Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 5
Opinião vaga


Notas iniciais do capítulo

Feliz pelas visualizações recebidas na história... Eu não sei o nome de vocês, mas saibam que estou agradecida!



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Entrei na sala de aula e olhei o rosto da maioria dos alunos. Tinham alguns assentos vazios, mas o Edgar me avisou ontem que não era eu quem escolhia o lugar.

—Por favor, escreva seu nome no quadro e se apresente. Depois pode se sentar naquela carteira. –a professora apontou para um lugar vazio.

—T-Tá. – fiquei um pouco tensa por ter que falar em público. Escrevi meu nome com aquela minha letra ilegível, fazendo um barulho irritante com o giz por não conseguir escrever direito no quadro negro.  Me virei para a classe e acabei indo me sentar sem dizer nada... Nem foi tão ruim quanto eu esperava. Provavelmente quem estava ali sabia ler.

Todos ficaram calados. O único som da turma foi a tosse de um garoto cadeirante com asma. Já sentada, eu comecei a olhar em volta...

—Salamander? –me espantei.

—Quésia? Oi! –estava à minha direita. Mesmo sendo até um garoto completamente ameno, eu não me sentia confortável perto dele. –Pedi pra te colocarem na mesma sala que eu!

O Edgar não estava mentindo, ao que parece... Qual é a desse garoto? Age como se me conhecesse... As confianças...

A professora, que parecia uma hippie dopada, pediu para que um dos alunos me mostrasse a escola no recreio e me apresentasse a algumas pessoas. Hebrom foi o único a se oferecer.

—Hebrom, você já fez isso várias vezes, vamos dar a vez à outra pessoa. –ele foi abaixando seu braço, desapontado. –Wendel, você pode acompanhar a Quésia? –ela se referiu ao garoto que estava jogando vídeo game portátil no meio da aula.

—Hm... O que? –um asiático alto, de óculos, que parecia ser mais um sem vida social levantou, ainda jogando.

—Senhor Yamada, não é permitido jogar videogame na hora da aula. –a professora amarrou a cara.

—Ah, tá. Foi mal. –ele botou o console no bolso.

—Bem, continuando, poderia fazer o favor?

—Que favor? –Wendel não tinha prestado atenção em nada.

—De apresentar a escola à aluna nova. –a professora parecia já estar brava com ele.

O japa olhou em volta até me achar, e depois se sentou.

—Vou considerar isso como um sim. –a mulher prosseguiu com a explicação de como seriam as aulas de Artes.

 Tentei manter o máximo de foco, mas quase não deu certo. Não era a mesma coisa sem a Marisa. Depois dos dois primeiros tempos, veio o professor de Matemática. Aí que acabei não ouvindo nada mesmo, eu estava ocupada demais bocejando. Enfim, a hora do recreio chegou. Todos saíram correndo menos eu e o Yamada.

—Vem comigo. –o asiático pegou seu vídeo game e começou a jogar, ao mesmo tempo em que levava um livro bem grosso debaixo do braço.

—Tá bem. –o acompanhei até lá fora.

—Hm... Eu vou te mostrar tudo o que eu sei. Toma esse anuário do ano passado. –ele botou o livro na minha mão. –Se quiser saber o nome ou cargo de alguém, pode procurar aí. Eu não tive tempo de riscar as pessoas que saíram. Já esperava que essa professora quisesse me ver apresentando a escola pra algum aluno novo, mas não imaginei que fosse hoje. Se não souber onde algum lugar fica, pode perguntar pra mim. Ah, e ali é o refeitório, se quiser ir. –ele apontou pra uma porta em que entrava a maioria dos alunos, mas sem tirar os olhos do jogo.

—Certo... –no fim das contas ele não me ensinou nada daquele lugar imenso.

Nós sentamos num dos bancos. Ele era bem rápido jogando, e não cortava as unhas já fazia um bom tempo.

—Oi, gente. –Salamander apareceu e nos cumprimentou.

—E aí, Hebrom? –o asiático falou, ainda olhando para o vídeo game.

Eu resolvi nem falar nada. Só encarei. Até o Wendel perceber.

—To saindo. Podem conversar. –ele se levantou.

—Mas eu não quero conversar... –tentei falar, mas o geek já estava indo para outro lado do colégio.

—Tudo bem? –Salamander sorriu.

—Não. –só queria evitar destruir tudo como sempre. Mas eu acho que já estava fazendo isso.

—Ok... Posso sentar do seu lado?

—Também não. –o garoto ficou esperando eu mudar de ideia. –Fica logo então...

—Obrigado! –ele sentou bem perto de mim.

—Chega pra lá! –me afastei.

—Por quê?

—Porque eu disse “Chega pra lá”.

—Que?! Qual o problema com isso? Você tem mesmo medo de mim? O que disseram pra você?! –fez num tom quase agressivo.

—Hã? Não me disseram nada. Do que você tá falando?

—Não disseram?... Então... Deixa isso pra lá...

Ficamos parados olhando pro nada por um tempo. Aquele típico clima estranho que fica quando você está perto de uma pessoa desconhecida. Até que ele voltou a me fitar.

—O que quer agora? –perguntei.

—Nada... –notei que agora o Hebrom também estava corado, mas sorrindo. –Eu gosto de você, sabia? –não consegui dizer nada. –Calma! Desculpe! Eu quis dizer... Te acho demais. Deve ser a única pessoa da sua rua com quem eu nunca tinha falado antes... Eu estou te assustando?

—Um pouco...

—Desculpe. –ele riu, pegou o celular do bolso e alternava em olhar o celular e a mim.

Parecia que ele iria falar alguma coisa, mas logo desistia. Está tentando me zoar, só pode ser... Se bem que eu não sei com quem ele queria rir de mim... Aquelas três meninas de mais cedo realmente não pareciam ser amigas dele e agora, bem, não tem ninguém por perto. Passamos o intervalo todo parados. Foi um lixo.

Voltamos pra sala e continuou. Uma vez ou outra a gente acabava se olhando ao mesmo tempo, e pra piorar minha situação, ele achava graça disso. Não consegui manter a atenção nas duas últimas aulas de Ciências. E finalmente acabou. O Hebrom pediu para eu o esperar, mas eu, “sem querer”, fingi não ter escutado.

—Quésia! –uma voz feminina me chamando, isso me deixou confusa. –Quésia! Aqui!

Fui procurando pra ver de onde vinham os berros...

—MARI?!

Não é possível... Ela devia ter brotado do chão.

—Senti sua falta! –a mulher me deu um abraço e eu tinha quase certeza de que ouvi minhas costelas quebrarem. –Achei que você ainda estivesse no orfanato.

—Acabei de vir pra cá. –fiz força pra respirar.

—Que beleza! Escola nova! E aí como foi a aula? –finalmente me soltou, deu pra ver a felicidade estampada na cara dela.

—Uma chatice. Como esperado.

—Já fez amigos? –nem respondi. Mesmo com a típica alegria da ex-professora, eu senti um tom sarcástico na pergunta, mas obviamente foi apenas impressão minha. Como ela é meio sonsa, achava que me dava bem no outro colégio.

Salamander apareceu com um garoto que usava boné e era pouco, quase nada parecido com ele. Os dois vieram me cumprimentar.

—Hey, Qué! –Hebrom sorria como faz a maior parte do tempo. O rosto dele deve ser dolorido.

—O que você tá fazendo aqui? –eu falei entre os dentes, com a vã esperança de que ele saísse e ficasse sem conhecer a Marisa. Não é nada grave, eu só não curto muito “vexames”... Ainda mais em público.

—Bem... Esse é o meu irmão: Zacur. –ele o apresentou.

—Ah, interessante. –falei... O Hebrom não conseguia entender meus códigos faciais que estavam implorando pra ele arredar o pé dali.

—Oi pra você também, Quésia. –o tal irmão dele se meteu. Não tinha um sotaque tão engraçado quanto o próprio.

—Oi. –me segurei pra não ser mal-educada na frente da Ávila. Ela me obrigaria a pedir desculpas.

—Meu irmão não para de falar em você. Isso já tá me irritando. –ele me cumprimentou.

Ele fica falando de mim... Agora tá explicado.

—Hein? Garotinho você tá querendo ela?! –a Marisa falou bem alto com o Hebrom. Ela interpretou errado. Por incrível que pareça, a mulher estava tentando ser discreta. O que eu temia aconteceu. A maioria das pessoas que estavam passando, olharam pra nós.

—Claro que não! –Zacur contestou. –Ele tá é apaixonado mesmo.

—Irmão! –Hebrom, assim como a minha pessoa, quereria que ele calasse a boca.

—O que é? Verdade seja dita!  E ainda bem por isso! Eu já estava estranhando você nunca ter gostado de nenhuma garota até agora.

—Que lindo! Quésia, você é o primeiro amor da vida dele! –Marisa falou, escandalosamente.

—Dá pra parar com isso? –meu coração começou a bater mais forte. Eu só pago mico, cara... Chegou a ser habitual. –Vamos embora! –a levei pra outro lugar.

—Tchau, namorado da Quésia e irmão do namorado da Quésia! –ela se despediu. Estava feliz pela suposta ideia de um garoto gostando de mim. Pois é, suposta. Claramente e somente suposta.

—Tchau! –Zacur acenou de volta.


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Notas finais do capítulo

Aquela clássica vergonha em público... Alguém já passou por isso? Eu já... Mas normalmente a culpa é minha mesmo.



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