Shlimazl escrita por Amianto


Capítulo 3
nácar


Notas iniciais do capítulo

Sou Amianto e é muito legal conhecer você.

Espero realmente que você goste do que irá ler logo abaixo.

Os nomes dos capítulos não tem relação com o conteúdo.



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Os dias que se sucederam foram solitários por Charles trabalhar das sete da manhã até sete da noite e ir aos sábados, antes de eu ter acordado, pescar com seu amigo Billy deixando-me com a miníma vontade de descobrir a cidadezinha chuvosa.

Liguei pra Mary duas vezes, liguei o computador três e mijei uma centena de vezes.

O bom de ficar só a maioria dos dias era não precisa falar com ninguém e ainda sim, conversar sobre os mais difíceis assuntos mas até esse exercício de falar só encheu-me a paciência de um modo que em menos de um mês eu estava completamente em fatigada daquelas paredes verdes e dos olhares de Bela pelo retratos.

Minha irmã tinha uma família na cidade mas nunca se dignou a vim me visitar, não que eu fosse muito importante e até talvez ela me visse como uma bastarda estúpida mas pensei que Bela estivesse curiosa em ver a nova filha do pai.

Éramos tão parecidas quanto uma folha verde e uma doente: ela possuía cabelos cor de mogno enquanto eu tinha cabelos pálidos e quebradiços mas não posso negar que tínhamos os mesmos olhos e olheira e que talvez nossos narizes fossem parecidos.

Sei que se tivéssemos quinze anos eu seria muito mais bonita e popular que ela porque sem querer me gabar mas eu era uma boneca de tão linda com meus cabelos loiros cintilantes e corpo mais adiantado que o resto da turma. Naquela época, havia uma petulância em mim que hoje não entendo e rezo que aquilo não tenha sido exclusivo. Como se com quinze anos eu soubesse de tudo que era preciso pra me virar só, que por eu ser bonita e jovem pudesse saber mais que todos os professores rígidos do colégio.

Toda semana Charles dava-me dinheiro por eu ser uma boa garota e limpar a casa/fazer o jantar/fazer tanto barulho quanto um cadáver  e com a desculpar de querer compras livros e comer besteira aceitei o convite ocasional de comer no restaurante da cidade só pra ter o que falar pra mamãe quando cansasse daqui e voltasse pra casa com direito a choradeira de Maria, a pressa de Claúdio e o cantarolar de Mary.

 

 

~~~~

 

 

— Você irá gostar.

— Posso comer bacon com sanduíche, batata frita e refrigerante? - Era de manhã demais pra engolir o nosso desconforto natural mas aprendi a ser boa em me fingir de animada e feliz. 

— Você comia isso com a Mary? - Ele perguntou num tom levemente preocupado embora não retirasse os olhos da estrada.

— Eu irei morrer em um ano ou dois. - Falei animada enquanto olhava-o me divertindo por fazer a expressão com o pobre homem azedar e cutuco seu braço - Dane-se o colesterol!

— Você é realmente parecida com sua mãe. - Papai fala em um tom divertido que eu ainda não conhecia.

''Como você pode saber se só ficou com ela uma única noite?'', a Teresa rancorosa pensa e eu a repreendo.

A conversa fluiu sobre a comida que o restaurante oferecia, lembranças de aniversários, sobre meu avô paterno que nunca conheci, sobre minhas preferências, meus falecidos animais de estimação e sobre eu querer ser médica-veterinária.

Me senti a vontade pela primeira vez mas isso foi uma sensação curta demais pra mim já que os carros abriam espaço pro carro de polícia de Charles passar.

 

~~~~

 

 

A lanchonete era confortável com seu jeitão rústico e confortável de mesas de madeira, quadros nas paredes, janelas de vidro limpos e velhas garçonetes servindo poucas pessoas que ali estavam.

O modo que todos viraram o rosto para nos ver entrar evidenciava que todos ali se conheciam menos eu, claro, e me arrependi de ter saído de casa.

 — Que cheiro bom. - Deixei escapar ao nos sentarmos, um comentário fora do meu controle que o fez rir a risada mais cristalina que já ouvi.

Uma pena que não pude fazer nenhum comentário com ele pela velha garçonete chegar até nós com um sorriso simpático e noticias sobre futebol-a represa-seu filho Bob que fazia Charles prestar atenção de uma forma genuína e então ela virou-se pra mim perguntando se eu havia gostado de Forks, o que eu gostaria de comer e como eu era parecida com minha irmã.

Após sua saída apressada, ele pergunta se tomei meus remédios e eu aceno com a cabeça de um jeito simpático sem tirar os olhos dele que abaixou o olhar e fez meu estômago borbulhar.

Sentindo minhas bochechas estranhamente quentes decido ''curiar'' o local e acabo sorrindo docemente e acenando a cabeça pra todos os velhos, velhas, crianças e adultos do local como se todos fossemos velhos conhecidos. Era meu mau: agir fora do contexto.

— Você tem muito da sua mãe. - Aquilo rachou meu ânimo um pouco e fiquei um tanto triste. A mãe se parecia com a mãe da Bella e, meu Deus, porque ele só simplesmente não me elogiava de verdade mas elogiava minha mãe. Aquela confusão de sentimentos me fez olhar pras minhas próprias pernas e ficar aborrecida com Charles que não teve tempo de perguntar a razão daquilo, embora nem eu mesma soubesse responde-lo, pois a comida havia chegado.

Ovos, bacon e café pro Chefe dos polícias e pra mim uma porção de fritas com bacon e salada.

— Você não pediu a bebida, querida... - A mulher falou observando-me como um bicho novo no zoológico.

— Gosto de comer no seco. - Falei no tom que mais odeio em mim e que teimava a sair sem querer: o cheio de desculpas com o se tivesse realmente se sentindo culpada e então ela se foi.

A comida era grossa em gordura mas tão boa que cheguei a gemer ao colocar o primeiro bocado de bacon na boca, acho que Charles riu com isso.

— Como é seu trabalho? - Pergunto de boca cheia antes do silêncio desconfortável aparecer se bem que falar comendo não é muito legal e, Meu Deus, eu não deveria ter importuna-lo com uma questão tão boba. Estou ficando vermelha, eu sinto.

 Ele pisca enquanto tomava um gole do café e fala em algo sobre me levar qualquer dia. Ele piscou pra mim ou foi loucura? E essa língua pelos lábios foi extremamente sedutor ou os remédios estão transformando meu cérebro em massinha? Meu coração bate forte e sinto minhas axilas suando.

— Está tudo bem, Teresa? - Ele nunca chamou-me como filha, talvez ele não acredite tanto que sou sua filha já que nunca houve exame de sangue que comprovasse e sinto meu coração girar em 360 quando as costas da sua mão toca minha testa e meu pescoço querendo ver se estou com febre. Não consigo controlar meu arrepio e rezo pra que o mesmo não tenha percebido. - Você tá bem?

Seu tom preocupado me faz assentir com a cabeça de forma positiva mais vezes que o normal e volto a engolir bocados de bacon e fritas pra mostrar que estou bem. Saudável. Ele sorrir novamente e engulo a seco a comida. Por favor, ele é meu pai. Devo está confusa por ser tratada bem. Por ter conversado verdadeiramente por alguns segundos com alguém mas não podia negar que Charles era o tipo de homem que me interessei quando era mais jovem: másculo, barba, cabelos castanhos e lisos com uma cara que podia mudar de desamparado á imoral em segundos.

Imoral? Você está louca, Teresa? Ele só foi gentil. Não confunda as coisas. Ele só está fazendo você se sentindo bem porque você tá morrendo, Teresa. Gentileza. Pena. Saber que ele sente pena de mim, não me deixou surpresa, mas estranhamente desapontada. Charles não é diferente das outras pessoas que te olham com pena e te trata como se estivesse prestes a morrer. Por favor, Teresa-Burra.

 

 

~~~~

 

 

Acordo da minha autopiedade já no carro e com a voz de Charles perguntando se estou me sentindo mal, olho-o assustada como se estivesse acordado de um sonho e solto um risinho amigável.

Silly girl.

— Barriga cheia. - Tapinhas bobos em minha barriga e tento fazer um som de alguém satisfeito.

Ele oferece-se pra me deixar em casa caso eu não esteja se sentindo bem mas não quero atrapalho-lo e peço pra me deixar em um ponto de ônibus já que tenho a desculpa de querer conhecer minha nova cidade.

— Você disse que ia comprar livros - Pergunta inquisidoramennte o Policia Charles de sobrancelhas grossas e franzidas, acostumado em lidar com adolescentes mentirosos que se metem em encrencas por querer zoar, para a pobre e pálida Teresa que encolhe os ombros.

—Sim,sim. Preciso conhecer os sebos daqui.

—Sebos? - A palavra proferida o faz ri rapidamente e me oferecer um olhar espantado e divertido. A língua entre os lábios e me sinto confusa novamente. - Você realmente é uma graça.

Aquilo ou um gracejo ou...Perai, ele me elogiou?! Aquilo foi um elogio, certo? Um elogio bem besta mas foi um elogio. 

Aperto meu cinto e espero o carro partir me sentindo extremamente estúpida mas verdadeiramente feliz.

 

 

 

 

 


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