Acordou assustado, lembrando-se do pesadelo. Aquilo não era só um sonho, pensou, três vezes seguidas, sonhando estar perdido no meio da floresta... O que isso poderia significar?
Olhou para seu lado e percebeu que Bill ainda estava dormindo, segurando em uma de suas mãos. Hesitantemente, Dipper passou a outra mão pelo rosto do loiro, o observando. O quarto estava escuro, mas a luz do luar o permitia observar os detalhes da face dele, e o moreno continuava encantado com a beleza da forma humana de Bill.
— Pinheirinho..? — murmurou Bill com uma voz sonolenta, lentamente abrindo os olhos.
— Desculpa... Não quis te acordar. — disse baixo, movendo a mão do rosto do outro para os cabelos claros do mesmo.
— O que tá fazendo acordado?
— Tive um pesadelo, — começou, mas percebeu que talvez não deveria contar isso para Bill agora — mas não foi nada demais.
— De novo? Tem certeza que não é nada demais?
Bill o olhou curioso, genuinamente preocupado, e Dipper decidiu que o contaria: afinal, eles são namorados agora, deveriam confiar um no outro, certo..?
— Bem... Eu ando tendo esses sonhos estranhos. Acordando na floresta, com uma tempestade forte... — Bill o observava atento, fazendo um gesto para que continuasse — Nesse último sonho, eu consegui ver um reflexo em uma poça de água, mas não era eu-
— Dipper. Você me viu, certo? — o loiro o perguntou com um olhar sério, e Dipper apenas concordou com a cabeça — Isso não é bom...
— O que isso significa?
— Nada.
Bill deitou novamente e se virou para o lado oposto de Dipper, o deixando sem resposta.
— Bill?
— Ainda tá de noite e eu quero dormir.
— Bill.
— Boa noite, Dipper.
— Bill! Sério que você vai esconder as coisas de mim de novo?
Sem resposta.
— Eu te contei tudo sobre meus pesadelos, te ajudei até agora e até deixei você dormir comigo!
...
— Acho que estou me arrependendo de ter confiado em você. — No momento que Dipper disse isso, conseguiu sentir o outro estremecer ao seu lado, o que fez o moreno se sentir um pouco mal — ...Desculpa, eu não quis dizer isso.
— Eu que tenho que me desculpar... Não é que eu não confie em você, eu só não quero te contar isso... — murmurou o loiro, ainda de costas para Dipper.
— Você sabe que pode me contar qualquer coisa.
— Sobre o seu sonho — Bill começou — Ele representa uma ligação entre nós. Mas isso não deveria estar acontecendo. Quando eu disse que gostava muito de você, achei que era algo temporário, um sentimento humano que eu estava experimentando, mas parece que é mais que isso. Algo além da minha forma humana, e... Isso não vai dar certo.
— Por que não?
— Você é um humano, provavelmente vai me trocar por outro humano. E mesmo se não fizer isso, no final de tudo você inevitavelmente vai morrer. E me deixar sozinho.
— Bill... Eu não sabia que...
Dipper ficou sem palavras. Não sabia que Bill se sentia assim e nem parou pra considerar isso, mas só o pensamento já o fazia querer chorar. E percebeu que não era o único emocional naquela cena.
— Ei, você não tá chorando, né? — colocou uma das mãos no rosto do loiro, fazendo-o se virar, mostrando as lágrimas que escorriam por suas bochechas.
— Cala a boca, eu não sou o único chorando aqui. — Bill disse, porém com um sorriso, e Dipper não conseguiu não sorrir de volta.
O loiro desviou o olhar por um momento; nunca havia sentido algo assim antes. Toda vez que olhava para Dipper sentia algo em seu peito, uma sensação calorosa, e sempre encontrava algo de especial naquele sorriso tímido. Pela primeira vez, sabia que não estava sozinho, e se sentia amado.
Dipper, por sua vez, se sentia especial pelo tempo que passou com Bill. Sabia que era o único que o via daquele jeito. O único que via o quão fofo ele poderia ser, o único que o via acidentalmente esquecer de o chamar de "Pinheirinho" quando estava bravo, e o mais importante, o único que o viu nos momentos mais frágeis. Quem imaginaria que Bill Cipher também tivesse um lado sensível?
Dipper parou de pensar quando sentiu uma mão pelo seu rosto, limpando as lágrimas.
— Eu odeio ver você chorar, mesmo se for por mim. — comentou Bill, num tom baixo de voz.
— Também não gosto de te ver chorar. É estranho.
— Estranho?
— É. É diferente de, você sabe, a 3 anos atrás.
— Eu sei... Nem me reconheço mais. Acho que todos esse tempo sozinho me fez diferente... — Dipper o olhou confuso, e Bill suspirou — Quando um demônio perde os poderes, o processo de recuperação é meio... arriscado. E doloroso. Esses três anos pareceram como três séculos.
— Ah... Eu nem sei o que dizer, Bill, se eu pudesse mudar-
— Não importa mais. O que importa é que eu voltei pra te importunar! — disse Bill com aquele sorriso, bocejando logo em seguida — Quero voltar a dormir, Pinheirinho...
Antes que pudesse responder, o loiro o puxou e logo estavam se abraçando novamente, prontos para voltar a dormir.
O que não esperavam mesmo era acordar ao som de risadas de garotas.
— Aww, eles são tão fofos!
— Ah, que adorável! Por que não tiramos uma foto para recordarmos deste momento? — escutou a voz de alguém que não escutava faz tempo. Espera... Pacifica?
Dipper sentou na cama rapidamente quando um flash de luz apareceu, acordando abruptamente. Olhou para onde veio o flash e percebeu as duas adolescentes ali, a loira com um sorriso largo e um Iphone dourado na mão.
— O quê..? Pacifica?!
A garota estava totalmente diferente, apenas reconhecível pelo estilo de roupas e acessórios. Os cabelos estavam mais curtos, passando pouco dos ombros, seu rosto não era mais de criança e sinceramente, Dipper a achou mais bonita que antes.
— Sua irmã falou em nos vermos novamente, mas não achei que iria te encontrar uma situação como essa. — Pacifica disse, apontando para a cama do outro. E aí que Dipper se lembrou: tinha dormido junto com Bill novamente.
— A-Ah, isso, uh... — começou a gaguejar, sem saber o que falar, seu rosto cada vez mais vermelho.
— Pinheirinho? O que tá acontecendo..? — o moreno olhou para baixo e percebeu que o outro ainda estava o abraçando, e parecia que tinha acabado de acordar.
— Nada... Pode voltar a dormir. — murmurou para Bill, acariciando seus cabelos e o loiro voltou para seu sono na hora, seguido de mais risinhos femininos das jovens.
— É inegável, Dipper, vocês são o casal perfeito!
— Nunca achei que meu irmãozinho iria achar alguém...
Dipper revirou os olhos. Não sabia se saia da cama ou se ficava — não queria acordar o outro mas aquele momento era constrangedor demais.
— Não é nada disso, suas pervertidas. Eu só fiquei com dó de deixar ele dormindo no sofá. — tentou se defender, mas acabou só escutando mais risadinhas. Cuidadosamente se levantou da cama, tentando não acordar o outro e expulsou as duas do quarto, começando a reclamar sobre falta de privacidade e tentando provar que não, ele e Bill não eram namorados.

Mesmo que agora eles fossem.