Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 50
Capítulo Quarenta e Nove: pesadelo.




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Naquela tarde que Keith estava trabalhando na lanchonete, Aiden no restaurante, Sawyer tentando convencer Tristan a dormir na casa abandonada enquanto ele estava na aula, Ingrid e Sabrina tomavam café no apartamento e Lara e Sofia brincavam na sala com ursinhos e bonecas.

— Deveríamos fazer isso sempre. É bom para elas – Sabrina apontou para as garotas, que tinham pouca diferença de idade. – Falei pro Keith que sempre que vocês precisarem, podem deixá-la comigo.

— A gente deu sorte que os amigos dele ajudam muito – Ingrid sorriu, bebendo o café amargo, ela estava cortando o açúcar.

Sabrina a encarou, incrédula.

— Vocês deixam a minha princesinha perto daqueles marginais?

— Desculpa, Sabrina – Ingrid soltou uma risada – eles são ótimos com ela. Lara adora eles, principalmente o Sawyer – Sabrina fez uma carenta, incrédula, o que fez Ingrid concordar, assentindo.

— Mas quando eles não estiverem disponíveis, pode deixar comigo. Ou eu venho para cá. Falei sério pro Keith, quero que elas sejam próximas.

Ingrid já havia passado bastante tempo com Sabrina àquela altura e tinha certeza que suas intenções eram boas. Ela só esperava que Sabrina fosse uma vó e mãe melhor que ela foi com Keith.

Lara tinha sorte de ter muitas pessoas dispostas a ajudar. O pai de Keith deixou claro que sempre que precisassem de carona ou comida, ele ajudaria, mas Keith nunca pediria para cuidar dela, porque conhecia o pai que tinha.

Quando Keith chegou do trabalho e viu que sua mãe ainda estava lá, não se surpreendeu. Sempre que Sabrina ia visitá-los, ficava até ela perceber que havia escurecido.

— Ah, já é noite – Sabrina disse naquela noite que Keith chegou do trabalho. – Eu estava falando pra Ingrid que sempre que precisasem de mim, podem chamar. Eu e Sofia ficaremos felizes em ajudar. Sempre. E é bom pra elas, sabe?

Keith assentiu, mas estava cansado para aquela conversa. Esperou sua mãe ir embora e encarou Ingrid, que logo notou que algo havia acontecido.

— Então... – Ingrid revirou os olhos e soltou o ar antes mesmo de Keith começar – Sawyer convidou eu e os garotos para uma noite na casa abandonada...

Ingrid franziu o cenho, desconfiada e confusa.

— É uma casa do bairro onde passamos uma noite e parece que vai ser demolida. Ele quer... matar a saudade.

Ingrid não disse nada. Apenas ficou encarando Keith, como se esperasse que ele dissesse que era uma brincadeira.

*

Tristan não tinha memórias boas naquele lugar. Parte do seu tratamento era conseguir se desapegar de coisas do passado e enquanto esperava seus amigos – no lugar e hora combinado – ele encarou melhor a casa.

Era só uma casa que coincidentemente estava abandonada.

Há quanto tempo exatamente, ele não sabia, mas ela já era daquele jeito quando ele se mudou para o bairro.

Sawyer e Aiden chegaram juntos alguns minutos depois enquanto Tristan ainda olhava a casa.

Tristan já sentia-se melhor em diversos aspectos de sua vida e aquela casa já não lhe causava arrepios. Ele cresceu, já não tinha o que temer.

Sua tia não o alcançaria ali.

Mas...

— Vocês já ouviram alguma história real? – Tristan perguntou, encarando os amigos. Ignorando o que diziam sobre Ingrid não ter deixado Keith se juntar a eles e Aiden murmurando um "eu avisei".

— Todas que contavam as pessoas juravam que eram reais, mas as pessoas mentem.

— A gente já veio aqui e nunca ouviu nada de estranho.

— Acho que os mortos não querem ficar por aqui, nem os vivos querem. – Sawyer disse, querendo encerrar o assunto.

Tristan sabia, racionalmente, que era impossível existir qualquer coisa ali. Era apenas uma casa abandonada, onde os mendigos dormiam, os drogados ficavam em paz com seus vícios e onde aconteciam diversas cenas que os garotos não queriam pensar, mas eram apenas pessoas vivas sendo o que elas não podem ser do lado de fora.

Quando estavam prontos para entrar e desfrutar da sua hospedagem daquela noite, perceberam a silhueta de Keith.

— A patroa deixou?

— Vim escondido.

— O que? – Aiden arregalou os olhos, surpreso.

— Ela deixou. Eu disse que voltaria de manhã cedo – Keith riu, tranquilizando os amigos.

Sawyer estava feliz que conseguiu juntar seus amigos sem ser em alguma comemoração ou para cuidar de Lara.

De repente, era como se os quatro fossem adolescentes irresponsáveis novamente.

Mas, assim como eles, a casa também havia mudado.

O bairro estava todo escuro àquela hora e não havia eletricidade na casa abandonada, por isso Aiden deu uma vela a cada e Sawyer as acendeu com seu isqueiro. As luzes tremeluziam, iluminando porcamente a casa.

O único móvel a vista era uma cadeira com três pernas. As paredes estavam manchadas de fuligem e umidade, o papel de parede arrancado pela metade, como se alguém tivesse começado e desistido no meio do caminho.

O cheiro de podre era insuportável e quase os fez ir embora, mas seguiram casa a dentro depois que Tristan fechou a porta atrás de si. Alguns degraus estavam quebrados pela metade e já não havia corrimão para se segurarem.

Quando chegaram ao quarto, o mesmo que durmiram da última vez, perceberam o único móvel: um colchão sujo.

As manchas pelo colchão eram diversas. Desde xixi até sangue, mas Aiden pegou sua mochila e tirou uns lençóis de dentro. Sawyer franziu o cenho para ele.

— Eu não quero dormir nessa cama sem colocar pelo menos dois lençóis nela.

— E você tá cogitando deitar nisso? – Tristan fez uma careta, estava com os dedos no nariz, respirando apenas pela boca, para não sentir o cheiro.

Keith e Tristan estavam inclinados a ir embora. Já não vendo sentido em ficarem, mas Sawyer percebeu seus olhares incertos.

— Eu sei que não é ideal, mas podemos só beber e não dormir – ele deu de ombros.

Keith não queria dizer que estava cansado porque ele nunca negava bebida, mas ele só queria deitar e dormir, mesmo que fosse naquela cama suja.

Tristan encarou Sawyer e Aiden ajeitarem o colchão, arrumando o lençol para ficar sem amassados. Ele olhou de soslaio para Keith, que também encarava a cena com o cenho franzido.

— Você acha que eles querem ficar sozinhos? - Tristan tentou sussurrar o mais baixo que conseguiu. Keith escutou porque estava ao seu lado.

Porém Keith não respondeu nada. Ele também havia sentido que atrapalhava algo, por isso tomou a liberdade de dar a oportunidade a Sawyer.

— Sabe, Saw... - Keith começou, o que fez Sawyer erguer os olhos do elástico do lençol e encarar Keith. - acho que a Ingrid precisa de mim...

— Nem pensar - Sawyer levantou do chão e se aproximou de Keith - elas não vão morrer porque você vai passar uma noite fora. Algumas horas, né, já que você vai voltar cedo. Você tá com seu celular? - Keith assentiu - então pronto, qualquer coisa ela liga.

Keith não disse nada e aquilo bastou para Sawyer perceber que ele não parecia convencido.

— Só tem uma cama, pra quatro pessoas – Tristan tentou, mas aquilo fez Sawyer rir.

— Qualquer coisa eu deito no chão! Quando foi a última vez que ficamos nós quatro juntos sem pensar no amanhã? Parece que foi há uma eternidade que meu aniversário aconteceu, e foi legal, não? Parecia que havíamos voltado no tempo.

Tristan pensou em se meter e dizer que as coisas eram diferentes àquela altura. Eles eram adultos e precisavam se portar como tal. E dormir em uma casa abandonada que estava prestes a ser destruída não era algo que deveriam fazer.

Mas ele percebeu a vontade de Sawyer em convencer Keith, e acabou se convencendo também.

Não era só sobre os quatro. Ele não queria apenas um momento com seus amigos fugindo da realidade. E não queria ficar apenas com Aiden. Mesmo que eles continuassem o relacionamento em segredo, depois que cada um seguiu sua vida e obrigações, ninguém tinha tempo ou interesse em saber onde Aiden e Sawyer estavam ou o que eles estavam fazendo.

Sawyer queria voltar no tempo, mas sem voltarem a ser quem eram.

E mesmo que soasse estranho Sawyer querer tanto algo assim, Tristan foi convencido e já começava a observar dentro da mochila de Aiden para saber o que mais ele havia levado.

Keith decidiu que ficaria, mas que iria embora assim que o sol nascesse. A verdade era que ele sentia falta de estar com os amigos. Só eles.

Então não demoraram muito para se tornarem, ou acordarem, os garotos selvagens que viviam naquele bairro. Mas mais maduros.

Bebendo suas bebidas alcoólicas enquanto fingiam que não existia mais preocupações lá fora. Apenas eles e uma casa não tão mal assombrada.

Mas ainda tinha uma chance pequena de ser. Aquela casa já viu, sentiu e cheirou tudo que possa ser possível imaginar e as paredes e móveis restantes exalavam energias ruins.

Porém aquilo não incomodava os garotos, que continuaram explorando os cômodos, cada um segurando algo para beber ou fumar.

Havia apenas os quatro ali dentro, e mesmo assim parecia que existiam outras presenças.

A casa era velha e seu material não era dos melhores. A madeira rangia com o vento fraco da rua. As janelas que não fechavam - ou estavam quebradas - faziam folhas entrarem e o barulho do vento era um assovio constante.

Iluminavam os cômodos só para encontrar mais sujeira e paredes manchadas. Bichos mortos nos cantos dos rodapés, mosquitos voando sobre o faixo de luz que Keith apontava com sua lanterna do celular.

Após a breve caminhada de reconhecimento para saberem se estavam de fato sozinhos - tanto em questão de pessoas vivas quanto em questão de corpos mortos jogados pela casa -, eles voltaram para o quarto e se ajeitaram. Tristan e Aiden sentaram na cama e Keith e Sawyer à frente deles, com uma vela no centro. As outras eles apagaram.

Keith desligou sua lanterna e deixou o celular ao seu lado, tentando não olhar a cada cinco minutos para saber se Ingrid precisava dele.

Cada um segurava uma latinha de cerveja e o silêncio se instalou por alguns segundos. Sawyer começou a pensar que havia sido uma péssima ideia, que ninguém queria de fato estar ali, então ele pigarreou e encarou os garotos. A luz no rosto deles era a única coisa iluminando a casa.

— Quanto tempo você acha que falta pra Lara andar? – Sawyer perguntou, olhando para Keith.

— Não sei, Ingrid falou que fica tentando, mas ela só fica lá sentada olhando pra Ingrid – ele riu, lembrando-se da filha.

— E eu achando que você nem gostava de criança – Aiden disse, olhando para Sawyer.

— Eu não gosto – sua resposta soou defensiva – Gosto da Lara. Porque ela é filha do Keith.

— A Lara é um amor, puxou a mim, claro. Carismática, sorridente...

— Quando a conversa se tornou sobre você, de alguma forma? – Tristan perguntou, rindo.

— E você pensa nisso, Tristan? – Aiden olhou para ele ao seu lado – Filhos, família...

— Acho que sim... mas agora é cedo demais pra pensar nisso...

— Papo reto – Keith começou, após beber um longo gole de cerveja – eu só estou vivendo junto assim porque aconteceu, mas eu não me arrependo de nada. Também não pensava em futuro e família, até acontecer. Mas acho que isso também me ajudou.

— Mas vocês pretendem morar juntos? – Sawyer perguntou – Não sei como deve ser pra você... – direcionou seu olhar para Aiden. Sawyer realmente não sabia como Aiden se sentia com Ingrid e Lara passando a maior parte do tempo no apartamento deles. Ele nunca reclamava, e talvez fosse pelo fato de ele passar mais tempo na rua, trabalhando, do que com eles.

— Já falamos sobre isso – Keith falou, pegando Aiden de surpresa – Eu demorei a vir porque minha mãe me ligou dizendo que havia um emprego perto de onde ela mora que talvez eu possa me interessar. E provavelmente vou ficar por lá... Eu disse que não teria como morar com ela, mas ela disse que tinha alguns apartamentos baratos para alugar por lá... Ela tem tentado ajudar a gente porque sabe como é difícil criar filho, e não é barato. Ainda mais com meu salário da lanchonete...

— Você vai sair do bairro – foi a primeira coisa que Sawyer conseguiu dizer.

— Eu vou morar sozinho? – Aiden perguntou ao mesmo tempo.

— Eu ainda não sei. Estou esperando a resposta pro trabalho...

— Quando você ia avisar? – Aiden perguntou, ainda sentindo-se traído, de alguma forma. Mas Sawyer estava pior, nem conseguia colocar em palavras o que sentia.

— Quando desse certo – Keith respondeu, com um suspiro cansado, não queria falar sobre aquilo naquele momento.

Tristan estava calado, apenas os observando e Sawyer não tirou os olhos de Keith.

— Não vamos estragar a noite – Keith disse, quando percebeu que ninguém diria mais nada.

— É... E agora eu tenho carro, não é como se fossemos nos separar... – Tristan disse, tentando acalmar a tensão.

— Não vai ser como antes. Como agora – Sawyer desdenhou.

— É por causa da Lara ou por causa minha que você tá triste que a gente vai se mudar? – Keith perguntou, tentando rir para Sawyer.

— Idiota – Sawyer falou, sem conseguir esconder o sorriso.

— A gente vai fazer dar certo – Tristan os encarou. Eles assentiram.

— Carlos me ofereceu ajuda para estudar gastronomia – Aiden resolveu dizer. Sentia-se envergonhado por aquilo, não gostava de receber ajuda dos outros, mas era algo que ele estava ansioso em acontecer. Contou ao Carlos sobre sua vontade de cozinhar e o seu patrão lhe assegurou que ele não ficaria só na vontade de aprender.

— Ele é muito maneiro – Keith suspirou – você se deu bem com esse trabalho.

Keith encarou Sawyer de soslaio.

— De nada – ele riu, mas queria parabenizar Aiden por aquilo. Porém, não disse nada, apenas encarando Aiden, que entendeu com apenas um olhar e um sorriso tímido escapou dos seus lábios.

— Eu reencontrei a Vanny esses dias – Keith disse, porque já não aguentava guardar para si.

Pensou nela depois que a viu naquele dia, mas nada que o fizesse cometer um ato impensado.

— E como você se sentiu? Ainda sente algo por ela? – Tristan perguntou, mas Keith negou rapidamente.

— Ela está diferente. Se livrou das drogas.

— Bom pra ela – Aiden pontuou – ainda bem que ela conseguiu parar...

— Ela me viu com a Lara. Não ficou surpresa, parecia que até já sabia – Keith riu.

Tristan percebeu o que eles estavam fazendo. Pela primeira vez em muito tempo, pareciam confortáveis em compartilhar sobre seus problemas e conquistas. Tristan sabia que eles tinham o direito de saber sobre a vida dele também.

— Eu conheci um garoto na faculdade – Tristan começou, encerrando o assunto que eles comentavam sobre Vanny. Sawyer e Aiden o encaravam, confusos. – Eu já tinha contado pro Keith, mas não falei tudo. Ele se chama Tobias e nós estamos... nos conhecendo melhor.

Tristan percebeu o olhar que Sawyer e Aiden trocaram.

— Então você é... gay? – Sawyer resolveu perguntar.

— Não sei. Acho muito cedo pra saber...

Tristan sabia que se descobrir aos dezoito podia não ser cedo para outras pessoas, mas para ele, que finalmente permitiu se conhecer, era um grande progresso. Ele e Tobias conversavam todos os dias, mas quase não se viam. Tristan ainda não sentia-se totalmente confortável, mas não descartava a ideia.

— Se ele não é gay, mas tá gostando desse menino, ele vai ser o que? – Sawyer perguntou, perplexo.

Ele não era ignorante, só achava que o mundo era oito ou oitenta.

— Algumas pessoas podem gostar de todos os gêneros. Ou nenhum – Keith respondeu, pegando todos de surpresa.

Ele não havia entendido isso da noite para o dia, mas Ingrid lhe ensinou muitas coisas sobre sexualidade.

Sawyer não disse nada, mas não havia entendido inteiramente.

Para ele, que era um garoto homossexual e vivia com pessoas machistas e ignorantes, aquilo era uma novidade. Aiden não parecia entender tudo também, mas não disse nada.

— Se você quiser, Ingrid te explica, mas tô muito bêbado pra isso.

— Enfim – Tristan soltou um suspiro e balançou a cabeça, encarando os garotos. – Não estou muito preocupado com isso. Tobias é legal, mas não sei como será no futuro...

— E por hoje, pensaremos no agora. – Sawyer ergueu a latinha de cerveja vazia no centro, acima da vela, e os garotos brindaram juntos.

Não falaram mais sobre o futuro, mas cada um tinha seus planos em suas mentes levemente alterada pela bebida.

Quando eles cansaram de beber, acumulando as latas amassadas no canto do quarto, Tristan se espreguiçou e foi o primeiro a dizer que estava com sono.

Eles se espremeram na cama, os quatro juntos.

Sawyer e Aiden lado a lado, Tristan ao lado de Aiden e Keith na ponta, quase caindo da cama, mas tentaram ficar confortáveis enquanto o sono lhes chamava.

Sawyer escutava o ronco de Keith e aquela era a trilha sonora da noite enquanto observava Aiden. Ele não enxergava muita coisa, mas foram anos olhando para seu rosto, Sawyer decorou cada detalhe.

Sawyer ergueu a mão para onde ele sabia que estava a boca de Aiden. Sentiu a respiração quente dele em seu dedo e não aguentou, aproximando o rosto do seu.

Aiden não fechou os olhos naquele beijo. Ele queria apreciar cada segundo com os olhos bem abertos, temendo perder algo, mesmo com a escuridão ao redor.

Quando Sawyer percebeu que Aiden não pararia se ele não parasse, ele o afastou gentilmente.

— Eles estão logo ali – Sawyer sussurrou, o repreendendo e Aiden riu, ainda embriagado.

— E daí? Estão dormindo – ele fez menção de segurar o rosto de Sawyer, que segurou seus punhos e o encarou.

— Nós vamos dormir agora. Temos muito tempo ainda, Aiden – ele sussurrou, a boca próxima da orelha de Aiden, que sentiu o arrepio na nuca e sorriu em resposta.

Sawyer se ajeitou para dormir, olhando para cima e Aiden o encarou por longos segundos, até finalmente conseguir dormir. Mas antes do sono o pegar, seus pensamentos vagavam, uma vontade incontrolável para contar a Sawyer o que sentia e dizer com todas as letras que o amava, mas o sono o segurou forte, ele não conseguia mais manter os olhos abertos.

Apesar de Sawyer ter bebido tanto quanto os garotos, ele estava sem sono e sentindo-se estranhamente sóbrio. Demorou a dormir e de repente recordou-se de um dos assuntos daquela noite com seus amigos, sobre a família. Se perguntou porque não perguntaram nada para ele e Aiden.

*

Na manhã seguinte ninguém demonstrava sinais de ressaca, apenas dor nas costas. Keith levantou antes mesmo do sol e não deu tempo nem de se despedir dos amigos, que dormiam tortos na cama.

Quando chegou, Ingrid estava arrumando a mochila de Lara e aquilo o deixou confuso e temeroso.

— Eu falei que viria cedo, não precisa levar ela embora...

Ingrid não havia notado Keith na porta, e gritou de susto, o que acabou assustando Lara, dormindo no berço.

— Me desculpa, filha – Ingrid a pegou no colo e encarou Keith, o fuzilando com o olhar.

— Estou arrumando porque sua mãe nos chamou pra passar o dia lá. Já que hoje você trabalha. – ela colocou a mão no coração depois que acalmou Lara, que logo voltou a dormir.

— Desculpa – Keith fez uma careta. – Vai ficar até que horas lá? Sabe que se não ficar de olho na hora, ela te obriga a ficar.

— Eu volto antes de escurecer. Seu pai vai me levar.

Keith assentiu, deixando escapar o olhar arregalado de surpresa. Sempre ficava assim quando descobria que seu pai não era totalmente ruim o tempo todo.

Ele se arrumou para o trabalho, apesar de ser cedo, e ajudou Ingrid e Lara a entrarem no carro.

*

Aiden foi o segundo a acordar, percebendo que metade de Tristan escapava para o chão. Ele o acordou, tocando levemente no seu ombro.

Tristan não se assustou quando acordou. Apenas abriu os olhos, vermelhos, e percebeu que já estava dia. Levantou rapidamente e começou a se ajeitar para sair.

— Não posso me atrasar pro trabalho, Osmar está me esperando essa hora – ele disse, mesmo sem saber de fato que horas eram.

Só restavam Aiden e Sawyer depois que Tristan foi embora.

Aiden o observou por alguns segundos. Parecia dormir em paz, descansado. Seus olhos se mexiam freneticamente por baixo das pálpebras e Aiden desejou que sonhasse com ele.

*

Às vezes Tristan considerava que Tobias era uma distração para seus objetivos. Não era que ele não queria ter alguém no futuro, ele só pensava no seu futuro profissional. Trabalhar como estagiário não era tão glamuroso quanto imaginava, os homens sempre lhe pediam para servir o café ou entregar papéis. Mas Tristan não era de reclamar, então fazia o que lhe era solicitado. Ainda gostava da profissão e tinha cada vez mais certeza que trabalharia na defensoria pública.

Por sorte, naquela manhã o efeito do alcóol já não o atingia mais, mas ele estava bebendo café para dispensar todos os resquícios da cerveja.

*

Na hora do almoço o restaurante costumava encher e embora Aiden precisasse se concentrar nos pedidos, não parava de pensar em Keith e no que ele faria em seguida. Ele o deixaria sozinho naquele apartamento?

E então, Aiden pensou em Sawyer.

Ele o acordou naquela manhã com beijos, aproveitando que estavam sozinhos na casa. Sawyer sorria enquanto os recebia.

— Eles já foram? – Sawyer perguntou, se espreguiçando, querendo voltar a dormir.

— Já. Temos um tempo sozinhos...

— Não aqui, né? – Sawyer levantou, fazendo Aiden segurar sua mão e levantar-se também. – Admiro seu lado fetichista e meio macabro, mas não consigo nem te beijar direito estando aqui dentro.

— Então vamos para a sua casa...

Aiden se interrompeu quando percebeu que alguém o chamava.

Carlos o encarava com o cenho franzido enquanto ele estava no meio do restaurante, segurando a bandeja vazia. Percebeu que ele se perdeu em pensamentos por alguns segundos e esqueceu-se de colocar os pedidos ali.

— Desculpa – ele pigarreou ao passar por Carlos.

— Você está bem? – Carlos o segurou pelo braço, Aiden assentiu, mas Carlos balançou a cabeça. – Faça seu intervalo mais cedo. Come alguma coisa e lava esse rosto, pode ser? – Aiden apenas assentiu e Carlos pegou a bandeja vazia da sua mão.

Aiden saiu do restaurante agradecido pela brisa fresca esfriar suas bochechas rosadas e percebeu que o beco estava vazio.

Há muito tempo via aquela cena e já não ficava surpreso, até gostava. Mas ele não via Sawyer assim.

Então decidiu passar seu intervalo na casa dele.

*

Todos os dias Keith se preocupava com Ingrid e Lara, mas naquela tarde ele estava tranquilo porque sabia que elas estavam bem com sua mãe. Algo que ele nunca imaginava acontecendo, mas já estava grato e acostumado. Desejava não perder aquilo.

Seu trabalho lhe enchia o saco, porque estava sempre vazio, mas o Senhor Anderson lhe ajudou muito, lhe deu um horário flexível para que pudesse passar mais tempo com Lara e contratou um adolescente que estava terminando a escola – recebendo metade do salário -, mas agradecido o suficiente para trabalhar de boa vontade.

Ele sabia que estava perto de sair daquele lugar, mas sabia que uma grande parte sua sentiria saudades.

Mas ele fazia aquilo pelo seu futuro, algo que ele nunca pensava em se preocupar antes.

*

Sawyer estava dormindo quando Aiden apareceu no seu quarto. Não se assustou, mas sorriu o cumprimentando e ele sentou na sua frente na cama.

— Eu tive uma ideia. – Aiden disse, segurando a mão de Sawyer em cima da cama. – O que você acha de morarmos juntos depois que o Keith ir embora?

Sawyer demorou alguns segundos para de fato acordar e processar o que estava acontecendo, mas quando compreendeu...

— Você ainda pode trabalhar pro Seth. Acho que ele vai entender... e permitir...

— Talvez – Sawyer assentiu, sentindo-se confiante por causa do tom de Aiden ao dizer. Ele falaria com Seth naquela noite e a sua vida começaria a mudar. Ficar com Aiden seria uma forma menos dolorosa e mais prazerosa em lidar com sua vida ligada à de Seth.

Sawyer sentou-se na cama e segurou o rosto de Aiden com as duas mãos, lhe olhou por alguns segundos e seus olhos diziam tudo que eles não conseguiam dizer.

Sawyer não era bom com palavras, então aproximou o rosto de Aiden do seu e lhe deu um beijo demorado.

*

Naquele fim de tarde, os quatro garotos estavam satisfeitos com suas vidas. Tristan amava aprender cada vez mais para finalmente ser o que ele gostaria de ser, este seria o seu futuro. Sawyer sonhava acordado enquanto caminhava pela rua, sonhando com seu futuro ao lado de Aiden. Keith, apesar de exausto, não via a hora de melhorar a qualidade de vida de Lara, lhe dando tudo que ele nunca conseguiu na sua infância.

Há muito tempo os garotos deixaram de ser garotos. E mesmo se afastando, a vida sempre os unia. E mesmo com a distância, eles sabiam que dariam um jeito de nunca se separarem.

*

— Keith nos contou sobre a mudança... – Sawyer começou. Estava sentado no sofá enquanto Ingrid preparava o café, ela havia se acostumado a tomar cafeína à noite. Lara quase dormia no colo de Sawyer, tentando manter os olhos abertos enquanto assistia o desenho.

— Vai ser bom até pra ela – Ingrid apareceu na sala, segurando sua caneca – Aqui nesse bairro tem muita coisa ruim. E também lá é mais perto de onde eu moro, posso levar ela pra minha mãe, ou deixar ela com a Sabrina. Sei que vocês ajudam, mas...

— Eu sei – Sawyer apenas assentiu, incapaz de escutar mais alguma coisa – Acho que estão certos em sair daqui. Assim que eu puder, vou também. Mas... não quero ficar longe de vocês... – ele encarou Lara, tocou no seu nariz pequeno e riu, fazendo ela rir também.

— Vocês todos serão bem-vindos em qualquer lugar que a gente vá – Ingrid tocou em seu ombro, lhe passando conforto.

Sawyer sorriu em resposta e escutou seu celular vibrando na mesinha de centro, ele quase ignorou, mas sabia que Seth não gostava de ser ignorado, então se inclinou e pegou o celular.

— Onde você tá? – Seth perguntou assim que Sawyer colocou o celular no ouvido. Ele entregou Lara a Ingrid e levantou-se, para conversar melhor com o irmão que gritava do outro lado.

— Precisa de mim?

— Não preciso – ele deu ênfase na palavra – eu quero você aqui em cinco minutos. Reunião.

E desligou o telefone.

Sawyer pensou em fingir que não escutou e não ir, mas seu irmão já estava ligando novamente após três minutos.

— Você vai ficar bem com ela até o Keith ou Aiden chegarem do trabalho? – Sawyer perguntou, dando um beijo na testa de Lara.

— Pode ficar tranquilo, Sawyer – Ingrid revirou os olhos. Por mais que gostasse da ajuda, às vezes achava que os garotos acreditavam que ela não era capaz de cuidar de uma criança sozinha. Mas ela percebia pelo olhar deles, principalmente do Sawyer, enquanto ainda dava tchau para Lara, que eles genuinamente gostavam de ajudar, estar ali.

— Qualquer coisa, só ligar – ele disse, mostrando o celular e saiu do apartamento.

Ele não tinha pressa em ir para a casa, quanto mais demorasse, menos Seth precisaria dele.

Mas quando percebeu todos eles reunidos ao redor do beco, soube que esperavam por ele.

— Demorou quinze – Seth disse, mas antes que Sawyer pudesse dizer qualquer coisa, ele prosseguiu: - Parece que descobrimos de quem é as partes que recebemos.

Sawyer olhou ao redor, percebendo que faltavam alguns caras que trabalhavam com Seth.

— Não está faltando gente pra reunião? – Sawyer perguntou e aquela intromissão não foi bem-vinda para Seth.

— X9 não tem lugar aqui. As pessoas que ficaram são quem eu sei que posso confiar.

— E então, o que aconteceu afinal? Vamos voltar a trabalhar? – um dos cachorrinhos de Seth perguntou. Sawyer não se incomodava em saber o nome de nenhum deles.

— Eles pegaram um dos nossos para nos dar esses avisos. Infelizmente eu não sei se chegaram a matar ou estão destroçando o cara até fazermos algo...

— E vamos fazer algo? – mais um perguntou. Sawyer só ficou observando enquanto Seth tentava liderar, mas ele parecia o mais perdido.

— Vamos jogar no mesmo nível.

*

Quando Aiden chegou em casa, Keith, Ingrid e Lara já estavam dormindo no quarto. Ele estava exausto porque não havia dormido bem desde a noite passada, espremido no colchão fedido. Naquela noite, ele não conseguiu nem chegar até o banheiro, simplesmente retirou suas roupas e se jogou na cama, pronto para dormir.

O bairro era silencioso naquela noite de final de ano. Keith e Aiden dormiam em seus apartamentos. Tristan protegido em sua casa.

Mas Sawyer e os cachorrinhos de Seth continuaram buscando alternativas para descobrirem como tirar Seth da reta do traficante.

Não receberam sequer outra ameaça, mas quando estavam prontos para sair e irem ao bairro do traficante para pegá-lo desprevinido, escutaram os passos se aproximando cada vez mais.

Cinco homens apareceram por entre a escuridão da rua do beco. Seth demorou a percebê-los, tamanha era sua raiva em seguir caminho, mas estacou no lugar quando ele ergueu o rosto e os percebeu, a poucos metros de distância.

— Sempre um desprezer ver você – o homem disse, encarando Seth. Sawyer percebeu que seu olhar era penetrante. Ele era alto e grande, facilmente poderia esmagar Seth com um soco na cabeça. Apesar de tentar esconder o medo, Seth tremeu por alguns segundos antes de recuperar a voz.

— Acho que podemos conversar, não? Esclarecer algumas coisas – sua voz soava trêmula, mas Seth permaneceu no lugar.

Sawyer nunca o viu agir daquela forma, normalmente ele era o primeiro a atacar. Ou falar merda.

— Não converso com quem se junta com a polícia. – ele cuspiu no chão. Alcançou a centímetros do tênis de Seth. – Quer entregar minha cabeça pra um porco? – ele começou a andar na direção de Seth, mas ainda estava a uma distância segura.

Seth engoliu em seco, sem saber como poderia se defender daquilo.

— Você é uma vergonha pra gente – o homem prosseguiu, e pelo jeito que falava, a raiva estremecendo cada palavra, não faltava muito para que ele agisse. – Topa tudo pra ficar livre, até se envolver com policial corrupto?

Sawyer costumava pensar sempre antes de agir. Costumava considerar as consequências dos seus atos. E mesmo que ele tentasse mostrar seu lado que não temia a morte, ele sabia que era uma fraude. Ele vivia com medo. Mas naquela noite, enquanto aquele homem dizia diversas coisas para o irmão, Sawyer agiu quando percebeu que ele ergueu a arma, que estava atrás da sua calça. Ele não se concentrou em nada mais além do dedo a centímetros do gatilho. Ele não pensou em nada e nem ninguém, simplesmente agiu. Não sentiu os pés enquanto se mexiam, tentando correr para salvar o irmão. Talvez daria tempo, ele pensou.

Seth não se mexia, apenas encarando o cano da arma apontando para ele. Até o barulho surgir e ele não sentir nada, apenas um peso na sua frente, o empurrando para baixo. Quando percebeu o rosto de Sawyer, se concentrou em seus olhos. Por alguns segundos Sawyer estava ali, olhando para ele, sem nenhum medo, e no seguinte, foi como se a luz tivesse desligado dentro dele. Seus olhos sem vida ainda o encaravam enquanto ele chorava, agarrado ao corpo do irmão, implorando para ele voltar e parar de ser tão estúpido.

Demorou alguns segundos até Seth perceber que Sawyer não voltaria, que havia levado um tiro no seu lugar. Ele olhou ao redor, querendo gritar com o responsável, mas ele já não estava mais lá.

— Seth – ele escutou alguém chamá-lo e tentou desviar o rosto para onde vinha a voz, mas não conseguia se mexer direito com o peso de Sawyer em cima dele. – Solta ele – Seth não viu a quem pertencia a voz, apenas deixou que a pessoa pegasse Sawyer dos seus braços e o ajeitou à frente deles. Passou o dedo pelos seus olhos, os fechando.

Seth fechou os seus com força, como se aquela cena fosse apagada. Como se nada daquilo estivesse acontecendo.

— O que aquele desgraçado fez? – Seth perguntou, se ajoelhando ao lado do corpo do irmão.

As pessoas que restavam ali eram seus amigos e companheiros de trabalho, mas sabiam que aquela era uma pergunta retórica. Alguns se aproximaram, perguntando o que poderiam fazer.

— Vai todo mundo embora – Seth disse, segurando a mão de Sawyer.

Ele queria pedir desculpas. Queria dizer tanta coisa para Sawyer, mas já não podia.

— Seth, nós precisamos avisar alguém... Fazer alguma coisa.

Seth fungou e limpou o rosto com a camiseta, que só naquele momento percebeu que estava suja de sangue. O sangue de Sawyer.

— Liga pro Aiden – ele resolveu a questão rapidamente e pegou o celular de Sawyer no bolso dele, entregando para o garoto porque não tinha coragem de dar uma notícia daquelas.

As mãos do garoto tremiam enquanto segurava o celular.

Seth nunca esqueceria que seu irmão perdeu a vida tentando salvar a dele.

Por alguns segundos, enquanto Sawyer o encarava antes da desgraça se desenrolar, ele pensou que ele diria algo, mas Sawyer não disse. Não deu tempo. Seth deveria ter dito muita coisa. Deveria ter pedido perdão por todas as vezes que bateu nele, mas aquilo o transformou naquele garoto, capaz de salvá-lo, por pior que ele fosse como irmão.

— Que demora! — ele encarou o garoto, com o celular no ouvido.

— Só chama!

— Me dá essa porcaria — Seth rosnou e pegou o celular de volta. Foi até os poucos contatos de Sawyer em seu celular e parou quando viu 'Ap Aiden+Keith'.

*

O coração de Aiden batia acelerado no peito enquanto ele encarava Sawyer em cima dos trilhos de trem. Sawyer dançava e pulava enquanto ria. Apesar de ele estar feliz, Aiden estava preocupado. De repente escutaram o trem se aproximar. Sawyer continuou pulando e Aiden, à distância, tentava ver algo além de toda aquela escuridão da noite. O trem se aproximava e Sawyer se ajeitou e virou de costas. Aiden arregalou os olhos. Ele queria gritar com Sawyer e avisar que daquele jeito ele não conseguiria ver o trem.

Mas ele sabia que ele não precisava ver para saber a hora de pular para longe. O barulho foi ficando cada vez mais alto até estar em frente aos olhos de Aiden, mas ele não conseguiu ver se Sawyer pulou a tempo, porque Aiden acordou.

Ele escutou o barulho do telefone e se arrastou até a sala, sentindo o chão de madeira gelado sob seus pés. A frase "nenhuma notícia boa chega às duas horas da madrugada" não saía da sua cabeça, mesmo sabendo que poderia ser Sawyer.

— Aiden? — uma voz desconhecida perguntou e de repente Aiden estava nos trilhos de trem novamente e seu coração começou a acelerar. Sua boca estava seca, ele não conseguiu dizer nada — O Sawyer acabou de ser baleado.

O único som além do coração acelerado que Aiden escutava era um assobio distante e contínuo

— Pode repetir? — ele perguntou, sentindo a voz fraca. Aiden só queria ter certeza que havia escutado certo. E torcia para que aquela voz não repetisse aquilo.

— Ele morreu — de repente Aiden escutou uma voz familiar soltar aquelas palavras.

Em um ato impensado ele largou o telefone no gancho e se encostou à parede, escorregando as costas nuas na parede fria e até o chão. Começou a se beliscar e se bater, não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Ele queria acordar daquele pesadelo.

*

Apesar do sono pesado de Keith ele escutou quando o telefone tocou, mas não conseguiu levantar porque Ingrid estava abraçada a ele. Lara ainda dormia tranquila no berço, e depois de algum tempo em que escutou os passos de Aiden até a sala, escutou o choro.

Parecia o choro de uma criança, do tipo que ele chorava enquanto escutava seu pai batendo na sua mãe. Keith desvencilhou-se de Ingrid e foi até a sala, encontrando Aiden no escuro jogado no chão se batendo e chorando. Keith ficou assustado e não conseguiu se aproximar.

— Aiden? — a voz de Keith interrompeu o choro por alguns segundos e Aiden parou de se bater e ergueu os olhos, encarando o amigo no corredor, o encarando com preocupação. Aquilo fez o choro aumentar.

— O que tá acontecendo? — Ingrid apareceu, os olhos inchados e os pés descalços no corredor — A Lara vai acordar com esse barulho — ela caminhou até onde Keith estava, na divisão da sala e do corredor. E ficou encarando a cena.

Aiden não parou de chorar mesmo depois que Ingrid e Keith se agacharam ao seu lado, preocupados. Não disseram nada, apenas encararam Aiden, esperando ele se acalmar.

*

Se Sawyer soubesse de tudo, ele não teria se jogado na frente do Seth naquela noite. Se ele soubesse que todas as atitudes do irmão foram friamente calculadas, ele não estaria ali, estirado no chão enquanto o sangue invadia o asfalto em frente ao beco.

Se ele soubesse que Seth não matou o policial... nada daquilo estaria acontecendo.

Seth ficou encarando o corpo do irmão após o silêncio que invadia todo aquele lugar. Não havia mais ninguém ali além de Seth e um de seus amigos enquanto encaravam o corpo de Sawyer.

— Não podemos deixar assim — o garoto apontou para o corpo e Seth balançou a cabeça, voltando à realidade.

— É — a sua voz saiu fraca, apenas um sussurro rouco. Seth se agachou ao lado do corpo do irmão mais novo e lhe deu um beijo na bochecha, como se fosse um pedido de perdão tardio.

Sawyer foi embora acreditando no irmão, mas Seth era um mentiroso. Enquanto tirava o irmão do beco, o carregando nas costas e ignorando enquanto perguntavam se ele precisava de ajuda, pensava em como sua vida havia sido estragada com suas mentiras, levando seu irmão para o mesmo caminho.

Seth uma vez ensinou a Sawyer que às vezes as mentiras serviam para proteger quem amávamos. Mas Sawyer nunca deu ouvidos ao irmão.

Seth sabia exatamente quando tudo foi por água abaixo. Ele deixou tudo subir à cabeça, gostava de ter controle sobre o irmão e se aproveitava do coração bondoso de Sawyer.

Foi Seth quem pagou pela recuperação de Jonas, que fez o policial apenas ser demitido. Foi Seth o responsável, indiretamente, pela morte de Sawyer.

 


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