Beyond escrita por LanisDias


Capítulo 12
Adriano


Notas iniciais do capítulo

Personagem novo! Boa leitura. Espero que gostem.



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— Bom dia, princesinha!

— Nem vem. - eu estava de bom humor como sempre, mas não podia falar o mesmo sobre aquela garota.

— Você está com umas olheiras... Não dormiu muito bem?

Acho que ela nem notou a minha ironia. Apesar disso me lançou um olhar caloroso. Ou seria incinerante? Eu não nego que custei a dormir. Tanto as coisas que ela me dissera quanto a sua figura giravam na minha mente o tempo todo. Será que alguém teria me amado a ponto de morrer por mim? Era meia bizarra toda aquela ideia.

— Você vai ficar me seguindo o dia todo?

— Isso é uma pergunta retórica? Está querendo mudar de assunto? Ou será que a mocinha está no meio de uma crise de TPM?

— Não, não é – ela endureceu mais a expressão. Uma coisa quase impossível.

— Achei que a resposta fosse óbvia... É claro que vou.

— Algum motivo específico ou é só falta do que fazer mesmo? – aquela voz ácida me levava ao delírio.

— Creio que pura e simples falta do que fazer...

— Argh. – ela emitiu um som como se estivesse com nojo.

— Olhe pelo lado bom, você acabou de ganhar um guarda-costas!

— Ou um stalker... Ou um psicopata...

— Magoei. Não te sigo mais.

— Sério?! – ela pareceu um pouco mais feliz.

— Não – eu ri - Vou te seguir pro resto da sua vida.

***

— Imagine que o mundo é como um campo de batalha – Brisa falou na maior animação enquanto estávamos sentados nas arquibancadas do ginásio de esporte, onde ninguém ficava durante o intervalo.

— Tipo, com espada e tudo mais? – eu novamente pedi explicações sobre aquela coisa religiosa para fazê-la ficar de bom humor e ter algum momento agradável ao seu lado, já que era algo raro.

— Não, batalha espiritual. E nossas espadas são nossas Bíblias.

— Droga, isso quer dizer que eu estou desarmado... - ela fez uma careta.

Analisei o livro de Brisa. Tinha umas mil páginas. É, se lançado com força, deveria causar um estrago na cabeça de alguém.

— Essa batalha está dividida entre dois times. Reino da Luz versus Domínio das trevas. As Luzes moram em fortalezas em várias partes do mundo e se fortalecem com a Palavra, portanto, são protegidos por Deus. E as Trevas ocupam a maior parte do espaço, se fortalecem com a maldade e são controladas pelas forças malignas.

— Qual é o objetivo do jogo?

— Para as Luzes, salvar as pessoas das trevas e se manterem firmes até a batalha final. Para as Trevas, matar todo mundo.

— Quem vence?

— Luzes, claro. E você também está inserido nesse campo de batalha. De que lado você vai ficar?

Olhei para meus pés. De que lado? Não queria discutir isso agora.

Brisa me olhou para longe como se estivesse sonhando bem alto.

— Sabe do que o mundo precisa? – ela fez uma pausa. – Precisa de paz. A paz que vem da Luz.

— A luz me causa cegueira às vezes – brinquei.

— Mas, e se todas as luzes se apagarem, você continua enxergando?

É, ela me pegou.

— As pessoas precisam de alguém para segurar suas mãos e guiá-los, mesmo em meio à escuridão.

— Você simplesmente acabou de encarnar o Caio Fernando Abreu.

— Não, Adriano, pense! Há tanta coisa para ser feita. Tantas pessoas precisando de ajuda... Presos necessitam de liberdade. Portas precisam ser abertas... – Ela sorriu, e nada podia apagar aquele brilho em seus olhos – Luzes precisam ser acesas, mesmo que sejam apenas para afastarem o medo do escuro. É preciso propor paz para um mundo em guerra.

Eu pensei por um instante e imitei a voz de um soldado:

— O que nós precisamos é de um exército, Capitã!

Ela riu com aquilo. Continuamos a discutir sobre as necessidades do mundo e como ela queria se tornar uma super-heroína e salvar a todos, quando ouvimos o som de risadas e gemidos baixos. Entreolhamo-nos, aquele som só poderia significar uma coisa.

Brisa, a defensora dos fracos e oprimidos, correu na minha frente sem ao menos parar quando tentei segurá-la. Ela virou o corredor e logo pude ouvi-la gritando:

— Ei vocês! Deixem o garoto em paz!

Caminhei rapidamente na direção que Brisa fora. Se era mais de um valentão a coisa podia encrencar.

— O que foi, Princesinha? Tá defendendo esse banha-de-porco?

Reconheci a voz. Ricardo do 3º ano. Estudara com ele uma vez e pelo visto ele continuava sendo um cretino. Espera um pouco. Ninguém chama a Brisa de princesinha além de mim!

— Estou defendendo ele sim. Por acaso acha que três contra um é justo? – ela gritou.

Três. A trupe dele ainda era a mesma. Lembrei-me dos dois brutamontes que agiam como guarda-costas do filhinho de papai.

— Quem está falando de justiça, princesa? Isso é apenas diversão – Ricardo disse em tom de zombaria.

Saí do meu esconderijo nesse instante. Eu estava certo, era Ricardo. Ele tinha crescido um pouco e cortado o cabelo, mas continuava ridículo. Os brutamontes, com a mesma carranca de sempre, seguravam um garoto barrigudo de óculos quadrados.

— Deixem o garoto – grunhi.

O ambiente ficou tenso por alguns instantes. É, eu sei causar essa impressão.

— Adriano – Ricardo estava claramente nervoso. – Não sabia que você ainda estudava.

— Surpreso?

Ele recuperou a confiança.

— Na verdade, sim. Pensei que já estaria morando nas ruas à essa altura...

Bem, ele não estava totalmente errado...

— Você adquiriu algum problema de audição, Ricardo? - perguntei, sério.

— Não, por quê?

— Eu mandei você deixar o garoto - fechei os punhos ameaçadoramente.

— Você pensa mesmo que é capaz de passar por cima de nós três? - ele apontou para os garotos que seguravam o gordinho que tremia.

Soltei uma gargalhada bem irônica.

— Você não sabe com quem você está se metendo.

Vi uma sombra de hesitação pairar sobre o rosto dele. Até Brisa virou-se para mim, me encarando como se dissesse “De onde você tirou essa voz”.

— Tudo bem, Adriano. Não vamos machucar você na frente da princesinha aqui – aquilo me irritou ainda mais. - Mas, lembre-se. Você não estará sempre acompanhado.

— Ótimo. Podem vir atrás de mim quando desejarem ou forem capazes de me enfrentar.

Um deles jogou o garoto trêmulo no chão e saíram logo em seguida.

— Você está bem? - Brisa ajoelhou-se ao seu lado.

— Mais outro ataque desse e eu não vou conseguir segurar meus intestinos.

Nós rimos meio encabulados pela situação que acabáramos de enfrentar. Eu estendi a mão e ajudei-o a levantar.

— Valeu cara, eu não sei o que seria de mim se vocês não estivessem aqui. Na verdade eu sei. Eu viraria um pote de nutella bem cremoso.

— Chocolate ao leite é escuro, cara.

— Eu iria ser uma edição limitada de nutella com chocolate branco.

— Eu sou Brisa – a menina do tempo se apresentou – O valentão aí é Adriano. E você?

— Meu nome é Gigabyte. Mas pode me chamar de Giga.

— O que você fez para ganhar a simpatia daqueles seus colegas?

— É só pelo fato de eu ser mais inteligente do que eles e provavelmente seu chefe no futuro. Vou lhes dar um cargo bem humilhante.

O gordinho tinha estampada na camisa a palma de uma mão com alguns dedos separados.

— O significa essa mão na sua camiseta?

— Saudação Vulcano do Star Trek.

Droga, eu tinha salvado a vida de um nerd.


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Notas finais do capítulo

Continuação com comentários. Sácoméné?