Acordei com o barulho ensurdecedor do despertador, levantei e me dei de cara com um porta retrato, eu havia colocado a foto da Judy ali, eu queria era mesmo me matar. DPZ podia tomar conta de Zootopia sem uma raposa boba, mas Zootopia não consegue se cuidar sem uma coelha esperta.

Eu não servia para nada.

Resolvi levantar, assim que eu fiquei sentado vi uma sombra  na janela, corri para ela e o vulto já havia sumido, mas pude ver ele correndo e atravessando a rua. Ótimo começo de dia.

Vesti meu uniforme e fui dirigindo até o DPZ, quando cheguei, havia uma pessoa encapuzada conversando com Garramansa, quando olhou para trás e me viu, quer dizer, acho que me viu, seu rosto estava coberto pelo capuz, ela deu uns papéis para a chita e saiu, fui conversar com o comedor de rosquinhas:

— Quem era?

— Se identificou como Inuby Tybar - Olhei para ele, que fez a mesma cara que eu - Sim, eu também estranhei, é um nome bem estranho, mas não falo nada, cada pessoa com sua mania - Ele parou de falar, pegou uma rosquinha e comeu, quando lembrou de alguma coisa - Ele deixou isso para você.

— Ele? - Então o tal Ynuby é homem - Qual a espécie dele?

— Como você mesmo pôde ver, ele estava todo encapuzado, não dava para saber, só sei de uma coisa - Ele se aproximou - Ele me dá arrepios! Parece a morte!

— Sim, parece - Olhei para os papéis em minha mão - Vou dar uma olhada nisso, até Garramansa.

— Até, Nick - Ele se virou e ficou encarando a porta, por onde o estranho havia saído, quem é que diachos era ele?

Entrei na minha sala e fui ver o que tinha escrito naquelas folhas, era letra maiúscula, tudo, não entendi o motivo para isso. Comecei a ler.

EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ ENVOLVIDO EM UM CASO QUE O DPZ NÃO CONSEGUIU RESOLVER, JUNTO COM SUA PARCEIRA, ANTES DE TUDO, MEUS PÊSAMES.

EU ACHO QUE TALVEZ POSSA AJUDAR VOCÊ NESSA INVESTIGAÇÃO, EU VI UMA DONINHA, QUE TALVEZ ESTEJA ENVOLVIDA NO CASO, CARREGANDO ARMAS PARA UM LOBO. ACHO QUE AMBOS ESTÃO ENVOLVIDOS EM TUDO. CONSEGUI SEGUIR O LOBO SEM QUE SEJA VISTO E PARARAM A VAN EM FRENTE A UM CASARÃO ABANDONADO, QUE TINHA UM NOME, PELO QUE ME LEMBRO, ERA CARRO'TS, ENTRARAM LÁ E NÃO SEI AINDA O QUE TEM POR LÁ, ACHO MELHOR VOCÊ, UM POLICIAL, UM DOS MELHORES, IR INVESTIGAR.

SE ACHA QUE PODE CONFIAR EM MIM? PODE TER CERTEZA. MAS VOCÊ NÃO PODE ME CONHECER ALÉM DO CAPUZ E DO NOME.

ASS: YNUBY TYBAR.

Espera aí, eu tenho que confiar em um cara cujo nem vi o rosto e só sei o nome? Infelizmente, a resposta era sim, era uma das únicas pistas que eu tinha para poder encontrar o assassino. Eu sabia muito bem onde era esse tal de Carro'ts, eu sempre brincava com Judy por causa do nome dessa oficina, ela estava abandonada a não sei quanto tempo, mas a placa continuava lá.

Peguei a chave do carro e fui dirigindo até o casarão. Não sei se foi sorte ou não, estava vazio, nenhum sinal da Van, de qualquer forma me sentia vigiado, não me importei com isso e entrei na oficina. Fui analisando cada local, ponta a ponta, não achei muitas coisas, apenas uma arma e nada mais "Raposa estúpida, não era pra confiar num desconhecido".

Ouvi o barulho de um carro estacionando, olhei pela janela, era a tal Van que o encapuzado havia dito. Por sorte deu tempo de me esconder. Assim que a doninha, que tanto conhecemos entrou, um lobo veio atrás dela. Começaram a conversar, eu estava tentando arranjar um jeito de sair dali, mas algo na conversa me interessou:

— Então, temos as armas o suficiente - O lobo começou - Todas para matar qualquer tipo de animal, aquele DPZ não tem chance nenhuma.

— O plano está dando super certo - A doninha começou - Logo não restará nenhum policial para nos prender - Demorou um pouco para eu raciocinar o que ela havia dito, o lobo riu e foi para o local onde um lençol estava pendurado, o tirou de lá e ali vi um quadro, cheio de fotos, reconheci todos os policais, alguns estavam com um X riscado, e entre eles: Judy Hopps. Uma raiva subiu na minha cabeça, mas não podia me mexer, não agora. Precisava tirar isso a limpo. Continuei ouvindo a conversa e peguei a caneta-cenoura, e comecei a gravar.

— Alguns já foram, quando terminamos o serviço, não precisaremos nos preocupar em fazer nada, não terá um só polical para chegar e dizer: Pare em nome da lei - E ambos começaram a rir, então consegui finalmente entender o que queriam.

Queriam acabar com o DPZ, pois sem policiais, ficariam livre para fazer o que bem entenderem. Guardei a caneta e consegui escapar sem nenhum dos dois me ver. Quando estava voltando para o carro, vi uma imagem conhecida:

— Ynuby?

— Você, a raposa policial, resolveu seguir meu conselho? - Era a primeira vez que eu escutava sua voz, era um pouco grossa, e era um animal de estatura pequena, maior que um hamster, menos que eu - Achou algo para ajudar no caso?

— Como sabe do caso? - Foi a única coisa que saiu da minha boca.

— Todos sabem do caso, o seu chefe fala com a mídia todos os dias, espero que tenha boas notícias para ele.

— Sim, eu tenho, talvez... Eu descobri o que eles querem - Ele me encarou, mas ainda assim não consegui ver seu rosto - Porque não podemos ver seu rosto?

— Porque não gosto dele, consegui derrubar ácido nele, ficou todo deformado, não gosto que vejam - Ele abaixou ainda mais a cabeça, agora não havia nenhum jeito deu saber como era o rosto dele.

— Bom... Eu vou voltar para o DPZ, tchau - Eu falei e entrei no carro, dei a partida e vi a imagem desconhecida sendo deixada para trás.

Contei tudo o que eu descobri para o Chefe Bogo, ele ouviu o que eu gravei com a caneta e depois me agradeceu e em seguida me dispensou. Voltei para casa e não tinha mais nada a fazer, de repente a voz do tal Ynuby veio a minha cabeça, ele era um sujeito estranho, mas pode provar que eu podia confiar nele. Vou admitir que no início achei que ele trabalhava para a dupla que matava os policais...

Ou realmente trabalha?

Resolvi tomar banho para esfriar a cabeça, coloquei uma roupa qualquer para dormir e deitei na cama. Ainda não era totalmente de noite, mas eu estava sem ideia do que fazer, acabei pegando no sono de qualquer forma.

Eu estava com Judy Hopps em minhas mãos, ela estava sorrindo, uma coelha adormecida, mas de repente seu sorriso foi diminuindo, sangue sujava minha mão e voltei para o cenário daquela noite, uma coelha sobre uma poça de sangue. Quando  olhei ao redor, todos os policais de Zootopia sangravam. Olhei para frente e ali estava a imagem do Ynuby com uma arma apontando para mim:

—  Você é o último - E disparou.

Acordei perto das 4h da manhã, não conseguia pegar mais no sono, tive medo de voltar a dormir e voltar a sonhar aquilo de novo. Tudo o que mais me incomodava no sonho era a Judy e o Ynuby. Resolvi deixar para lá e fui procurar alguma coisa para passar o tempo.

Quando deu 5h30min, fui andando até o guarda roupa e coloquei uma roupa preta, sim, era o dia do enterro da Judy. Fui andando mesmo, passei por uma floricultura já aberta e fui olhar lá dentro:

— Você teria orquídeas roxas? - Perguntei pro floricultor que ali estava, ela falou para me aguardar e foi pegar um buquê, comprei elas e ele perguntou para quem eram - Para uma amiga.

— Apenas amiga? Ou vai se tornar algo mais? - Ele riu, mas ficou me encarando, suspirei.

— Infelizmente, ela não viveu muito tempo para eu poder responder a sua pergunta - Ele então notou minhas roupas pretas e colocou a mão na boca.

— Oh, Deus, eu sinto muito... E-eu.

— Não precisa se preocupar - Eu sai dali e fui andando até a igreja.