—Hmm...? -Abri meus olhos com um pouco de dificuldade, a luz do sol invadia o quarto. Cobri a parte de cima dos meus olhos com as costas da minha mão e observei o local. 

  Acabei de acordar em um dos quartos. Eu tinha algumas faixas pelos braços e provavelmente em mais partes do meu corpo. Minha cabeça doía e eu não conseguia me mexer direito, meu corpo estava deveras dolorido. 

  Eu estava sozinho, mas havia algumas flores em minha volta. Eu nunca havia recebido alguma, talvez eu tenha ficado inconsciente por muito tempo. 

  —Oh... -Fiquei estático ao lembrar da última cena que passei antes de ter desmaiado. Meu rosto começou a enrubescer, minha vontade era de se esconder debaixo dos lençóis, mas meu corpo estava muito dolorido para poder me mover tão bruscamente quanto eu desejava. Pelo menos ninguém estava ali para ver minha expressão desajeitada... 

  Fechei meus olhos e passei a pensar nas palavras que trocamos. Senti minhas mãos tremerem um pouco e meu coração palpitar. Respirei fundo e quando percebi que alguém abria a porta, passei a lhe encarar. 

  —Eren?! -Hanji se espantou ao me ver acordado. Ela se aproximou de mim e começou a fazer diversas perguntas de como eu estava me sentindo. Respondi a todas e Hanji me pediu para descansar mais um pouco, pois iria avisar os outros sobre o meu estado. 

  —Ah, espera... Como todos estão? -Perguntei antes que ela saísse do quarto. Ela virou o rosto, segurando-se no canto da porta. 

  —Todos estão bem. -Ela sorriu. —Não precisa se preocupar. 

 —Obrigado. -Respondi. Hanji assentiu com a cabeça e enfim saiu, fechando a porta. Depois pude ouvir algumas vozes do lado de fora do quarto, que foram se afastando pelo corredor. Me ajeitei confortavelmente na cama e fechei meus olhos, mas estava sem sono. 

  Pouco tempo depois, abriram a porta do quarto. Entrou Mikasa com um prato de comida, sobre uma bandeja, em suas mãos. 

  —Como está, Eren? -Ela perguntou, se aproximando com uma expressão preocupada. 

  —Estou bem, obrigado. -Respondi, sorrindo. 

  —Se alimente, você precisa. -Ela colocou a bandeja em meu colo. —Precisa de ajuda para comer? 

  —Ah... Não. -Ri um pouco. —Você está mais preocupada que o normal. O que aconteceu? 

  —Nunca te vi ficar dormindo por tanto tempo. -Ela se sentou ao meu lado, na cama. —Fiquei com medo de que não acordasse mais... 

  —Eu também achei isso, mas... Aqui estou. -Segurei sua mão e sorri para Mikasa, que me respondeu com um breve sorriso. Depois escutamos um som vindo de fora do quarto, quando olhamos, vimos uma pessoa seguindo pelo corredor. Vi apenas suas costas, mas poderia jurar que era Levi. 

  —Eren. -Ela chamou pelo meu nome. —Vou ter que sair já, me desculpe. Mais tarde eu volto. -Mikasa se levantou da cama e saiu do quarto, fechando a porta. 

  —Hm, sozinho de novo... O que foi isso? -Peguei a colher e comecei a me alimentar. Até que a comida estava boa, não esperava isso de Mikasa. Após terminar de comer tudo que estava no prato, coloquei a bandeja na mesa de canto ao meu lado. Me deitei novamente e passei a encarar o teto, deixei pensamentos invadirem minha mente e depois fechei meus olhos, caindo no sono. 

  Passaram-se três dias desde que despertei. Todos meus amigos já haviam me visitado, até mesmo Erwin, que me trouxe um vaso de flores, dizendo que me ajudariam a me recuperar e iriam iluminar o meu caminho. Achei engraçado ouvir essas palavras vindas dele, mas apenas sorri e agradeci-lhe. 

  Apesar de ser grato por tudo e à todos, a pessoa que eu mais esperava não veio me visitar, o que me apertava o coração. A última vez que eu o vi, foi aquele dia que ele passou pelo corredor, mas não posso ter certeza de quem era, pois apenas vi suas costas. 

  Por qual motivo ele deixaria de me ver? Será que está tudo bem com ele? Ou... Seria possível que tenha se arrependido do que disse...? 

  Uma insegurança brotou em meu peito. Essa história me parecia confusa desde que reconquistei minha consciência, todas as palavras pareciam serem ditas pelo calor do momento. Podem até ser sinceras, mas podem haver arrependimentos, essa é uma hipótese não descartável. E antes mesmo que eu notasse, uma gota solitária começava a escorrer pelo meu rosto. 

  —Eren! -Mikasa entrava no quarto, me tirando de meus pensamentos, mas eu consegui enxugar a lágrima antes que ela notasse. Seu rosto parecia emburrado, o que me deixou espantado. 

  —O-o que aconteceu? -Indaguei e ri um pouco sem graça. 

  —Hah... -Ela suspirou profundamente e desviando o olhar. —Nada... Aqui, coma, você precisa. 

  —Ok... -Estiquei meus braços e peguei a bandeja. Enquanto eu comia, ela estava sentada na ponta cama, olhando para as próprias mãos. Estava deveras pensativa, comecei a me preocupar, mas não achei que fosse uma boa ideia perturbá-la. Passei meu olhar pelo quarto e pensei no quanto eu gostaria de ver todas as flores de perto. 

  —Mikasa, depois que eu terminar de comer, poderia me trazer as flores? Eu gostaria de vê-las melhor. -Quando terminei de pronunciar, ela me encarou com um olhar mais relaxada e assentiu com a cabeça. 

  Assim que acabei com o prato, ela me trouxe as flores que estavam no quarto, uma por uma, para que eu pudesse observá-las melhor. Não eram muitas, mas eram todas belas e com odores maravilhosos. Quando Mikasa me entregou a última, que fora entregue por Erwin, notei que havia um pedaço de papel entre as flores. 

  Assim que eu o peguei, Mikasa saiu do quarto, sem pronunciar uma palavra. Isso me surpreendeu, mas abri o papel para ler o seu conteúdo: uma carta.