Welcome to badlands escrita por patty


Capítulo 47
Capítulo Quarenta e Seis: "eu não preciso de mais amigos".




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/688930/chapter/47

Aiden começou a trabalhar como garçom no restaurante de Carlos e virou seu favorito em dois dias. Aiden era educado, carregava a bandeja sem qualquer esforço e sempre memorizava os pedidos, sem precisar escrever a maioria.

Keith, com o salário completo, trabalhava sozinho na lanchonete, que apesar de permanecer vazia, não fechou e ele não foi demitido. Ingrid quase não ia mais à lanchoente por causa da gravidez, que a deixava desanimada sem roupa boa para usar por causa da barriga, o que a fez aprender a costurar e criar roupas novas para ela, colocando em prática o que ela aprendia na faculdade de moda.

Mas ela continuava indo para o apartamento dos garotos. Era normal encontrá-la tomando café sozinha antes de Keith acordar. Ou demorar quase trinta minutos no banho, mesmo sabendo que Aiden esperava sua vez.

Tristan continuava seu trabalho no clube, ganhando comissão por todas as pessoas que ele mandava direto para a administração com Karen. As pessoas no clube eram simpáticas, sorriam para quem limpava suas sujeiras e eram organizadas, mas Tristan sentia falta da aglomeração das crianças do bairro, que tinham de aproveitar o sol quente em piscinas improvisadas de caixa d'água em suas casas.

Para facilitar o trabalho de Tristan e ele não precisar procurar por nomes, os sócios do clube ganhavam uma carteirinha com foto e nome e Tristan só precisava verificar se a) era verdadeira, b) se era a mesma pessoa na foto e pessoalmente e c) se estava na validade. Era um trabalho chato, para dizer o mínimo, mas era seguro e lhe garantia o dinheiro do mês.

Ele havia passado na prova teórica, acertando vinte e sete questões de trinta. As aulas práticas o deixavam confortável, porque Tristan amava dirigir. Depois que recebeu sua aprovação, foi com Osmar à uma concessionária, mas só aceitou o carro depois que fez Osmar jurar que aceitaria que ele ajudasse a pagar as parcelas. E Osmar não retrucou proque sabia que Tristan ganhava bem trabalhando no clube.

Porque apesar do outono invadir a cidade, o clube permanecia aberto todos os finais de semana.

Tristan estava de férias na faculdade, seu primeiro semestre lhe mostrou que além de ter escolhido certo, ele sabia fazer aquilo. Tirou a nota mais alta em praticamente quase todas as disciplinas, mas agradeceu pelas férias, mesmo curtas.

Os garotos já não se viam com frequência até aquele momento e ele pensava que com as férias aquilo poderia mudar.

Sawyer continuava trabalhando com Seth, e depois de ter conversado com Carlos lhe perguntou se sua dívida poderia ser paga com dinheiro, o deixando livre, mas Seth respondeu, com uma careta debochada:

— E da onde você vai tirar o dinheiro? Sei que juntando todos os seus salários daqui não chega nem perto da metade. Você vai vender o corpo pra tentar pagar? Nem te incomode com isso, maninho, seu único pagamento é trabalhando.

Seth estava irredutível e Sawyer sabia que ele fazia aquilo por vingança.

Do que, exatamente, ele não sabia.

Mas Sawyer se fechou. Dos amigos, de Aiden – que ele ocasionalmente encontrava por causa do seu novo trabalho perto do beco -, mas as coisas estavam diferentes. Sawyer aceitou de uma vez que enquanto seus amigos cresciam e melhoravam de vida, ele permaneceria onde estava.

Porém, sozinho em casa em uma noite de julho, Sawyer recebeu uma mensagem de Aiden:

"você vai no aniversário do Keith, né?"

Sawyer tinha esquecido. E não por ser um péssimo amigo, mas porque já não o via há algum tempo. Mesmo Keith lhe chamando para ir ao apartamento – alegando que Tristan, Zion e Ingrid estavam lá -, ele recusava.

Estava ciente que se distanciou dos amigos, mas sabia que Keith ficaria magoado caso não aparecesse no aniversário.

"onde vai ser?"

"no salão de festas no apartamento da Ingrid. mas ele não sabe. Tristan vai nos levar de carro e quando chegar lá... surpresa"

Sawyer pensou em ligar para Aiden porque odiava mandar mensagem e sentia falta da voz dele, mas sabia que àquela hora o garoto estava no trabalho, e não queria ser o motivo de ele perder o emprego que conseguiu para Aiden.

"ok!"

Sawyer respondeu, mas Aiden só retornou perto das onze da noite, quando Sawyer já estava com Seth, que se inclinou sobre seu ombro para ver do que se tratava a atenção de Sawyer no celular.

Aiden enviou: "é amanhã, às oito da noite".

Seth se afastou e encarou seu irmão.

— Você me pediu permissão? – Seth perguntou, encarando o irmão com queixo erguido, demonstrando superioridade.

— Não preciso te pedir. Se você não me deixar ir, vou escondido – Sawyer deu de ombros.

Sawyer não aprendia. Ele gostava de provocar o irmão, mesmo sabendo do temperamento de Seth, mesmo sabendo que ele já estava 100% bem e podia lhe socar. Sawyer não se importava com nenhum soco que recebesse.

*

Sawyer escutou uma buzina em frente à sua casa e desceu as escadas. Quando abriu a porta, percebeu Tristan atrás do volante do seu carro novo – um ka vermelho – e buzinou novamente, mesmo vendo Sawyer parado em frente à casa.

Era a primeira vez dos quatro garotos juntos dentro do carro novo de Tristan e quando Sawyer abriu a porta de trás, o olhar de Aiden se encontrou com o dele por alguns segundos. Fazia algum tempo que não se viam tão de perto e Sawyer segurou a vontade que sentiu em se jogar em cima dele.

Keith e Tristan haviam combinado de não se meter na relação dos dois quando percberam que eles não falariam, mas não era coincidencia terem deixado Aiden e Sawyer sentarem-se juntos.

O carro era pequeno, e aquilo não passou despercebido por nenhum. Aiden e Sawyer estavam tão perto no banco traseiro que suas coxas roçavam uma na outra. Tristan deu partida no carro quando percebeu que estavam sentados e com cinto e pegou o caminho para sair do bairro.

— Então, onde vocês compraram o carro não tinha um maior, não? – Keith perguntou, fingindo sentir-se claustrofóbico.

— Você tá parecendo o Osmar falando isso – Tristan soltou uma risada fraca e não respondeu o que Keith perguntou porque sabia que ele só estava sendo Keith. Osmar o julgou quando escolheu aquele carro, disse que não era carro que um homem andava, mas era o único que cabia no orçamento de Tristan.

Aiden, aproveitando a distração dos garotos na frente falando sobre carros, passou a mão levemente sobre a perna de Sawyer, mas quando sentiu um objeto comprido, franziu o cenho. Sawyer seguiu o olhar até sua coxa, com a mão de Aiden se afastando lentamente e lembrou-se do que havia em seu bolso.

Seu canivete.

Sawyer gostava de andar prevenido, mas apenas quando sentia-se ameaçado ou iria a algum lugar. Naquela noite, na pressa em sair de casa, esqueceu-se de deixar em casa. Seu canivete foi uma cortesia de Seth de anos atrás, a arma usada para cortar o garoto que interrompeu seu momento com Aiden há anos.

Às vezes ele a carregava como se fosse um troféu.

Porém, odiou o vislumbre de decepção no rosto de Aiden e como se afastou o tanto que podia naquele carro pequeno. Pensou por alguns segundos se Aiden o olhava e o comparava ao Seth.

— E então, Keith, como está sendo ser o único trabalhando na lanchonete agora? – Aiden perguntou, mais para preencher o silêncio e ignorar o que havia acabado de acontecer com Sawyer do que por curiosidade, já que ele sabia bem como andava tudo, já que Keith sempre o esperava chegar para compartilharem histórias do seu dia.

— É solitário. Só o Carl ainda sente saudade...

— Aquele velho ainda tá vivo? – Sawyer perguntou, querendo fazer parte do assunto. – E provavelmente ele ainda vai porque esqueceu que o café lá é horrível.

— Ei – Keith o repreendeu, mas não prosseguiu, como se concordasse com quase tudo.

— Você adorava ir lá – Aiden encarou Sawyer.

Sawyer não disse nada enquanto observava o olhar de Aiden. Ele não entendia que Sawyer só ia à lanchonete quando Aiden ainda estava lá.

Eles não perceberam, mas Keith os encarava pelo retrovisor porque ele sabia bem que Sawyer nunca mais foi à lanchonete depois que Aiden trocou de emprego.

Porque Sawyer passava na frente do Darlia's só para ver Aiden através das janelas envidraçadas. Aiden usava a camiseta social branca e a calça preta e carregava a bandeja com um sorriso contagiante no rosto. Aiden nunca viu Sawyer o observar, mas ele fazia aquilo todos os dias.

— A comida lá é realmente ruim – Tristan teve de concordar – mas é o único lugar que serve hamburguer aqui.

— E parece que o Andy quer trocar de cozinheiros porque ele disse que "os sabores são um insulto aos seu paladar". – Keith fez aspas no ar - Aquele cara come de tudo, então você sabe que a comida é mesmo uma bosta.

— Já no restaurante só tem comida boa – Aiden se gabou, como se ele fosse o responsável na preparação dos pratos. Não que ele não tentasse aprender mais enquanto estava lá, mas os cozinheiros do restaurante não eram tão amigáveis quanto os da lanchonete.

Eles continuaram conversando, Sawyer apenas encarando a janela e respondendo quando lhe era interessante responder, quando Keith percebeu para onde estavam indo.

Keith já estava acostumado com a estrutura alta dos prédios no condomínio da Ingrid, mas à noite, o local ganhava um aspecto bonito e brilhante. Keith considerava todas aquelas luzes um desperdício, coisa que só burguês fazia, mas ele saiu do carro após Tristan estacionar e encarou os prédios, confuso.

— Vai ser na casa dela? – ele perguntou, apontando para o prédio da Ingrid,

— Vamos – Tristan saiu do carro e os garotos seguiram seus passos, mas antes que Sawyer e Aiden se aproximassem do portão, Tristan entregou a chave do carro para Sawyer e disse – peguem as bebidas, nos encontramos lá dentro.

Tristan e Keith foram até o portão automático e esperaram o porteiro abrir enquanto Sawyer e Aiden pegavam as sacolas de bebida.

Keith estava direcionando-se para a porta do bloco de Ingrid quando Tristan lhe pegou pelo braço e seguiram até o salão de festas, ao fundo do condomínio. O salão de festas era grande e envidraçado, mas sem cortinas. Tristan se perguntou porque as pessoas que tinham dinheiro gostavam tanto de se mostrar, cercando-se de paredes de vidro. Quando eles entraram, Tristan esperou por um animado "surpresa" ao verem Keith, mas eles foram recebidos com silêncio.

Keith nunca viu aquelas pessoas na vida. Homens e mulheres que pareciam mais velhos e conversando em pequenos círculos no centro do salão. Demorou um tempo até Ingrid percebê-los e se aproximar.

— Keith, feliz aniversário! – ela se aproximou, lhe abraçando. Keith sentiu sua barriga se encontrando com a dele e sorriu, passando a mão pela barriga dela depois que se afastou.

— Você está bem pra lidar com isso? – Keith perguntou, de repente preocupado em terem deixado todo o trabalho nas mãos de Ingrid, mas ela estava sorrindo e parecia despreocupada.

Uma DJ tocava músicas retrô, o que fez Keith se encolher, querendo trocar de música, mas tentou fingir um sorriso enquanto encarava as pessoas.

Keith precisou admitir para si mesmo que aquela festa nem tinha começado direito e já estava uma merda, mas não precisou dizer nada porque Ingrid percebeu seu olhar e expressão descontente no rosto.

— Eu perguntei aos seus amigos quem eu deveria convidar – ela fez uma careta e suspirou, encarando Tristan de soslaio. Ainda estavam parados na porta de vidro do salão, mas ninguém se moveu. – Mas Tristan disse que você não tem muitos amigos. Só mulheres, que provavelmente não seriam convidadas para a festa.

Keith agradeceu Tristan mentalmente por aquilo.

— Bom, meus amigos são os únicos mesmo – Keith admitiu, mas aquilo não o deixou melhor. – E estou começando a me arrepender...

— Ah, mas não seja por isso! – Ingrid pegou seu braço e começou a afastá-lo da porta e apontou para as pessoas ao redor – Alguns são meus colegas, outros são amigos de amigos. – Keith notou que ela não citou nenhuma amiga, porque sabia que suas amigas se afastaram depois que ela engravidou. E apesar da festa caída, Keith estava agradecido.

Tristan ainda estava na porta quando Sawyer e Aiden entraram, passando por ele.

— Vamos começar essa festa – Sawyer disse, erguendo o engradado de cerveja que carregava e mostrando para os convidados, que se empolgaram com aquela novidade.

Ingrid encarou Keith, parado ao seu lado no salão, e puxou seu rosto com a mão em sua nuca.

— Aproveite sua festa – ela deu um beijo em sua bochecha e ele sorriu, agradecido – Ia falar pra você beber por mim, mas acho que não precisa, porque você já faz isso – ela deu uma risada e ele assentiu, envergonhado, mas não se afastou dela de imediato.

Tristan, Sawyer e Aiden foram até a cozinha no salão, que ficava ao lado do banheiro, e colocaram as bebidas no congelador e geladeira. Algumas pessoas entraram atrás, querendo alguma bebida e os garotos distribuíram as que estavam mais geladas.

Tristan e Keith haviam combinado diversas coisas em suas conversas particulares na lanchonete – longe dos ouvidos de Aiden – a respeito do relacionamento dos amigos. Eles não iam se meter, mas os ajudariam.

Eles sabiam como devia ser difícil lidar com uma relação em segredo então os deixavam em paz quando percebiam que os dois queriam ficar juntos. Foi o olhar de Sawyer, encarando Aiden à distância que fez Tristan pegar uma cerveja para levar para Keith e sair da cozinha, os deixando em paz.

Na cozinha o som era abafado, mas ainda era possível escutar a batida da música, mudando para uma eletrônica. Podiam escutar também as vozes e risadas do outro lado, mas se ocuparam servindo-se de bebidas. Sawyer pegou um copo de vidro que tinha nas prateleiras e encheu com gelo e whisky. Aiden optou por uma latinha de cerveja e os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, como se estivessem com medo de dizer algo e estragar tudo, então ele se inclinou sobre a bancada de mármore que estava cheia de sacolas vazias e encarou Aiden, procurando por algo para dizer.

— Era só dar bebida pra essa festa ficar boa – Aiden começou, bem na hora que Sawyer perguntava:

— Como anda seu trabalho? – Sawyer bebeu um gole da sua bebida quando percebeu o constrangimento no ar. Se tratavam de forma estranha, mas Aiden ignorou esse fato enquanto respondia.

— É bom. Carlos é muito gente boa. – Aiden bebeu um gole da cerveja e ficou em silêncio e Sawyer respeitou a quietude, embora quisesse falar diversas coisas para ele. – Ele disse que tentou comprar sua liberdade – Aiden estava ao lado de Sawyer, mas sua voz era baixa e soava distante. Ele nem conseguia olhar para Sawyer ao dizer aquilo. – Mas você não quis – seu suspiro audível fez Sawyer entender tudo.

Sawyer continuava sendo uma decepção para Aiden.

— Seth não quer dinheiro – Sawyer bebeu mais um gole, calmamente, e sacudiu o gelo no copo, vendo os respingos caírem no mármore. Aiden esperou, mesmo já sabendo o restante da afirmação. – Ele me quer.

— Porque? O que você fez? – a pergunta de Aiden era quase suplicante.

Sawyer estava cansado. Das mentiras. De viver para Seth. De viver.

E então ele confessou.

— Porque ele matou uma pessoa pra mim.

Aiden não perguntou quem ou porquê. Não disse nada. Seu rosto transbordava a decepção que sentia e Sawyer queria que aquele olhar não significasse tanto para ele quanto significou. A verdade era que Aiden não queria saber o que levou Sawyer a fazer aquilo, o que importava era que ele havia feito.

Aiden se afastou de costas, ainda olhando para Sawyer, mas ele não queria aquele olhar. Um olhar carregado de frustração, decepção e raiva. Sawyer fechou os olhos com força e quando os abriu, Aiden não estava mais lá.

Ele ficou sozinho naquela cozinha com luz clara e ridiculamente pequena. Observando a parede à sua frente enquanto sentia raiva de si. Se ele nunca tivesse pedido aquilo a Seth, ele estaria livre, porque Jonas estava vivo.

Mas não tinha como voltar atrás.

Ele já havia feito a besteira de confiar no irmão e se cegar com a vingaça.

Ele nem sentiu quando o copo quebrou na sua mão, apenas escutou o barulho do vidro sendo estilhaçado com a força que ele nem sabia que estava usando enquanto segurava o copo.

Sawyer observou o vidro e a mão. Não havia lesão alguma. Mas ele sentiu vontade de pegar um caco e se machucar. Sentir aquela dor e enxergar o sangue escarlate lhe mostrando que ele estava vivo, afinal de contas.

Mas ele não fez nada daquilo. Sawyer apenas catou os cacos e estava pronto para jogá-los no lixo quando escutou a porta da cozinha abrir e Keith, sorridente e de cabelos bagunçados, entrar.

— O que você tá aprontando? – Keith perguntou, se aproximando de Sawyer.

— Quebrei um copo sem querer – Sawyer respondeu, sem vontade alguma de mentir. Keith desfez o sorriso tão rápido e o encarou.

— Você não pode sair destruindo as coisas dos outros.

Sawyer bufou e apontou para o armário na cozinha, onde havia uma prateleira cheia daqueles mesmos copos que ele usou. Keih olhou para onde seu dedo apontava e assentiu, calado.

— Tá curtindo a festa? – Sawyer perguntou, abrindo a geladeira para escolher a próxima bebida.

— Pra ser sincero... Não sei. Quer dizer, agora que estão todos conversando com todo mundo, tá legal. Mas você não acha que deveríamos ter feito mais amigos?

— Eu não preciso de mais amigos – Sawyer deu de ombros em resposta.

Keith não lhe respondeu e pegou mais uma latinha de cerveja enquanto Sawyer servia-se de whisky com gelo em um copo novo. Os dois saíram da cozinha a tempo de ver a mudança no salão. Havia mais gente, os corpos estavam colados enquanto dançavam ao som de uma música pop, mas a DJ não parecia satisfeita com aquela escolha de gênero.

Sawyer apontou para uns garotos bebendo e uma multidão ao redor e perceberam que era um jogo para ver quem bebia mais, Keith deixou Sawyer sozinho enquanto ria dos garotos para se juntar a eles porque se tinha uma coisa que Keith sabia fazer, era beber rápido.

As notas de dinheiro estavam dentro de um copo de vidro no meio dos garotos competindo. O de cachos dourados acabou e bateu a garrafa de cerveja na mesa de madeira, comemorando.

— Agora é minha vez. Deem espaço para o aniversariante e profissional em bebidas.

Algumas pessoas pararam de dançar para observar enquanto Keith e o cachinhos esperavam até o "juiz" dar início.

Sawyer, Aiden e Tristan observavam o amigo à distância e gritavam, lhe dando incentivo. Eles precisavam terminar cinco garrafas de 600ml e Keith já posicionava sua boca no gargalo da segunda, sem parecer exausto. Mas ele tinha uma vantagem sobre seu adversário, que estava claramente bêbado.

Quando o garoto despencou sobre a mesa, e Keith terminou sua quinta garrafa, ele encarou a multidão à sua frente.

— Quem vai me enfrentar agora?

Ingrid surgiu ao lado de Tristan e observou Keith, balançando a cabeça enquanto ele cumprimentava seu novo rival.

— Ainda bem que não sou que vou cuidar dele – Ingrid tocou no ombro de Aiden e deu um sorriso, o que o fez sorrir também. Keith realmente não sabia quando parar de beber.

Enquanto Keith ganhava dinheiro e se embebedava, Tristan e Ingrid conversavam e a multidão aproveitava a festa dançando e bebendo, Sawyer estava escorado em um pilar ao lado da cozinha quando percebeu que Aiden se dirigia para o banheiro.

Ele sabia que poderiam conversar depois, quando nenhum dos dois estivesse bêbado ou bravo, mas seguiu Aiden, olhando para trás para não ser visto e entrou antes que ele conseguisse fechar a porta.

Aiden se assustou a princípio, mas seu rosto suavizou quando viu de quem se tratava.

— Eu preciso usar, pode usar depois – Aiden já estava com a mão a caminho da abertura do jeans quando disse, mas Sawyer fingiu não ouvir enquanto trancava o banheiro.

— Precisamos conversar.

— Aqui? – Aiden perguntou, indicando o pequeno espaço que estavam.

Era um cubículo, havia sido construído apenas para abrigar um vaso sanitário com um pequeno lixo prata ao lado e uma pia com pequeno espelho em cima. Sawyer e Aiden estavam a centímetros, mesmo que não quisessem.

Sawyer sabia que só ali teriam privacidade naquela noite e ele definitivamente não queria prolongar mais aquela conversa.

— Eu não queria que soubesse daquilo dessa forma – Sawyer admitiu – eu não aguento mais mentir.

— O problema não foi você mentir para mim. Foi o fato de você ter feito isso, mesmo conhecendo seu irmão. O que me deixa com raiva é você achar que tem o direito de decidir se alguém vai morrer.

— Adiantaria se eu falasse que achava que a pessoa merecia?

— Achava? – Aiden soltou um barulho pelo nariz. – Você acha que seu irmão merece viver? – o olhar de Aiden era intenso em expectativa, mesmo sabendo que Sawyer não responderia.

Mas ele entendeu o que Aiden quis dizer, porém aquilo não deixou as coisas melhores.

Ele sentia-se ainda pior.

Porque, vendo em retrospecto, Sawyer também não merecia viver.

— Olha, Sawyer – Aiden o tirou de seus pensamentos e o fez o olhar em seus olhos. – Eu até esperava que isso fosse acontecer. É porque você passa muito tempo com Seth, que se considera um Deus. Sei que deve ter subido a cabeça e você acha que pode ser como ele. Mas você não é, Sawyer. Você é bom. Eu conheço teu coração. Você não é seu irmão, você não pode ser – sua afirmação soava como uma súplica.

Aiden desmanchou a distância e se aproximou de Sawyer, tocando a mão em seu rosto molhado. Sawyer nem havia reparado que estava chorando.

— Você está decepcionado comigo? – a voz de Sawyer era fraca e ele segurou as mãos geladas de Aiden.

— Um pouco, Sawyer – ele sentiu a mentira em sua voz e nos olhos, que desviaram dos seus, mas se contentou com aquela mentira. – Mas isso não muda o que eu sinto por você.

Foi o suficiente para Sawyer encerrar qualquer distância entre eles. O beijo foi desesperado e cheio de angústia nas mãos apressadas. Aiden beijava Sawyer com urgência e ele sabia que era por causa da raiva, mas Sawyer não se importou com as mordidas bruscas.

Ingrid estava sentada em uma cadeira à distância da mesa onde Keith dava seu show. Já havia vencido três pessoas e estava começando a dar sinais de desistência. Ela e Tristan conversavam quando percebeu a movimentação próxima ao banheiro.

— Olha, os namorados secretos – ela disse e riu, o que fez Tristan desviar a atenção de Keith e olhar para onde ela estava apontando, discretamente.

Mesmo com a baixa claridade do salão e os corpos dos convidados grudados dançando, Tristan percebeu de quem ela falava. Aiden e Sawyer saíram juntos do banheiro, olhando em volta para saber se alguém os via.

Tristan virou o rosto para Ingrid depois que os garotos se perderam pelos corpos ao redor.

— Keith te falou? – ele perguntou, encarando Ingrid, que parou de sorrir e arregalou os olhos.

— Ele me disse, mas porque queria saber se era coisa da cabeça de vocês – ela tentou se desculpar por saber demais, mas não havia nada que pudesse fazer. – Eu juro que não contei pra ninguém.

— Relaxa – Tristan disse, porque confiava em Ingrid.

De repente temeu que Keith tenha contado a ela sobre Tobias também, mas ela não disse nada e se sabia de algo, não demonstrou.

Aiden apareceu ao lado de Tristan algum tempo depois e sentou ao seu lado.

Sawyer estava bebendo, pulando e gritando para o Keith.

— O que você acha de você e Sawyer dormirem lá em casa hoje?

Tristan considerou. Fazia muito tempo que os quatro não ficavam juntos e pareceu uma ideia boa já que no dia seguinte não teria aula e não precisaria trabalhar por ser dia de semana.

— Já falou com o Keith?

— Não precisa – Aiden riu, apontando para Keith, seus cabelos estavam bagunçados e o colarinho da camiseta molhado. Não sabiam se era cerveja ou suor. – Ele nem vai lembrar de nada.

— E a gente que vai ter que cuidar dele – Tristan fez uma careta e Aiden assentiu, embora estivesse bêbado também.

A festa prosseguiu madrugada adentro, até um dos moradores reclamarem do barulho com o porteiro. Aquela foi a deixa para as pessoas irem embora.

Tristan e Ingrid ajudaram Keith a entrar no carro e Sawyer e Aiden se jogaram no banco de trás, prontos para dormirem o caminho todo.

— Obrigado por ter feito isso por ele – Tristan agradeceu Ingrid, porque sabia que Keith não teria condições. Ele estava em frente ao carro, do lado de fora do condomínio. Foram os últimos a irem embora. – Você quer ajuda pra limpar a bagunça?

— Nem esquenta, Tris – Ingrid tocou em seu ombro – os faxineiros que vão limpar – ela sorriu, o tranquilizando.

Tristan se surpreendia cada vez mais com as pessoas com dinheiro. Nunca pareciam dispostas a limpar a própria bagunça.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Welcome to badlands" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.