—Então, Pedro... –disse Capitão- Como está a Larissa? Ela está bonita?

—O senhor só pensa em garotas? –disse PS revirando os olhos.

   A última vez que Capitão vira Larissa foi quando ela possuía apenas oito anos. Ele lembrava bem de como os olhos dela eram de um tom azul bem claro, não era como o azul vibrante dos olhos de Flerp, era algo mais suave, algo mais delicado. Ele continuava pensando nos olhos marcantes dela quando Eric o interrompeu.

—Sim, ela está bonita! Mas não é da sua conta!

   O capitão sorriu.

—Vejo que Larissa também já está comprometida... É uma pena... –suspirou desapontado- Pelo visto terei apenas a Merceer.

—É o quê?! –Carla o olhou assustada- Você não vai me ter, ok? Meu corpo, minhas regras!

—Adoro garotas estressadas...

   Ela revirou os olhos.

   Outra coisa a fazia pensar, ele disse que Larissa estava comprometida “também”, quem era a outra pessoa comprometida?

—Saudações.

   Todos pararam. Era Larissa. Estava vestindo como de costume uma blusa branca com sua saia vermelha. O capitão a olhou de cima a baixo.

—O vermelho cai bem em você, Larissa. –sorriu com o canto dos lábios.

—Faz muito tempo desde que nos vimos, Capitão, o senhor não mudou nada.

   Ingrid tentou associar suas palavras. Como ela podia chamar Capitão de senhor? Ele tinha no máximo doze anos!

   Seu raciocínio foi interrompido pelos risos de PS e Flerp, riam como se Larissa houvesse contado uma piada.

—Veja só! –Capitão falou- Da última vez que a vi, você tinha oito anos! Agora deve estar com... Dezesseis?

—Dezessete. –corrigiu.

—Dezessete! –ele falava com um sorriso.

   Pedro sorriu.

—Creio que vocês devem estar com fome! Não almoçaram nem comeram meus maravilhosos bolinhos!

—Eu fiz ótimo proveito deles, acredite. –Jeferson acrescentou.

—Eu quero comer! –Luciano falou- Sou de pedra, mas também sinto fome!

—Pois bem, o que estamos esperando? –disse Pedro- Sigam-me! Vou levá-los à sala de refeições.

...

   Taína-chan não estava nem um pouco satisfeita em ficar dentro daquela sala sozinha, ela parecia bem mais monótona sem Larissa, o único som que havia era das máquinas e de um pequeno robô que realizava a limpeza do local.

   “Não vou ficar sozinha aqui esperando ela voltar” pensou decidida.

   Levantou-se subitamente, tendo que se apoiar devido a uma tontura.

—Droga, não consigo nem ao menos andar direito.

   Repentinamente, uma voz ecoou em sua cabeça.

    “A herdeira será revelada”

—O quê? –ela parou- Quem disse isso?

   “A hora está chegando”

   Não podia ser Larissa, a voz era bem diferente, mas quem poderia estar dizendo aquilo?

   “Apresse-se, não pode ficar parada, você tem que encontrar a herdeira”

   Outra dor aguda surgiu em sua cabeça, fazendo Taína-chan fraquejar.

—Quem... –ela se contorcia- Quem é essa herdeira?

...

—E aqui é a sala de refeições! Sejam bem-vindos!

   Pedro se aproximou da porta e esta se abriu, dando passagem para todos.

   A mesa estava farta de diversas comidas e bebidas diferentes, um robô acrescentava cadeiras enquanto organizava os lugares.

—Quanta comida, Pedro, -disse PS- parece até que sabia que viríamos.

—Foi só um palpite.  –ele sorriu.

   Jeferson e Luciano saltitaram até a mesa e pegaram seus pratos.

—Agora entendo porque queria que nós os treinássemos, -disse Capitão- caso eles façam isso no reino deles, podem até ser punidos.

—Reino? –disse Ingrid- Os Merceers e Croosers vivem em uma monarquia?

—Os Al1ens também. –disse PS.

   Jeferson e Luciano estavam brigando para ver quem pegaria a batata primeiro.

—Nós vamos conhecer o rei e a rainha? –perguntou Eric-.

   O capitão e PS riram.

—Pedro não contou nada mesmo a vocês, não é?

   Luciano pegou a batata, mas Jeferson tirou-a de sua mão.

—Espera aí... –disse Carla- Nós iremos ao reino dos Croosers?!

—Infelizmente, você vai junto.

—Tinha que ser você mesmo, não é, PS? –disse com raiva- Eu quero saber como que eu, uma “perigosa” Merceer, vai entrar no reino dos Croosers.

—Sobre isso, Capitão respondeu- teremos um pequeno problema com seu cabelo.

—O que tem meu cabelo?!

—É comprido.

—E daí?

   Luciano fez o jutsu multiclone das sombras para pegar a batata de volta.

—Bem... Uma Merceer não pode entrar no reino dos Croosers de cabelo comprido, ainda mais tão comprido como o seu.

—O QUÊ?!

   Pedro interrompeu a conversa.

—A comida vai esfriar, sentem-se! Fiquem à vontade.

   Com exceção de Larissa, todos se dirigiram à mesa.

—Pedro, eu não vou ao reino dos Croosers.

—Você terá que ir, Carla.

—Isso não tem nenhum sentido! Por que uma Merceer não poderia entrar lá de cabelo comprido?

   Pedro colocou alguns legumes em seu prato enquanto a respondia.

—Merceers tem uma grande quantidade de poder em seus cabelos. Quando compridos, eles acumulam poder ao ponto de poder usá-los para cortar, bater, ou até mesmo controlar os movimentos dos cabelos. Por isso os Croosers criaram a regra de sempre cortar os cabelos de todo Merceer que entra lá. Como você se criou aqui na Terra, não acredito que desenvolveu essa habilidade nos cabelos, então não vejo perigo, mas regras são regras... Esses legumes estão deliciosos! Quer alguns?

   Desapontada, Carla pegou alguns legumes.

—Mas demorou quatro anos para o meu cabelo ficar desse jeito...

—Sinto muito, mas será necessário.

—Bem... Mudar o visual faz bem de vez em quando...  –disse ela colocando um pouco da comida na boca- Ah, esses legumes estão bons mesmo!

   Jeferson partiu a batata ao meio e cada um ficou com uma metade.

   Flerp subiu em uma cadeira e tentava alcançar a mesa sem sucesso.

   Você, leitor, só está rindo da desgraça alheia, não é?

—Larissa, querida, -disse Capitão- não vai comer ou beber alguma coisa?

—Eu não quero.

—Mas estou tão solitário aqui... Tem uma cadeira vazia ao meu lado.

—Então tire ela daí.

   Alarmada, Larissa olhou em seu GPS.

—Tem algo errado na enfermaria.

   Após dizer isso, ela saiu. Correndo para checar o que estava acontecendo.

...

A porta se abre, Larissa entra em choque.

Estava vazia, com uma frase escrita milhares de vezes em todos os cantos da parede.

“A herdeira está chegando”