É mais um dia comum em Gotham, os ventos gélidos percorrem os picos de gesso que rasgam os céus da cidade suja, estava de noite e as sombras batiam nesses picos e se refletiam como se substituíssem as luzes do dia por raios de trevas sobre toda a cidade. É ali que o Batman vive.

Kevin estava em cima do toco de madeira que salta da plataforma no porto de Gotham, finalmente iria rever Richard novamente, mas não sabia o que aconteceu com a lucidez ou a sanidade dele. Quando falou com sua fonte a respeito de como ela teria contatado Rick, a fonte simplesmente falou que a “outra figura mascarada” de Gotham era ele. Como assim? Como poderia ser Richard? Por mais que Kevin não quisesse acreditar, batia com a época que ele tinha sumido, ou supostamente sumido para Kevin. Ele estava com a maleta de dinheiro deles, o informante falou que ele pediu o dinheiro por que precisava dele, não ia negar resgate a alguém que já o resgatou. Não demorou muito para aparecer umas figuras caracterizadas como monges, eles vinham lentamente na direção de Kevin e seu informante, um rapaz de uns 20 anos trajado como um verdadeiro jovem. e enquanto vinham na sua direção, ele falou para Kevin manter a calma, eram os homens que tinham Richard. Os homens que tinham Richard? Ele foi sequestrado ou algo do tipo? Estavam mantendo Richard em cativeiro...?

Não. É impossível manter um homem como ele em cativeiro, então só havia uma explicação. Enquanto os monges se aproximavam, Kevin tinha certeza da única explicação pra isso, e de repente eles pararam, formaram um circulo e de dentro dele saiu uma figura perturbadora, era um homem não muito alto, jaqueta de couro e camiseta pólo preta, calças jeans surradas e sapatos... Os sapatos não combinavam com o estilão daquele cara, mas isso não era o que chamava atenção nele, e sim mascara bizarra que ele usava. Era uma gárgula, com olhos saltando das orbitas, olhos totalmente negros, a face era inteira preta, grandes orelhas pontudas e dois furos anormais no lugar do nariz, a face se contorcia numa posição de grito, parecia que ele estava em grito constante, com todas aquelas linhas de expressão e músculos saltando da face, uma língua e dentes enormes também. Kevin se chocou, mas ai teve um pressentimento, quando ele foi abrir a boca para falar, o figurão, que por acaso percebeu que usava luvas também, tapou a boca de Kevin e disse:

— Não fale o meu nome – Sua voz era a voz de um demônio, pura e simplesmente. Era grossa, distorcida e jogava medo em seu coração

No momento em que o figurão falou isso, Kevin teve certeza, aquele era Richard! O que os dias em Gotham fizeram com ele? Kevin só tinha uma certeza, aquilo era Richard agora, e teria que se acostumar, apesar de ser uma pessoa bem liberal:

— Como eu te chamo então? – Perguntou Kevin

— Me chame de Gárgula

— Gárgula? Cara... O que aconteceu com você?

— Gotham aconteceu comigo, Kevin... – Disse ele, ainda que com uma voz grossa e distorcida, quase sussurrando

— Olha Gárgula... Seja lá o que aconteceu, eu fiquei preocupado, Saul jogou pesado pra cima de mim quando você vazou, então vamo volta logo pra casa se não ele manda os homens dele e...

— VOLTAR PRA CASA? EU JÁ ESTOU EM CASA, KEVIN! AS TREVAS SÃO A MINHA MORADIA AGORA – Disse ele levantando os braços e mostrando a escuridão – Você lembra quando eu cheguei a Gotham? Você disse que aqui era o inferno, lembra? Então, você tava certo... PORQUE EU SOU O DEMONIO!

— Gárgula...

— Não venha com “Gárgula” pra cima de mim! Você quer saber o que aconteceu?! Eu te digo!

Richard começou a falar, iniciando de quando ele deixou a casa a mais de uma semana atrás.

Ele chegou à esquina da rua ainda gargalhando, Richard não sabia o que fazer, sabia que se ele ia se entregar as trevas de Gotham... Não, ele não precisava se entregar, ela já o possuía. Começou a correr para longe, profundamente nas trevas de Gotham, não sabia qual era sua sina, apenas sabia que em Gotham, todos tem um destino, normalmente é ser consumido pelas trevas, mas ainda assim tinha pessoas que prevaleciam na luz. Enquanto corria pelas ruelas, pelos desvios e becos, viu drogados, viu prostitutas, viu traficantes, casas de jogo, bares... Ele respirou fundo... Era essa a Gotham, era essa a cidade que corrompe, sim, estava satisfeito de estar por lá. Em uma das vezes que ele adentrou em um beco, finalmente um daqueles engraçadinhos assaltantes tentou uma coisa com ele, era um homem negro, alto e carrancudo, estava com uma faca e era mal encarado, ele falou:

— Passa a grana figurão

Richard riu, riu alto e claramente debochava da cara do assaltante, ele não demorou a tentar desenfrear um golpe em direção de Richard, que facilmente desviou dele tombando para o lado, encostado na parede do beco, ele disse:

— E ai vagabundo? Coletando dinheiro pra caridade ou pra ficar se injetando?

— Me passa o dinheiro agora

— Creio eu que não, alias, eu nem tenho dinheiro

O Assaltante voou para cima de Richard, que rapidamente se desviou do ataque, deslizando para o lado, no qual sem o assaltante perceber, roubou a faca dele no caminho. Richard pulou no pescoço do assaltante com a faca rente em sua garganta:

— E ai, o que você quer? Que eu pague o seu funeral ou ir embora daqui

— Vai se...

— Não, muito obrigado

Richard cravou a faca no braço do assaltante, ele gritou de dor, e enquanto gritava, Richard fugiu. Não demorou muito até o assaltante começar a persegui-lo também, Mas em passos menores e mais lentos. Estava se divertindo, sabia como lidar com gente da laia dele, era um criminoso também, sabia como eles pensavam. Ele riu alto novamente e enquanto corria alegremente pelas ruas da cidade negra, POOF... Ele desmaiou por algum motivo. Quando acordou de novo, estava em uma cama de palha, ele rapidamente se levantou, viu que estava numa prisão, não numa prisão da GCPD, e sim numa prisão do século XVIII, ele voltou no tempo por acaso? Olhou por entre as barras de ferro e estava em um... Mosteiro? É isso, algum maluco de mosteiro queria mostrar as luzes de Deus pra ele... “Pff” ele falou consigo mesmo “As Trevas de Gotham são melhores”. Realmente estava obcecado por aquela cidade, mal sabia o que lhe aguardava. Não demorou muito para um monge aparecer, ainda de capuz o figurão falou:

— Richard... Qual o seu nome completo mesmo?

— Não te interessa – Raspou Richard – O que você quer comigo?

— Te mostrar os caminhos de...

— Deus? Não, muito obrigado, prefiro as tre...

— Trevas? Não estou falando de nenhuma religião. Estou falando do Misticismo

— Misticismo? – Replicou Kevin com ironia

— É a manipulação intensa da realidade. Transforme matéria bruta – Disse ele com as mãos levantadas – em instrumentos de manipulação pessoal

Logo após, a figura tirou o capuz, e revelou... Richard. O Homem tinha um rosto completamente semelhante ao de Richard, o verdadeiro Richard ficou boquiaberto:

— Você ta querendo roubar minha identidade por acaso? – Perguntou desafiadoramente Richard

— Não. Porque eu iria querer? Nem sei seu sobrenome – Disse o homem se transformando em outro homem, um idoso, e ao passar da transformação, sua voz também envelhecia

Era um homem que aparentava ter 80 anos, careca, e com varias cicatrizes no rosto:

— Então como sabe o meu primeiro nome?

— É uma habilidade pessoal dos místicos, se uma pessoa com uma mente potente que nem a sua aparecer ainda... Fica mais fácil

— Se vocês me querem tanto nessa sua... – Richard fez uma pausa para pensar – Doutrina. Porque eu estou preso em uma cela?

— Não esta.

Richard agarrou as barras da porta e empurrou para frente, a porta lentamente se abriu, ele saiu e olhou para o velho:

— Se tiver a gentileza de me acompanhar - disse o senhor

O Velho saiu andando adentro do mosteiro, ele o acompanhou até uma sala com apenas uma mesa no centro, nela vários objetos, a maioria armas e instrumentos de tortura:

— Me mostre... – Disse o Velho – O Objeto dessa mesa que você mais admira

Richard olhou atentamente a todos os objetos e puxou uma faca retrátil:

— Uma faca... – Falou com um tom passional na voz – Uma faca é elegante, silenciosa, mortal e ágil. Certamente é esse o objeto

— Agora, me diga, você realmente está interessado no que eu estou lhe oferecendo?

— Talvez...

O monge se dirigiu a outra porta, esta dava em um closet com apenas duas cadeiras:

— Sente-se – Ele disse

Richard se sentou em uma e o velho na outra, o velho estendeu os braços na direção de cada ponta da cabeça de Richard e antes de tocar, disse:

— Posso?

Richard assentiu com a cabeça, e ele tocou os dois extremos, e começou a dizer:

— A manipulação da realidade é pura e simplesmente através da mente de uma pessoa de psique forte. Se você me deixar penetrar em sua mente, posso te ajudar, mas normalmente os mais fortes fazem sozinhos, e eu quero que você tente sozinho, pense na sua visão, pense naquilo que ilumina o seu dia, pense naquilo que você acha força

— A questão, velho, é que eu acho minha força nas trevas

— Então pense nela, haja como ela, se aprofunde na escuridão até que sua mente forme um poço negro, sugando tudo a sua volta, até a luz! Não pense nas trevas, seja elas!

Enquanto o velho citava aquelas palavras, Richard olhou profundamente em sua mente, lembrou de quando fugiu de casa, de quando começou sua vida no trafico e quanto almejava ser um grande líder mafioso, lembrou de quando Saul o chamou para Gotham, da primeira vez que viu o Batman, de quando viu o Espantalho olhar pra câmera e tentar argumentar com ele, de quando viu Senhor Frio escorrer uma lagrima em seu rosto, aquilo, AQUILO! AQUILO ERA O QUE MOVIA ELE! 100% corrupção e maldade, era isso que a vida dele era, estava destinado a ser o que? Então, sem querer, ele se lembrou da figura de seu sonho, aquele homem meio Gárgula fitando ele entre a multidão desesperada e aquilo tomou uma proporção gigante, do nada a única figura que ele via dentro de sua mente era aquela cara alterada da máscara olhando profundamente para ele enquanto ele ouvia as vozes, “Olhe Batman!” “Seja Frio!” “Bem vindo ao inferno!”. De repente uma explosão de energia girou através da cabeça de Richard, ele abriu os olhos novamente e viu uma aureola vermelha encima da cabeça do velho:

— Mas o que... – Disse em Confusão

— Não se preocupe com o que você esta vendo agora – Disse o velho – Você abriu a sua mente e esta vendo a manifestação visual da minha mente aberta para a manipulação da realidade, é assim que nós, místicos, nos identificamos, mas a sua aureola é realmente marcante, mas do que isso, ela é de uma profecia

Richard olhou para sua aureola, era preta, negra como a noite, e então ele perguntou:

— Que profecia?

— O Obscuro, mas não vá se achando especial, muitos obscuros surgem, só que ironicamente aqui em Gotham você é o primeiro que aparece há anos

— Entendo... – Richard viu que fora do Closet onde estavam tinha chegado mais monges – Vamos nos juntar a eles?

O velho e Richard saíram do closet, todos tinham aureolas de cores diferentes, mas apenas Richard tinha uma preta.

Ao terminar a história, Kevin ficou confuso, Richard, ou Gárgula de agora em diante, ficou olhando para Kevin, não através de uma máscara, e sim seu rosto, aquele era o rosto dele agora, Richard evoluiu, e agora ele era outra coisa, era mais que um humano:

— Então? – Soltou Gárgula para quebrar o silencio – Você entende?

— Sim, mas e ai?! O que você vai fazer?! Esses monges malucos te adotaram, entendi! Você aprendeu a ser mais dark trevoso, entendi isso também! Mas e ai?! O que vocês vão fazer agora?!

— Colocar Gotham em um estado permanente de Trevas!

— O que?!

— O Obscuro! A lenda sempre dita que o obscuro traz as trevas ao coração das pessoas e da cidade, seja em alma ou fisicamente, eu vou ser o primeiro Obscuro a trazer as trevas permanentes para Gotham com sucesso!

Kevin olhou horrorizado:

— Você é louco – Ele disse

— Só existe um empecilho... – De repente, Gárgula começou a se estressar, ele fechou os punhos e fez murmúrios inumanos – Droga! Não pensei nisso! TODOS APOSTOS!

Os monges se colocaram em uma espécie de posição de guerra:

— O que esta acontecendo?! – Perguntou Kevin

Então o porto foi invadido por uma ninhada de morcegos, e ao longe, podia se ver a figura de um grande morcego em um prédio, vindo na direção deles:

— O BATMAN! – Gritou Gárgula

— O Batman?! Mas... Mas...

Era ele, vindo em velocidade assustadora para cima deles, Batman pousou a poucos metros de Gárgula, ele cerrou os olhos olhando profundamente para dentro dos olhos negros do adversário:

— Gárgula – Batman disse voz grossa e profunda

— Batman! – Disse Gárgula, se preparando para o combate

A Cidade das Trevas nunca dorme, a luz protege os cidadãos de dia, mas e a noite? Ela Possui o Batman