Flor da meia-noite escrita por Tha


Capítulo 1
I - Brisa de (I)realidade


Notas iniciais do capítulo

OPA, TUDO BOM? É a terceira vez que escrevo essa fic e espero que dessa vez fique boa



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Estava no meio do semestre quando minha vida deixou de ser normal, depois do meu aniversário de dezoito anos. Eu tive essa sensação assim que apaguei as velas do bolo. Uma brisa passou pela janela e aí... tudo mudou.

Depois de um jantar organizado pelos meus pais com meus avós e tios, fui liberada pra ir até a casa de Jake, eu não disse a eles, mas estava indo para outra festa, uma mais interessante. Quando cheguei à casa dele, a música já estava alta o suficiente pra incomodar quem quer que passasse por lá. Retoquei o gloss, passei os dedos pelos fios do meu cabelo louro e entrei de cabeça erguida.

— A Ally chegou! – Ouvi alguém gritar e sorri.

— Feliz aniversário, Hale! – Todos formaram um cinto para me receber e bater palmas.

Dei um gritinho de entusiasmo e comecei os abraços, tentando interpretar meu papel da melhor forma possível, como eu vinha fazendo por três anos.

No ensino médio, você é predador, ou você é presa. Se você for presa, vai passar esses quatro anos sendo ignorado, talvez maltratado, e virar cinzas, ninguém vai saber de você no anuário, ninguém vai ouvir falar de você, você vai ser literalmente um ninguém, vai participar do banho de sangue sendo apenas... presa.

Eu escolhi ser predadora, eu escolhi sobreviver, mesmo que isso pareça clichê e completamente superficial, mesmo que tenha significado fazer sacrifícios, como meus amigos antigos. Minha vida, aos olhos de qualquer outra pessoa, era perfeita e sem rachaduras e eu esperava mantê-la assim. Mas no fundo eu nunca deixei de saber quem eu era, e no fim, era isso que mantinha minha sanidade mental no meio daquele zoológico.

— Oi gata – Jake desliza a mão pela minha cintura e me puxa pra perto – Feliz aniversário.

Me tornar predadora não havia sido fácil. Assim que cheguei ao primeiro ano, tive que tomar meu lugar na sucessão. Eu não podia demonstrar fraqueza, medo ou obstinação, deveria demonstrar que nasci pra liderar, e foi o que eu fiz.

— Você já me mandou flores na escola, Jake, em cada aula, e colocou cartões escritos a mão no meu armário, não precisa me dar feliz aniversário de novo.

— Qual é, me deixa mimar você, Ally.

— Tudo bem – Ri e beijei seu rosto. Vamos Allyson, é só mais um dia comum.

— Como se sente sendo maior de idade? – Clove pergunta me puxando pela mão até a cozinha e me entrega um copo vermelho. Quantas pessoas matariam por um copo vermelho?

— Livre e... apreensiva, tô tentando me decidir.

— O Liam é tão babaca – Hazel aparece do nada e se joga em uma poltrona perto da gente.

— O que ele fez dessa vez?

— Tá de amasso com a Donavan— Ela diz o sobrenome da Kate lotado de cinismo e faz cara de choro.

Pausa. Essas são minhas duas melhores amigas, Hazel e Clove, e talvez as únicas que eu considerava de verdade. Éramos as abelhas rainhas de Lincoln High, e todo mundo sabia disso.

— Eu falei pra não se rebaixar, é a regra número um – Franzo as sobrancelhas e coço a cabeça olhando ao redor, que sensação esquisita.

— Fácil pra você falar, Jake é louco por você.

— Porque eu nunca me rebaixei.

— Porque você é Allyson Hale, isso te dá motivos suficientes.

— Que besteira – Rio e tomo um gole generoso do meu copo antes de bater com ele na bancada e puxar as duas pela mão – Vem, vamos dançar, é meu aniversário!

Enquanto balançava os cabelos de um lado pro outro ao som de um house qualquer, senti um arrepio na nuca, daqueles bem sinistros, sabe? Que faz seu corpo todo ficar gelado. Virei-me instintivamente para a janela e juro que vi uma sombra me observando.  Ele partiu do mesmo jeito que chegou, rápida e misteriosamente.

— Ei amor – Jake surge atrás de mim – Cadê aquela nossa foto no lago da cabana dos Cavs? Sabe, quando vencemos aquela batalha na água.

— Eu não me lembro, Jake.

— Ah, claro que lembra – Ele colocou os braços ao redor da minha cintura.

— É, lembra sim – David Barney passou por nós assobiando e eu automaticamente franzi as sobrancelhas – É você e o Jake, vestidos de folhas e dizendo "Eu, Tarzan, você, Jane" – Ele ia seguir seu caminho, mas Jake o puxou pela gola da camisa.

— Tá com algum problema? Quem convidou você, esquisito?

— Não, só estou me divertindo antes que as coisas comecem a esquentar, fiquei sabendo de uma festa e vim. Eu não perderia o aniversário da Allyson Hale por nada.

O cabelo de David esse semestre estava no ombro, ele usava uma camisa xadrez folgada e jeans rasgados. Pela sua língua enrolada, podia afirmar com certeza que estava bêbado. Mas David era uma presa, eu não fazia ideia de o porquê ele aparecer aqui.

Revirei os olhos e cruzei os braços quando Jake o estava encarando de forma ameaçadora, pronto para começar uma confusão.

— Tudo bem Jake, ele disse que só está se divertindo. Vai passear, David, ninguém quer você aqui.

— Vai vender drogas em outro lugar, cara.

— Eu já entendi – David levantou as mãos como se estivesse se rendendo e voltou a andar por aí.

— O drogadinho tá se revelando – Clove riu com Hazel e voltaram a dançar.

— Ally? A foto. O pessoal tá esperando.

— Tá no meu celular, Jake, toma – Entrego o aparelho para ele com certa grosseria e viro o conteúdo do meu novo copo todo de uma vez, mas a sensação esquisita não some.

♕♕

— Sei que pode parecer estranho, mas já teve a sensação de estar sendo seguida? –Sussurro para Hazel enquanto nos alongamos na quadra.

—Todo mundo já teve essa sensação.

— Dessa vez é diferente... não sei, é realmente estranho.

— Hale, Parker, chega de conversinha, vamos treinar! – A voz da Senhora Johanson me tira de meus devaneios e começo as voltas ao redor da quadra.

Depois do banho, sento na minha mesa de costume e tento me concentrar na conversa que se seguiu durante todo o intervalo. Eles falavam algo de a temporada no lacrosse estar ruim, enquanto Clove se gabava pelo nosso ótimo desempenho nos jogos estaduais até agora.

Eu era a capitã do time de vôlei feminino, éramos o orgulho da escola e já trazemos mais troféus e medalhas que eu posso contar. Eu conseguia manter minhas duas personalidades só pra mim com muito êxito, mas naquele dia, eu não estava conseguindo jogar charme, ou sorrir como deveria sorrir, ou sentar no colo do meu namorado como eu fazia todos os dias.

— Tem algo de errado com você hoje, Ally - Zack toca meu ombro e eu balanço a cabeça.

— Não tô me sentindo muito bem. Ei Baby - Me viro pro Jake - Vou ao banheiro, guarda um lugar pra mim na aula de inglês?

— Claro - Recebo um selinho e me levanto ajeitando a saia.

Vou andando a passos firmes e decididos até o banheiro, o andar de uma soberana, o andar de alguém que não podia ser atingida por ninguém, eu era boa nisso. Bom, pelo menos até chegar na cabine e colocar todo o meu almoço pra fora.

— Você tá legal? - Ouço uma voz se aproximar de mim do lado de fora do banheiro enquanto eu tento, e vão, esconder os resquícios de minutos atrás com pó.

— Tô ótima - Respondo sem tirar os olhos do espelho. Mas a risada que escuto a seguir arrepia os pelos do meu braço.

— Bom, você me parece tudo, menos ótima – O par de olhos negros que encontro são de fazer querer correr. Os cabelos são grossos e escuros, talvez venha a sugerir encrenca – A propósito, eu sou o Jason.

— Allyson - Me apresento depois de engolir em seco.

— Por incrível que pareça, eu cheguei hoje e já sei quem é você, Allyson— Meu nome saindo de sua boca parecia um pecado, eu não conseguia desviar minha atenção do queixo quadrado e das sobrancelhas grossas, pela primeira vez eu parecia totalmente vulnerável e... fraca, eu não era Allyson Hale, eu era só Ally, uma estudante qualquer de um colégio qualquer.

—Eu costumo causar uma boa impressão.

— Claro – Ele ri de novo – Poderia me ajudar a achar a sala de inglês?

— Talvez.

—Sabia que poderia contar com você – Jason me joga um meio sorriso e quase escorrego pela parede de tijolos. Não por luxúria, desejo ou algo do tipo, mas porque esse completo estranho parecia ter uma conexão sobrenatural com qualquer coisa que envolva minha pessoa, eu senti isso, e fiquei com medo.

— O que achou dele? - Ouço uma voz atrás de mim e me viro já irritada. Clove tem um olhar sapeca e eu bufo.

— Quem?

— O garoto novo.

— Ah – Paro de copiar e viro o rosto pro lado, onde o tal Jason parece bem entretido mexendo no celular – Eu tenho namorado, esqueceu? Não tenho que achar nada.

— Olhar não arranca pedaço - Clove assovia e eu rio, tentando voltar a prestar atenção, mas agora que o assunto foi tocado, não consigo deixar de analisar a situação. Por que Jason havia aparecido no colégio no meio do semestre? Eu tinha acabado de fazer dezoito anos e podia jurar que alguém, me observava. E se não fosse apenas coincidência?

Ah, Allyson, qual é, pare de assistir American Horror Story.

— Senhorita Hale?

— Sim? – Levanto a cabeça e noto toda a turma olhando pra mim.

— Perguntei de quem a frase que está no quadro.

— Ahm, tá, é...

"As juras mais fortes consomem-se no fogo da paixão como a mais simples palha"

 – É Shakespeare – Respondo na hora e a Senhora Grunwald parece satisfeita, como sempre parecia quando eu respondia suas perguntas. Convenhamos, a aula de inglês não era a preferida de todos, mas era a minha.

♕♕

— Como foi o treino hoje? – Mamãe pergunta depois de eu revirar minha comida umas trocentas vezes.

— Normal, a treinadora tá pensando em me colocar como líbero ao invés de ponteiro.

— Ah, então isso é bom, não é?

— É ótimo, mais visibilidade aos olheiros da faculdade, mas a Hazel é a líbero então fico com a sensação de estar roubando isso dela. Além do mais, eu sou a mais alta do time, isso não tem muito a ver com a posição.

— Ah, não precisa se preocupar com isso, Allyson, a treinadora sabe o que é melhor pro time.

— É, tudo bem - Suspiro quando o celular do meu pai toca e ele sai da mesa pra atender.

— Não é por isso que está assim, não é? É o Jake? Brigaram?

— Não, eu e o Jake estamos bem, mais do que bem, pra falar a verdade, está tudo indo muito bem. É só um cara que chegou por agora e me causa arrepios.

— Ah, isso? Bom, tenho certeza que é coisa da sua imaginação, são os dezoito anos correndo pelas suas veias.

— Ah, para – Rio um pouco, mamãe bate de leve seu ombro no meu e relaxo mais –Acho que vou estudar e tentar ter uma boa noite de sono pra enfrentar mais um dia.

— Você é boa nisso.

— Ah mãe, se tem uma em coisa que eu sou boa, é fingir maltratar pessoas – Ela ri e eu beijo seu rosto, acenando pro meu pai logo em seguida e subindo o lance de escadas que dava pro meu quarto.

Eu jurei que tinha trancado a janela da sacada ao ir me deitar, mas no meio da noite senti uma brisa leve tocar meu rosto. Algo estava acontecendo comigo, e eu não sabia explicar o que era.


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