Beyond escrita por LanisDias


Capítulo 26
Adriano


Notas iniciais do capítulo

Espero que leiam e gostem. E me incentivem a continuar. Porque é difícil viver sem comentários #Drama

Deus abençoe a todos!
Cheiro!

P.S.: Atendi o pedido da serumaninha e este capítulo está grande-gigante.



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Respirei fundo me preparando para o que eu tinha que fazer. Seria rápido, como arrancar um band-aid. Breve. Repentino. Indolor. Mas deixaria uma ferida exposta. Às vezes é necessário colocar o dedo na chaga aberta e aprender o que a dor ensina.

Bati o punho três vezes na porta fechada.

Um convite para entrar soou do outro lado.

Girei a maçaneta de metal.

A garota me lançou um sorriso amarelo.

— Entre, Adriano – o pai disse – Estávamos esperando por você.

Troquei um olhar rápido com Brisa. Ela parecia mais abatida do que antes. Seu pai também aparentava estar muito preocupado. Sentei-me na poltrona ao lado da cama.

— Então, filha. O que você queria nos falar?

— Pai eu... – ela puxou o fôlego e fechou os olhos. – Preciso contar toda a verdade sobre o que aconteceu na noite em que mamãe morreu.

O Pastor Calebe ficou subitamente pálido.

— O que você está falando, Brisa?

— Eu fui a responsável – ela segurou um soluço. – Eu fui a responsável pelo acidente que matou a minha mãe.

A torrente de lágrimas despejou de seus olhos molhando cada um de nós com sua dor. E deixou-nos com uma pergunta estampada em nossos rostos: Mas como?

 ***

— Você tá bem? – perguntei a Brisa quando ela parou em um dos degraus para retomar o fôlego.

— Só preciso de um segundo.

Contei um segundo no meu relógio de pulso imaginário.

— Já podemos ir?

— Você não deixa de ser idiota, hein? – ela disse depois de um riso fraco.

Passei o braço por sua cintura mais uma vez para ajuda-la a não perder o equilíbrio. Abri a porta de seu quarto e a ajudei a deitar em sua cama.

— Ai, que saudades!

— Eu já estava estranhando a sua demora em admitir a minha falta.

— Do meu quarto, seu imbecil!

— Cuidado com as palavras mocinha. Eu posso fazê-las girarem pela escada junto com você.

Ela sorriu devagar e segurou minha mão.

— Também senti sua falta, Adriano – senti a minha vontade de ir embora se desfazendo. Mas era necessário. Eu não traria mais nenhum mal para a vida daquela menina – Menos quando você estava me atormentando naquele hospital.

— Queridinha, eu não sou obrigado a ficar aqui ouvindo seus desaforos, tá?

Ela gargalhou e depois fez uma careta.

— Tá tudo bem? – perguntei, preocupado.

— Tá, não precisa ficar me tratando como uma boneca de porcelana. Uma hora essas costelas hão de colar.

— Quer algum remédio para a dor?

— Não, acho que só quero descansar um pouco.

— Por acaso você está me expulsando de seus aposentos reais? – banquei de afeminado novamente.

— Me deixa em paz, garoto! – ela disse, deitando de lado.

Eu me abaixei e beijei sua testa.

— Melhore logo pra eu poder te ensinar alguns golpes para sua próxima luta.

Ao fechar a porta, vi que ela ainda estava sorrindo.

Desci as escadas e me encaminhei até a porta.

— Adriano - o pastor me chamou da cozinha.

— Senhor? – eu sou bastante educado quando quero.

— Eu acredito que a Brisa deixou um presentinho pra você em cima da mesa de centro.

Fui até a sala e encontrei uma Bíblia com a capa do exército. Ri comigo mesmo e abri-a.

“Adriano, espero que você não dê essa Bíblia para mais ninguém, pois é a última que vou comprar uma para sua pessoa.”, estava escrito na dedicatória. Folheei o livro até encontrar o texto em Salmos 126. Falava sobre a libertação dos cativos, da alegria por saber que Deus é poderoso para fazer todas as coisas e uma promessa no final.

“Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão. Aquele que sai chorando enquanto lança a semente, voltará com cantos de alegria, trazendo os seus feixes.”

Aquela era a passagem onde a foto de Brisa se encontrava no dia do acidente de sua mãe. Ela citou o livro e capítulo em sua confissão e eu não pude esquecer. Até porque não conseguia entender o porquê de mesmo depois de a mãe de Brisa ser tão maltratada ainda lutava pela vida da filha. Eu não entendia como uma menina tão rebelde tinha se transformado naquela adolescente tão envolvida com Cristo. E não compreendia como seu pai a havia perdoado sem questionamentos, quando meus próprios pais guardavam mágoas que se estendiam por uma vida inteira.

— O que você está lendo, rapaz? – o pastor Calebe sentou-se ao meu lado no sofá, tomando a Bíblia de minhas mãos.

— Ah, a passagem favorita de Sara – ele olhou com carinho para o livro. – Ela lia e relia esse texto por horas a fio.

— É um texto muito bonito, senhor.

— E para Sara ele tinha um valor mais especial ainda. Sara não podia ter filhos.

A Brisa é adotada? Sempre soube...

— Minha esposa chorava muito ao pensar que nunca teria um descendente. Nós fazíamos vários tratamentos e nada dava certo. Então, depois de oito anos de choro e clamor, Deus concedeu-lhe uma filha. A tão esperada Brisa. Ela nunca deixou de acreditar que Deus faria um milagre, e Ele fez mesmo.

Sorri com a alegria que emanava dos olhos daquele homem.

— Daí você percebe o tamanho do carinho que Sara tinha por Brisa. Eu me lembro de vários momentos em que ela segurava a filha recém-nascida e recitava versículos bíblicos e cantava para ela. Ela a amava muito, até seus últimos momentos de vida.

Uma sombra de tristeza tomou conta de seu rosto. Eu tinha uma pergunta na ponta na língua, mas não a soltaria por nada.

— Que cara é essa, rapaz? – ele perguntou.

— Nada – respondi rapidamente.

— Você sabe que pode falar sobre qualquer assunto comigo, não sabe?

Ele parecia estar sendo sincero quando afirmava aquilo.

— É que... Como o senhor conseguiu perdoar a Brisa?

O pastor fechou a Bíblia e olhou para as próprias mãos.

— Veja, Adriano. Na vida nós temos duas opções que podem nos permitir viver amargurados e presos ao passado e às mágoas dessa vida vã ou libertos e prontos para uma vida eterna ao lado de Deus – ele deu uma pausa para organizar seus pensamentos. – Um fator que faz total diferença é receber perdão quando não se merece ser perdoado. É quando você para de tentar esconder seu pecado ou justifica-lo. Você só se apoia no sacrifício que Jesus fez por você e decide não acreditar em mais nada, além da promessa de liberdade que Deus lhe ofereceu. Quando se é perdoado dessa maneira, é impossível não perdoar a quem vem a nós de coração arrependido.

Senti um arrepio percorrer o meu corpo com aquelas palavras.

— A prova desse arrependimento é a mudança de atitude. Esse é um milagre inacreditável. Perceba o milagre que Deus fez na vida de Brisa. Adriano, eu não sei o que você fez, mas depois que você conheceu minha filha ela acendeu como nunca antes tinha brilhado. Ela passou de uma pessoa triste e cabisbaixa para alguém viva e transbordante de vontade de fazer os outros vivificar-se também. No início eu não conseguia entender como um garoto repetente da escola, marrento e que às vezes cheirava mal...

— Qual é? – reclamei.

— Não me interrompa. – calei-me. – Não conseguia entender como um garoto como esse conseguia despertar o melhor da minha filha. Mas a cada dia que ela trazia pessoas novas para casa, ou falava com elas no celular sobre o amor de Deus, e eu via que a sua presença havia produzido aquela mudança nela. Então eu parei de me perguntar. Porque se vocês dois formaram essa dupla meio esquisita que acaba salvando as vidas das pessoas, então talvez tenha sido plano de Deus essa união. E quem sou eu para questionar as coisas que Deus faz?

Ninguém. Não havia uma resposta mais correta que esta.

***

Depois de lavar os pratos do jantar (Sim, eu mudei os meus hábitos), fui até o quarto de Brisa desejar-lhe boa noite.

Abri e porta e a vi deitada com um livro a ponto de cair no rosto.

— Como vai meu passarinho? – brinquei.

— Passarinho?

— É. Porque quando cai não se machuca, se quebra.

— Engraçadinho – ela ironizou, colocando o livro no criado mudo. – Senta.

Brisa ofereceu o lado da cama. Sentei-me.

— Que cara é essa?

Ah... Ela tinha percebido. Não estou me saindo bem em disfarçar hoje.

— Nada, só pensando numas coisas – ajeitei uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha.

— Adriano, eu não sei o que fizeram com você, mas você tem agido muito estranho.

— Estranho como?

— Carinhoso. Implicante, mas ainda assim, mudado.

Pensei um pouco, segurando sua orelha. Ela deu um tapa em minha mão, afastando-a.

— Ai! – a menina ainda tinha força. – Bruta!

Ela riu.

— Fala logo o que aconteceu.

Segurei seus dedos e entrelacei-os nos meus.

— Você não sente raiva? Por Deus... Ter tirado sua mãe de você?

— Não – ela respondeu depois de ponderar um pouco. – Há um versículo na Bíblia que diz que Deus não tem planos de nos causar dano. Ele tem o propósito de nos fazer prosperar, dando-nos esperança e futuro. Eu creio que Deus não faz algo sem um propósito. E que Ele permite que certas coisas aconteçam com um objetivo que nem imaginamos. Eu acredito que Ele estava no controle da vida da minha mãe, e o que quer que tenha acontecido com ela, passou antes pela permissão dele, e eu não tenho poder para contestar o querer de Deus.

Brinquei mais um pouco com seus dedos. Ela não reclamou ou me afastou. Quase perde-la tinha provocado essa vontade de ficar perto. E eu não estava a fim de reprimi-la. Não agora.

— Brisa.

Seu nome pulou dos meus lábios.

— Oi – ela me olhou nos olhos. Desviei.

— Você acha que ficaria melhor se eu te deixasse em paz?

— De onde você tirou isso, menino?

Vaguei meus olhos pelo quarto evitando o seu olhar questionador.

— Há uma semana, antes de você ser sequestrada e de todo esse drama, você me disse que queria que eu me afastasse. Você continua querendo isso?  - encarei-a. – Porque eu estou disposto a ir embora se você achar que é o melhor pra você.

“Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvi­rei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês', declara o Senhor, 'e os trarei de volta do cativeiro.”

Jeremias 29. 11-14

***

Respirei fundo me preparando para o que eu tinha que fazer. Seria rápido, como arrancar um band-aid. Breve. Repentino. Dolorido. Deixaria uma ferida aberta, e não sei se um dia seria possível fechá-la.

Abri a porta que emitiu um rangido. Ouvi risadas vindas de todos os lados do casarão.

“Você voltou! Sabíamos que voltaria, que não conseguiria se manter muito tempo distante de nós. Você é nosso e sempre será!”

— Chega de palhaçada. Eu não vim aqui por vocês.

Os grasnidos vinham de dentro e de fora da minha cabeça. Arrepiava-me os pelos. Era preciso fazer aquilo.

— Eu sei que já estou condenado e que não há salvação para mim.

“Isso mesmo! Vamos te levar para o lugar de onde viemos. Você é nosso.”

— Eu sei disso tudo. Sei que esse vai ser o fim da minha vida. E por isso, eu peço... Eu ordeno que vocês fiquem longe de Brisa e de mim.

“A garota não. Queremos você. Você é nosso!”

— Sim, eu sou de vocês. E quero que me deixem em paz, até que chegue a hora de me levar aonde vocês bem desejarem.

“Já estariam no fim os meus poucos dias? Afasta-te de mim, para que eu tenha um instante de alegria, antes que eu vá para o lugar do qual não há retorno, para a terra de sombras e densas trevas, para a terra tenebrosa como a noite, terra de trevas e de caos, onde até mesmo a luz é trevas".

Jó10.20-22


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Notas finais do capítulo

Espero que comentem. Please!!! Eu implooooro!

Beijão!



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