Think Of You escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
Think Of You (Único)


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!
Como está o feriado de vocês?

O meu foi fantástico, tanto é que fiquei a tarde toda trabalhando nessa oneshot e eu espero que vocês realmente gostem. Ela não tem relação alguma com o Projeto 25 que eu prometo logo atualizar, isso vale para meus outros trabalhos em aberto.

Eu ando com alguns problemas com a minha inspiração, mas espero que depois dessa oneshot surgida a partir de uma crise, isso não mais ocorra Hahahaha

Indico a própria música da one, "Think Of You" do Chris Young em dueto com a Cassadee Pope, para ser escutada.

Espero que gostem!



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“I walk in on Friday nights. Same old bar, same burned out lights. Same people and all the same faces... So, why the hell does it feel like a different place?”

Quinn conhecia todos os caminhos para aquele endereço assim como conhecia o tracejado das linhas das palmas de suas mãos. Acostumara-se a caminhar, a dirigir e, até mesmo, pegar o ônibus ou o metrô para chegar àquele local. Afinal, qualquer um decoraria o caminho para o seu escape e aquele local era exatamente isso para Quinn.

A escapatória para toda a bagunça emocional e física da sua vida da garota de cidade pequena que se sentia perdida na cidade grande.

Por muito tempo, ela só se encontrava quando saía para conhecer pessoas novas e para esquecer os problemas que, mesmo deixando Lima, não saíam dela. Os problemas de Quinn Fabray fizeram morada em seu passado e, portanto, a mágoa que vinha deles a acompanhava para onde quer que ela fosse.

Menos naquele local, menos com aqueles rostos desconhecidos.

Mas, nessa noite, em especial, não havia qualquer sensação de libertação ou de encontro a abraçando.

Quinn olhava para o letreiro em néon que piscava e para as lâmpadas fluorescentes que, sofregamente, procuravam manterem-se acesas. Através da janela de vidro do bar, ela enxergou o amontoado de pessoas e sentiu a palpitante energia que vinha daqueles que se divertiam. Jovens o bastante, como ela, para sentir, sonhar, viver e amar.

Porém, naquela noite, Quinn não se viu e, muito menos, se identificou com eles. Nem enxergou o bar como um refúgio. Nessa noite, o bar parecia ser um local completamente diferente do que ela conhecia.

E por que raios aquela percepção mudara?

As luzes sôfregas eram mesmas, as pessoas bêbadas e de riso frouxo através do vidro também... A mudança, estritamente, estava dentro de Quinn, mas ela preferia culpar algo a assumir que o problema estava na sua postura cabisbaixa, nos seus ombros caídos e em suas mãos trêmulas que se escondiam dentro de seus bolsos da jaqueta de couro.

A mudança, ou melhor, o problema era com ela.

Foi ela quem se assustou, foi ela quem fugiu... Foi ela quem deixou o seu verdadeiro refúgio para trás quando ele, de fato, tornou-se assustador por transformar-se no que ela precisava para se manter em pé.

Quinn sabia que havia perdido algo. A razão de estar na frente daquele bar e, olhando para as portas duplas de madeira surradas, era a esperança de que encontrasse o que havia perdido de si.

Ela queria de volta o que uma pessoa levara. Quinn queria voltar a ser a mesma, queria a despreocupação e o sorriso leve de volta, assim como queria que aquele aperto em seu peito diminuísse porque, honestamente, ele estava começando a irritá-la. Quinn queria voltar a ser a mesma. Mas, de pé na frente do bar enquanto grupos de pessoas ébrios esbarravam e riam ao passar por ela, Quinn só conseguia se perguntar o verdadeiro motivo de estar ali.

Claro que queria, novamente, se encontrar. Afinal, ela estava com alguém que levara muito dela e não devolvera... Mas, honestamente?

Quinn sabia que estava ali porque, de fato, existia esperança.

Talvez, ela não fosse a única que estava se sentindo daquela forma.

Se, eram, assim, tão próximas e dependentes, talvez... Talvez, houvesse uma chance das lembranças ainda não terem se apagado e de que tudo o que tivera voltasse a brilhar a ponto de queimar.

Talvez, ela sentisse falta como Quinn sentia e, talvez, ela viesse ao mesmo bar naquele mesmo horário.

 

“Meet my girls for a girl’s night out, seems there ain’t much to talk about. Same drinks that we’re all raising, but all the toasts just don’t feel the same...”

Rachel tentava manter seu melhor sorriso de 1000 watts nos lábios, mas, naquela noite, ele parecia ter a potência próxima ao zero. O sorriso estava em sua boca, porém, ele não chegava aos seus olhos. Na realidade, ele deixara de chegar aos seus olhos há algumas semanas.

Quanto tempo fazia? Já completara um mês?

Rachel perdera as contas há alguns dias quando, enfim, decidiria que se esforçaria para que tudo voltasse ao normal... Ela também não precisou de muitos dias para ver que, por mais que ela tentasse, tudo não voltaria à normalidade tão facilmente. Aquela era o tipo de situação que somente o tempo poderia melhorar.

Mas, Rachel também percebeu que o tempo não estava trabalhando ao seu favor.

Os dias se passavam, ela perdia a conta e nada voltasse a ser o que era antes de ela chegar a sua vida. A prova disso estava a sua frente, suas mãos envolviam uma taça com um Cosmopolitan que ela mal tinha tocado.

Seu paladar não degustara da vodka, nem do licor de laranja e, muito menos, da doçura característica do drink. Ela, na verdade, queria que outro sabor chegasse em seus lábios assim como tinha saudade de outro gosto envolvendo sua língua.

Seus ouvidos também não se deixavam envolver pela batida da música que ressonava ao seu redor, muito menos, deixavam-se envolver pela conversa de Santana, Kurt e outros amigos dos dois. Aquela casa noturna era conhecida de Rachel, mas ela parecia desconhecida diante de toda a anormalidade que chegara a sua rotina quando ela desapareceu.

Rachel só conseguia pensar em certas conversas, palavras e toques que somente dividira. Ela estava de corpo presente naquela noite regada à bebida e à música quando, sua mente e, mais especificamente, seu coração divagavam para lembranças que deixaram, dolorosamente, de ser a sua realidade.

Ela não sabia o que acontecia, nem quando foi que o fim terminara. Mas, tinha certeza absoluta da sua saudade e da sua ânsia de ter tudo de volta. Rachel foi amada e sentida de uma forma que jamais fora, nem por Finn e, muito menos, por Jesse. E esse tipo de intensidade mudava uma pessoa.

E, essencialmente, mudava como ela se sentia a tudo que a circundava.

As bebidas eram as mesmas, as companhias eram as melhores e as músicas até mesmo se repetiam... Mas, os drinks não possuíam o gosto da ansiedade e da liberdade e os brindes pareciam vazios.

Não era o mesmo, não depois de tanto tempo e, aparentemente, não ia voltar a ser o mesmo no futuro.

Rachel divagou para longe, para o bar de aparência suspeita que se tornou o seu lugar preferido. Lembrou-se da penumbra familiar e doce que a envolvia, assim como o cheiro mentolado que vinha dela. Lembrou-se das mãos pálidas e delicadas que envolveram a sua cintura, tão seguramente que pareciam nunca mais serem capazes de soltá-la. Lembrou-se da risada rouca e do gosto amargo da cerveja que, insistentemente, negara, mas que chegara aos seus lábios de outra forma.

Ela lembrou de que aquele bar esquecido pelo mundo era o lugar da onde ela ainda pertencia.

Nada de bebidas doces, nada de companhias, nada de músicas repetitivas, nada de copos erguidos para brindes simples... Uma bebida amarga da qual ela não gostava, uma única companhia, músicas antigas tocando em uma vitrola ainda mais antiga e não havia tempo para brindes no local da onde ela sentia falta.

Nunca houve tempo entre elas.

Rachel, tão acostumada às festas, à dança, ao barulho... Só queria o silêncio de somente escutar a única voz que importava, assim como queria estar sentada em um bambo banquinho de madeira junto ao bar, escutando uma música antiga, um folk qualquer, sendo cantarolado em seu ouvido.

Ela estava em um lugar que sempre frequentara e que parecia desconhecido a ela quando queria estar em um bar em que fora poucas vezes no espaço de quatro meses.

Porque aquele bar representava tudo que a outra era. A resistência, a melancolia, o silêncio, a nostalgia... O amor?

Rachel nunca soube se, de fato, existisse isso no que vivera. Mas, de fato, existia a saudade e era essa que diminuía os watts de seu sorriso e nublava os brilhos de seus olhos. Ela olhou para àqueles que dividiam a mesa com ela, muitos deles já estavam ébrios e outros, bêbados.

Ela, sóbria, sentia-se infeliz desejando estar em outro lugar e trocando todas aquelas companhias por apenas uma.   

   

“We were used to be the life of the party. We were used to be the ones that they wished they were. But now they don’t know how to act. Maybe, they’re like me and they want us back. It’s like there’s always an empty space, those memories that nobody can erase of how bright we burned, well, now it hurts. But it’s true, when they think of me, they think of you.”

No meio da bagunça de luzes e penumbras, os olhos de Rachel encontraram a escuridão dos olhos de Santana. Aqueles olhos a conheciam muito bem e, logo, mãos estranhamente sóbrias agarraram seu pulso e a puxaram para longe da música e da embriaguez. Rachel engolia em seco porque sabia o que viria a seguir.

O mesmo interrogatório, as mesmas broncas e os mesmos esporros. Santana saindo do sério, tentando reergue-la enquanto Rachel só queria ficar sozinha e inundada em lembranças ou bêbada o bastante para que pudesse se esquecer de qualquer coisa que lembrasse quem ela fora com ela.

— O que precisamos fazer para você, enfim, melhorar? - Santana tinha a voz firme e os braços cruzados na altura dos seios enquanto, encostada na parede do lounge, a olhava preocupada. A latina podia estar brava, mas Rachel sentiu a preocupação velada na voz dela. A morena suspirou e sorriu tristemente, nada de watts dessa vez e sim, sombras:

— Eu me faço essa pergunta todos os dias.

E ainda continuava sem respostas para a inconstância e a mutação de sua vida desde que tivera algo bruscamente tirado dela. Rachel não lidava bem com perdas e jamais lidaria bem com partidas... Ela não aceitava, por mais que tivesse cansado de tentar alcançar o inalcançável.

Ela ainda tinha esperança.

Assim como Quinn, do outro lado da cidade. Esperando por ela.

Finalmente, a loira entrara no bar. Não se surpreendeu com os olhares curiosos e nem com as mudas perguntas que vinham daqueles que eram freqüentes no local. Eram os olhares daqueles que não esperavam vê-la sozinha por tanto tempo... Quantas semanas faziam? Quinn contara, achava que já fazia mais de um mês desde que a vira pela última vez e desde que chegara a brilhante conclusão de que não a merecia.

E aqueles olhares eram a constante lembrança de que, realmente, jamais a mereceu. Os olhares dos outros conseguiam enxergar quão sozinha ela estava e como ela conseguira abraçar a solidão ainda que tivesse o tudo em suas mãos. O tudo que, durante bastante tempo, fora resistente o bastante para suportar seu passado assim como forte para recolocá-la nos eixos quando necessário.

Quinn sabia que tirara muito dela e dera pouco em troca, por isso, aqueles olhares também a olhavam como se reconhecessem muito da outra nela. Mas, diferentemente dela, Quinn não tinha o essencial que tornavam a outra única. Quinn era um conjunto de espaços vazios que a sufocavam porque só eram preenchidos por lembranças.

E as lembranças doíam porque eram apenas isso. Feitas para lembrar e não, para reviver.

Quinn caminhou por entre os corpos ébrios e, talvez, o seu olhar estivesse amedrontador o bastante para afugentá-los ou, sinceramente, fosse a dor impressa neles que, simplesmente, os afastou e os fez respeitá-la. Ela se jogou em um dos bancos próximos ao bar, aquele bambo que ela adorava e cuja hiperatividade a fazia ficar brincando com o falho balanço do assento.

A loira sorriu triste para as lembranças e chamou o dono do bar. Ele veio, o senhor gordinho e careca, de sorriso fácil e mãos sempre trabalhando em um copo com um pano. O senhor aproximou-se, o olhar que silenciosamente pedia desculpas por onde ela se encontrava. Quinn melhorou seu sorriso, mas ele pareceu uma careta quando ela o enxergou no reflexo das garrafas de bebidas. A loira, então, suspirou e pediu:

— Uma Budweiser, por favor.

O senhor apanhou a long neck ainda calado, ele a abriu e colocou a frente da loira. Quinn envolveu as mãos no corpo da garrafa e respirou fundo, antes de levá-la à boca. O gosto amargo brincou em sua língua e ela até fez uma careta, rindo de forma triste ao se lembrar, de novo, de como ela odiava o gosto da cevada fermentada e de como as duas brigavam por causa disso e só paravam quando se beijavam.

O dono do bar terminou de limpar um copo, apanhou outro e, não contendo sua preocupação, perguntou:

— Nunca vi você fazer careta com o gosto da cerveja, garota... Como você está?

Quinn sabia que a pergunta era referida a ela, mas o senhor já fizera aquela mesma pergunta mais de uma vez. Ela também sabia que o comentário antes da pergunta não era para ela... A pergunta era toda e para a outra.

Eles perguntavam sobre ela, mas todos queriam saber onde ela estava.

— Ok, por que vocês sumiram? Está bem, Barbra? - Kurt adentrou sem filtro algum no lounge, gritando fora de si. Os olhos estavam desfocados pela bebida, mas a preocupação era genuína. Nem Santana e nem Rachel responderam.

Santana porque já tinha sua resposta e Rachel porque preferia guardar para si o que sentia. Não porque Kurt era menos confiável do que Santana e sim porque eles perguntavam para ela pensando na outra. Desejando que ela voltasse logo para Rachel voltar a ser quem ela era.

Kurt olhou cambaleante para Santana e a latina apenas arqueou a sobrancelha para ele, suspirando frustrada. Rachel amargou a decepção vista nos olhos de seus amigos e abaixou a cabeça.

Ela costumava ser diferente do que fora no Ensino Médio. As festas eram dela, ela fazia todos dançarem e, inclusive, a outra só voltara a dançar por causa dela. As duas, naquela mesma casa noturna, atraíram olhares porque riam e dançavam como senão houvesse amanhã.

As duas atraíam olhares porque quando se perdiam em seu próprio mundo, cada um que as acompanhava queria ser ou ter o que elas eram e tinham. Aquela chama que queimava no olhar de ambas, de um lado verde e, do outro, castanha. Mesclando-se em uma explosão que esquentava seus corações e que agora, a lembrança daquilo apenas queimava e doía.

Doía porque, sem a outra existia um vazio dentro de Rachel. Ocupado por lembranças de sorrisos, beijos, toques e abraços que o tempo tornava cada vez mais difícil lembrar tudo com detalhes.

— Ok, Berry. O que você ainda está fazendo aqui? - A voz de Santana, impaciente e sentida, mais uma vez fez Rachel sair de seus devaneios. A morena virou-se para seus amigos, surpreendida com a pergunta. Santana agitou as mãos e aproximou-se dela, segurando-a pelos antebraços. - Vai atrás dela.

Rachel surpreendeu-se com o conselho, perguntando a si se valia a pena insistir e obtendo a sua resposta antes mesmo que finalizasse a pergunta em sua cabeça.

E Quinn amargava a sua cerveja também se questionando, do porque estava ali se aquele lugar, agora, deixara de ser um refúgio e passara a ser o seu martírio.

O que as duas estavam fazendo, afinal?

 

“They keep asking how I am but they’re really asking where you’ve been... I can read between all of the lines,it ain’t just us missing all of the times.”

Quinn tomou mais um gole de sua certeza, observando todo o ambiente ao seu redor, sentia o olhar preocupado do dono do bar ainda fixado em si. Entretanto, procurava concentrar na terceira ou quarta long neck de cerveja que estava consumindo.

Assim como perdera a noção do quanto bebera, também perdera a noção de quem era antes de se envolver e, também perdera o significado que aquele bar tinha antes dela. Era estranho como sua vida podia ser dividida antes e depois do que tinham vivido.

E Quinn, honestamente, sentia mais falta do que tivera com ela.

Sentia falta de como ela lhe entregava um pouco da própria luz para que não ficasse perdida nas sombras de seu brilho, também sentia falta da segurança que tinha quando dividia o mesmo espaço com ela, sentia falta de como cantava porque ela obrigava e de como recebia um beijo em troca de pequenos versos sussurrados no ouvido dela... Era tanto que tinha e Quinn sentia como se fosse pequena para lidar com tudo isso.

Se as atitudes despertavam tanto saudade, imagine o sentimento? Quinn levara uma vida aparentemente libertina antes de reencontrá-la. Mas, somente ela lhe colocara de novo nos trilhos. Quinn estava prestes a terminar a faculdade com honras e impusera limites a sua personalidade arredia. Quinn mudara porque queria ser o melhor e o essencial para a outra, porém... Tudo parecia tão pouco.

Ela parecia de mais e Quinn sentia que tinha o de menos. O confronto entre essas duas verdades foi inevitável e quando aconteceu, explodiu.

Mas, não da forma como Quinn sentia seu interior queimar quando ela lhe tocava, nem quando as duas se olhava e o mundo ao redor delas se perdia. O que elas possuíam de épico também tinham de clássico, era épico porque elas se amavam e disso não havia dúvidas, mas era clássico porque, exatamente como todos os amantes desafortunados da história, o fim delas chegou em suas próprias mãos e sem o envolvimento de outros.

Porque, afinal de contas, uma sempre fora demais para a outra. Mas, Quinn sabia agora, na névoa de bebida que lentamente a envolvia, que a outra era tudo que ela necessitava e, sempre, seria.

— Acho que você bebeu demais... Tem certeza de que está bem, garota? - O senhor manteve a mão direita envolvendo a quinta garrafa de cerveja que Quinn pedira, ele estava verdadeiramente preocupado por que nunca a vira chegar naquele nível e, também, porque ela parecia ainda mais aérea do que estava ao chegar ao seu bar.

De certa forma, ele era responsável pela integridade de todos os seus clientes. E aquela garota estava quebrada demais para pensar com a própria cabeça.

— É a última, eu prometo. - Quinn respondeu com um olhar vazio e atirando uma nota de 50 dólares na frente do senhor. Diante do dinheiro, ele viu que ela não estava bem, mesmo. Porém, ele não podia forçá-la a nada e, então, voltou a enxugar seu copo.

Quinn virou a cerveja antes de levantar-se desequilibrada do banco bambo e rumar, através da multidão de corpos mais bêbados que o seu, até as portas duplas de madeira.

Tirou a carteira de cigarros amassada de dentro do bolso da jaqueta e mordeu um dos cigarros, puxando-o para fora. Saiu do bar e acendeu o cigarro, tragando-o profundamente antes de expelir a fumaça.

Olhou para as estrelas e elas lhe lembraram, dolorosamente, alguém.

 

“We were used to be the life of the party. We were used to be the ones that they wished they were. But now they don’t know how to act. Maybe, they’re like me and they want us back. It’s like there’s always an empty space, those memories that nobody can erase of how bright we burned, well, now it hurts. But it’s true, when they think of me, they think of you.”

Rachel a viu, parada na frente do mesmo bar de sempre com um maldito cigarro na boca. Foi como um dejá-vu da primeira vez que se encontraram naquele local... Quinn também fumava do lado de fora quando Rachel chegou acompanhada de um colega do teatro que estava tentando ficar com ela.

E, exatamente como acontecera na primeira vez, Rachel pode vê-la por alguns segundos sem que ela percebesse que era observada. A morena viu que Quinn fumava, olhando as estrelas. Inocentemente, um dos espaços vazios dentro de Rachel foi preenchido com aquela observação, o sorriso próximo aos 1000 watts também foi aberto quando ela permitiu-se imaginar que, observando aquelas estrelas, Quinn lembrava-se dela.

Apenas por alguns segundos porque, logo depois, Quinn abaixou os olhos e terminou o cigarro, jogando o que restara na calçada e pisando nele, com os coturnos gastos que Rachel tanto se envergonhava de ela ainda usá-los. Rachel sorriu ainda mais grandemente, surpreendeu-se com as lágrimas que brincaram em seus olhos.

E, foi essa imagem que Quinn enxergou.

Fosse o magnetismo que sempre fizera parte delas, ou a saudade... Mas, qualquer uma dessas duas particularidades fez com que Quinn olhasse diretamente para ela. Rachel tremeu quando os olhos verdes voltaram a fazer casa nos seus castanhos, também sentiu tudo em seu interior queimar por aquela chama que estava tão no passado como estava no presente entre elas...

Os olhos castanhos brilhavam, um pouco pelas lágrimas, mas em muito por causa do sentimento genuíno que, agora, invadia e preenchia todos os espaços vazios de Rachel. E mesmo prestes a chorar, ela sorriu porque compreendeu que todos os vazios dentro de si foram deixados por Quinn e que, depois de tudo que acontecera entre elas, ela sempre permitiria que ela voltasse para preenchê-los e para saturá-los.

Do que sentiam, do que viriam a sentir... De amor.

Os olhares trocados fizeram Quinn se desequilibrar, a bebida em sua cabeça disse a ela que estava enxergando coisas que não estavam, de fato, ali. Quinn chacoalhou a cabeça e, quando voltou a olhar na direção em que Rachel estava, tinha a perdido. Porém, um grupo passou a sua frente, gritando e, enquanto ela procurava desesperadamente pela morena através deles... Ela a encontrou.

Rachel esperou o grupo passar e aproximou-se. Os cabelos longos trançados sobre o ombro direito, um vestido rosa que fez Quinn piscar várias vezes. As mãos da loira coçaram para tocar aquele corpo e ver se ele, de fato, era real. O sorriso de Rachel, repletos de mais watts de potência que até mesmo poderiam iluminar toda a New York, a cegava. E aqueles olhos, brilhando intensamente sobre os seus, liam a sua alma e curavam cada ferida que ela ainda podia ter.

A morena olhava para Quinn da mesma forma em que foram felizes, como se mais de um mês não houvesse passado, como senão existisse vazios dentro delas e como se não existisse nenhuma outra pessoa na frente daquele bar que não fossem elas.

Rachel sempre fora a mais corajosa e, justamente dela, veio a primeira atitude.

A morena deu um passo à frente, invadindo o espaço pessoal de Quinn. A loira cheirava a cerveja e aquele odor fez com que a morena enrugasse o nariz, porém, o sorriso não saiu dos lábios de Rachel quando ela segurou o pulso de Quinn e sussurrou:

— Cheirando a cerveja, da forma como eu me lembrava.

E, quando Quinn sentiu os dedos finos e morenos envolverem seu pulso, ela finalmente deu-se conta de que aquilo não era um sonho e de que não estava vendo através da bebida. A loira piscou os olhos mais de uma vez e, conforme os piscava, Rachel via as esferas douradas tomando lugar na imensidade verde.

Rachel riu grande. Quinn sorriu desconcertada. A morena sempre achava um bom motivo para rir dela.

 

“Ain’t it funny how a flame like that (When they think of you) it can be burn when it’s in the past?”

 Quinn não sabia o que fazer.

A bebida a confundia e o brilho dos olhos castanhos de Rachel a cegava. E, em seu interior, a chama ainda estava acesa e incontrolável como se jamais tivesse sido apagada ou sufocada. Era exatamente como se nada tivesse acontecido e como se, entre elas, não existisse passado.

Tudo queimava na mesma intensidade, tudo era familiar.

O bar às costas de Quinn voltou a ser o seu refúgio porque aquela que tornava tudo diferente estava parada, a sua frente, olhando para ela com o sorriso do qual se lembrava... O sorriso que era somente seu.

Quinn, finalmente, agiu. Sua mão direita tremia da mesma forma de quando estava em frente ao bar. Ela, insegura, envolveu o rosto de Rachel com a mão e puxou-a para perto, colando suas testas. O calor da pele da morena trouxe uma chama diferente para dentro de Quinn, uma que era ainda mais intensa que aquela que, diariamente, as queimava.

Essa chama reconstruía o que fora destruído pelos dias e semanas afastadas.

Quinn fechou os olhos e respirou fundo, ajeitou o rosto para que pudesse beijar Rachel, mas a morena a parou. Rachel tinha um sorriso brincalhão nos olhos e mordia o lábio inferior de forma sedutora, Quinn fechou a expressão. Sua boca amarga pela cerveja pedia para, novamente, ser adocicada pelos lábios de Rachel.

Na verdade, tudo em si pedia por Rachel e agora que estava tão perto... Não queria desistir.

Rachel envolveu o rosto de Quinn com as duas mãos, beijando-lhe a bochecha esquerda antes de sussurrar em seu ouvido:

— Ainda não, eu quero que você saiba o que está fazendo e que se lembre disso amanhã.

Quinn olhou confusa para Rachel, mas não pode pensar muito porque a morena entrelaçara os seus dedos e a puxava pela rua. A loira não pode pensar e nem responder por que estava sendo invadida pela intensidade que somente Rachel Berry possuía. A cada passo, uma saudade era aplacada.

As mãos dadas, o corpo moreno inclinado na direção do corpo pálido, o sorriso levemente bêbado de Quinn e o sorriso brilhante de Rachel... Cada fator que transitava naquela interação entre elas parecia ser a retomada de algo que fora deixado no passado, mas que jamais pertencera àquele tempo.

O destino das duas não envolvia perda, elas jamais deveriam ter se perdido uma da outra... E aquela volta, sem pedidos de desculpa, sem discussões e sem questionamentos era a prova verdadeira e crível de que o que elas tinham era, de fato, para sempre.

Elas finalmente perceberam o que Santana, Kurt e até mesmo o dono do bar já tinha percebido há muito tempo: não havia como pensar em uma separada da outra.

Quinn escutou a sineta e sentiu o cheiro de café, sua cabeça doeu de forma leve e Rachel a empurrou entre risos até uma mesa. A garçonete veio até elas e Rachel pediu:

— Uma xícara de café puro e sem açúcar, por favor.

A garçonete acenou e anotou em um bloquinho de papel, antes de destacar a folha e deixá-la na mesa. Rachel sentou-se do lado, de cabeça baixa, envolvendo-se na proximidade da qual ela sentira muita falta. Quinn cheirava a cerveja e a menta do cigarro, Rachel voltou a franzir o nariz para o cheiro e a risada rouca de Quinn chegou aos seus ouvidos.

Saudosa, real e tão de Quinn que ela não se surpreendeu quando percebeu que se lembrava exatamente do timbre que ela soava.

A xícara de café foi depositada entre elas e Rachel empurrou-a delicadamente em direção a Quinn. A loira ainda sorria quando se envolveu no cheiro forte do líquido, a garçonete olhou para as duas e perguntou:

— Vocês estão bem? Querem mais alguma coisa?

Quinn bebeu um gole do café, o líquido amargo e sem açúcar castigou seu paladar e a sua garganta, mas ela o engoliu sem reclamar. E olhou para Rachel, sua mão quente pelo calor da xícara de café envolveu a mão fria da morena, Quinn sorriu quando Rachel inclinou a cabeça para ela, confusa. A loira suspirou e disse satisfeita:

— Não, está tudo bem. Nós estamos bem, obrigada.

 

“Baby, when they think of me, they think of you.”

Rachel sorriu para o significado daquela simples palavras de Quinn. Envolvida pela familiaridade, pelos significados dos quais ela não se esquecera e pela chama que sempre aquecera seu coração, ela se aproximou de Quinn e a beijou.

Quinn estava certa. Elas estavam bem, nunca existiu uma Quinn Fabray separada de uma Rachel Berry.

FIM.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

Espero que tenham gostado. Eu, particularmente, acho essa uma das melhores ones que eu escrevi para Faberry. Aliás, que mundo é esse em que eu ando me aprimorando com oneshots e penando com as longs? Hahahaha

Eu gostei, mas a opinião de vocês é a que vale! Gostaram da história construída a partir das letras da música? Por favor, comentem.

E aqueles que ainda não me seguem, também estou no twitter como @RedfieldFer!

No mais, beijos e até a próxima!