Fly Away escrita por Yokichan


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Minha primeira oneshot sobre o casal Neji & Tenten. Espero que gostem e deixem reviews.

Os trechos em itálico são da música Fly Away From Here, do Aerosmith. Se quiserem ouvir enquanto lêem a one, aqui vai o link: http://www.youtube.com/watch?v=QJX0hjOo_SM



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O primeiro sol da manhã nascia em Konoha, dourando os telhados disformes e fazendo fugir as sombras da noite que para alguns havia representado a soturna e dolorosa natureza humana. Por que os homens machucavam mesmo quando amavam? Por que as mulheres precisavam daquela dor para assegurar o que sentiam? E principalmente, após os soluços intermináveis da noite insone, por que Tenten ainda permanecia diante da janela de seu quarto, esperando por algo que não aconteceria?

         Ela havia desistido de chorar lágrimas preciosas por um homem que não almejava seu coração, havia abandonado o desejo corrosivo de ter o amor daquele que aquecia sua cama quando a lua caía, mas nunca estava ali quando a manhã nascia. Neji sempre fora aquele homem, intenso e fugidio.

 

 

“Tenho que achar um jeito”

É, eu não posso esperar outro dia”

“Nada irá mudar”

“Se nós ficarmos por aqui”

“Eu tenho que fazer o que é necessário”

Porque está tudo em nossas mãos”

 

 

         Precisava afastá-lo de sua vida, seria melhor sem ele. Era como ela imaginava, e naquele momento agarrava-se a qualquer fio de esperança para poder se convencer de que ficaria bem sozinha. Sem Neji, sem sofrimento.

         A leve cortina branca tremia delicadamente sobre a janela, dançando com o sopro da brisa que circulava a cidade no inocente amanhecer. A cama jazia desalinhada, inóspita. Sobre o bidê de cabeceira, uma caneca vazia com cheiro de café forte. Diante do espelho, um rosto incompleto e amargurado. Os cabelos castanhos desciam soltos em leves ondas sobre os ombros nus, pequenos, mas resistentes. Trazia sobre o corpo apenas a roupa íntima de baixo, de um delicado algodão branco, e uma surrada – mas confortável – regata de dormir. Seria um dia quente como tantos outros, e ainda assim, seu corpo permanecia frio longe do toque impagável das mãos de seu homem. Não, era besteira chamá-lo de seu, afinal, Neji nunca se deixou apanhar e domar por uma mulher. Ele era do mundo, do vento, de Konoha... Nunca de Tenten.

 

 

“Nós todos cometemos erros”

É, mas nunca é tarde demais pra começar de novo”

“Respire fundo outra vez”

“E faça uma nova oração”

 

 

         Encarando o próprio rosto no espelho, tão pálido e morto, ela dedicou-se a pentear os cabelos escuros como o cobre. Fechou os olhos cansados enquanto organizava as madeixas em dois perfeitos coques, desejando apagar de sua memória todos os episódios em que ela fracassara em repelir Neji. Fraquejava quando era obrigada a estar próxima dele, no entanto, sozinha parecia à salvo.

         O vento que passou pelas cortinas desta vez foi frio, e ao abrir os olhos, ela deparou-se com a imagem de seu doce pesadelo refletida no espelho. Ele permanecia sentado à beira da janela, observando-a com minúcia, com gosto.

 

 

“Então voe para longe daqui”

“Para qualquer lugar”

“É, eu não me importo”

“Se nós só voarmos pra longe daqui”

“Nossas esperanças e sonhos”

Estão fora daqui, em algum lugar”

“Não vamos deixar o tempo nos passar”

“Nós só voaremos”

 

 

         Novamente, ela se perguntou por que ele continuava a matá-la daquela maneira tão dolorosa. Sempre que ela decidia-se em resistir, ele aparecia para afugentar sua coragem, abalar suas convicções. E lentamente, ele a ia despindo com o olhar astuto, profundo e comedido. Ia despindo-a de suas máscaras, de suas amarras, de todos os argumentos falhos que ela usava para se defender do inevitável. Sim, Neji era inevitável, e sofrer por ele era igualmente preciso.

         Tenten deixou os ombros caírem com o suspiro que se foi por seus lábios, porque ela sabia que tinha sido derrotada no exato instante em que aquele homem a havia fitado. Ela estava presa naquele momento, presa por ele.

 

- O que está fazendo aqui? – ela murmurou, cansada e cabisbaixa.

 

- Queria vê-la. – ele reforçou o motivo de sempre, seu costumeiro argumento.

 

- Não quero ouvir, vá embora. – cuspiu ela, dolorosamente.

 

         Só ela sabia o quanto negá-lo a feria, o quanto era terrível. Porém, precisava dar um fim àquela relação sem futuro antes que ela se perdesse para sempre, e então nem mesmo a solidão a fizesse recobrar o juízo.

         Forçando-se a ignorar a presença perturbadora de Neji, pôs-se a procurar suas roupas pelo quarto. Ia alcançar o roupão de seda sobre a cama, quando uma mão quente capturou a sua, puxando-a com destreza. Seu peito cuspiu um suspiro sôfrego quando encontrou o corpo enrijecido do homem que lhe fazia entender que o amor era também seu mau. Os braços dele a apertaram sem chance de fuga, e naquele momento Tenten sentiu que iria perder as forças.

 

- Eu preciso de você. – sussurrou ele, tão profundo como se aquilo fosse certo.

 

- Sim, você precisa de mim para saciar suas vontades! – grunhiu ela, arredia. – Você está aqui toda noite, usando-me como se eu fosse algo descartável, iludindo-me com promessas que você nunca vai cumprir! Eu não sou um objeto, eu não estou disponível pra quando você precisar. – vociferou amargamente.

 

- Ei, não fale assim. – pediu ele mansamente, acariciando-lhe o rosto.

 

- Não aja como se fosse me convencer com isso. – advertiu ela, relutante.

 

         Tenten poderia debater-se o quanto quisesse, mas os braços dele não afrouxariam o aperto que a prendia rente ao seu corpo. Ele a queria, de uma maneira que nem mesmo conseguia entender ou aceitar, mas a queria. Não era capaz de manter-se longa dela, porque seus olhos acastanhados eram sua fonte de energia, aquele corpo macio era o leito perfeito para o seu sono, e a personalidade furiosa de Tenten acabava por lhe estimular de uma maneira que nenhuma outra mulher o fez. Além de tudo, seus lábios doces formavam o encaixe perfeito para os beijos intensos de Neji. E tudo aconteceria como ele queria que fosse, outra vez. Tenten se renderia com o primeiro beijo, porque ela tinha um coração à obedecer.

 

 

“Se esta vida”

“Ficar mais dura agora”

“Não se preocupe”

“Você me tem ao seu lado”

“E em qualquer momento que você queira”

“Nós pegamos um trem”

“E encontramos um lugar melhor”

“Talvez você eu”

“Poderíamos pegar nossas malas e atingir o céu”

 

 

         Vitorioso, ele içou o corpo dela para cima, e involuntariamente Tenten enlaçou suas pernas ao redor da cintura de seu odioso amante. Não foi preciso mais do que um passo para que ele a depositasse sobre a cama e então fizesse de seu corpo quente um abrigo sobre o dela. Livremente, seus lábios desbotados abriram caminho pela boca corada de Tenten, saciando-se com a vida que roubava dela. As mãos hábeis e grandes já conheciam perfeitamente as linhas e curvas daquele gracioso território, de modo que não mais interrompidas pela relutância de Tenten, puderam explorar intensamente seu corpo em chamas. Aquilo não parecia certo, mas ambos beijavam-se e apertavam-se com tamanho furor, que não mais era possível dizer que o certo era bom, e que o errado era ruim.

 

 

“Porque ninguém aqui pode se quer nos conter”

“Eles podem até tentar, mas nós não vamos deixar”

“De modo algum”

 

 

         Sôfregos, dois corpos que se uniam e se amavam, não precisavam de nada além daquele momento para ficarem satisfeitos. Neji encarava como carícias amorosas os arranhões vigorosos que as unhas da amante deixavam em suas costas, enquanto Tenten murmurava frases inacabadas mediante ao cabelo puxado sem piedade e o corpo invadido sem delicadeza alguma. Era daquela maneira que ela por breves instantes adorava, e então passava a odiar terrivelmente.

 

- Eu te odeio. – sussurrou ela, ofegante debaixo do corpo dele em movimento.

 

- Eu te amo. – mentiu ele, embora ela tivesse gostado de ouvir.

 

 

“Voe para longe daqui”

“Sim, para qualquer lugar”

“Agora querida, eu não vôo.”


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