguinte só pedalei das quatro até as nove quando chegou minha classe de formiguinhas miúdos entre oito e dez anos, seriam trinta meninos até as dez e meia, e trinta meninas das dez e meia ao meio dia, antes de começar o mestre me alertou

—Formiguinha não force o treino dessas crianças, elas estão aqui para se divertirem enquanto aprendem, o treino delas não tem nada a ver com o seu,entendeu?

—Sim mestre agora eu sei que tenho um destino, antes eu ficava triste pelo senhor exigir mais de mim que de qualquer outro tanto dos novatos quanto dos alunos veteranos, algumas vezes pensei que fazia isso para que eu desistisse, na verdade só soube disso sábado durante a canção das espadas

—Me desculpe, mas foi preciso e ainda será pior agora

—Eu aceito meu destino mestre

—Você é um orgulho mestre mor aos treze anos 

Passei um exercício de alongamento pros miúdos e mandei que corressem o quanto pudessem um a um foram parando para descansar, mandei que alongassem um pouco mais, mas poucos continuaram a maioria já queriam ir embora, foi a mesma coisa com as meninas

Almocei e fui pra escola, pois  estudaria a tarde agora, quando cheguei o mestre levou-me até sua sauna ao lado de casa, ela era quatro metros quadrados pra uma pessoa apenas, com uma portinha que dava pra uma tina de madeira em forma de banheira cheia de gelo 

—Você vai ficar nessa sauna a 150ºc 

—Vou derreter mestre 

—Não vai não, quando achar que vai derreter abre a portinha e se joga na tina, quando não suportar o frio volta pra sauna 

—Quanto tempo ?

—Até que o gelo derreta e a água esteja na temperatura ambiente, não esquece da produção de gelo pro dia seguinte

—Pra que serve isso mestre

—Nosso corpo é fraco, ele não comporta esse poder que os samurais precisam

—O senhor fez isso com a sauna?

—Esse treino fiz no japão em pleno inverno, rolávamos na neve e voltávamos para um lago onsen " águas termais" vizinho do vulcão asama sua água chega na temperatura de 200ºc

No dia seguinte foi a mesma coisa, alternando só o exercício da manhã, um dia pedalava no outro segurava as pedras, assim foi por três meses

Comecei o treino com espadas de madeira, que não era pesado mas capitoso, era basicamente bloquear a espada adversária usando sua própria defendendo a parte superior do corpo principalmente o rosto, encontrando uma brecha golpeando o adversário de preferencia da coxa pra cima

Ficamos nisso por um ano, um dia o mestre me chamou pra uma daquelas conversa que nunca saia nada de bom

—Jiasi deus sabe que queria ficar contigo até que seu destino viesse, só que meu destino também me chama, lembra-se que eu disse que tinha três coisas pra te dizer, a partida de minha irmã, quem eu era de verdade e ..... ano passado fui convocado para uma guerra,  entre  algum governo e alguns aldeões e de algum modo meu mestre esta envolvido então me chamou

—Convocado...... conflitos , japão não entendi oque isso tem a ver conosco mestre ---eu disse já sentindo algo nascer em meu peito

—Não sei exatamente de que se trata, deve ser algo como busca pelo poder, quase sempre é isso, disputa por terras não sei

—Não precisa ir -----disse tentando conter as lagrimas 

—Formiguinha, eu não preciso mas quero ir

—Porque?

—É uma honra pra mim, lutar pelo meu mestre e talvez ao lado dele

—Vai lutar uma guerra que não é sua por honra ? ----as palavras escaparam num tom de revolta

—Jiasiting começo a pensar que falhei no seu treinamento, nesse momento acho que se te chamasse para lutar ao meu lado se recusaria.

Nossa aquilo me invadiu violentamente de repente visualizei meu mestre me convocando e eu me apresentando de corpo e alma para lutar a seu lado, engoli em seco minha revolta e me encontrei com a aceitação.

Então levei meu rosto ao chão e disse

—Perdão mestre, permiti que o egoísmo me cegasse, os sentimentos que tem pelo seu mestre deve ser iguais aos que tenho pelo senhor eu não exitaria  em lutar  pelo senhor mesmo desconhecendo a causa,...... eu posso ir mestre

—Sim

Corri para meu quarto e chorei tudo que tinha pra chorar, chorei por uma vida inteira, porque depois desse dia nunca mais chorei por toda minha existência que foi bem longa

No dia seguinte meu mestre mandou sua armadura e espadas para o Japão por navio, e na semana seguinte depois de dar algumas ordens ao Jasper seu mais antigo mestre da academia ele veio a mim

—Jiasi minha formiguinha, não pense que amo mais meu mestre que você, mas me orgulho porque sei que você me ama tanto quanto eu amo meu mestre, e sei que meu mestre me ama tanto quanto eu amo você

Eu quis dizer pra ele que eu era única pra ele, e que ele não era único pro mestre dele mas eu sabia que teria argumentos pra refutar minha teoria então só o abracei e pedi que voltasse

—Não relaxe com seu treino 

—Nunca mestre

Um ano se passou, continuei meu treino, dava minhas aulas de capoeira para os nível formiguinha, ia pra escola,  conforme quando meu mestre estava, sábados e domingos eu ficava sozinha mas não esmorecia, continuei meu treino acrescentei alguns exercícios mas nada que elevasse meu nível, pois sem a experiência do mestre meu nível estagnou-se

Então chegou pelo correio uma entrega vindo da França, demorei três dias para abrir, porque imaginava o que dizia 


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Notas finais do capítulo

capitoso; sentido figurado,obstinado, teimoso,
Iterashai caro leitor !!
Próximo capitulo " Uma pequena samurai"



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