A echarpe azul celeste

“Não sei… Rabicho estava estranho, sabe? Parecia sempre estar olhando por cima dos ombros, como se estivesse com medo de ser visto. Me preocupo com o tipo de situação na qual ele possa ter se metido dessa vez.” comentou Remo, tomando um gole de seu café quente. O maroto tinha saído do hospital duas noites antes e naquela manhã, já em casa, comia a primeira refeição do dia com sua noiva. O casal estava sentado à mesa, sendo na distância guardados por membros experientes da Ordem da Fênix que Dorcas tinha insistido em ter em casa pelo menos até o noivo se recuperar um pouco.

“Remo, querido, o Pedrinho pode estar sendo seguido. Não temos como saber ao certo, mas acho que ele fez bem em ser breve. O hospital pode ser um local fácil para atingir alguém.” a loura palpitou, dobrando o guardanapo. O bule de café, antes fumegante, já não exalava mais nenhum tipo de vapor. “Ele sabe se cuidar e, por mais arrogante que isso soe, nós já temos situações desagradáveis o suficiente para lidar. Não temos como ajudar todo mundo.” lamentou, terminando seus ovos mexidos. O maroto, contragosto, concordou com a noiva, que logo se levantou para recolher a mesa. “Agora precisamos nos preocupar com você e Marlene, apenas.” reforçou a ideia, passando a mão em seu ombro. O maroto acabou cedendo a discussão, tomando o último gole de café para posteriormente ajudar a lavar a louça.

O casal parou o que fazia quando ouviram alguém bater na porta, a qual os membros da Ordem rapidamente atenderam, prontos para reagir se necessário. Quando abriram-na, acharam um Tiago do lado de fora, parecendo que não tinha dormido direito. Seus óculos estavam sujos e tortos, enquanto suas vestes se apresentavam amassadas e desajeitadas. “Vocês viram Lily hoje ou ontem?” o maroto parecia desanimado e cansado, como se estivesse fazendo aquela pergunta pela enésima vez. “Nós não a vemos há pelo menos três dias, Pontas.” Remo se pronunciou, sentando na cadeira mais próxima e convidando o amigo a fazer o mesmo. Ao ver a falta de reação de Potter, Dorcas e Remo compartilharam um olhar preocupado “A última vez que eu a vi, foram três dias atrás.” o moreno constatou, ajeitando os óculos. “Ela trocou os curativos de Marlene e saiu de casa para fazer algo, talvez passar no Beco Diagonal para comprar mais remédios ou bandagens. O ponto é que três noites atrás Lily não voltou para casa e Lene disse algo bastante estranho que eu acho que tem algo relacionado a minha esposa.” ele suspirou, os contando o que a morena tinha dito. Remo franziu o cenho e Dorcas cerrou os olhos, apenas aceitando o que já temia. “Marlene era Lily. Quero dizer, Lene desenvolveu algum tipo de conexão com o mundo quando ela foi machucada. A quase morte dela a aproximou de algo sobrenatural, como as almas das pessoas ou algo do gênero. Acontece às vezes. Ela provavelmente está falando coisas que não consegue explicar ou até esquece que disse.” quando os dois fizeram uma expressão de desentendimento, Dorcas desenvolveu melhor. “A mente de Marlene está conectada com a mente de todas as pessoas, portanto ela aponta fatos que não deveria, como sentimentos e estados alheios. Ela é, pode se dizer, um tipo de vidente ou profeta.”. Remo foi então o primeiro a se pronunciar, sem saber se tinha entendido completamente o discurso de Dorcas “Marlene três noites atrás estabeleceu uma conexão psicológica com Lily, é isso que você está tentando dizer?” a loira assentiu, logo concluindo o pior “Isso significa que Lily está em apuros.”.

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“Marlene não é nenhum tipo de vidente. Ela só deve ter batido a cabeça com muita força e, por isso, anda dizendo algumas coisas sem noção.” Sirius concluiu quando a teoria lhe foi apresentada. Os quatro estavam agora na casa de Tiago, onde discutiam na sala a situação da morena. “Almofadinhas, seja menos cético. Lílian sumiu e talvez essa conexão inexplicável de Lene seja a única resposta para encontrá-la; precisamos usar o que temos e, no momento, temos apenas um palpite de algo que pode dar certo.” o maroto de óculos opinou, um tanto quanto irritado. Sirius optou por deixar de lado seu ceticismo quando o melhor amigo começou a se aborrecer e, com um pouco de relutância, foi atrás de sua esposa para ver se de alguma maneira ela conseguia detectar a localização de Lily. “Eu não vejo Lily há uns dois dias pelo menos” foi a primeira coisa que Marlene constatou, se ajeitando na poltrona. A morena tinha sido interrogada sobre o que falara a Tiago em relação a Lily na outra noite, mas ela não se recordava de uma palavra; A verdade era que Marlene não estava entendendo muito bem o mundo, já que sua mente estava presa em algum momento de quatro anos no passado. “Lene, qual foi a última vez que você esteve fora daqui?” Dorcas questionou delicadamente, esperando que talvez alguma coisa lhes aproximasse do paradeiro de Lily. A resposta não ajudou.

Na falta de opções, Sirius e Tiago partiram para uma busca no Beco Diagonal, enquanto Dorcas e o futuro esposo ficavam na casa cuidando de Harry e Lene. Os amigos ficaram um tempo dando palpites de locais possíveis, enquanto a loura preparava um chá para se acalmar. “Dór, não adianta se sentir culpada. Você estava cuidando de mim esses dias, não tinha como evitar isso.” o maroto tentou a consolar, enquanto Marlene se auto-medicava. A verdade é que o trio foi incapaz de chegar a qualquer conclusão em todo o tempo que ficaram sozinhos. Dorcas logo teve que partir para o hospital trabalhar, deixando Remo e a morena com a tarefa de cuidar do bebê.

Entre as conversas que foram iniciadas, a que tomou mais tempo foi a que Remo explicava um pouco do que lhe ocorrera nas últimas semanas em que esteve no Hospital St. Mungus. “Se Pedrinho apareceu lá, acho que ele se meteu em algo bem ruim…” opinou Marlene, após algum tempo de reflexão. O maroto assentiu com a cabeça, balançando um pouco Harry em seu colo. “Ele veio aqui.” Lene constatou ao se recordar de ouvir a conversa dele com Tiago alguns dias antes. “Pedro estava mentindo quando disse que virara Comensal da Morte para ser um espião.” soltou a morena, sem nem saber como descobrira aquilo. “Ele percebeu que fez algo errado e tentou consertar vindo falar com vocês, mas o pior já foi feito e é apenas questão de tempo até que tudo caia aos pedaços.”.

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“Já procuramos em todos os lugares possíveis” resmungou Tiago no meio do Beco Diagonal. O par estava procurando a ruiva faziam duas horas e nada parecia lhes ajudar. Os dois olharam cada loja do beco, perguntando se qualquer vendedor a tinha visto, mas até aquele momento nenhum sinal dela. “Talvez ela tenha ido em algum outro local depois e de lá…” Sirius não teve coragem de continuar a frase por temer a reação do melhor amigo. Já exausto, o maroto pensou em algo “Tiago, quais são as chances de Lily ter ido para a Travessa do Tranco?”. O moreno ponderou, sem encontrar nenhum motivo plausível pelo qual a esposa teria ido para tal local. “Ela não sabe andar por lá” foi a única coisa que lhe veio à mente no momento e, quando percebeu, estava andando com Sirius até chegarem à Travessa do Tranco. “Eu já me infiltrei aqui, então se você preferir esperar, vou entender” Sirius ofereceu. “Até porque eu conheço pessoas que poderiam ajudar.” acrescentou. Tiago evidentemente recusou e adentrou com o amigo pelas ruelas.

Após alguns minutos, Sirius deu de cara com alguns bruxos bastante excêntricos que logo o reconheceram. “Jason, seu desgraçado!” o maroto rapidamente mudou sua expressão facial para uma mais sombria e estranha ao ouvir a frase. Tiago já esperava o pior, porém, para sua surpresa, Sirius cumprimentou o bruxo grisalho chamado Octávio. “Como vai sua esposa, Anna?” “Muito bem; espero o mesmo de seus filhos” com essa frase, os marotos prosseguiram na Travessa do Tranco, deixando Tiago um tanto quanto confuso. Sirius o explicou que se infiltrara lá com Marlene com nomes falsos para poder descobrir possíveis passos de Comensais da Morte ou até mesmo do próprio Lorde das Trevas. As informações descobertas eram levadas diretamente para a Ordem, onde outros agiam em posições variadas para sempre prevenir qualquer desordem no mundo bruxo. Ele e Marlene tinham sido escolhidos para tratar naquela área, enquanto outros pares cobriam o restante do território. “Você e Lily acho que nunca seriam colocados em locais assim, já que vocês conseguem se sair melhor em ambientes burocráticos, como o Ministério. Dumbledore diz que Lene tem uma ótima habilidade para oclumência e por isso se mistura melhor aqui.”.

Eles andaram mais alguns metros até se depararem com uma bifurcação. “Eu até diria para irmos cada um para um lado, mas tenho a leve impressão que você se perderia aqui, Pontas” os dois amigos riram, pois aquilo era uma verdade bastante evidente. Black suspirou, sentindo falta de sua companheira. Os marotos seguiram para a direita, dando voltas e mais voltas sem nenhum resultado que valesse a pena. De volta à bifurcação, seguiram, dessa vez pela esquerda, chegando em pontos mais sombrios e abandonados da Travessa do Tranco. Tiago tinha a impressão que quanto pior o cenário ficava, mais perto eles estavam de respostas. Adentraram mais no ambiente até que Sirius parou abruptamente, encarando o chão. O solo ainda continha resquícios de gotas de chuva dos últimos dias que se acumularam entre os pedregulhos, que estavam de certo modo bastante lamacentos. “Almofadinhas?” Tiago o chamou para tirá-lo de seu devaneio. Ele não respondeu de início, apenas apontou para algo à frente dos dois. Era uma echarpe azul celeste, naquele momento com coloração suja e avermelhada, esquecida no chão. Sirius, por fim, disse o pior “Lílian esteve exatamente aqui”.