O Coração de um Nerd escrita por LivyBennet


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

E aê, seus bonitos?
Mais um cap. do Greg.
Espero que tenham lido "Todo Mundo Odeia a Páscoa" antes de virem aqui.
Enjoy!
o/



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POV. GREG (Brooklyn Beach - 1986)

O Domingo de Páscoa era uma das poucas ocasiões em que eu almoçava fora com o meu pai. Ele sempre estava ocupado, por isso eu passava a maior parte do meu tempo sozinho, mas eu agradecia por ele se esforçar essas poucas vezes. Assim, quando chegamos em casa depois do almoço, eu me sentia feliz. Apenas duas coisas me incomodavam: como eu podia encontrar a Meggie e como estaria o Chris.

Ela não tinha aparecido a semana toda e eu me perguntei se algo tinha acontecido. Cogitei a possibilidade de ela estar ocupada com a empresa da família, ajudando o irmão, e por isso não ter tido tempo. Eu também não poderia ligar para ela ou ir até a casa porque não sabia onde era. Ademais, a vergonha não deixava que eu fosse. Eu poderia muito bem perguntar à Lizzy, mas até onde eu sabia, Meggie não falara nada a ela, então resolvi manter o segredo, embora não visse motivo.

Já o Chris... Eu tinha até pensado em ir até a casa dele, mas não sabia se ele estaria ou não. Eu lembrava que ele normalmente ia para a igreja e, teoricamente, passava o dia lá, então eu não fazia a mínima ideia de que horas ele chegava. A situação dele me preocupava, principalmente depois das atitudes dele e da Lizzy durante a semana. Eu me senti um boneco de pano a semana toda com eles disputando conversar comigo. Várias vezes cheguei ao limite da minha paciência, quase gritando que eles deveriam parar de fingir que não gostavam um do outro e resolver logo aquilo… mas não gritei. Talvez eu me arrependa muito disso no futuro, mas eles têm que aprender a lidar com isso sozinhos… Eu só me sentia meio constrangido porque, no final das contas, eu era amigo dos dois e não gostava de vê-los sofrer. E também, tomar partido estava fora de questão. Suspirei, já ficando confuso.

Dei a volta no meu quarto, procurando algo para fazer, mas fui interrompido pela voz do meu pai que vinha da sala.

“Greg! Telefone!”

Fui em direção à sala, bastante curioso. Será que é a Meggie? Mas logo neguei a possibilidade, ela não ligaria se meu pai estivesse em casa. Ou ligaria? Acabando com o mistério, atendi.

“Oi?”

“Greg? Tá ocupado?” A voz do Chris não parecia nada legal.

“N-não. O que aconteceu?” Olhei para o meu pai, que tinha ficado ao pé do telefone; ele pegou a dica e saiu.

Alguns segundos de silêncio do outro lado, e Chris respondeu:

“Você tinha razão. Agora eu sei porque estava angustiado daquele jeito.”

Resisti à enorme tentação de falar “eu te disse”. Ele já estava sofrendo o suficiente sem que eu pisasse também. Sentei no sofá e me preparei para escutar.

“Como aconteceu?”

Nos 20 minutos seguintes, ele me contou tudo. Como tinha sido o sábado e o domingo de tortura mental, como foi vê-la na igreja, a conversa com seu pai e quando percebeu que estava apaixonado por ela. Escutei tudo na maior paciência e em silêncio. Ele precisava desabafar, e eu não interromperia. No fundo da mente, me senti um pouco culpado por não ter contado a ele sobre a Meggie. Ele estava ali, me contando tudo que estava passando, e eu estava escondendo coisas dele.

Mas não aconteceu nada, de verdade. Ela só disse que estava interessada em mim e depois sumiu… Talvez isso não dê em nada. E mesmo que dê, não vou torturá-lo ainda mais falando da minha felicidade…

Quando ele terminou, ficamos em silêncio. Eu não sabia exatamente o que dizer, então esperei que ele falasse alguma coisa.

“Desde quando você sabia?”, ele perguntou depois de alguns segundos.

“Sabia o quê?”

“Que eu gostava dela. Quando percebeu?” Ri levemente.

“Não preciso ser um gênio para notar como você olha para ela, Chris. Quando dormi na casa dela e nos encontramos tarde da noite no quarto dela, você quase babou vendo ela de pijama.” Ouvi-o grunhir.

“E como eu não pude notar?! É frustrante!”

“Sei lá. Acho que você tinha enfiado muito bem na sua cabeça que gostava da Tasha.” Alguns instantes depois, ouvi sua risada amarga.

“E adianta muito eu ter percebido que gosto dela agora. Ela me detesta.” Sua voz falhou.

“Ela não-- te detesta.”

“Como não?”

“Chris, vai por mim. Ela não te detesta. Só está magoada por-- você ter-- escondido coisas dela.” Merda, eu to mentindo…

“E eu faço o quê?”

“Era bom você tentar se explicar.”

“E dizer o quê? ‘É verdade, Lizzy, eu beijei a Tasha, mas agora eu percebo que estou apaixonado por você?’” O sarcasmo era bastante evidente.

“Podia ser…”

“Dá para falar a sério?!”

“E eu estou! Você precisa parar de ficar se matando por dentro e fazer alguma coisa.”

“E se der errado?”

“Pelo menos você tentou.”

Ficamos em silêncio por mais um tempo até ele quebrá-lo outra vez.

“Ok. Eu vou tentar, mas não sei como.”

“Você descobre, Mestre dos Planos.” Ele deu uma risada leve.

“Valeu, Greg.”

“Amigos são para isso. Mas vê se resolve tua vida ou eu vou começar a cobrar pelas seções de terapia.”

“Coitado de mim.”

A brincadeira aliviou o clima e pouco depois ele desligou. Assim que coloquei o telefone no gancho, percebi o que tinha que fazer.  Não tenho como ir hoje, mas de amanhã não passa...

 

Bati na porta e esperei. Logo ela e abriu, revelando um Lizzy que sorriu para mim com uma expressão levemente confusa.

“Greg? O que está fazendo aqui? A gente acabou de voltar de escola.” Sorri levemente em retorno.

“Precisamos conversar sobre uma coisa.”

Seu sorriso morreu, e ela abriu mais a porta para que eu entrasse. Poucos segundos depois, estávamos sentados no sofá um de frente para o outro.

“Então,” ela começou, “sobre o que quer falar?”

“Chris.” Ela suspirou alto e desviou os olhos dos meus.

“O que temos para falar sobre ele?” Respirei fundo, tentando imaginar um jeito de levar aquilo de modo civilizado.

“Você sabe o que temos que falar.” Ela abriu a boca para falar, mas eu a interrompi. “Antes que diga que estou do lado dele, eu não estou do lado de ninguém. Ele me contou o que aconteceu e reconheceu a própria culpa. Ele admite que não deveria ter escondido coisas de você e, por isso, ele se vê como o único culpado no que aconteceu, mas nós dois sabemos que não é assim.”

“Como assim?”

“Eu sei que você gosta dele há anos, mas você nunca falou nada. Você não lutou nem quando você decidiu que iria lutar. Você simplesmente deixou as coisas rolarem, enquanto dia após dia a Tasha rodeava ele. Ficou esperando que ele descobrisse sozinho se sentia algo por você e o que você sente por ele. As coisas não funcionam assim, Lizzy. Todo mundo precisa de ajuda em relação a sentimentos.” Vi seus olhos se encherem de lágrimas, mas não cedi.

“Mas ele nunca percebeu nenhum dos sinais que eu dei.”

“Então dê mais sinais. Uma hora vai funcionar. E será que você já parou para pensar que, depois de tanto tempo, você disfarça bem demais esse sentimento? Se você esconder dele, de que vai adiantar? Já parou para pensar que se você tivesse falado algo, muita coisa poderia ter sido diferente?”

Observei-a chorar em silêncio e não falei mais nada. Ela precisava de um tempo para pensar, assim como ele tinha precisado. Me doía vê-la sofrer também. Ela era como uma irmã para mim. Peguei uma de suas mãos na minha, e ela me olhou ainda chorando.

“Pensa sobre isso. Talvez faça alguma diferença.” Ela assentiu e me abraçou.

Ficamos abraçados por um tempo até ela se afastar, enxugando as lágrimas.

“Obrigada. Eu precisava escutar isso de alguém que não fosse o meu cérebro.”

“De nada. Eu preciso ir. Ainda temos aquela atividade de Ciências para fazer.” Ela sorriu e rolou os olhos.

“Nerd.” Levantei e fui até a porta que ligava o corredor à sala de jantar. Antes de sair, me senti na obrigação de dizer mais uma coisa. “Ah, Lizzy.” Ela me olhou, esperando. “Ele não está saindo com a Tasha.” E sem esperar para ver sua reação, saí.

Ao chegar na calçada, um surpresa bem agradável me esperava: Meggie tinha acabado de estacionar o carro e estava saindo. Ao me ver, ela sorriu e se encostou no carro. Fui até ela, meio inseguro.

“Oi?”

“Oi. Passei pela sua casa agora pouco, mas não tinha ninguém.”

“Eu vim visitar a Lizzy.” Ela assentiu, e sua expressão ficou um pouco preocupada.

“Ela estava precisando mesmo. Imagino que você já saiba.” Suspirei.

“Sim. Imagina minha posição de mediador. Sou amigo dos dois.” Ela afagou meu rosto, e eu fiquei estático.

“Deve ser realmente difícil.” Assenti lentamente, incapaz de falar. “Está desocupado?” Ela perguntou, afastando a mão do meu rosto.

“Bem,--” Eu tinha a bendita atividade de Ciências, mas não era exatamente para amanhã. “--estou.”

“Ótimo. Quer dar uma volta? Estou precisando relaxar. Meu irmão só precisa da minha ajuda esporadicamente na empresa, mas essa última semana ele me explorou.”

“Tudo bem. Vamos.” Ela sorriu e entrou no carro, indicando para que eu desse a volta e entrasse pela porta do passageiro.

Dei a volta no carro sentindo certo alívio. Então foi realmente por isso que ela não me procurou…

Ela deu partida no carro e logo estávamos rodando. Acabamos parando em uma confeitaria; ela estava desejando comer uma torta. Conversamos e rimos bastante. Fiquei impressionado em como eu estava conseguindo ficar à vontade perto dela. Era uma sensação familiar.

Pouco antes das seis da tarde, ela estacionou o carro em frente à minha casa. Nos olhamos e sorrimos.

“Obrigado por hoje, Meggie. Tinha um bom tempo que eu não me divertia assim.”

“De nada. Eu também estava precisando sair com alguém que me deixasse calma.”

Meu coração acelerou quando seu rosto se aproximou do meu. Eu via tudo em câmera lenta. Ela pôs sua mão na lateral do meu rosto e sorriu, antes de encostar os lábios nos meus. O ar ficou preso no meu peito, e eu precisei de alguns segundos para superar o choque e corresponder ao beijo. O gosto de sua boca era viciante. Eu me senti puxado em sua direção e pus minha mão em sua cintura, puxando-a para mais perto. Meu corpo inteiro formigava, minhas mãos suavam e minha respiração era a mais irregular possível.

Após alguns instantes, ela parou o beijo e se afastou. Eu ainda permaneci de olhos fechados e ofegando por algum tempo. Quando abri os olhos, ela me olhava com um leve sorriso; seu rosto estava vermelho a ponto de esconder as poucas sardas. Regulei minha respiração o melhor que pude e tentei falar.

“Nossa… Isso foi…”

“... incrível”, ela completou.

Depois de um breve silêncio, eu falei outra vez.

“Eu… tenho que entrar.” Ela assentiu; percebi que seu rosto lentamente retomava a cor natural.

“Tudo bem. Boa noite.”

“Boa noite.”

Com o último resquício de adrenalina no meu sangue, me inclinei para frente e beijei-a novamente. Foi rápido, mas o suficiente para fazer meu coração acelerar de novo. Com um último sorriso, saí do carro. Acenei um ‘tchau’ e entrei em casa, fechando a porta e me encostando nela. O sangue ainda pulsava forte nos meus ouvidos. Deus… O-que-aconteceu?!

***


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Reviews?
A opinião de vocês é sempre muito importante ^^

Próxima leitura: Todo Mundo Odeia o Gretzky



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