Parte do seu Acampamento escrita por Chapeleiro


Capítulo 4
Capítulo 3 - A Caverna




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POV Narrador

Narrador: Bem-vindos, leitores. Finalmente, vocês chegaram, depois de tanto tempo.

Fada Janaína: Na verdade, senhor, nós é que demoramos.

Narrador: É o que? Ah, sim, verdade, tivemos… hmm… problemas técnicos.

Janaína: Isso. *Sussurrando* Aliás, o que devo fazer com o lobisomem descontrolado na jaula?

Narrador: Qual, o último que capturamos? Bom, espere até a lua cheia passar e solte ele de novo, tadinho, não merece ficar preso pra sempre só por que nas luas cheias… Bom, não importa. Sem mais delongas, o capítulo 3.

Janaína: Ai, chefe, você é um verdadeiro defensor dos direitos dos animais mágicos...

POV Percy

Duas semanas se passaram desde que perdi a apresentação. Para compensar o povo, cantei na praça da cidade no primeiro dia depois do meu castigo de uma semana, depois de pedir desculpas oficialmente. Fui muito aplaudido, o que me fez corar um pouco, e depois fiquei conversando com meu público, respondendo algumas questões, inclusive sobre meu atraso na apresentação. Eles pareceram se divertir com a idéia de alguém perder uma apresentação importante para vasculhar objetos vazios em navios naufragados.

Sendo assim, alguns dias depois, eu me encontrava novamente caçando tesouros na companhia de Grover, esperando encontrar alguma coisa nova e emocionante. Mas essa missão era arriscada. O navio estava equilibrado na borda de um penhasco no fundo do mar, e qualquer mudança de peso poderia fazê-lo cair.

Não que isso me incomodasse; na verdade, o fato de estar em uma situação perigosa me deixava estranhamente animado e o sorriso em meu rosto poderia ser visto de longe. Não dava pra dizer o mesmo de Grover, que tremia ao meu lado.

—Glub*… Percy, eu não gosto nada disso. Esse navio parece que vai desabar a qualquer minuto.

—Você disse isso nas últimas quinhentas missões – eu disse, exagerando, o que o fez revirar os olhos para mim. – Vamos, vai ser divertido.

Ele apenas balançou a cabeça e me seguiu navio adentro.

Dessa vez, não achei nada muito diferente. Vi outras brumbumzumbas, mas eu já tinha em minha coleção aquela que tinha visto duas semanas atrás. Me chamou a atenção um espelho redondo lindo, de vidro muito limpo e moldura dourada, então o peguei com cuidado.

Eu estava quase saindo quando avistei um esqueleto sentado em uma cadeira diante de uma mesa, provavelmente esperando um jantar há muito esquecido. Ele usava uma coroa dourada com safiras incrustadas e o que deduzi serem roupas de um príncipe humano: calças azuis e um blazer branco com ombreiras douradas.

Rindo comigo mesmo, peguei as roupas do esqueleto para mim, já que até então eu não tinha nenhuma roupa de humano. Vi de relance Grover arregalando os olhos para mim, mas o ignorei. Agora, com roupas de humano, uma coroa e um espelho, eu podia dar a missão por encerrada.

Estava quase saindo quando ouvi Grover me chamar. Ele estava diante de um baú aberto cheio de jóias brilhantes, rubis, safiras e moedas de ouro, olhando o brilho com uma expressão maravilhada.

—Ei, Percy, isso aqui é bem interessante, não? – ele me perguntou, mexendo no baú com suas nadadeiras.

—Ah, um pouco sim, mas já tenho coisas assim na minha coleção. – eu disse, me sentindo um pouco chateado por já ter a única coisa que ele achara legal.

—Tá bem –Ele disse, parecendo não ligar muito, e fechou a arca com força.

Tanto para a minha surpresa quando para a dele, o baú escorregou pelo navio e foi parar do outro lado do salão. Foi uma mudança simples, quase insignificante, mas desequilibrou o navio inteiro, que começou a balançar a pender para o lado do penhasco.

Eu sabia que agora era só uma questão de tempo até que ele caísse de vez, então peguei Grover pela nadadeira e nadei velozmente para o lado de fora, ainda segurando os objetos perdidos dessa vez.

Segundos depois de sairmos, o navio naufragado caiu pelo penhasco, e a força de seu deslocamento teria me puxado junto, se eu não fosse filho de Poseidon. Fiquei feliz por ainda estar segurando Grover e os objetos humanos, ou eles teriam se perdido para sempre.

—Eu não gosto desse penhasco – Eu podia sentir Grover tremendo enquanto sussurrava essas palavras e olhava para as profundezas escuras abaixo de nós. E, olhando aquela escuridão total, eu não podia dizer que ir para lá parecia uma boa ideia.

—De qualquer modo, já terminamos aqui – eu disse a ele e comecei a nadar para meu esconderijo secreto, onde eu costumava guardar meus tesouros – Vamos lá, aposto que chego na caverna antes de você.

Ele riu e nadou rapidamente atrás de mim, parecendo feliz por deixar o perigo para trás. A caverna era um lugar bem iluminado e aconchegante, portanto não me surpreendia que Grover gostasse de ficar lá.

Não demorou muito para chegarmos na caverna, cuja entrada ficava escondida entre uma moita de algas marinhas e uma parede de cracas. Para abrir a porta, bastava produzir o ritmo certo (que eu já decorara há muito tempo), fosse cantando, batendo na porta, ou usando algum instrumento.

Enquanto batucava, me lembrei da primeira vez que eu encontrara esse lugar. Eu estava nadando, voltando para casa depois de pegar objetos humanos pela primeira vez, quando esbarrei por acidente na parede da caverna, fazendo um barulho de eco. E aí ouvi, bem baixinho, dois toques que pareciam vir lá de dentro, como se alguém batesse na parede pelo interior.

Bati duas vezes em resposta e logo eu e a caverna começamos um estranho e engraçado jogo onde ela criava melodias e eu as repetia. Se eu errasse, ela parava e repetia a melodia anterior. Se eu acertasse, fosse batucando com minhas mãos, com minha cauda, ou mesmo cantando a melodia, ela seguia para uma próxima.

Depois de alguns minutos nessa brincadeira, a caverna emitiu uma sequência de várias notas musicais em um ritmo alegre e animado. Eu repeti a canção e, para minha surpresa, um pedaço da parede, que parecia sólida até então, rolou para o lado, revelando uma passagem.

Quando entrei, encontrei uma coleção de objetos humanos, com mais tesouros do que eu jamais ouvira falar, apesar de apenas metade da caverna estar ocupada. Fiquei encantado e confuso ao mesmo tempo. De quem era aquela coleção? Quem a fizera? E por que aquela maravilhosa coleção jazia empoeirada e abandonada, como se ninguém viesse na caverna há anos?

Eu estava curioso. Durante muitas semanas, esperei, em vários horários diferentes, em frente a caverna, escondido, esperando para ver se o dono apareceria. Passei noites em claro, ao lado de Grover, espiando a entrada, tentando descobrir quem a pertencia. E, depois de quase um ano de investigações, acabei desistindo e mudei minha coleção para lá, prometendo a mim mesmo que, se um dia alguém aparecesse clamando ser o dono, eu deixaria o lugar.

Até o momento, porém, ninguém nunca viera, o que me deixava extremamente feliz. Ao atravessar o buraco na parede, sorri e murmurei para minha caverna:

—Bom dia, Caverna.

Coloquei os objetos no chão da caverna ao admirar mais uma vez as lindas paredes repletas de prateleiras naturais que estavam cheias de objetos humanos. Peguei minhas novas aquisições e fui colocando-os, um por um, nos espaços vazios da caverna.

—Percy, você não acha que é um pouco acumulador da sua parte encher esse lugar com coisas humanas? – Grover perguntou com um suspiro.

— Lógico que não, peixinho. – Respondi de pronto – Bom… talvez, mas quem liga? Quero dizer, todo mundo tem hobbies, não é como se eu fosse o único tritão dos sete mares a colecionar alguma coisa.

Grover me olhava com preocupação.

— Eu sei, mas isso aqui é uma caverna inteira. Não acha que é o suficiente? Eu já estou ficando cansado de invadir barco após barco, procurando por objetos que nem me interessam tanto assim.

— Eu nunca te pedi para vir comigo, pedi? – Respondi, calando-o por um momento, mas percebendo que ele havia ficado chateado.

— Ei, me desculpa, isso foi rude – falei, olhando para ele com sinceridade – Eu admiro muito o fato de você vir comigo em todas as expedições. De verdade. É só que… Eu não sei, sabe? Essas… Essas coisas humanas, me fascinam de uma maneira que nada mais faz. Às vezes eu sinto como se isso não fosse suficiente, como se eu não pertencesse à esse mundo. Eu lembro que, desde pequeno, a coisa que eu mais queria era ser… parte desse mundo.

— O mundo dos humanos? – Grover me pergunta, com uma expressão de nojo no rosto.

Balanço a cabeça em afirmação, um pouco chateado pela forma como ele me olhava agora.

— E, bom, meu pai sempre fala que minha mãe também tinha essa mesma fixação que eu tenho, então acho que me sinto mais próximo dela quando encontro mais dessas… coisas. É como se ela estivesse aqui comigo, como se ela vivesse através desses objetos, como se ela nunca tivesse...

Meus olhos começaram a arder enquanto eu falava** e minha voz ficou embargada. Pisquei para me livrar da sensação, tentando completar a fala, mas Grover fez isso por mim.

— Como se ela nunca tivesse morrido – Ele disse com um ar pensativo e arrependido – Percy, desculpa, eu não sabia que isso era tão importante pra você. Eu juro, se eu soubesse o que isso significava pra você, nunca teria…

— Não, está tudo bem – Eu disse, esfregando os olhos e sorrindo para ele saber que estava tudo bem –Eu não precisava te arrastar comigo nas minhas explorações. Não é culpa sua que seu melhor amigo seja…

Eu estava prestes a completar a frase quando percebi que uma sombra enorme cobria a caverna, deixando-a mais escura. Olhei para cima e a fonte da sombra era algo que eu já havia visto antes, mas nunca acima das águas.

Era um enorme e majestoso… Navio.


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Notas finais do capítulo

*Glub = Béééé do Grover

** É assim que o povo do mar chora, minha gente, e eles percebem que outros estão chorando pela dilatação das pupilas e os olhos que piscam mais frequentemente por causa do ardor (eles na verdade soltam lágrimas também, só que ninguém percebe embaixo d’agua)

Eu queria pedir minhas sinceras desculpas por demorar pra postar esse capítulo, tive um bloqueio. Mas queria agradecer a todos que leram, comentaram e não desistiram de mim até agora, por que os comentários de vocês é que me deram o pontapé inicial



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