Pacifista em Underfell escrita por Bélle Neves


Capítulo 3
Toriel, a Mamãe Cabra


Notas iniciais do capítulo

Ahhh! Desculpa a demora! Não tenho internet e enrolei para revisar inúmeras vezes o capítulo... mas espero que esteja legal agora. Uh, e grande...

Tenha uma ótima leitura! ♥



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Paralisado pelo medo de não saber o que fazer, diante de situação tão mortal, o novo monstro e Flowey precisaram agir por mim. Primeiro Toriel, quem deu mais um passo em minha direção, ainda com os braços estendidos, incentivando-me a ir até ela com palavras bonitas mas nocivas. Nessa hora, permaneci congelado onde eu estava, trancando o ar dentro de meus pulmões e sem ter noção do tempo que corria em minha volta.

Depois foi a vez de Flowey, e o que ele falou me deixou bem mais motivado do que o oferecimento de um abraço.

—Anjo, não tenha medo, ela não irá te machucar agora, confie nisso e só siga o fluxo... Faça exatamente o que ela mandar, ou estaremos em sérios apuros - Ele soara preocupado

Respirei fundo. Ora, se ela não ia me machucar, não queria dizer que não é a real intenção dela realmente machucar ninguém? Pelo menos, não à mim? Porque seria muito mais fácil me matar já de início se ela quisesse mesmo isso, não é? Fiquei curioso com o por que daquela senhora querer cuidar de uma criança humana como eu.

Com a nova empatia formada, forcei um sorriso e fui para o abraço, mesmo que suando frio. Surpreendi-me com a firmeza com que ela pôs os braços em volta de mim, parecia ter passado muito tempo desde que não abraçava alguém. Fiquei então feliz em proporcionar esse conforto à ela. Aliás, eu também gostava muito de abraços.

—Pronto, pronto...

Somente quando ela se afastou, é que percebeu a flor em meu ombro. Seus olhos se estreitaram com seriedade e eu senti-me muito nervoso, temendo que ela fizesse algo contra Flowey. Porém, Toriel rapidamente desviou o olhar e voltou a íris escura para mim, revivendo seu sorriso.

—Venha, minha criança, irei levá-lo até a minha casa, aqui não é um lugar seguro para humanos... Haha, mas é claro que não há nada com que deva se preocupar, não irei deixar ninguém aqui tocar em você, é só me dar a sua mão.

De novo, uma mão foi estendida para mim, sob o olhar ansioso, e talvez frenético, de Toriel. Engoli em seco e a segurei, confiando nas palavras de Flowey de que ela não me faria qualquer mal. Após passarmos do portão roxo, fui guiado para outra sala com duas escadas dando para o mesmo local num ponto mais elevado, mas ignorei completamente isso quando vi algo inusitado: Um estrelinha amarela e brilhante.

Naquele instante, empaquei. Senti um calafrio subir pela minha espinha e minha respiração ficar descompassada. Eu sabia o que era aquilo. Não fazia ideia de como, mas naquela hora, eu sabia de tudo. Era um check-point. Para onde eu voltaria se... acontecesse qualquer coisa ruim, como morrer, lá na frente. Toriel olhou para mim, confusa e chateada por eu ter parado de repente.

—O que foi, minha criança? Já disse para não ter medo, não confia em mim? Vamos, venha.

—T-Toriel...? - Ela me encarou com intensidade, quase desisti de falar - H-Hm, s-será que eu não poderia andar por... minha própria conta?

Entendendo que eu queria soltar sua mão, o monstro branco estreitou seus olhos para mim. Flowey rapidamente se precipitou em sussurrar de novo, em desespero.

—Tá maluco? Faça exatamente o que ela disser! Não questione, não recuse!

Ouvindo isso, apressei-me a voltar com a minha palavra.

—Q-Quero dizer, é que a minha mão tá suando um pouco, mas eu amo segurar a sua, ela é tão macia e agradável, faz parecer que você... é... a minha... mãe... - Pausei bastante o que eu ia dizer por perceber o erro daquilo.

Ela imediatamente abriu um sorriso gigante, que para falar a verdade, parecia mais bonito do que os outros que ela dera. Agora era mais, não sei, sincero.

—Hahaha, oh, meu, você... acaba de me chamar de mãe? B-Bem, eu acho que se isso te deixa feliz, eu não me importaria se me chamasse de... mãe? - Olhava-me com tanta animação que era impossível eu não responder com um sorriso.

—Sim, mãe é ótimo.

—H-Hm!

Toriel foi rápida ao abaixar-se e me dar outro mega abraço, com mais força desta vez, o que me fez sentir-me um pouco desconfortável, mas eu não me importava realmente, sorri e tentei afagar as costas dela, mas quase não alcançava suas laterais! Ri baixo disso e tão logo ela me soltou, dando-me a mão novamente sem mais pedir. O sorriso não tinha deixado seu rosto, mas imaginei ver um lágrima, que facilmente foi seca com um passar de seus grandes dedos peludos.

—Venha, venha, meu filho, mal posso esperar para te levar para nossa casa!

Assim que ela disse "nossa" casa, as palavras anteriores de Flowey voltaram à minha mente e eu percebi o quanto foi um erro fazer aquela carente senhora colocar todas as suas esperanças em mim. Ele disse para não me deixar enganar pela fachada amigável dela. Eu tinha caído na armadilha feito um bobo.

Minha agora mãe guiou-me escada acima, segurando tão firme a minha mão que não consegui chegar perto o suficiente do check-point, vou precisar andar na linha até encontrar outro, fazer tudo isso de novo me deixaria exausto, mas pensando bem, daí eu poderia corrigir o meu erro com Toriel, quero dizer, se chamá-la de mãe foi mesmo um erro, porque ela ficou tão feliz, e eu quase havia dito aquilo tão naturalmente, como se... fosse uma voz na minha mente.

Paramos na entrada da próxima sala e Toriel finalmente soltou a minha mão, sorrindo abertamente para mim e gesticulando para as pedras lisas no chão. Mais na parede da frente, havia uma alavanca ao lado de uma porta, e ainda uma placa de aviso do outro lado, que não dava para ler de longe.

—Veja, minha criança, isso é um quebra cabeça, há vários como eles por aí nas ruínas, você deve se acostumar a raciocinar bastante, de modo a fazê-los por sua própria conta. Vamos, tente este, é um realmente fácil!

Inseguro do que fazer, aproximei-me lentamente, analisando as seis pedras no chão. Pareciam ser feitas para pisar, mas não queria arriscar, escolhi primeiro ir ler a placa, talvez houvesse alguma dica ali. Porém, as letras eram um garrancho escuro só, tive que pedir ajuda de Flowey para ler.

—Er, bem, aqui diz... - Ele começou - "Hahaha, tolinho," Argh "não há qualquer dica para você aqui. Talvez você deva PÉdra um pouquinho." - Eu ri - Nossa, esse trocadilho foi horrível, não ria disso, Frisk. Kaham, ainda tem outra frase aqui embaixo. "Os covardes estúpidos ficarão e apodrecerão aqui, enquanto os corajosos ainda mais estúpidos prosseguirão e se encontrarão com uma morte lenta e terrível. A escolha é sua. Aliás, morra."

No final da frase, ouvimos um pigarreio atrás de nós e olhamos naquela direção, Toriel parecia um pouco nervosa.

—Não leve esse aviso à sério, ele não foi feito para doces crianças como você lerem, haha... Vamos voltar ao quebra-cabeça, sim?

Porém, voltei para perto dela, frustrado e confuso por não ter nenhuma mera dica sobre a resposta correta. Quebra-cabeças não deveriam ser feitos para que alguém seja capaz de descobrir uma solução? Este era impossível! Toriel me lançou um olhar decepcionado.

—Oh, você não consegue? Pobre criança, mesmo tão jovem, já deveriam ter lhe dado uma educação a altura para tal tarefa. Mas prática leva à perfeição, você consegue, mamãe está aqui para te ajudar. Você quer uma dica? - Assenti com esperança - Hohoho, vejamos. Hmm... Oh, já sei! Toda a ideia deste quebra-cabeça é uma completa pegadinha! Entende o quanto ficou fácil agora? Vá lá, resolva desta vez.

Não sei se ela não percebeu ou ignorou a minha expressão de decepção, em todo caso, virei as costas e respirei fundo para me concentrar em entender o esquema daquilo. Pedi mais uma vez a Flowey que me ajudasse. Ambos pensamos juntos por quase 5 minutos, andando em volta das pedras e olhando de todos os ângulos possíveis.

Até que parei, cansado de tentar, e percebi algo que não tinha reparado antes: Havia um graveto no meu bolso do shorts. Era um bolso bem fundo, o único modelo que vi na vida assim. Tirei o graveto de lá e lembrei-me de onde eu o peguei, era perto da caverna que eu entrara primeiro no Monte Ebott, eu o achara bem bonitinho, impressionante que não tenha quebrado na queda, e agora ele teria o seu uso.

Aproximei-me de uma das pedras e joguei o graveto ali. Imediatamente, ao mais leve toque, a pedra foi para baixo da terra e espinhos apareceram de lá para a superfície, felizmente não afiados o suficiente para machucar o meu graveto, que tratei pegar de volta nas mãos com cuidado, fazendo os espinhos sumirem e a pedra voltar para cima.

Quando fui fazer o mesmo com os outros, todos eles tiveram a mesma reação, descida e espinhos. Foi aí que percebi a grande jogada de Toriel. A IDEIA do quebra-cabeça por completo já era uma pegadinha. TER um quebra-cabeça ali era uma pegadinha. Aquilo era uma armadilha para os "tolos" que pensam ser aquilo um quebra-cabeça.

Olhei para ela com extrema frustração por ter perdido tanto tempo para nada.

—Mãe! Isso não foi engraçado-! - Flowey tapou a minha boca com uma folhinha.

Vi quando o sorriso de Toriel se apagou e ela veio até mim para pegar a minha mão, apertando-na. Fiz uma careta de dor, mas sabia que ela não deve ter feito aquilo de propósito.

—Quer dizer que os humanos, além de não te darem boa educação, também não te ensinaram a apreciar uma boa piada? Fiquei quinze minutos esperando por você para que tivesse alguma diversão, por favor, minha criança, não seja tão mal-agradecida... - Vendo as minhas lágrimas surgirem, ela de repente piscou - O-Oh? Hahahah, oh, minha pobre criança! Eu só estou brincando com você!

Ela voltou a sorrir a afagou forte o topo da minha cabeça.

—Estou orgulhosa que tenha decifrado seu primeiro quebra-cabeça, mas cuidado, muitos outros vão entrar no seu caminho, e não serão mais apenas inofensivas pegadinhas! Quebra-cabeças aqui não foram feitos para serem resolvidos, geralmente um monstro fica surpreso se você conseguir resolver algum! Agora vamos, há ainda um longo caminho à frente até em casa!

Segurando a minha mão, Toriel me arrastou para a próxima sala e... Oh, não, era outro quebra-cabeça. Desta vez com pequenas pontes e várias alavancas por etapa na sala.

—Ohahaho, este sempre foi o meu favorito. Cada alavanca tem uma função, veja bem. Um, obviamente, abaixa uma ponte para você passar, já o resto... Hah, de um saem espinhos da parede e te perfuram fundo, mas sai sangue pra todo lado e eu preciso limpar a sujeira depois. Do outro sai um lança chamas da parede oposta, você vai ter dois segundos para correr até ele e clicar no botão de desativar, ou vai morrer queimado. Outro ainda abre um poço fundo e se fecha com você lá, normalmente os monstros daqui sobrevivem por uns 5 dias dentro dele, mas não sei quanto aos humanos... Eu adoraria continuar a falar sobre suas outras maravilhosas funções, mas estamos sem tempo!

Foi, um, alívio, tão, grande, vê-la acionar a alavanca certa uma atrás da outra! Agora o quebra-cabeça anterior não parecia mais tão horrível assim! Flowey devia concordar também, pelo jeito aterrorizado que ele olhara para Toriel enquanto ela explicava a esquematização. Sorte a nossa por termos demorado tanto tempo no outro quebra-cabeça, agora Toriel parecia menos paciente... Espera, isso não soou nada bem.

—Oh! Olhe para aquilo, minha criança.

Estávamos já na outra sala, onde ela apontava para um manequim de madeira no canto.

—É com isso que devemos treinar sobre o que fazer quando você encontra outro monstro. Como você já deve saber, eles vão entrar numa luta com você, e você vai ter uma bela variedade de opções, dentre elas: Lutar de volta, Interagir, Poupar e Fugir. Hoho, mas quem iria fazer qualquer uma das duas últimas opções, não é mesmo? O modo mais fácil e rápido de terminar uma luta, é lutar de volta! Óbvio-! Que expressão é essa? É claro que terá que fazer isso, ou qualquer um vai poder te matar a qualquer instante. Vamos, tente, treine com o boneco, pode ser com esse graveto mesmo, ele não vai lutar de volta de qualquer maneira. Hohoho.

Andei até ficar de frente para o manequim e olhei dentro de seus olhos... Ele... Parecia tão vivo, eu não posso machucar isso. Flowey sussurrou para que eu acabasse logo com aquilo e fazer como a senhora havia dito, mas, eu... Desculpe, Flowey, mas vai contra tudo o que acredito machucar alguém, mesmo um boneco. No instante seguinte, vi-me tentando falar com ele, eu tentei o INTERAGIR.

—Hm, oi, eu sou Frisk... Você não fica muito sozinho aqui? Não tem mais ninguém... Uh, quer vir com a gente? Podíamos ser amigos e...

—Frisk! O que você está fazendo?? - Flowey sussurrou na minha orelha e espiou em direção à Toriel - Ela ainda não percebeu o que você está fazendo, ainda bem! Pare de tentar falar com algo sem vida e ataque logo isso! Não é como se você fosse machucar alguém! Ele não vai sentir nada mesmo!

—Mas se não formos legais nem com as coisas mais simples, como podemos o ser com algo vivo...?

—Eu não me importo! Mas me importo em continuar vivo. Então pare de ser estúpido e só bata de uma vez nele com esse graveto super frágil! Tenho certeza de que não fará nem cócegas!

Eu suspirei.

—Certo...

Tirei o graveto e levantei-o, mas... De novo, seus olhos pareceram tão expressivos. Eu não tive coragem... Olhei para Toriel, ela continuava a encarar-me com expectativa, perto da porta que dava para a próxima sala, um pouco inquieta com a minha demora. Perguntei-me se ela ficaria zangada se eu não fizesse o que ela me mandava, m-mas por que ela machucaria uma criança que já havia lhe chamado de mãe? Ela não parecia ser assim tão cruel.

Eu ganhei coragem.

—Ô-ou... - Flowey encolheu-se

Poupei o meu inimigo.

ISSO Toriel viu, e ficou boquiaberta. Mesmo após eu já ter me aproximado dela, ela continuou a olhar abismada para o manequim, então, sem dizer uma palavra, virou-se e me mandou segui-la. Fiquei apreensivo com essa reação, mas obedeci.

Andamos por um corredor curto que fazia uma curva e levei um susto quando algo gigante e vermelho-sangue pulou na minha frente. Era um tipo de sapo. Ele me encarava com raiva e... a-aquilo eram dentes afiados? Sapos não deviam NÃO ter dentes? Vi que Toriel percebera o assalto, mas parou só para me observar, mais séria do que eu jamais a havia visto. Flowey chiou no meu ombro.

—É um Froggit! A mordida deles é bem mortífera, uma só e você será destroçado ao meio! Fuja, Frisk, corra para a outra direção!

Não consegui ouvir o que ele me dizia, pois senti um arrepio gelado percorrer meu corpo e, segundos depois, vi minha alma ficar à mostra. Aquilo me fez sentir como eu estivesse nu, completamente exposto e vulnerável. Sem perceber, minhas pernas começaram a tremer. Só me acalmei quando vi que Froggit esperava primeiro pela minha reação à sua chegada, mostrando-me com orgulho os dentes.

Então ouvindo Flowey brigar comigo para que eu desse no pé logo, fiz o que ele disse, até porque Toriel continuava de braços cruzados. Corri tanto que cheguei até as escadas, novamente vendo o brilho da estrela. Ahá, desta vez eu pego ela... Porém, Froggit apareceu pulando novamente na minha frente, um pouco decepcionado com a minha atitude, obrigando-me a tomar o caminho contrário, direto para onde eu havia o encontrado, enquanto eu desviava de minúsculas moscas-bala que cortavam o ar e passavam raspando por mim.

Parei arfando sobre os meus joelhos e olhei desesperado para Toriel, eu definitivamente não queria morrer sendo mastigado por um sapo.

—Por favor, me ajuda! Mãe!

Minha última palavra abalou a pose repreensiva dela por um segundo, mas logo voltou ao seu estado inicial.

—Você deve aprender a se virar sozinho, meu jovem, eu tentei te ensinar o jeito correto, mas você recusou os meus ensinamentos... A única solução que vejo para o seu futuro é que perceba por sua conta de que não há outra opção neste mundo que não seja lutar de volta. Vire-se, enfrente o seu inimigo sem parecer para ele uma presa suculenta e frágil.

Realmente me virei, só para ver Froggit parando na minha frente, já impaciente de toda a corrida.

(Ribbit! Pare de fugir como um rato, humano! Ribbit, Ribbit!)

—E-Ei, seu nome é Froggit, não é? Hm, eu sou Frisk. Não quero te machucar, nem quero ser morto, será que você não poderia me deixar ir, só desta vez?

Infelizmente, ele não pareceu entender o que eu disse e moscas foram disparadas em minha direção, mais rápidas do que antes. Tentei desviar o quanto pude, por longos minutos de tentativas de conversa, mas logo uma acertou o meu ombro e outras duas em Flowey, que em seguida vi cuspindo sangue. Esquecendo de que estava em uma batalha, coloquei ele no chão com urgência, desesperado.

—F-Flowey?!

—Argh... Frisk! Cuidado!

Não houve tempo, logo algo atingiu as minhas costas e, gritando, tive de me esforçar no apoio com meu braço machucado para não cair em cima de Flowey. Depois rapidamente joguei-me para o lado, arfando e gemendo de dor. Olhei para Toriel, mas sua imagem era só um borrão por entre as minhas lágrimas.

—M-Me ajuda... por favor...!

Chorei, mas isso não impediu Froggit de chegar perto e me encarar com uma centelha de pena enquanto abria a boca para me atacar. Foi nesta hora que ouvi um baque e ele começou a pegar fogo. O sapo gritou e foi pulando embora, sabendo que em breve cairia em algum canto e morreria pela carne derretida.

Não senti alívio, só terror e medo. Toriel veio até mim e pegou-me em seus braços, com um sorriso trêmulo nos lábios.

—Oh, pobre alma inocente... Onde eu estava com a cabeça quando tentei te ensinar do jeito mais difícil...? Há modos melhores de você aprender a lutar, mas não é morrendo! Haha... - Ela suspirou - Sinto muito por ter deixado aquela criatura nojenta te machucar tanto antes de intervir. Mas você deve entender o meu ponto, eu tinha esperança de que... Ah, bem, vamos deixar esse assunto para outra hora, você deve estar sentindo muita dor, não está? Oh, meu querido...

Já em seus primeiros passos, parei-a, exclamando.

—N-Não! Eu não posso deixar... o-o Flowey... P-Pegue Flowey para mim... por favor.

Ela bufou.

—Simplesmente não entendo por que se importar com ele. É só uma flor inútil, não consegue nem se defender sozinho. Hunf... mas tudo bem, se é você quem está pedindo, minha criança, então só desta vez...

Ela voltou e jogou Flowey em cima de mim, enquanto tudo o que pude fazer foi lhe passar a mão por cima protetoralmente. Toriel voltou a andar por aí e não prestei atenção ao redor, foquei-me apenas no meu amigo.

—V-Você está bem?

Ele apenas concordou num gesto, mas era óbvio de que estava mentindo, do jeito que seu rosto contorcia-se para exprimir a dor.

Relaxei o pescoço e fechei os olhos por um momento, cansado, não havia nada que eu pudesse fazer naquele instante, a não ser esperar. Deixei Toriel nos levar para onde quer que ela estivesse nos levando. E para a nossa surpresa, ela parou justo no final de um extenso corredor, ao lado de uma pilastra. Colocando-nos no chão e, com um sorriso inalterável, pôs ambas as mãos acima de nós com as palmas viradas para baixo.

—Um instante, queridos, agora que já saímos daquele lugar perigoso, vou curá-los rapidinho.

Não foi tão rápido, durou no mínimo uns dois minutos, e durante esse tempo, fique a encarando, incrédulo de que ela não tivesse nos curado já de início, por que demorara tanto? Esquecera-se de que tinha essa magia? É, é o mais provável, afinal, ela é uma mulher de idade um pouco avançada, talvez fosse normal esquecer de coisas assim no dia a dia.

Fiquei agradecido de que desta vez Toriel incluíra Flowey, ela deve já estar o aceitando como me aceitara.

De repente, parei pensamentos na metade do caminho pela presença de um novo objeto que Toriel colocara em meu colo. Era um celular. Um VELHO celular, coisa que só se vê hoje em dia em museus ou enterrados nos lixões.

—Tome, é para o caso de estar em apuros... Haha, brincadeirinha, você não vai ficar em apuros, é só esperar aqui sentadinho nesta sala, eu não demoro.

—E-Eh? Para onde você vai?

—Haha, não se preocupe, minha criança, eu não te abandonarei, só lembrei que preciso fazer algumas coisas antes de irmos para casa. Por que não fica aqui brincando com seu, er, amiguinho? Eu vou num pé e volto no outro! Hm, e não passe por aquela porta, do outro lado há vários monstros, vou alertá-los para que não mexam com você, mas você sabe como monstros são! Eles ou não te escutam ou são mentirosos! Fuh, dificulta a convivência. Bem... Até depois, filhote!

Ela foi embora com um grande sorriso. Eu e Flowey nos entreolhamos, claramente cada um de nós tendo uma ideia contrária ao do outro.

—Flowey, eu queria...

—Não! Você fica aqui! Oh, golly, pense bem! Quase morremos para apenas um Froggit, e ele é um dos monstros mais fracos daqui! Se acha que com os outros, uma horda inteira, será diferente... Então estamos mortos!

—Hm, é-é, mas... Mas eu queria tanto fazer alguns amigos... Não acha que seria mais fácil sair daqui com a ajuda deles? E podem nem ser tão ruins assim, só devem estar, uh, com problemas em casa? Eu posso oferecer aju-

—Somos nós que precisamos ser ajudados! Fique aqui, eu estou implorando...

—Er... Tudo bem... M-Mas e se só dermos uma espiadinha? Eles não vão nem nos notar! - Acrescentei ao ver o olhar sério dele.

—Uh, ok, mas só uma espiada...

—Haha! Obrigado, Flowey!

Engatinhei para perto da porta, ouvindo um murmúrio atrás de mim "Eu não sou sua mãe, sabe, você tem liberdade pra fazer o que quiser", mas ignorei isso, afinal, Flowey era o meu guia! Era óbvio que eu era obrigado e seguir seus conselhos. E, uh, acho que ele tinha razão sobre ficar ali... na outra sala tinha um monstro em cada canto. Alguns brigavam, outros lutavam pra valer, outros discutiam, outros eram humilhados... Eles não sabiam fazer algo agradável pelo menos uma vez?! Isso daqui parece mais um inferno!

Outra coisa me chamou mais a atenção: Era um check-point! Eu tinha que pegá-lo desta vez. Estava tudo indo bem, mas se por acaso eu morresse, teria que refazer todo esse longo caminho de novo. E a dor... Experienciar isso de novo seria o pior.

Voltei até onde estava Flowey e sentei ao seu lado, pensando no que fazer. Até que meu olhar caiu para o celular no chão e o peguei entusiasmado, talvez Toriel pudesse me dar alguma dica.

—Quem é?! - Uma voz do outro lado da linha falara grosseiramente - Oh. É você, minha criança? Aqui quem fala é a Toriel... Hoho, o que foi? Está já com saudades de mim? Que gracinha.

—Isso também, mas... Não tem nada pra fazer aqui, mãe. Será que eu posso explorar o resto das ruínas com Flowey?

—Haha, o que está dizendo...? É claro que sim! Ai, que orgulho, minha pequena criança finalmente tendo alguma coragem para enfrentar esses monstros fracos, hohoho... Faça o sangue deles jorrar, meu filho, até depois! Mamãe te ama!

Ela desligou... Certo, isso foi assustador, acho que vou ter que tentar de novo, ela nem me deu tempo pra falar.

—Olá, é a Toriel~!

—Mãe, como eu faço para fazer amizade com os monstros?

Vi Flowey dar um tapa com a folha na própria testa, não entendi o por que disso.

—V-Você quer... fazer "amizade" com eles? Mas por que? Não há nada o que ganhar com isso. Oh... Oh! Ohohoho, entendi! Que criança mais espirituosa! Esse é um excelente, mas difícil plano. Fazê-los confiar em alguém pela primeira vez em suas patéticas vidas e então esmagá-los feito lixo, isso é genial, minha criança, mas... Sinto muito em dizer, mas é impossível, principalmente para um humano. Ninguém tem amigos por aqui, por isso desista logo dessa ideia, já sabemos todos que amizade é algo inútil e criado para somente causar a dor da traição, e dor não é legal, não é mesmo? Tenha isso em mente da próxima vez que disser uma besteira dessas... Tchau, meu filho - Desligou.

—Ela parecia perturbada...

—É claro que sim - Flowey grunhiu - Foi falar de amizade com um monstro! É nisso que dá.

—Mas eu podia fazê-los mudar de ideia, amizade não é ruim...

Flowey suspirou.

—Desista, anjo, você nunca vai- - Interrompeu-se ao me ver levantar e ir em direção à porta - FRISK! O-O que vai fazer? Os monstros estão...!

Olhei para ele com um sorriso, ele engoliu em seco com a minha expressão determinada.

—Flowey, eu já me decidi... Eu farei amizade com todos os monstros do Subterrâneo!

O brilho nos meus olhos, a minha pose heroica, o meu sorriso gigante, a vibração do ar ao meu redor, tudo mostrava o quão importante foi aquela decisão. Sabe, eu amo muitas coisas, mas a principal delas, era ajudar outra pessoa a ser feliz, essa era a minha paixão. O medo que tive do subterrâneo e de Toriel haviam me feito esquecer disso por um tempo, mas agora eu quero voltar a ser eu mesmo, já chega de choro, a dor vale a pena se for para ajudar esses monstros que não sabem ser felizes.

Eles não conhecem algo tão importante quanto a amizade e vivem aqui trancados, então... Eu irei mostrá-los... Mostrá-los o verdadeiro significado da palavra MISERICÓRDIA.

—E-E-E.... Estamos mortos! MORTOS! - Flowey chorou

Apesar de sua declaração, não me abalei em minha convicção, já era tarde demais, eu já estava cheio de Determinação.


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Notas finais do capítulo

Sério, não era a minha intenção rimar a última frase, lol.

"Vamos voltar ao quebra-cabeça, da?" Aliás, aproveite e torne-se um com a mãe Rússia(HAHA, Hetalia alert).

Bem, sobre a Toriel, eu já estava cansada de ver fics com ela sendo grossa e meio estúpida, então a fiz um pouquinho mais amável e possuidora de um coração(ao menos com crianças), estou até escrevendo alguns rascunhos da evolução do psicológico dos personagens durante a vida deles, sendo o episódio mais mascante de Toriel, os seus dois filhos, um sendo seu orgulho e outro sua decepção, mas talvez eu conte essa história depois em algum capítulo extra. Hehe, sim, vou usar capítulos extras para escrever a história de cada um antes de Frisk aparecer ♥ Tanta angústia.

Por favor, comente para que eu saiba que direção dar esta fic, não só do enredo, como também do estilo de escrita. Estou com dúvida se está introspectivo demais ou de menos, entre outras coisas. E se encontrar algum erro, avise-me ♥ Só peço que comente, ok? Inspiro-me melhor com seu incentivo.

Até a próxima ♥

Ah. E aí? A capa está melhor ou...?



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