Nada Acontece em Granger Lake escrita por ChatterBox


Capítulo 3
Visitas Inesperadas


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, muito bom estar aqui de novo!
Como estão vendo eu to mesmo muito animada com a história e tenho escrito todos os dias, então os capítulos estão saindo rápido!
Espero que estejam gostando.
Boa leitura!



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“Olá estranha,

Meu nome é Joseph Tyler Londrosa e eu venho através dessa carta fazer um relato especial. Há alguns anos morri e nunca tive a oportunidade de contar como foram meus últimos dias, como foram minhas últimas lembranças e que fatos podem abrir lacunas para imaginar a razão do acontecido.

Primeiramente, devo me apresentar. Quem sou eu? Moro nessa cidade desde que me entendo por gente. Meu pai abandonou minha mãe quando soube que ela estava grávida e desde então tem sido eu e ela por longos e tranquilos anos.

Minha mãe é uma beata de igreja. Sempre foi metodicamente católica e me engajou na religião desde que eu era menino. Cresci na igreja como coroinha. A religião e passou valores de vida e de caráter. Fui catequizado.

Eu ia bem na escola, era um menino comportado. O tesouro da minha mãe, ela sempre me dizia. Eu bem sabia que eu era tudo que ela tinha, e ela vivia para me ver feliz.

Eu era feliz. Mas escondia um segredo dela. Eu sabia que ela não entenderia muito bem, é muito cética e religiosa. Escondi esse segredo dela até o dia em que morri. Aos dezoito anos de idade, tinha há poucos dias descoberto que fui aceito numa universidade. Minha mãe estava felicíssima. Eu estava feliz.

Era bom morar em Granger Lake, mas ao mesmo tempo, pensar em ir embora, conhecer novos lugares e novas pessoas, ampliar minhas possibilidades... Ah! Era um alívio!

Mas eu sabia que havia alguém que não gostaria da minha partida. Eu já vinha pensando em como contar a essa pessoa havia meses e sabia que o dia em que faria estava se aproximando.

No fim das contas, aquela notícia tornou-se o gatilho para a minha morte.

Não quero assustá-la, moça da cabana, nos próximos dias, receberá mais algumas cartas onde vou relatar meus últimos três dias, e você, terá o papel honorável de ser a detentora dessas informações. Use-as com sabedoria.

Do outro lado,

Joseph Tyler Londrosa.”

Que tipo de piada era aquela? Que tipo de pessoa perderia o seu tempo criando histórias cabulosas para aterrorizar uma jovem mulher numa cabana?

Angela indignou-se. Fechou a carta na palma da mão e jogou-a dentro de uma das gavetas vazias do armário da cozinha. Queria que quem quer que tivesse feito aquela piada de mal gosto explodisse e suas entranhas escorregassem pelas paredes.

Que ofensa, hunf.

Passou os minutos seguintes baforando com raiva, enquanto atiçava as chamas da lareira com violência. Pensava em como tinha sorte de ser uma mulher cética e equilibrada, que dificilmente se assustava com qualquer babaquice escrita em um papel.

Se mandassem aquilo para outra pessoa, podia ser o motivo para esta empacotar suas coisas e sair. Que ultraje!

Pegou um dos livros que vinha lendo na estante, havia os organizado lá na primeira noite, e sentou ao lado da lareira, na poltrona de couro reclinável. Deu uma longa inflada no peito, puxando o ar quentinho da lareira para dentro e deixando que o ambiente a acalmasse mais uma vez.

Aquela era uma viagem de relaxamento e ninguém, absolutamente ninguém, ia conseguir estragar isso.

Abriu as páginas do livro com especial cautela e apreço e deixou que seu cérebro se envolvesse, com as palavras, as frases, os parágrafos... Era incrível como o prazer da leitura era sempre tão original.

Não havia sequer um dia que não se sentisse orgulhosa por ser um instrumento de alimentação daquela prática linda. Sabia que aquele tempo que estava dedicando à introspecção, estava aos poucos fazendo maravilhas para sua habilidade criativa, mesmo que não se desse conta, sentia. Aos poucos os sentimentos, e as ideias, que antes andavam tumultuadas pela constante correria frenética da rotina da capital, iam se organizando, cada um em seu lugar.

Perto do horário do almoço, um som distinto lhe distraiu da sua leitura. Uma espécie de baque. Como uma coisa leve batendo contra o chão, do lado de fora da casa. Ele se repetia numa frequência uniforme.

Resolveu levantar-se. Fechou o livro e deixou-o sobre o sofá ao lado, e calmamente aproximou-se da janela. Aos poucos a visão foi ficando clara do outro lado da vidraça e ela viu.

Próximo ao píer, na margem barrenta do lago, estava um garotinho. Cabelos castanhos lisos, caucasiano. Vestia uma camisa listrada laranja e verde e uma bermuda jeans.

Estava com sua bola de basquete, sentado em uma pedra. Tocava a bola em uma das estacas do início do píer, e quando ela quicava de volta, ele a jogava de novo. Era esse o som que vinha ouvindo.

O menininho parecia frustrado. Como se tivesse se aborrecido com alguma coisa e estivesse ali tentando esquecer.

Angela abriu a boca na intenção de chama-lo a atenção, talvez perguntar como ele veio parar ali, quem estava com ele? Mas o ar não entrou.

Ao invés disso, acordou, num espantoso suspiro. Estava deitada na poltrona, o livro estava em seu colo. Como pegou no sono tão rápido? Nem havia se dado conta de que estava dormindo.

Com uma das mãos, esfregou o rosto, confusa, tentando espantar a sonolência, e lembrou-se vagamente do sonho que teve. O menino. Parecia tão real. Lembrava fielmente do seu rosto, os olhinhos castanhos. Tinha aproximadamente sete anos de idade. Mas não sabia quem era.

Estranho como sua mente poderia criar alguém que não existia de forma tão perfeita.

Levantou-se e foi até a cozinha. Precisava cozinhar o almoço.

Entre a massa de spaguetti e a água borbulhando na panela, começou a questionar-se sobre seu livro. Uma história, qualquer uma.

A famosa posição da escritora em transe, olhando para o nada como se pudesse pescar ideias com os pensamentos aconteceu. Com ela recostada em um dos balcões da cozinha, olhando através da janela, nada além do som da água borbulhando, e a ventania do lado de fora balançando os pinheiros, foi quando teve a seu instantâneo despertar para uma nova ideia.

Os personagens, o cenário, começaram a aparecer sobrevoando sua cabeça, ela correu na direção do quarto, para pegar seu laptop sobre uma das cômodas e o trouxe para um dos sofás. Quando estava prestes a se sentar, lembrou da água fervendo no fogão e correu para desliga-la. Ficava para depois, o preparo do almoço. Tinha que aproveitar o chocante suspiro de inspiração que havia lhe invadido.

Com o notebook ligado em seu colo e uma página em branco, começou a descrever a primeira cena. Um garoto simpático e sonhador chamado Liam, que trabalhava num parque aquático vestido com uma ridícula fantasia de pato, para divertir as crianças e a sua inicial vidinha medíocre e caótica.

Não sabia bem onde iria chegar, mas sabia que era um início. Ele tinha um personagem, era mais do que tinha conseguido nos últimos meses!

As horas foram se passando como a água que corria no lago, tranquila. Ela mal conseguiu notar o tempo passando diante dos seus olhos, levada pelo entusiasmo de estar escrevendo. Logo eram 19h, e tudo estava escuro do lado de fora.

O vento soprava mais forte, e a lareira começava a ficar fraca. Haviam se queimado quase todos os galhos.

Com um suspiro, olhou um relógio velho que estava preso em uma das paredes, e também sentiu sua barriga roncando. Não havia almoçado e era tarde.

Salvou o documento e fechou o laptop, colocando-o sobre a mesinha de centro.

Quando se levantou, seus olhos se esbarraram na entrada envidraçada da casa e quase teve um infarto.

Chegou a dar um passo para trás com o susto e o coração acelerou-se. Haviam pessoas na frente da casa.

Ela inclinou sua cabeça para baixo, para puxar o ar para dentro e se acalmar, antes de encarar o pessoal.

Eram uma mulher, uma menininha, um menininho e um homem. Pareciam uma família. A mulher segurava um pote de vidro com alguma coisa dentro, o pai uma garrafa de vinho, as crianças uma garrafa de coca-cola.

Deram risada quando perceberam que ela se assustou.

— Boa noite! — saudou a mulher, entre risos — desculpe o susto, já íamos bater, mas... A porta é de vidro e não tem campainha!

Angela olhou para o rosto gentil da família, e perguntou-se quem eram eles. Que diabos estavam fazendo ali aquela hora? E o que queriam?

De toda forma precisava atender. Puxou o casaco contra o corpo para proteger-se do frio que só aumentava, e com uma expressão desconfiada, foi caminhando até a porta.


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Notas finais do capítulo

E então?? Espero que tenham gostado, deixem um comentário!
Se puderem divulgar a fic, ia ajudar muito.
Obrigada por terem lido, até o próximo.
Bjitos, Chatterbox.



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