Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 39
XXXIVX – Antes do pôr do sol


Notas iniciais do capítulo

IAEEEE CAMBADA, to me sentindo meio gênio da lâmpada hoje, prontinha para realizar três desejos, então solta logo esse capítulo e só fica faltando dois. Ah, claro, já ia me esquecendo, TUDO BOM?



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"As doenças mais perigosas são aquelas que nos
fazem pensar que estamos bem."

Livro de regras do Governo Americano após a Guerra de Esporos

 

Outro dia, fiquei pensando no mundo sem mim. Há o mundo continuando a fazer o que faz. E eu não estou lá. Muito estranho. Penso no caminhão do lixo passando e levando o lixo e eu não estou lá. Ou o jornal jogado no jardim e eu não estou lá para pegá-lo. Impossível. E, pior, algum tempo depois de estar morta, vou ser verdadeiramente descoberta. E todos aqueles que tinham medo de mim ou que me odiavam enquanto eu estava viva vão, subitamente, me aceitar. Minhas palavras vão estar em todos os lugares. Vão se formar clubes e sociedades. Será nojento. Será feito um filme sobre a minha vida. Me farão muito mais corajosa do que sou. Muito mais. Será suficiente para fazer os deuses vomitarem. A raça humana exagera tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância.

Uma hora depois, eu havia preparado e comido um lanchinho de fim de noite – biscoitos cream-cracker com cream chesse e cappuccino –, tinha arrumado a cozinha e assistido a um pouco de televisão. Pensei em ouvir um pouco de Chopin, para romper o silêncio, mas não queria que a música me impedisse de ouvir outros ruídos. A última coisa de que eu precisava era de alguém se esgueirando pelas minhas costas.

Controle-se! Foi a ordem que dei a mim mesma. Ninguém vai se esgueirar pelas suas costas.

Depois de algum tempo subi as escadas para o meu quarto e liguei a tv de lá. O cômodo estava limpo sob todos os aspectos, por isso arrumei as roupas no armário de acordo com a cor, tentando me manter ocupada para não cair na tentação de adormecer. Nada me faria mais vulnerável do que dormir, e eu queria adiar isso ao máximo possível. Limpei o alto da minha cômoda, organizei os livros em ordem alfabética. Garanti a mim mesma que nada de ruim iria acontecer. Provavelmente eu acordaria na manhã seguinte percebendo como estava sendo ridicularmente paranoica por não ter Jason aqui para me proteger.

— Acho que todos concordam comigo que Allyson Hale, a estrela do Lincoln High faz um pouco de falta nos jogos – A voz de Gibson, o locutor dos jogos da faculdade do canal de esporte citando meu nome me tira de meus devaneios na hora.

— Com certeza, Gibs – Kate sorri – Sentimos falta dela, mas não podemos impedi-la de tirar um ano sabático.

— Vamos, Ally, entra no círculo, sentimos sua falta!

— Falo por todos quando peço gentilmente, ou não, que Allyson faça testes para a universidade ano que vem – Gibson ri e se volta para a câmera depois de parabenizar minha antiga colega de time.

— Muito obrigada Kate, foi um ótimo jogo, rumo às nacionais. Aqui quem fala é Gibson Clarke, direto das quadras da Universidade Estadual da Pensilvânia.

Meu coração apertou um pouco ao me lembrar do quanto deixei para trás ao embarcar nessa viagem sem volta. Balanço a cabeça para expulsar aquele pensamento e volto a organizar o quarto.

Me sento um pouco ao sentir uma dor causticante nas costas, uma dor aguda, como um lembrete constante do que vivi com Adam, as feridas do intensificador eram vívidas como uma placa de trânsito brilhante. E sei que no fim da contas, mesmo não admitindo, não queria me livrar delas, era como um sinal que eu precisava seguir até chegar no ponto final, a minha vingança. Afasto o moletom do ombro e olho mais uma vez apenas uma das muitas das marcas. Meu olhar demonstra fúria. Preciso encerrar o assunto.

Ao abrir uma gaveta da cômoda encontro algo enrolado em um pano. Arfo quando me lembro da adaga que, por um acaso, matou Jake. Desenrolo e observo os desenhos entalhados nela, parecem contar uma história, como sempre fizeram, mas é tudo diferente agora, tenho mais livros, mais tudo.

Parece que arranjei o que fazer.

Tiro a tábua solta do meu guarda-roupa e pego os livros que achei em Riverland, jogo tudo em cima da mesinha, ponho os óculos e começo a estudar os símbolos.

♕♕

Acordei com o som do celular tocando.

Levantei a cabeça e gemi de dor quando uma folha veio grudada na minha bochecha. Minha visão parecia confusa, o mundo parecia da cor de gelo e fumaça, e aos poucos foi se ajustando à escuridão do quarto, salvo apenas a luminária na minha mesa.

Pego o maldito aparelho e atendo.

— Ei Rainha do Baile, pode vir aqui por favor?

— David? São... duas da manhã.

— É, eu sei, mas achei uma coisa.

— Tô indo.

Pego as chaves do carro, a adaga, os livros e desço na ponta dos pés de novo para que minha mãe não acorde. Saio cantando pneu e em quarenta minutos já estou estacionando na colina da Ballard. Ele está me esperando na porta, de braços cruzados.

— Então, precisa ver isso – Subimos as escadas e joguei o peso em cima da bancada da cozinha.

— Espera, preciso da sua ajuda, não sei por que nunca pedi antes, mas tinha me esquecido completamente dessa adaga, só que agora que a vi, ela parece querer gritar alguma coisa pra mim – Tiro a faca do tornozelo e mostro a ele – Algo de que precisamos saber.

— Não, não pode ser.

— O que?

— Espera aqui – David entrou no quarto e voltou minutos depois com um livro empoeirado e grande, espirrei umas três vezes antes de conseguir segurá-lo – Eu já vi esses desenhos antes – Aproximamos nossas cabeças para olhar melhor a página.

— Quer dizer que...

— É.

— Precisamos contar para os outros, isso é impossível.

— Nada é impossível – David sorri e eu o encaro. É um sorriso tão genuíno, sincero, meigo e inocente que não consegui parar de olhar pra ele – Oi, rainha do baile – Ele me pegou. Minhas bochechas devem estar mais vermelhas que pimenta, mas de repente percebo que não me importo. Inspiro profundamente seu perfume.

— Oi – Sorri também.

David tirou uma mecha que caía do coque que fiz do meu rosto e a colocou atrás da orelha. Estremeci com seu toque. Ele percebeu e me empurrou para trás, até que eu encostasse na parede, as meias dele batendo nos dedos dos meus pés, agora descalços. Eu estava tomando fôlego para dizer o quanto ele era egoísta, indeciso, sério e tudo mais, quando David pôs a mão na minha cintura e me apertou ainda mais.

— Eu definitivamente não vou te perder para o Jason – Seus olhos estavam mais escuros agora, a respiração, lenta e profunda.

Fiquei daquele jeito, presa entre ele e a parede, meu coração acelerando à medida que eu tomava mais consciência do seu corpo e do seu perfume masculino de couro e hortelã que se desprendia de sua pele. Senti que minha resistência começava a ceder. Precisava beijá-lo, sentir algo de novo.

De repente, sem ligar para nada além do meu próprio desejo, enfiei meus dedos em sua camisa e o trouxe mais pra perto de mim. Parecia tão certo estar próxima assim dele novamente... Não podia negar que havia sentido sua falta, mesmo depois de ter “desligado” os sentimentos , mas não tinha percebido o quanto, até aquele momento.

— Não quero me arrepender disso – Falei, sem fôlego.

— Você nunca se arrependeu de mim, não foi? Eu sei que não. O que a gente teve... foi real, não foi porque o Jason te deixou aquela noite.

— Foi real. É real.

Ele me beijou e eu correspondi com tanto desejo que achei que fosse machucar os lábios. Enfiei meus dedos nos seus cabelos, agarrando-o ainda mais. Minha boca estava na dele, caótica, selvagem esfomeada.  Todas aquela emoções confusas e complicadas que eu sentia desde que tudo isso começou se desmancharam, como se eu tivesse me afogado na necessidade louca e compulsiva de estar com ele.

Suas mãos estavam sob meu moletom, deslizando com experiência até minha cintura, para me manter presa a ele. Eu estava encurralada entre a parede e seu corpo, lutando com os botões de sua camisa, os nós dos dedos esbarrando contra os músculos rígidos sob o tecido.

Tirei a camisa de seus ombros, não conseguia resistir a ele, nem em um milhão de anos. Tudo que eu conseguia pensar era que, se eu estava realmente aqui, isso poderia ser nosso segredo, nossa história se desenrolando de novo.

David me encontrou no meio do caminho, libertando os braços da manga da camisa e jogando longe. Passei as mãos nos músculos perfeitamente esculpidos, que me levavam a loucura. Eu sabia que era tudo complicado demais, sabia das promessas que tinha feito, mas dizia a mim mesma que era a paixão que nos dominava naquele momento, e o que pode haver de errado na paixão? Eu apenas o queria. Agora.

Ele me ergueu e eu envolvi sua cintura com as pernas. Vi seu olhar vagar da cômoda para a porta de seu quarto, consequentemente, a cama, e meu coração deu cambalhotas de desejo. O pensamento racional me abandonou na hora. A única coisa que eu sabia era que faria o que fosse necessário para me manter naquele lugar de descontrole. Tudo estava acontecendo rápido demais, mas a certeza selvagem sobre o nosso destino era um alívio para a raiva insensível e destrutiva que me consumiu por toda aquela semana.

A raiva.

Eu queria fechar a porta do meu cérebro que me avisava que estava cometendo um grande erro. Eu não queria me ouvir, com medo do que encontrar do outro lado. Com medo de ver que aquilo não deveria estar acontecendo, não assim, não agora.

Ah, quer saber? Dane-se. Eu corria o risco de revelar um segredo imenso amanhã, iria aproveitar minha noite de sanidade. Ou quase.

♕♕

O sol da manhã atravessou a janela, demorei um pouco para reconhecer onde eu estava, a primeira pista foi quando encontrei lençóis azuis ao invés dos meus em tom de creme suave. David. Eu havia dormido com David. Isso realmente aconteceu? Levantei o edredom e percebi que estava nua.

É, realmente aconteceu. E os sons de panelas batendo na cozinha significavam que eu não ia conseguir sair dessa.

Quando fechei os olhos, me lembrei de detalhes da noite passada. Quando ele beijou cada uma das minhas cicatrizes, lentamente, como se seu carinho as fizesse curar. Ainda me lembro da sensação de suas mãos quentes percorrendo minha pele já em chamas, ardendo em desejo.

— Bom dia – David sorriu quando apareci na sala usando apenas a blusa que ele estava ontem. Seu sorriso perverso aumentou ainda mais quando encontrou minhas pernas – Isso que a gente teve ontem não foi você me usando de novo, foi?

— Não foi – Beijei seu rosto e me sentei em um dos banquinhos.

— Que bom, Rainha do baile, que bom.

— Mas...

— Não, sem “mas” hoje, por favor, não estrague.

— Sim senhor, senhor!

— Eu tenho que ir pra aula daqui a pouco, tudo bem se nos encontramos depois?

— Claro, preciso convocar uma reunião, de qualquer forma. O que descobrimos é no mínimo... perturbador.

— Ei, vai ficar tudo bem, vamos achar um jeito, sempre achamos um jeito, não pode deixar se abalar. Está me ouvindo? Não pode se perder de novo.

— Eu sei, mas...

— Ally – Ele segura meu rosto em suas mãos e coloco as minhas sobre seus braços – Eu estou contigo. Nada de ruim vai acontecer enquanto confiar em mim. Eu te amo.

Não consegui retribuir, apenas balancei a cabeça em concordância e segui para o banheiro enquanto ele terminava o cappuccino, meu preferido, por sinal. Era incrível como David parecia saber de cada mínima mania minha.

E Jason... Ai Deus, o que eu fiz? Foi errado, definitivamente errado.

♕♕

Quando eu estava no quarto ano da escola, fiz um passeio com a turma até as Criptas. Era obrigatório haver pelo menos uma visita ao lugar durante o ensino fundamental, como parte da educação governamental anticrime e antirresistência. Não lembro muito da visita, exceto de uma sensação de pavor completo, uma vaga impressão de frio e de corredores de concreto enegrecido, cobertos de mofo e umidade, e pesadas portas eletrônicas. Para ser sincera, acho que consegui bloquear quase toda a lembrança. O propósito da visita era nos traumatizar para que andássemos na linha, e eles, definitivamente, acertaram a parte referente a traumatizar.

Algo de que me lembro é sair das Criptas para o sol brilhante de um belo dia de primavera com uma sensação poderosa, completa, de alívio, e também de confusão, ao perceber que, para sair das Criptas, precisávamos descer diversas escadas até o térreo. Porque durante todo o tempo em que estivemos lá dentro, mesmo enquanto subíamos, eu tive a impressão de estar enterrada, presa diversos andares abaixo da superfície. Era desse nível a escuridão do lugar, o quanto ele era apertado e malcheiroso: como ser trancada em um caixão com corpos em decomposição. Também me lembro de que, assim que saímos, Johana Mormont começou a chorar e a soluçar ali mesmo, enquanto uma borboleta voava a seu redor, e ficamos todas chocadas, pois Johana Mormont era muito durona e um pouco maldosa, e não havia chorado nem quando quebrou o tornozelo na aula de educação física.

Naquele dia, jurei que nunca mais, em hipótese alguma, voltaria às Criptas, por motivo nenhum. Mas naquela manhã, estou diante dos portões, andando de um lado para o outro, envolvendo a barriga com um braço. Não consegui engolir nada hoje de manhã, exceto a lama preta e espessa que minha mãe chama de café, uma decisão da qual já estou arrependida. Sinto como se um ácido estivesse corroendo minhas entranhas.

♕♕

Assim que terminei meu banho corri pra casa antes que ela acordasse, mas não deu muito certo. Enquanto destrancava a porta e andava na ponta dos pés pela sala, minha mãe me chamou na cozinha:

— Como foi a noite?

— Estava com a Clove.

— Sei, mande lembranças ao Jason depois.

— Mãe!

— Já comeu? Vem tomar café. Ah, esqueci de comprar seu cappuccino.

— Tudo bem, nada vai descer mesmo.

♕♕

Miriel está atrasado.

No alto, o céu está carregado com enormes nuvens negras de chuva. Está prevista uma tempestade para mais tarde, o que parece adequado. Para além do portão, ao fim de uma pequena estrada pavimentada, o prédio das Criptas se ergue negro e imponente. Com o céu escuro ao fundo, parece o cenário de um pesadelo. Uma dúzia de janelinhas — como os vários olhos de uma aranha — se espalha pela fachada de pedra. Um pequeno campo cerca as Criptas desse lado, terminando nos portões. Lembro-me do local como um pasto, mas, na verdade, é apenas um gramado bem-aparado, e careca em alguns pontos. Mesmo assim, o verde vívido da grama — onde a vegetação consegue de fato predominar acima da sujeira — parece deslocado. Isso parece um lugar onde nada deveria florescer ou crescer, onde o sol jamais deveria brilhar: um lugar na beira, no limite; um lugar completamente removido do tempo, da felicidade e da vida.

— Oi ­– Miriel vem pela calçada, com os cabelos se agitando. O vento está definitivamente frio hoje. Eu devia ter usado um casaco mais pesado – Desculpe o atraso.

— Alguém te seguiu?

— Não.

— Ótimo, – Balanço a cabeça em concordância, mas minha voz falha – só estamos esperando você.

Tento sorrir ao entrar no prédio, mas meus lábios parecem rachados, secos como pedra. Olho ao redor do salão a procura de câmeras, usar meu poder aqui chamaria muita atenção, então apenas me aproximo do balcão e uso uma habilidade nephilim que passa despercebida. Persuasão.

Hazel, Kaleesa, Apolo, Nick e Jason vêm até mim, nossos olhares se encontram. Mal consigo raciocinar. Mal consigo conviver com a culpa. É um milagre que eu tenha conseguido sair de casa hoje. É um milagre que eu sequer tenha vestido calças e um milagre duplo que eu tenha me lembrado de calçar sapatos. Jason é a prova de que tenho algo em que me concentrar e me apoiar, um pequeno momento de normalidade em um mundo que de repente se tornou irreconhecível. E eu acabei completamente com isso quando dormi com outro cara ontem. Só que... não era só um cara qualquer, era o David, o cara que me ajudou a superar tanta coisa quando eu mais precisava, o cara que cuidou de mim quando eu nunca mereci.

— Desculpe, ahn... Karl – Digo depois de olhar seu crachá. O guarda se vira para mim, seu rosto é rechonchudo e vermelho, mas jovem, então me concentro em seus olhos. Minhas palavras saem com uma doçura enjoativa, estou acostumada com os anos no Lincoln High, então uso bem a vantagem. Soo como uma dama da corte, não como uma guerreira, e isso me dá repulsas – Nós só queremos dar uma olhada na ala sete.

Um silêncio desconfortável surge. Miriel olha pra mim com expectativa, esperando algo dar terrivelmente errado. Karl pigarreia e dá um sorriso quando noto sua pupilas dilatarem e depois voltarem ao normal. Mensagem recebida. Quase solto um suspiro de alívio, mas não perco a pose.

— Lá é meio perigoso, Loirinha.

— Ah, não tem problema.

— Então vamos.

— Bom, seria muito mais conveniente se nos emprestasse seu cartão por um tempo, sabe como é – Giro um cacho do cabelo no dedo e pisco – Prometo devolver.

— Pode deixar! – O guarda é meio desajeitado ao tirar o cartão do bolso, mas me entrega com olhos vidrados.

— Anda, não temos muito tempo – Puxo todo mundo para as pesadas portas de metal e passo o cartão. Acesso permitido. Desdemos as escadas correndo – Antes que ele acorde e sinta falta do maldito cartão.

— O que fica na ala sete, afinal? – Nick pergunta, impaciente como sempre – E que cheiro horrível é esse? Santo Deus!

— Você está nas criptas, queria um “Bom Ar” nas paredes? – Sorrio ao me virar para ela – Miriel, pode acender algumas velas para o caminho?

— É pra já.

Assim que a escuridão acaba, entro em um corredor estreito e demos de cara com uma porta, é diferente das outras, essa é de madeira, e despreza o uso de cartão, já que ninguém vem aqui, é uma das salas proibidas pelo governo. Bom, já dá pra imaginar o porquê. Minhas mãos brilham e a fechadura de abre.

Entramos em uma espécie de porão velho, tudo em pedra com teto irregular, a aparência é de uma caverna escondida nas profundezas. Miriel acende as velas e as sombras dançando nas chamas dão ao lugar um ar ainda mais macabro. Há um pequeno altar no centro, que se trata, na verdade, de uma simples elevação de mais pedras.

— Ally, sem querer te contrariar, mas essa é a parte que você revela que está trabalhando para o Adam de novo e nos queima vivos? – Encaro Hazel de cara feia e ela se encolhe perto de Jason e Kaleesa – Desculpa, só não quero ser incendiada de novo, é uma sensação muito ruim, e Miriel me intimada.

— Obrigada – O loiro sorri e eu reviro os olhos.

—Espera – Apolo franze as sobrancelhas – Você já trabalhou com o cara que estamos tentando matar?

—Eu estava hipnotizada – Explico.

—Não que ela não esteja agora – Hazel sorri.

— Vamos manter o foco!

Depois de todos ficaram em silêncio, respiro fundo e fecho os olhos, deixando a energia fluir de mim, emanar o poder para revelar o que quero. Assim que ouço suspiros de surpresa, abro os olhos – Senhores, essa é a caixa de Pandora. A original, finalmente.

— Tinha uma falsa? – Kaleesa indaga.

— A que David usou para me tirar da hidroelétrica.

— Por que ele não nos contou?!

— Eu... – David tinha feito tudo aquilo escondido dos demais? Mas por que? – Eu pedi pra ele não contar.

— Não pode estar falando sério – Jason se aproxima com admiração.

— A Caixa de Pandora? Do mito? — Nick arregala os olhos e finalmente sorrio, vitoriosa por finalmente a pegar de surpresa.

— Mas não é um jarro? – Apolo questiona.

— Por que o trouxe para as Criptas? – Hazel vem até mim.

— Ellicot tem vários pontos de magia – Kaleesa explica por mim – É só saber procurar, cruzar as linhas Ley do jeito certo e chegar a um ponto, é bem complicado.

— Como soube das Criptas? – Jason pergunta.

— Eu... procurei.

— Você é um gênio – Ele me abraça – Eu poderia te beijar agora!

— Gente – Hazel pigarreia e nos afastamos – Vamos lá.

— Então, preciso de todos vocês para abrir, menos do Jason e da Hazel, desculpe gente, mas mesmo que foram/sã anjos, são inúteis para o que quero agora.

— É, tô começando a me acostumar – Jason sorri e se afasta,

Coloco as mãos sobre a caixa, sem encostar nela, vejo que os outros fazem a mesma coisa, por isso precisava juntar todos, precisava de muita energia, e embora esteja faltando um, que ainda vou encontrar, sorrio com a quantidade de poder que conseguimos canalizar. Em minutos a caixa se abre, revelando uma espada. Consegui! Não acredito que consegui!

— O que é isso? – Kaleesa pergunta pegando a espada – Não me diga que é...

— A espada de Darko? Sim.

— Como...?

— Passei meses na Grécia, Ka, não fiquei lá juntando poeira, corri atrás de muita coisa.

— Tá, mas espera aí – Nick levanta a mão – Pra que tudo isso?

— Vou chegar lá, então, ninguém nunca viu Darko, certo? Ele nunca apareceu pra gente, só fica mandando seus caídos atrás de nós. Ninguém imagina mesmo o porquê? Há uma história: Essa espada pertencia a uma bruxa muito poderosa, uma bruxa tão poderosa, na verdade, que Darko pediu um feitiço a ela, que lhe daria a imortalidade. A lenda diz que Darko fez o feitiço com a ajuda de uma outra bruxa jovem que o amava. Micaela. Tal feitiço deveria haver uma contrapeso, que momentos depois fora atribuído à espada. Tudo certo, até Micaela descobrir, para a tristeza dela, que Darko queria o feitiço apenas para si e seus outros amigos caídos. Então ela fez sim o ritual, uniu a espada à Darko, para logo depois o matar, queimar seu corpo, o deixando em estado de petrificação, e colocar as cinzas que caíram dele em um templo asteca em Riverland, o deixando sem poderes, imortal, e sozinho, Micaela não durou muito por causa da ligação, morreu alguns meses depois, assim que deu à luz. Agora sabemos que Darko quer ressurgir, reaver seus poderes, criar caos no mundo, e se vingar da única coisa que restou de Micaela, sua filha, a primeira Nephilim da Terra, completando o feitiço, se tornando totalmente imortal.

— No caso, você.

— Exatamente. Eu não tinha entendido até olhar para aquela maldita adaga que Peter me deu. Pesquisei os desenhos do cabo de novo e traduzi. David me ajudou – Emendo assim que Hazel arqueia as sobrancelhas – O que importa é que entendi. Enfim, Darko continuaria imortal, vagando pela mente de nephilins, tentando descobrir onde eu estava e fazer alguém pegar meu sangue para ficar ainda mais forte, com uma certa dose, pode possuí-los, com a quantidade certa, pode arranjar um corpo só pra ele, sua forma original. Bem, ele achou o Adam, sabemos que ele ainda não assumiu a forma porque precisa de mais sangue meu. Lembro quando Adam me disse que estava ouvindo umas vozes, não liguei na época, estava mais preocupada em sair com Jake e agir como uma vadia, mas e se fosse Darko? E se fosse a primeira fase?

— Tá dizendo que...

— Calma – Ando em círculos e massageio as têmporas – Lembra quando teve campanha de doação de sangue na escola?

— Sim, consegui me livrar, mas não te impedi de ir, nunca entendi porque nunca te questionaram sobre seu sangue agir de forma estranha – Hazel cruza os braços.

— Porque nunca chegou até o banco – Explico – O vi mexendo no frigobar, com essa dose a próxima fase começaria, possessão. Então veio o dia da Marie, e muitos outros depois desse. Em... Riverland, uma bruxa pegou meu sangue, e quando voltei, Adam estava mais forte, imune ao veratrum e cheio de caídos como guarda-costas, terceira fase. Matar os nephilins foi a cartada final do jogo. O jogo... – Balanços as mãos, raciocinando – Ele queria que eu visse, sempre foi parte do plano, ele queria acabar com a minha esperança, com a da Hazel, Jason, David, se alimentar delas, quarta fase. A quinta vai ser quando ele conseguir ainda mais sangue.

— Ally, vamos contar pra todo mundo, eu te amo, garota! – Hazel segura meus braços.

— Espera, ainda não entendi – Jason cruza os braços e eu sorrio.

— Estivemos com o próprio Darko esse tempo todo.

— Que? – Nick quase grita.

— Darko é o Adam, meu melhor amigo ainda está lá dentro. Vou usar o soro para separar os dois quando Darko estiver forte o suficiente pra aguentar, darei meu sangue a ele. Quando Adam estiver livre, usamos a espada e garantimos que ele nunca mais volte.

— Não se preocupem – Jason anuncia sorrindo como uma criança– Ela tem um plano.


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