Fenrir não sabia se aquilo era só com ele, mas se sentia um tanto estranho depois daquela refeição... Seria... Culpa? Não... Definitivamente não! "Humanos não prestam! São traidores mesquinhos e falsos! Não merecem piedade! Só posso confiar nestes lobos!" - Era a sua filosofia de vida...

O rapaz guardava imenso rancor de sua espécie de origem, portanto matar uma pessoa era para ele ainda mais insignificante e natural que matar qualquer outro animal...

...Na verdade tal feito possuía até um gosto especial... De vingança... Vingança contra qualquer criatura humana! Retalhá-las acompanhado por sua família lupina era como vingar-se no presente daqueles que no passado o haviam traído na morte de seus pais e o abandonado posteriormente...

...Quando era ainda uma criança indefesa, tendo sido cuidado por Ging e sua alcateia e aprendendo a ter respeito e confiança somente por eles. Era inclusive conhecido na região como "lobo devorador de homens", temido por uns e considerado desonrado por outros, pois tornara-se um selvagem apesar da linhagem nobre de seus pais...

Portanto, aquela humana não seria nem a primeira e nem a última pessoa cuja carne Fenrir degustaria com gosto e apetite... Mas certamente a única até então a fazê-lo se sentir diferente... Sentia-se mais feliz e disposto... Como quem recebe uma dádiva ou coisa parecida...

Até mesmo o frio não parecia incomodar, seu coração lupino estava aquecido... Como não se recordava de já ter sentido em outro momento... E ele ainda experimentava tal sensação quando deixou para trás os restos da mulher, acompanhado por os outros lobos... E seguiram seu caminho...

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Metade do dia já se passava... Ging e Fenrir corriam juntos, brincando entre árvores apesar da fina camada de neve que ainda se fazia...

Eles sempre faziam muito isso... Um hábito, para talvez aquecer o frio em outros dias... Mas naquela tarde Fenrir e Ging corriam alegres... Não demorou para que os filhotes da alcateia tentassem se juntar à eles... Sendo logo deixados para trás... Juntamente com os outros lobos adultos do mesmo grupo...

De repente Ging parava de correr abruptamente, e começava a olhar em volta... Sua audição era a capaz de captar até mesmo o ruído das folhas caindo das árvores... Mas naquele momento não era apenas isto o que ele percebia...

—O que houve, Ging? Algum inimigo?

Ging começava a rosnar para uma das árvores, então Fenrir olhava um tanto confuso enquanto via sair de trás da mesma uma certa loba cinzenta... A mesma da noite passada...

Ela se aproximava deles e novamente ele sentia as pernas tremerem levemente diante dela... Mas que diabos seria aquilo afinal? Ele sentia... Aquele mesmo cosmo!

Então mais uma vez ela rosnou de volta para Ging, mas desta vez não recuou... O cheirou e ele logo lhe retribuiu da mesma forma... Ambos ficaram assim alguns instantes... Em instantes o lobo curvou-se para ela como da última vez...

Então ela se aproximou do rapaz... Fenrir olhava com desconfiança... Por que diabos Ging demonstrava submissão à ela...? E porque as pernas dele mesmo não paravam de tremer...?

Contudo, se seu irmão lupino a respeitava tanto ele também lhe deveria respeito... Logo caiu de joelhos... A loba então cheirou sua face e logo passou a cheirar-lhe o pescoço, e logo o corpo inteiro... Mas não parecia hostil...

...Enquanto uma certa paralisia o tomava, sem que ele fosse capaz de impedir... Sentia vontade de tocá-la, mas não conseguia... Contudo não era medo, era outra coisa...

Sentia um calafrio enquanto o focinho dela passeava por sua pele... O coração acelerando... De onde ela viera?! ...E novamente o nariz dela passeava por seu pescoço, e ele temeu que ela lhe mordesse a jugular...

Ele não conseguia reagir e estranhava muito a si mesmo por isto, e estranhou mais ainda quando fechou os olhos e continuou apenas sentindo o cheiro da loba por alguns minutos, sem saber se ela o mataria ou não... Por que estava se permitindo àquilo?

...E qual não foi a surpresa para o rapaz lupino quando repentinamente não mais sentia o odor daquela fêmea, e ao abrir os olhos ela havia desaparecido sem deixar rastro... Estando apenas Ging novamente ao seu lado...

—Você também a viu e a cheirou, não foi, Ging...?

Perguntava ele a seu irmão lobo, que sentava diante dele e recostava a cabeça em seu braço, pois Fenrir ainda se encontrava de joelhos... Em seguida ambos correram novamente de volta e se juntaram à alcateia quilômetros depois...

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