Rascunho escrita por Maria Luisa


Capítulo 1
Capítulo 1- Rascunho


Notas iniciais do capítulo

Rascunho



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Capitulo 1

"A adaga enterrou-se no peito do garoto, que me encarava abismado. Engoli seco e continuei o observando. Suas íris perdiam o brilho esverdeado e parecia que ,aos poucos, sua alma era sugada. Quando me aproximei para retirar-lhe o instrumento, a arma caiu junto com cinzas.Uma linha no punhal da adaga brilhava, do mesmo tom dos olhos do garoto que tinha acabado de matar.Ele não estava mais lá, por minha causa. Não me sentia triste e nem culpada,mas meu feito não era algo de que se orgulhar.Mesmo assim, sorri cinicamente.Era uma sensação diferente.
Peguei o punhal delicadamente e analisei meu rosto na lâmina.Algo chamava minha atenção.Meus olhos brilhavam. Não brilhavam como o do garoto morto, estavam azuis,com uma coloração forte e vívida."

Abri os olhos e vi alguém sentado,de costas, na minha cama. Apoiado na parede, jogava bolinhas de pequeno porte pela janela.Pareciam sementes. Quis fingir que continuava dormindo, mas as reclamações do vizinho me fizeram rir. Rapidamente, Daniel virou,sorrindo. Pulou em cima de mim, e me deu um beijo na testa, alegrando meu dia. O carinho que eu tinha pelo meu irmão mais velho era enorme.
—Feliz aniversário,Bekah- ele disse, me abraçando.-Tenho algo para você.
Retribui o abraço e sorri. Mesmo depois de tanto tempo, continuávamos unidos. Não tanto como antes- Daniel, já com 19 anos, brigava frequentemente com nossos pais, que algumas vezes, contribuía para que ele se afastasse de casa- mas a relação ainda era forte.

—Achei que receberíamos o colar ás 8 da noite.-olhei para o relógio.Eram 7 horas da manhã.Enquanto coçava os olhos, reparei na cara dele.Suas feições representavam tristeza. Quando eu ia perguntar a razão, ele sorriu para esconder.
—Esse presente é...-Daniel parou, me analisando.- É só meu.Não tem nada a ver com a iniciação.- falou, abaixando a cabeça para que eu não decifrasse o que estava acontecendo. Pela nossa proximidade, sabíamos identificar qualquer gesto de cada um.
Meu irmão me entregou uma caixinha preta,com uma fita azul.
Estremeci ao relembrar meu pesadelo, mas a abri com cuidado.Era um bracelete.
—Meu deus Daniel, é lindo - Exclamei surpresa. Era uma das únicas vezes que não tinha fingir que tinha adorado meu presente.
Era esplêndido sem dúvida. Haviam cinco esferas transparentes, unidas pela corrente prateada. Não era chamativo, mas discreto.
Ele pegou a joia e antes que a colocasse no meu pulso, as bolinhas da pulseira ficaram douradas. E ao tocarem a pele do meu braço, tornaram-se azuis. Olhei para Daniel confusa, que deu um sorriso amarelo e respondeu rapidamente:-Bateria-

O abracei, para agradecer, e ele retribuiu.Ficamos um tempo assim, meu irmão fazendo cafuné na minha cabeça e eu, apoiada no ombro dele, analisando o bracelete.

Eu sabia que ele estava diferente. Seus gestos, suas expressões e o jeito que ele estava falando não era comum. Obviamente alguma coisa o estava deixando nervoso.Mas preferi não perguntar. Acreditei que não o podia culpar por estar diferente, já que a partir daquele dia, tudo mudou.

Flashback Off

Ao terminar meu relato, o policial á minha frente se levantou e guardou o caderno, no qual estava anotando qualquer coisa que julgasse importante para solucionar o caso. Como ele tinha o guardado e ido conversar com os seus colegas, percebi claramente que o homem pensava que estava mentindo.

Minha mãe, sentada num sofá do outro lado da sala, me lançava um olhar questionador. Pisquei e assenti com a cabeça levemente. Sasha sorriu aliviada e falou algo para o marido. Sim, eu tinha feito o que minha mãe mandou. Ocultei qualquer informação que pudesse revelar a verdadeira natureza de cada um de nós. Mas eu sabia que mesmo com esses detalhes, os policiais nunca achariam meu irmão. Sendo humano ou feiticeiro, continuava desaparecido há mais de 2 semanas.

O relato que contara era a última vez que o tinha visto. Encarei o meu pulso, sentindo saudade. O bracelete continuava ali, como Daniel o tinha colocado. Preferi não tirar a pulseira nem mesmo para tomar banho. Eu realmente gostava dela. Me trazia o sentimento de segurança, que meu irmão me fazia sentir. E continuava brilhando,mas as cores variavam. Eu me perguntava onde meu irmão a tinha comprado.Mesmo passando horas analisando o bracelete, não conseguia achar a bateria.

Minha irmã ficava ali sentada no sofá, mexendo no celular.Meus pais já estavam conversando alegremente e eu era a única que me sentia ainda muito triste. Meu irmão era o melhor amigo.E perdê-lo de uma hora para a outra, foi um grande choque. Mas o que mais me doía era ele não ter me dito nada. Eu sabia que Daniel tinha desaparecido por conta própria.Tudo se encaixava.O comportamento estranho e o presente.Mas eu queria que não fosse no meu aniversário.Ou no nosso aniversário. Sara e eu éramos gêmeas fraternas, ou seja, nunca poderíamos trocar de lugar ou fingir ser a outra. A única semelhança era nossa data de nascimento.


Depois de acabarem a discussão, um par de policiais foram conversar com meus pais, que se levantaram e sorriam delicadamente ao escutar os homens. Estava tão concentrada em ouvir a conversa que não percebi quando um dos policiais me chamou. Apresentou-se como Samuel e pediu para conversar comigo em particular. O reconheci como aquele que ouviu o meu relato e desconfiara de mim. Eu acreditava que ele não se dava bem comigo. Do mesmo jeito, me levantei e o segui até a cozinha.

Samuel fechou a porta, enquanto eu me apoiava no balcão. Meus olhos o analisaram nesse pequeno intervalo de tempo. Cumpria com o estereótipo daqueles policiais dos filmes. Alto, forte e suas feições não expressavam nada. O único que chamou minha atenção foi o anel que usava. Eu já tinha visto aquele objeto em algum lugar. Quando começava a me concentrar para lembrar, sua voz quebrou o silêncio:
—Onde está o bracelete?-O encarei confusa.Mas instantes depois, sorri, achando graça do que ele tinha perguntado. A pulseira continuava no meu braço, como estava desde a chegada deles. Mas agora seu brilho era vermelho, vermelho sangue,como a cor que os olhos dos vampiros ficam.

—Você poderia cooperar, Rebekah.- Ao escutar meu nome, estremeci totalmente. Mas mesmo assim, continuei apoiada no balcão, tentando não demonstrar medo. Podia não ser tão forte ou alta quanto ele, mas sempre tive um temperamento muito forte.Ergui minha sobrancelha e falei tranquilamente:

—Para que você quer meu bracelete? Vocês não vão conseguir encontrar meu irmão.Então qual seria o sentido de entregar o único que "sobra" dele?- Cruzei os braços, com a intenção de deixar a pulseira bem em frente dos seus olhos.
—E ainda mais, para algum desconhecido?-acrescentei.
Minha hipótese foi confirmada quando vi que os olhos de Samuel continuavam desesperados tentando encontrar o bracelete. Ele não o via. O queria mas não o encontrava. Isso era algo que eu queria saber o por quê.

—Eu sou um desconhecido, Rebekah?- Sua boca formou um sorriso cínico. Seus olhos atingiram aquela tonalidade avermelhada. Suas presas apareceram, enquanto andava na minha direção.

Toda a coragem absurda que eu detinha até aquele momento evaporou assim como a cor do meu rosto.Seus olhos também me ajudaram a saber do que ele estava falando. Aquilo me lembrou daqueles encontros com aquele ser,que eu tinha quase todo dia.Nos meus piores pesadelos.

Meus braços penderam ao lado do meu corpo e sentia o desespero dominando cada pensamento. Me sentia vulnerável e aterrorizado, de um jeito que nunca me havia sentido antes, depois que eu acordava.
—Tão fraca e assustada. Nem parece que pertence á uma espécie tão poderosa.- Debochava, chegando com seus passos demorados, bem na minha frente.- Igual ao seu irmão.Um covarde mentiroso.- Senti sua respiração contra meu rosto,enquanto passava a ponta
dos seus dedos pela minha bochecha.

Eu estava tendo pesadelos diariamente desde meu aniversário. Todos eram iguais.Ele aparecia e eu não podia me mover. Se aproximava de mim, e debochava, usando as frequentes dúvidas que tinha. A razão do meu irmão ter desaparecido e se eu acabaria algum dia a iniciação, para tornar-me uma feiticeira que meus pais sentissem orgulho. E finalmente, me matava quebrando meu pescoço. E o que mais me estava dando medo era o fato que o que estava acontecendo exatamente como no meu pesadelo, e o pior era se acabasse igual.

E com um movimento rápido, fez um corte ali mesmo, na minha bochecha. Senti o cheiro de sangue,mas continuei imóvel.

—Controlar seus sonhos foi algo dificil. Me custou caro. Nesse aspecto, você poderia se parecer mais com seu irmão. Manipulá-lo foi mais fácil que matar a sua mãe.-Sorriu.

As palavras entravam na minha mente, mas não conseguia processar o que ele estava falando. Não fazia sentido. Minha mãe estava na sala, junto com o resto da minha família. E todos éramos feiticeiros. Por que eu pertenceria a uma espécie mais poderosa?

Meu desejo naquele momento era vê-lo morrer lentamente. Variadas noites acordava suando e nervosa sem poder dormir tranquila por sua voz que rodeava meus pensamentos. Me sentia insegura.

Nesse momento, suas feições congelaram. Uma estaca de madeira fora cravada no seu peito. O seu sangue respingou na minha roupa e vi que aos poucos, o corpo do homem se aproximava do chão. ~


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