—Quando a gente planejou essa batalha, não imaginei que seria assim- resmunguei, encarando meu reflexo no espelho.

—Estou achando que esse demônio tem mais sorte que eu- Zayn disse, ficando atrás de mim.

Pelo modo como o moreno me olhava, notei minhas bochechas ficarem vermelha.

Eu estava usando o vestido que comprei com Eleanor, pouco pano, muita renda.

O plano era eu e Malakai entrarmos disfarçados, e já que todos usariam mascaras, não haveria perigo. Nos dois encontraríamos Torn, enquanto nosso exercito se encarregava dos outros.

—Não me olhe assim- disse envergonhada.

—É meio impossível com você assim, tão linda- ele sussurrou no meu ouvido.

Senti um arrepio percorrer meu corpo quando seus lábios tocaram  a pele sensível do meu pescoço.

—Zayn...- sussurrei tentando me concentrar.

—Uhmm- ele fez uma trilha de beijos descendo meu ombro- não sei o que é melhor, você com esse vestido, ou a ideia de você sem ele...

Minha mente estava em branco, me virei, buscando sua boca. Era como se eu necessitasse daquele beijo. Enterrei minhas mãos em seu cabelo, puxando de leve.

As batidas na porta do quarto eram apenas um som ao fundo, tudo que importava era o moreno nos meus braços.

—Vejo que você esta bem concentrada- a voz de Malakai soou pelo quarto, o fitei assustada.

—As pessoas costumam bater antes de entrar- Zayn disse, encarando o demônio.

—E eu bati- Malakai disse, me olhando de cima a baixo- anjo, você está uma perdição.

—Hey, é da minha namorada que você tá falando- o moreno reclamou.

—Com todo respeito é claro- Malakai disse irônico.

Tudo que eu conseguia fazer era corar. Eu ainda me perguntava como poderia aparentar ser uma líder forte e ameaçadora com um vestido desse, mas apenas deixei de lado.

—Me da um minuto pra me despedir?- pedi, o demônio apenas assentiu e desapareceu.

—É tarde demais pra te pedir pra ficar, não é?- Zayn forçou um sorriso.

—Tenha um pouco de fé, vai dar tudo certo- disse confiante.

—Tome cuidado, muito mesmo- ele acariciou meu rosto- eu te amo você.

—Eu te amo- disse, dando um beijo de despedida.

...

—Demônios, chamativos como sempre- revirei os olhos ao ver o grande salão.

—Vou considerar isso um elogio- Malakai sorriu.

Entrar na festa foi fácil, tirando alguns guardas, todos ali estava distraídos com a festa.

Eu me sentia exposta, ainda mais com os olhares que recebia. Aquilo tudo parecia tão estranho, anjo e demônios dançando juntos, de livre e espontânea vontade. Tudo bem que isso foi meio irônico vindo de mim, mai ainda assim era estranho.

—Lá esta ele- Malakai sussurrou.

Num terno vermelho brilhante, Torn parecia desfilar em meio aos convidados.

Ele subiu até o palco, e disse algumas coisas sobre revolução. Tudo que eu conseguia pensar, era se seria capaz de mata-lo. Ele ergueu a taça, e brindou, logo a musica começou.

—Ele vai dançar a primeira musica, depois vai se retirar pra iniciar o ritual- Malakai explicou- e é aí que a gente entra.

—Então vamos dançar- assenti.

Ao ritmo lento da musica, eu e Malakai deslizávamos pelo salão. 

Dançar era divertido, romântico, eu faria com Zayn com certeza.

—A grande porta de madeira, onde os dois demônios estão de guarda- disse, os observando- temos que derruba-los sem fazer barulho.

—Não vai ser problema- Malakai assentiu.

Assim que a musica terminou, uma batida agitada ecoou pelo salão, era perfeito. Torn passou pela porta, que agora tinha mais dois guardas.

—Você seria uma bela distração, não acha?-Malakai me olhou sugestivo, apenas concordei.

Fiz o meu melhor sorriso sedutor, e caminhei até eles.

—Deseja algo, anjo?-o maior perguntou, fiz um sinal pra ele se aproximar.

Se Gabe me visse agora, ficaria tão orgulhoso. Acertei ele com toda minha força, e quando os outros vieram me atacar, Malakai apareceu. Juntos nos os derrubamos, sem chamar nenhuma atenção.

—Até que não foi tão difícil- meu sorriso desapareceu assim que abrimos a porta. Parecia que cada metro do corredor havia demônios, e também anjos de guarda.

—Cedo anjo, cedo demais- Malakai balançou a cabeça.

—Foi bem tolo da parte de vocês virem sozinhos- um anjo disse, sorrindo arrogante.

—Sorte a nossa que não estamos sozinhos- Malakai olhou sobre o ombro, logo vários demônios apareceram- eu os derrubo, avise seus anjos pra entrarem.

Fechei os olhos por um segundo, mostrando as coordenadas e dando a ordem.

Não foi difícil passar pelo corredor, os demônios de Malaki entravam na frente de qualquer um que me atacasse.

Assim que entrei na grande sala, senti as presenças demoníacas.

—Deixem ela comigo-Uhriel ordenou, logo as criaturas recuaram- vai ser uma honra te matar.

—Irmão, você é um anjo, por favor, veja a razão- implorei.

—É  tarde de mais pra seguir a razão, Ariel, pelo menos pra você - ele sorriu, então me atacou.

Senti minhas costas se chocarem contra a mesa de vidro, antes que eu pudesse reagir, senti seu punho contra o meu rosto.

Um tremor invadiu o lugar, as luzes piscaram, Torn estava iniciando o ritual, eu tinha que me apressar.

—Eu sinto muito- sussurrei pra ele.

Me desviei do seu soco e puxei seu braço pra mim. Eu não gostava de ser violenta, mas era necessário. Desferi vários socos em seu rosto, sentia a força pulsar dentro de mim. Sem mais tempo, o lancei contra a parede, acertando um ultimo golpe. Ele não estava morto, apenas inconsciente.

—Você fez um belo estrago- Malakai disse, aparecendo ao meu lado- vamos, não podemos demorar.

Varias tochas, uma mesa de pedra no centro, e vários cães do inferno.

—Malakai- Torn disse, então me encarou- e você deve ser Ariel, é um prazer conhece-la.

—Eu não posso dizer o mesmo- disse, me preparando pra luta.

Uma sombra negra apareceu ao seu lado, e pareceu sussurrar algo pra ele. Sua expressão mudou, ele estava com raiva.

—Você também tem um exercito, que surpresa- ele disse debochado- ataquem.

Além dos cães infernais, criaturas foram saindo das sobras. Malakai partiu pra cima de Torn, e infelizmente, as criaturas vieram pra cima de mim.

Grunhi de dor quando senti garras cortando meu braço. 

Enquanto eu me defendia do ataque dos cães, a cada vez que as criaturas sombrias me tocavam, eu sentia minha pele arder, como cortes invisíveis.

Senti um breve alívio, quando vi meus anjos entrando pela porta, e se juntando a luta.

Fique encurralada por sombras, aquilo estava me sufocando. A resposta veio rápida, eu sou luz.

Deixei minha luz emanar, queimando as criaturas. 

Olhei em volta, os anjos estavam feridos, mas estavam dando conta. Busquei por Torn e Malakai, mas eles não estavam mais ali.

Fechei meus olhos e me concentrei, a procura deles. 

Abri os olhos, estava em meio a ruínas de algum construção, Malakai estava ferido no chão. 

Torn estava parado em pé, um pouco a frente. Ele estava me esperando.

—Parece que somos só nós dois agora, anjo- ele sorriu.

Pai, olhe por mim, me de forças, rezei silenciosamente.

Gabe havia me ensinado uma vez, quando seu oponente for mais forte que você, use a força dele a seu favor.

Me lancei contra ele, o acertando com toda minha força. E quando ele me atacou, usei a força do seu golpe contra ele.

Parece que tudo aconteceu tão rápido, num momento eu estava batendo, então comecei a sentir seus golpes.

Minha cabeça latejava, era bem provável que alguma costela estivesse quebrada, mas nada daquilo importava. Eu derrotaria ele, nada me impediria.

Senti meu corpo ser lançado contra um parede, me recusei a gritar.

Me levantei, com forças que eu nem sabia de onde, e deixei aquilo se espalhar. 

Eu estava brilhando, queimando, aquilo era um presente divino.

—Mas o que...- Torn me encarou...assustado.

Cada vez que minha mão tocava sua pele, ele queimava. O segurei firme, fazendo-o se ajoelhar a minha frente.

—Você vai voltar pro inferno, que é o lugar que você nunca deveria ter saído- disse, fazendo com que ele queimasse ainda mais com minha luz.

—Você acha mesmo que eu não tinha um plano? - ele disse, engasgando com as palavras- vamos lá anjo, essa noite não serei o único a perder.

Senti um frio percorrer minha espinha. Zayn.

—Se você o machucou, eu juro que caço até o inferno...- ameacei, sentindo o desespero me tomar.

—Ele vai fazer o que anjos fazem de melhor- ele sorriu- vai cair.

Foi como se a minha luz se apagasse, Torn me acertou. Eu estava tonta, vi ele se aproximar.

Droga, eu não poderia morrer salvar meu moreno. Por favor, Deus, por favor.

Antes que Torn se aproximasse mais, Gabe surgiu.

Emanando luz e poder, com sua armadura e espada. Seu olhar concentrado, cheio de ira divina, um digníssimo guerreiro.

Com apenas um movimento, ele derrubou Torn.

—Vá, eu terminou com isso -ele disse.

Deixei que meu coração me levasse até Zayn.

Senti meu coração apertar. Ele estava ali, em pé, no parapeito do prédio, com o rosto machucado e sangrando.  Não esboçou reação nenhuma quando me viu.

—Zayn?- chamei, ainda meio confusa.

Fui até, e toquei seu rosto, esperando que ele reagisse.

O abracei, apertando o máximo que podia, estava aliviada.

—Esta tudo bem agora, meu amor, vamos...

Senti algo atravessar meu peito, então uma dor alucinante. Zayn havia me acertado, senti minhas pernas amolecerem.

O moreno me segurou firme, então simplesmente pulou.

Estávamos caindo, tudo girava na minha cabeça, me sentia cada vez mais fraca.

Não pensei muito, não tinha forças pra isso. Libertei minhas asas, e as passei protetoralmente a sua volta.

Meus olhos pesaram, vi o chão se aproximar. 

—Anjo...- ouvi Zayn sussurrar, então tudo ficou escuro.