Beyond escrita por LanisDias


Capítulo 18
Adriano


Notas iniciais do capítulo

Vou postar hoje porque tenho um coração muito bom. E provavelmente só poderei postar na próxima quarta. Tem surpresa o próximo capítulo. Bjs!



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Forcei a janela da frente para tentar entrar na casa. A menina revoltada trancou a porta. Não bastou me deixar com frio a noite toda. Dei a volta na casa e encontrei a janela da cozinha entreaberta. O problema é que ela estava em cima da pia. Dei um impulso e joguei meu corpo para dentro. Naquele momento agradeci por Brisa ter um transtorno por limpeza e a pia estar sem louça suja, senão passar por ali seria bem mais difícil.

Subi as escadas na ponta dos pés. Ainda não tinha amanhecido, então supus que a garota estava dormindo. Abri a porta devagar. Entrei no quarto não me atrevendo a respirar. O quarto era pintado de um azul bem claro. Tinha prateleiras brancas com alguns livros. Um violão no canto do quarto. Passei o dedo por ele e senti a poeira. Como pode alguém abandonar um objeto tão precioso?

Dei a volta na cama e observei Brisa dormindo. Seu peito subia e descia lentamente. Ela tinha uma expressão calma. Como eu queria dormir assim... Saí sem fazer barulho e fechei a porta.

Me direcionei à porta ao lado da sua e encontrei um quarto totalmente organizado. A cama de casal forrada. Um quadro na parede, em cima da cabeceira. Era o Pastor Calebe, com cabelos menos grisalhos abraçando duas garotas. Uma era Brisa. Ela devia ter sete ou oito anos, com os cabelos presos em longas tranças, e sorria tanto que dava para perceber que lhe faltava um dente lá atrás. A outra era uma mulher bonita de olhos verdes. A mãe dela. O que teria acontecido a ela? E por que Brisa nunca tocava no assunto?

Senti que estava invadindo um território proibido e deixei o quarto. Bem... Eram cinco e meia da manhã de acordo com o relógio da cabeceira da cama do pai de Brisa. Resolvi tomar um banho quente, já que é um raro privilégio que eu tenho. Me enxuguei e vesti a mesma roupa da farda que eu usava a semana inteira. Digamos que eu estava com um cheiro mais agradável.

Me joguei no sofá, zapeando os canais no mudo. Fiquei alguns minutos assistindo a um desenho animado e senti fome. Resolvi acordar Brisa para ela fazer algo para nós comermos. O notebook estava ligado tocando uma música em inglês que ela acompanhava de dentro do banheiro. Ela cantava bem! Quantos talentos essa garota esconde? Me joguei em sua cama desarrumada, esperando para fazer-lhe uma surpresa.

Ouvi o chuveiro sendo desligado. Depois de alguns segundos ela abriu a porta ainda cantarolando. O corpo coberto por apenas uma toalha. Ela deu as costas para mim sem ainda perceber minha presença e olhou-se no espelho.

— Bom dia, Brisa do meu coração.

Ela gritou e virou-se em direção à minha voz segurando a toalha mais perto do corpo. Gargalhei tanto com sua expressão aterrorizada que me faltou o ar.

— Adriano, seu idiota!!! Sai já do meu quarto!

Ela lançava almofadas que estavam no chão em mim.

— Cuidado pra toalha não cair, princesa.

— Grrrr! - emitiu um som grotesco, tão assustador que eu tremi. - Eu vou te...

— Olha a ameaça... - eu interrompi, saindo do quarto. - Eu estou com fome e ordeno que vossa majestade real faça o café da manhã.

Ela fechou a porta como resposta.

* * *

Abri a geladeira e encontrei um pote de requeijão cremoso. Nojento.

— Você ainda compra essa coisa? – tapei o nariz, respirando somente pela boca.

Brisa suspirou, irritada.

— Todo mundo gosta de requeijão cremoso, Adriano.

— Então todo mundo tem algum problema no nariz. Essa coisa fede! Eu falei pra você jogar isso fora!

— Você entra na minha casa, come da minha comida, toma banho no meu chuveiro, com a minha água e agora quer jogar meu pote de requeijão fora?

Encarei-a bem e percebi que ela estava ficando corada.

— É exatamente isso o que eu quero.

— Vai se catar! - Brisa puxou o pote das minhas mãos e me deu as costas.

— E o que eu vou comer? – reclamei. – Eu com fome!

— Coma pão com manteiga! Isso aqui não é restaurante e você não está pagando nada pra exigir alguma coisa.

— Pão com manteiga?

— Algum problema? – ela ergueu uma sobrancelha como sempre fazia quando queria ser desafiada.

— Na verdade não – eu disse pegando o pacote de pão no armário. – Na realidade, é um alívio para mim ficar longe da sua comida.

— Ingrato – ela protestou. – Meu pai ama a minha comida.

— Isso porque ele é bonzinho demais pra falar a verdade.

— Mais uma gracinha e você está fora daqui – ela disse apontando para a saída.

Ergui as mãos em sinal de rendição. Ela sabia como me convencer a ficar quieto.

* * *

Estávamos no pátio da escola. Brisa e Gigabyte discutiam algum assunto bobo. Observei as jogadoras de vôlei que me encaravam. Mostrei a língua a elas. Asquerosas.

Fernanda estava sentada na mesa dos populares. O namorado estava com o braço sobre seus ombros e ela estava pálida. Devia estar sem comer, como se fosse novidade para ela. Mas há quanto tempo? De qualquer forma, eu prometi uma coisa: Não me importar mais com ela.

— O problema é que você não percebe que está na escuridão até conhecer a luz. Por isso não devemos julgar as pessoas por elas não aceitarem a verdade imediatamente – Brisa e seus argumentos certeiros acabaram com a discussão.

— Tem lógica – Giga se convenceu. - O que você acha, Adriano?

Pensei na garota sentada na mesa distante, com meu manual de sobrevivência na mochila. Provavelmente intocado. O livro que poderia mudar sua história.

— Há quem queira sobreviver sem vida.

— Nossa, que profundo, Adriano – Giga perturbou. - Você poderia escrever um livro de autoajuda desse jeito!

Ignorei a afronta e mudei de assunto.

— O Pastor Calebe vai chegar hoje ou eu vou precisar dormir na sua casa novamente?

Brisa corou tanto que eu pensei que ela fosse explodir.

— Cara... Eu não sabia que vocês estavam tão avançados. Se precisarem eu apresento a vocês um amigo meu que faz casamentos online.

— Não será necessário – Brisa levantou-se abruptamente e saiu do refeitório.

— Ei, volta, Brisa! Desculpa. - corri atrás dela que já estava dobrando a esquina do banheiro.

Ela parou de repente.

— E aqui vem o casal D. Desviada e Descrente – A mais alta e aparentemente a líder das jogadoras falava pelo grupo que caiu na gargalhada depois daquilo.

— É melhor você retirar o que disse – ameacei.

— Vamos embora, Adriano – Brisa puxou meu braço toda encolhida. Elas abriram passagem e nós atravessamos.

— Não tem nem vergonha na cara essa filha do pastor.

Brisa ficou tensa ao meu lado. Foi a minha vez de segurá-la.

— Me larga, Adriano!

— E o que você vai fazer, anãzinha? - a grandona provocou. - Vai me bater? Só vai dar mais orgulho a sua mãe. Ah, é! - ela fingiu surpresa. - Não dá pra sentir orgulho quando se está morta.

O ar pesou no ambiente. Os olhos de Brisa se encheram de lágrimas. Soltei-a porque agora aquelas meninas mereciam tomar uma surra.

— Nunca mais – sua voz estava embargada. - fale da minha mãe.

— Ou você vai fazer o que? - todas riram com desprezo. - Vou aguardar a sua vingança, santinha do pau oco.

Elas dobraram o corredor ainda rindo. Tentei abraçar Brisa, mas ela me empurrou.

— Ei, não precisa ser durona o tempo todo. Aquelas garotas pegaram pesado – segui-a pelo corredor. E a encontrei sorrindo, mesmo com as lágrimas escorrendo pelas bochechas.

— Uou! - me espantei. - E agora, porque você está rindo?

— Eu estou com pena delas. Porque eu não vou me vingar. Mas elas desconhecem o tamanho do Deus que cuida de mim.

Ela falou aquilo com tanta convicção que senti um arrepio como uma afirmação do que ela falara. Brisa dobrou o corredor e foi para o outro lado da escola.

— Aonde você está indo?

— Eu preciso ficar sozinha, Adriano. Só um pouco.

— E se elas forem atrás de você?

— Eu sei me cuidar.

Lembrei dos hematomas em seus braços há algumas semanas atrás. Não havia possibilidade daquela garota lutar contra cinco com o dobro do seu tamanho, mas decidi dar um espaço a ela.

Aquilo não era justo. Aquelas garotas bateram Brisa e agora ela era alvo da crueldade delas. E ninguém fazia nada sobre. Ninguém fazia aquilo parar. As jogadoras merecem um castigo. Me direcionei à sala do diretor. Alguém precisa cuidar de Brisa. E esse alguém sou eu.

“Quem acusará aqueles que Deus escolheu? Ninguém! Porque o próprio Deus declara que eles não são culpados.”

Romanos 8.33


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Notas finais do capítulo

Se houverem comentários hoje eu posto o novo capítulo. Cheirooo! Fiquem com Deus!



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