Beyond escrita por LanisDias


Capítulo 7
Brisa


Notas iniciais do capítulo

Pensando em excluir a fic. Postei para que pessoas lessem e comentassem, não pra ocupar espaço no site.
#Bolada



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Soltei o ar pela boca tentando manter o controle sobre minha raiva. Olhei para baixo e vi que minhas mãos estavam tremendo.

— Grrr! – Rosnei enquanto atravessava a sala. O plano era não perder o controle. Mas não estava dando muito certo.

Meu pai abaixou o jornal e me olhou intrigado por cima dos óculos.

— Algum problema, filha? – Ele se dirigiu a mim, quando eu estava subindo a escada.

— Não é nada!

Quando eu estava quase no topo ele murmurou algo como:

— Eu podia jurar que ela estava apaixonada...

Bati a porta com força. Aquilo já estava se tornando um hábito. Joguei-me na cama e tentei esvaziar minha mente. Logo me peguei elaborando estratégias de guerra contra...

Silenciei um grito no travesseiro. Ok Brisa, se controla. Eu não sabia o que era, talvez o excesso de arrogância ou as provocações. Mas eu queria acabar com ele. O garoto atrevido tinha reparado nos meus machucados. Quando eu mantinha aquilo escondido até do meu pai. Ele não tinha nada que sair xeretando a minha vida.

Ao menos, eu teria dois dias longe daquela criatura infeliz. No final de semana eu vou à Igreja, ficarei em casa assistindo séries loucamente, isso vai ser o necessário para me acalmar. Talvez na segunda, ele vai se cansar de me atormentar. Ou isso ou... Não. Desistir nunca. Eu passaria a... Bem... Me esconder também não. Então o que?

Se eu pedisse um conselho a uma amiga... Ah é! Eu não tenho amigas. Só resta... Meu pai. Se eu cheguei a esse estágio, esse realmente é o fundo do poço.

— Ah mãe – falei olhando para o teto. –, por que você não está aqui?

Empurrei a tristeza para debaixo do tapete e resolvi tomar um banho para aliviar o estresse. Fui até a cozinha e arrumei tudo rápido para o almoço, já que eu me atrasara devido ao acidente com o carro da patricinha que Adriano salvara.

Depois do almoço, entreguei um potinho do mousse que eu tinha feito para meu pai – assuntos difíceis só depois da sobremesa, conheço essa regra. - e reuni toda coragem e falta de noção e falei:

— Pai, preciso te fazer uma pergunta.

Ele levou a colher à boca e falou de boca cheia:

— Pode perguntar.

Mantive meus olhos na mesa.

— O que se deve fazer quando alguém indesejável resolve implicar com você pelo resto da vida?

Meu pai estreitou os olhos e disse:

— Bem, se esse alguém for um alguém qualquer, eu diria que você deveria ignorá-lo.

— É o que eu tenho feito – eu o interrompi.

— Mas se esse alguém for o menino que te leva e traz da escola, eu te aconselharia a desistir e se tornar amiga dele, porque nada do que você faça para mantê-lo distante vai fazê-lo parar.

— Pai! – reprovei-o e ele levantou as mãos em rendição.

Passado o choque inicial – eu iria procurar as câmeras instaladas na frente da casa. - formei outra dúvida em minha mente.

— E como o senhor tem tanta certeza disso? Que nenhuma tentativa de afastá-lo vai funcionar?

Após alguns segundos ele depositou o recipiente vazio sobre a mesa e passou as mãos pela barriga levemente arredondada, satisfeito pela refeição.

— Esse garoto me faz lembrar como eu era na adolescência.

— Você era roqueiro? – me assustei.

— Não, nada disso – ele riu, descontraído. – Eu falo com relação a sua mãe. Ela não foi nada fácil de conquistar... – ele deu um meio sorriso. – E cada vez que ela me repelia, eu sentia que ela só queria que eu não desistisse. Como se testasse até onde minha perseverança ia. E olhe que ela é enorme, não é a toa que você está aqui.

Eu ri vendo os olhos de meu pai brilhando enquanto lembrava de suas melhores recordações. Não dava pra imaginar os dois flertando. Pra mim, eles já haviam nascido casados.

— Esse garoto – ele retomou, de jeito debochado. -, assim como eu, parece não desistir de uma boa garota.

Senti meu sorriso de desfazendo enquanto meu pai ria descontroladamente.

— Que é que foi, Brisa? – meu pai caçoou. – Até parece que nunca viu um garoto apaixonado.

Retirei-me da cozinha com uma carranca e fui para meu quarto. Até meu pai resolvera tirar uma comigo. Eu e aquele esquisito juntos? Nunca! Ele nem tomava banho e sempre afastava os outros... Se bem que nesse último quesito nós tínhamos algo em comum. Mas estava fora de todas as possibilidades algum dia nós ficarmos juntos. Nem mesmo em uma galáxia bem, bem distante.

***

— Graça e paz, irmã Brisa – o ancião da Igreja me cumprimentou na entrada, um trabalho que ele fazia orgulhosamente todos os domingos por pelo menos quarenta anos.

Apertei sua mão em resposta. Perguntei sobre sua esposa, ele apontou o lugar onde ela sempre se sentava, no segundo banco à esquerda. Eu fazia aquilo desde que eu nasci. Não falar, claro. Vir à Igreja. Era talvez o meu programa favorito da semana. Não era o lugar, exatamente. Eram as pessoas, era a alegria de ver todos ali com um propósito apenas. Adorar Aquele que era – e é. - digno do louvor. Aquele que encheu a vida de todos nós com a luz, para que pudéssemos iluminar os outros lá fora.

Fiz a minha oração e após falar com alguns outros irmãos, fui até a frente para cantar junto com o grupo de louvor. Você pode até dizer que é típico de uma filha de pastor ser vocalista, para mim era diferente. Primeiro que eu fazia back-vocal – até por conta da minha timidez. Segundo, aquilo foi uma decisão minha, não dos meus pais. Desde criança, eu lembro de grudar na saia da minha mãe e cantar de olhos fechados, enquanto o coral de mulheres ressoava ao meu redor.

Após cantar algumas músicas, sentei-me. O pastor se dirigiu ao púlpito, abrindo a Bíblia sobre a estrutura de madeira.

— Graça e paz, irmãos – a congregação respondeu em coro. – Essa semana uma pessoa me procurou com uma dúvida. E nem adianta perguntar quem era que eu não vou dizer. Curiosidade é pecado, viu, irmão? – alguns riram da piada. Eu já sabia que era eu. Ele adorava me usar como exemplo para as pregações. E eu agradecia imensamente a Deus por ninguém perceber que ele estava falando de mim. – Então, a tal pessoa estava sendo importunada por uma outra, que não a deixava em paz. A pessoa ficou tão atribulada que veio me perguntar o que fazer para afastar quem a incomodava. Eu refleti sobre isso durante algum tempo. Repudiar seria o correto? Isso não me parecia muito bíblico. Então eu pedi direção ao Pai e encontrei este versículo:

 “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoe como o Senhor lhes perdoou”.

Colossenses 3:13

— Talvez – ele continuou. – a outra pessoa estivesse, de alguma forma, pedindo ajuda. Pedindo silenciosamente que o outro se importasse, que agisse como o bom samaritano que não olhava para aparências, se importava mais com a pessoa.

Ele continuou a pregação. Pensei no que ele me dissera antes. A parte de me tornar amiga dele. Aquela também não era a melhor solução de todas. Mas por enquanto, era isso o que eu iria fazer. Suportá-lo.


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Notas finais do capítulo

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