Os dias transcorriam... Ging, Fenrir e sua alcateia-família se esforçavam para conseguir caçar e sobreviver, obter comida era prioridade...

Numa certa tarde ensolarada caçavam uma corça pelas estepes, verdejantes e úmidas, num local próximo ao rio... O mesmo aonde aquela loba fora vista pela última vez... O rapaz acompanhava seus familiares lobos com sua lança...

Mas infelizmente, ao menos para eles, ao se enfiar no rio o animal em seu desespero acuado por salvar a própria vida, acabou conseguindo escapar...

— Não se preocupe Ging, você fez o melhor que podia! Aconteça o que acontecer ficaremos juntos até a morte! – Fenrir acariciava os pelos da cabeça de seu irmão lobo, e tentava animá-lo e a si mesmo...

Eram tempos difíceis, cada um tentando sobreviver como podia, cada espécie tentando defender sua própria existência! Eram dias em que o sol tendera a aparecer, entretanto isto parecia não estar sendo de tão grande valia...

Apesar da época, a escassez do fim do inverno ainda se fazia presente e Fenrir, Ging e os outros de sua alcateia ainda não conseguiam encontrar comida com facilidade naqueles dias...

Passavam por fome e privações... Contudo alguns dias se passaram até que estranharam o fato de encontrarem outra humana, desta vez esta dormia perto da cachoeira...

...e pareceu sequer acordar quando Ging avançou em sua jugular e toda alcateia faminta banqueteou seu corpo, incluindo Fenrir, tal qual a outra vez...

Por mais duas vezes com o passar das noites os dois amigos, o lobo Ging e o humano lupino encontravam aquela loba nas madrugadas... Seu cheiro era inconfundível, e àquela altura também seu profundo olhar...

Os dias corriam e a escassez persistiu... Fenrir e Ging tentavam consolar sua família como podiam, mas a alcateia sofria... então já pela terceira vez em menos de um mês uma humana descuidada apareceu no pior momento de crise...

...e a alcateia pôde se alimentar com fartura novamente... contudo pouco antes de matá-lá por um ínfimo instante Ging pareceu hesitante e Fenrir parecia... reconhecê-lá...?

Mas como tal impressão fora apenas momentânea, por segundos, e a sobrevivência da família era de veras mais importante, eles a dilaceraram e se alimentaram dela com vontade matando sua fome e de toda matilha mais uma vez...

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Então naquela mesma noite ela dormia tranquilamente... Era uma noite sem luar e ela adormecera sob um Carvalho lembrando-se mais uma vez de seu filhote perdido...

Então de repente algo a acordava, e seu coração se alegrou e mal podia acreditar... Pois um focinho gelado a despertava... sim, era ele, seu querido Grayby!

Seu filho querido estava ali... Seu cheirinho era inconfundível e eles logo lamberam um ao outro com carinho... Aqueles pelinhos cinzentos e volumosos... O corpinho tão macio, felpudo... E quente! Tão diferente da última vez que o vira...

Cheiraram-se e se puseram a brincar entre as árvores como se ele fosse novamente um filhote... Até que quando ela se deu conta eles estavam num lindo jardim ensolarado... como nunca vira antes em Asgard...

Ela então o abraçou com força e com todo seu amor... Sentindo o pequeno coração bater junto ao dela, o calor sob os pelos... Então abriu os olhos e viu-se ali, embaixo daquele Carvalho, despertando de um sonho bom...

Acabara de reencontrar seu filhote querido no mundo dos sonhos... O que ela sabia estar longe de deixar de ser real... Ainda que não fosse concreto! Havia visitado o mundo espiritual... Tal como costumava ser do seu feitio anteriormente, pois sabia bem que fazia parte dele...

Na verdade a visita de seu filho lupino naquela noite lhe deixava claro que não o havia perdido totalmente e também a despertara para sua verdadeira natureza: não era humana e nem loba... ou talvez ambas ao mesmo tempo! Pois era de fato uma Deusa! E como tal deveria agir...

Portanto não precisava mais se deixar dilacerar para sentir no corpo o que sentia no coração pela perda de Grayby... seu peito estava apertado agora, mas era diferente... estava naquele momento chorosa e maravilhada...

...seu filhote a visitara depois de tanto chamá-lo! E agora já era hora de entender que ele estava bem e que nunca a deixaria por completo... portanto lamentos e dor não eram mais necessários...

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Fenrir e Ging prosseguiram sua vida selvagem e sua sobrevivência nas terras geladas de Asgard com sua alcatéia... O rapaz um dia se tornaria um Guerreiro Deus à serviço de uma mulher que seu irmão lobo e ele reconheceriam como uma Deusa, a representante do próprio Odin na terra...

...Este dia não estava tão próximo, mas também não tão distante... Contudo antes que tal momento chegasse toda a matilha dormia nas ruínas da antiga mansão da família Fenrir... Agora, numa noite mais fria, haviam retornado pra lá... Haviam deixado de pernoitar lá quando a estação havia dado um breve sinal de mudança....

...Entretanto aquela noite se mostrava terrivelmente gélida, e em meio a uma nevasca a alcatéia tentava se aquecer...Foi quando Fenrir acordou com o rosnado de Ging, e pulou do chão onde dormiam lado a lado, ficando em guarda em questão de segundos...Algo ou alguém invadira seu território!

... Viam a silhueta de uma mulher, quando repentinamente todos os lobos se prostraram curvando-se com a cabeça entre as patas... Pois o cosmo da mulher os fizera não reconhecê-la como uma mera humana, e Fenrir que ainda continuava de pé, assustou-se pois jurava já ter visto aquela mulher....

...E não poderia compreender como ela aparecia agora ali, viva e com aquele cosmo, senão aceitando que de fato não era uma humana! Com os olhos arregalados e sem entender ele contemplava a figura feminina e via que era exatamente a mesma da qual a alcatéia havia se alimentado dias antes!

Ela sorriu e diante de seus olhos estupefatos, o cosmo dela se intensificou e ela se transformou na loba cinzenta... Aquela mesma a quem Fenrir e Ging haviam encontrado uma ultima vez naquele dia no rio.... E outras vezes durante as noites em que toda a matilha pernoitava na floresta... A mesma que antes uivava em um profundo lamento melancólico...

..Seria aquilo um sonho? Não! Com seu próprio cosmo, manifesto ali naquele momento, o rapaz sentia que aquilo era real... E caíra de joelhos diante da bela loba... Lembrando-se das últimas semanas como ela aparecera por mais de uma vez na forma humana para alimenta-los consigo mesma quando eles mais necessitavam... E agora sabia que vez ou outra lhes mostrava sua verdadeira forma lupina... 

...O rapaz selvagem e seu inseparável irmão de quatro patas agora sabiam que estavam sendo protegidos e abençoados por uma Deusa da Natureza, não tao cultuada quanto Odin e respeitada quanto sua representante, mas tão selvagem e lupina quanto eles... Trebaruna era seu nome...

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