Cartas de Uma Adolescente Completamente Comum escrita por Fairy


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desculpe-me pela minha demora. Estava doente, fiquei de cama. Faltei diversas provas e agora que fiz as segundas chamadas já tenho mais prova pra fazer...
Mas não tem problema! Só queria falar que as postagens não têm, infelizmente, uma data ou horário fixo.
Talvez um ou dois capítulos por mês... Eu não sei.

Enfim, boa leitura e desculpe qualquer errinho!
Fairy



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Segunda-feira, três e quarenta e dois da tarde

 

— Está certo, você criou um pseudônimo e criou um blog. Isso foi bem legal, que bom que finalmente seguiu os meus conselhos. Você sabe eles são perfeitos — vangloriou - se — Mas, então... Sério mesmo aquilo que você postou? Foi meio confuso sabe, falou de uma coisa, depois mudou e falou de outra. Tenta ser mais direta tá, Einstein? — Elisa me ''aconselhou'' e comeu um pedaço do seu picolé de uva.

 

Nós estávamos andando no parque perto de minha casa. A vizinhança é bastante calma e não me lembro da última vez que houve um roubo aqui onde eu moro. É extremamente calmo. Estamos tomando sorvete enquanto andamos por aí. Eu odeio andar, mas se eu estiver conversando eu passo a amar caminhadas. Eu gosto bastante de falar.

 

 — Tá, Picasso. Desculpe mas eu sou avoada. Tento ser mais direta na próxima. De toda forma acho que não vou ter nenhum tipo de reconhecimento ou ajuda pra saber se escrevo bem ou não. Tenho vários leitores fantasmas! Isso é frustrante, quero dizer, eu quero falar o que eu sinto. Mas o que fazer quando não há ninguém pra ouvir? — indaguei pro mundo enquanto comia uma grande colher de sundae de caramelo. Elisa me dirá sobre o quanto isso foi dramático, com certeza. Eu a conheço bem.

 — Meu Zeus, agora seu novo apelido é Dani, a poetisa. Zeus, como você é dramática. Nem todo mundo consegue ser ouvido, poucos são reconhecidos. Lute por isso, mostre que realmente quer e, se for digna,  Zeus irá te ouvir — falou Elisa. Ela tem crença nisso de Zeus, Hades, Mitologia Grega. Acredita que isso é real, bem, nada é irreal até que se prove o contrário certo?

 — Tá, Picasso, mas como eu faço isso. Falando? Adotando animais? Criando cremes que te fazem parecer com 20 quando na verdade se tem 50? Não sei como mudar o mundo. — brinquei e mordi um pedaço do seu picolé de uva. Fiz uma careta enquanto comia, por que mordi mesmo? Eu odeio picolé.

 — Não sei Einstein, mas se quiser criar o creme eu fico feliz. E grande parte do mundo também. Nunca sabemos como mudar o mundo, só sabemos que devemos. E a sua obrigação é descobrir como mudar o mundo e incitar as pessoa a mudá-lo. Por que você pode e você consegue, não é simples Einstein. Mas se você quer, você vai ter que lutar. — disse Elisa.

 — Já disse que te adoro Picasso? Ok, vou tentar mudar o mundo do meu jeito e vou descobrir como eu faço isso. É uma promessa viu? — prometi. Eu adorava minha amiga, ela sabia me animar a fazer as coisas que eu queria. Ou algo assim.

 — Mas voltando ao post — ela falou séria — O que foi aquilo quando você disse que tinha pais que eu saiba você só tem uma mãe. — completou, ainda muito séria.

 

Suspirei. Eu sabia do que ela estava falando. Nós duas nos conhecemos desde pequenas. Lá pelos meus 6 anos de idade — ou seja nós temos 10 anos de amizade — e minha amiga nunca gostou do meu pai. Quero dizer, ela meio que aturava ele. Dizia que ele era machista e misógino — o que não era mentira.

Enfim, quando ela tinha 12 anos Elisa se assumiu lésbica. Pode parecer cedo mas é nessa idade que costumamos ter nossas "paixonites agudas" por garotos. Ou garotas, no caso da Elisa. E meu pai não gostou disso, ele me proibiu de ver Elisa dizendo que eu poderia ser "infectada" — palavras dele — por essa promiscuidade. Obviamente eu não concordei, até por que eu também já sabia que não era o tal dito "hétero". Embora, diferentemente de Elisa, eu me identifiquei por bissexual — ou panssexual, não sei bem — e não por homossexual.

De toda forma, depois que Elisa se assumiu eu resolvi agir. Eu me assumi e isso fez meus pais brigarem muito, digo, minha mãe me apoiava dizendo que eu deveria ser feliz e que eu ERA assim e não fui "infectada" pela Elisa. Já ele discordava, falando argumentos cristãos e arrumando ainda mais brigas. Ele também começou a me bater e isso gerou mais brigas em casa pois minha mãe era completamente contra a violência.

Dois anos atrás eles se separaram dizendo que era o melhor pra mim. Minha mãe conseguiu minha guarda alegando que ele era homofóbico e que se ele me batia poderia me machucar muito seriamente, ele não se opôs e desistiu da minha guarda. Por mais que ele não fale mais comigo e sinta vergonha de mim, eu o amo. Ele é meu pai, apesar dos apesares.

 

— Alô? Terra chamando a nerd? Você está me escutando? — Olhei meio confusa, estava perdida em pensamentos. Foquei minha atenção em Elisa — Seu sorvete acabou faz uns 5 minutos e você fica aí com essa cara de bunda encarando a árvore aí na frente — foquei os olhos na árvore em minha frente e depois voltei a atenção para Elisa — Você estava pensando de novo, não é? Incrível, é só te dar um tema que você já faz uma redação mental de 20 páginas sobre isso — zombou ela.

 — Eu ainda o considero meu pai, Elisa. Por mais que ele não me considere sua filha. E mesmo ele sendo um idiota, eu o amo. E amo minha mãe. E o amar não me faz amar menos minha mãe. Sinto falta dele, mas reconheço que estou melhor sem ele — digo, voltando ao assunto anterior.

 

Volto a andar e jogo meu sorvete no lixo mais próximo. Sei que Elisa vai reclamar, ela é contra esse meu "amor por ele". Só que ela não entende que eu cresci com ele, com o amor dele. Eu sei que ele me ama, ele só está confuso. E eu não tenho culpa de ela ter tido — ou melhor não ter tido — um pai infeliz que abandonou a mãe dela quando ela nasceu.

 

— Você sabe que eu discordo dessa sua afeição pelo seu pai. E não gosto que você ainda fique falando com ele. Mas você é minha melhor amiga, tenho o direito de me preocupar. Só não tenho o direito de te proibir de nada. Então tá, fica aí com seu pai. E se no fim tudo dar bosta eu vou estar aqui pra te apoiar, tá? — Já falei que amo minha melhor amiga? Mesmo me dando um sermão ela é maravilhosa. Amo ela.

 — Tá bom — digo feliz — Mas agora nós temos que ver a roupa pro almoço de domingo. É aniversário da minha avó e eu quero ficar linda. Vamos aproveitar e fofocar como amamos fazer, certo? — perguntei e nem esperei resposta, agarrei o braço de Elisa e fui andando em direção a saída do parque.

 

***

 

— Eu não sei o que vestir! É aniversário da vovó, a matriarca da família! Todo mundo vai estar lá. Eu preciso estar perfeita e não sei como — me lamentei enquanto olhava minhas roupas. Virei pra minha parede de pôsteres — O que eu faço, Billie? — meu amor e cantor do Green Day não respondeu. Acho que é por que ele é feito de papel.

 — Primeiro, eu amei a pintura do teto. Ficou incrível e combinou muito com seu quarto já que ele tem um tema de galáxias, estrelas, planetas e tal. — Picasso elogiou. Eu sei que está incrível.

 

 

Eu contratei um pintor amador e pedi pra pintar a parede de fundo de preto. O teto também foi pintado de preto mas nele eu pedi que ele fizesse o sistema solar e as estrelas de tinta que brilhasse no escuro. Eu tenho medo do escuro e olhar pra isso me acalma.

 

— Segundo, sabe aquele vestido azul-claro que a Sofia te deu? Usa ele com a jaqueta jeans que você comprou semana passada. Pega aquela sapatilha creme que combina com o arquinho e o cinto. Tudo creme. E a bolsa que eu fiz pra você com jeans velho. — ditou Picasso e eu concordei. Ela é boa com isso e eu com certeza vou ficar linda! — E, por último e mais importante, você ainda está encanada com o Théo? — perguntou.

 — Eu? Encanada com o Théo? Por favor, Picasso. Eu sou uma pessoa sensata, não vou sofrer por quem não me quer — disse e comecei a arrumar as roupas para não encará-la. Que mentira! Eu ainda gostava do Théo, só que estava tentando desencanar. Ele não gosta de mim, ele AMA a namorada dele — já os vi falando sobre casamento e filhos — eu não tenho nenhuma chance.

 — Certo, agora que você já fingiu me dizer a verdade e eu já fingi acreditar e terminamos o teatrinho... Desabafa, pode me falando a verdade — mandou Elisa.

 

Respirei fundo e, deixando a roupa separada na cômoda ao lado da cama, puxei uma cadeira e me sentei em frente a ela. Ela estava sentada na minha cama com o meu computador no colo, provavelmente conversando com Alicia — sua namorada.

 

— Certo, vamos lá. Depois que a Maria Isabel foi embora, há três anos atrás, eu fiquei meio depressiva. Você sabe, ela era muito importante pra mim e foi meu primeiro amor. Foi meio triste ela ir embora mas, segundo ela, ela vai me esperar e está me esperando até hoje. Enfim, eu precisava de alguém pra me ajudar a superar a decepção de meu primeiro amor ter se mudado. E eu achei o Théo, ele era gentil e amável e tão legal. No começo era só um jeito de esquecer a Maria Isabel, só que se tornou mais. Se tornou muito mais, eu realmente me apaixonei. Só que essa paixão veio com o fim de um amor. E um amor não acaba fácil né? E a Maria Isabel voltou e agora eu estou muito confusa por que, por Zeus, eu a amava e agora eu não sei mais. Fora que tem o Théo, eu não sinto mais o mesmo. Digo, eu gosto dele. Só que a Maria Isabel foi e é muito mais importante na minha vida do que ele é. O que eu faço? — falei tudo de uma vez sem respirar. Assim que terminei respirei fundo e tentei normalizar a minha respiração. Elisa não estava surpresa, eu era assim. Amava falar e desabafar e se juntar os dois, ferrou faço um mini resumo da minha vida.

 — Tá, entendi. Basicamente você está confusa por causa que a Mabel voltou e você não sabe se gosta do Théo por que ele é o Théo ou só pra esquecer a Mabel? — perguntou e eu confirmei — Primeiramente, chame-a de Mabel. Agora vamos lá, como você soube que a Mabel voltou? Há quanto tempo você sabe? Eu sinceramente acho que você não gosta do Théo tanto assim — olhei-a confusa e ela se pôs a explicar — Você está confusa com relação ao Théo e não com relação à Mabel. Você sabe que gosta da Mabel, que ela é importante. Mas com o Théo você está em dúvida. E o amor não é uma dúvida. Acho que ele é apenas alguém que você admira por ser completamente diferente de você e por ser alguém que te apoiou quando você estava mal. Eu também te apoiei, só que eu te conheço a muito, muito tempo e nós nos vemos como irmãs. Ele não. Eu quero dizer, você entendeu onde eu quero chegar? — afirmei calada — Pode responder às minhas perguntas? — pediu. Assenti com a cabeça.

 — Ela postou no facebook e me marcou, e depois me chamou pra uma conversa. Falou que ainda gostava de mim e que estava pronta e que, antes, ela era uma criança que não sabia o que ela queria e por isso estava confusa. Ela voltou faz dois meses e ela está estudando no IEFRJ* — constatei os fatos

 — O que eu faço com o meu coraçãozinho confuso? — perguntei.

 

Ela sorriu e me pediu pra ir entrando na conta da Netflix dela. E depois de me pedir saiu correndo do quarto. Dei de ombros e entrei na conta e, enquanto esperava ela, também entrei no meu facebook pra fuchicar as coisas.

 Fiquei uns 20 minutos esperando a Elisa quando ela entrou de supetão no quarto. Ela tinha trago uma sacola e dentro dela tinha refrigerante, pipoca de microondas, salgadinhos de todas as marcas e um pote de sorvete de creme com direito a um frasco de calda de caramelo. Eu fiquei abismada e perguntei o que era tudo aquilo.

 

— Comida para a nossa sessão de cinema. Para esquecer os problemas. Primeiro vamos ver os filmes da Marvel e da DC e depois vamos partir para as comédias românticas. A gente vai começar pelo sorvete e pela pipoca, depois vamos pro salgadinho e pro refrigerante — ditou as regras e pediu pra eu colocar o primeiro filme enquanto ela pegava as taças pro sorvete.

 

Olhei pra ela e sorri. Ela era a melhor amiga de todas! Enquanto assistia o filme e ganhava uns 30 quilos, eu me senti extremamente bem.

 Foi a melhor tarde de toda a minha vida.


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Notas finais do capítulo

*IEFRJ - Instituto Educacional Feminino do Rio de Janeiro. É um instituto destinado às jovens moças do RJ. Esse Instituto não existe.

Poxa! Eu queria ter tido essa tarde aí. Mas falta algumas coisas essenciais: Melhor amiga incrível e Netflix... Mas pelo menos as comidas eu tenho!
Espero que tenham gostado...
Leitores fantasmas, comentem! E quem não tem conta, crie e comente.
Um comentário faz nós, autores, tão felizes.

Beijos de sundae de caramelo,
Fairy



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