Registro Panorâmico escrita por Titi


Capítulo 16
Caindo a ficha


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu cheguei. Resolvi postar três capítulos hoje, por ser um dia muito especial: Sábado! Espero que gostem da postagem extra.



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Eu fiquei parada olhando pra porta, de olhos arregalados, esperando a morte da bezerra.

—Quésia! –meu irmão chamou.

—Caramba! Bai assustar a bãe! –eu dei um salto pra trás e coloquei a mão no coração.

—Beleza, eu faço isso depois. Sobrou pizza?

—Não. Cobi tudo.

—Jamanta.

Be xingue do que quiser, não bai ter tua bizza de bolta.

—Ai, meus sentimentos... Tá revoltadinha? Vai falar que brigou com o garoto outra vez?

Igreja... Pra que isso? Tá aí, uma coisa que eu nunca parei pra pensar. E esse Deus que as pessoas vivem falando quando dá alguma coisa errada? “Meu Deus” isso, “Meu Deus” aquilo... Eu sou apedeuta sobre o assunto. Por isso eu fui à fonte mais fácil, mas nem sempre a mais confiável, a minha companheira nas horas de tédio: a internet.

—Ei, guria, me responde! –deixei meu irmão no vácuo lá na sala e fui até o andar de cima.

Hm... Eu pesquisei... E não julguei de uma maneira boa o que encontrei. Eu até acho que alguém tenha feito o Universo e tal, mas, socorro, né? O Ser que é amor, mas que deixa seus “filhos” na condição que estão...

 Procurei tanto, mas tanto, que eu acabei parando num site com uma programação ao vivo. Um homem de terno e gravata dizendo “Deus é amor, Ele não desampara Seus filhos”.

—Pô, legal, cara, quer um biscoito? –eu zombei, fechando o laptop.

Eu não mereço isso, na verdade, ninguém merece. Que invenção patética... Dizer que o ser superior que supostamente nos criou dá importância a nós. Sinceramente, agora eu sei o porquê do Hebrom ser todo felizinho. Coitado... Ele já deve ter sofrido muito pra chegar ao ponto de recorrer a uma crença tão sem fundamento... Ou talvez ele tenha crescido no erro. Eu preciso abrir os olhos daquele garoto... Mas... Quem sabe eu seja a idiota nisso tudo?  É tão confuso... Tipo, se os idiotas são felizes sendo desconhecedores da verdade, os verdadeiros idiotas não seriam aqueles que aceitam a nossa real condição e são infelizes?... Ou será que eu sou a idiota por pensar nessa possibilidade?

 Acho que vou acabar fazendo besteira, como de costume. Se o Salamander aceitar essa verdade, será que ele vai deixar de aparentar feliz? Será que ele vai ficar com raiva por eu discordar do que ele acredita e é a única fonte de esperança que ele tem? Não sei o que fazer... Acho melhor eu tolerar o que ele disser por mais um tempo. Eu não o conheço por inteiro. Não sei o que pode magoá-lo... O silêncio vai ser minha melhor arma agora.

Fatos psíquicos de Hebrom

Dei um abraço nela! Que dia lindo! Não consegui parar de sorrir na volta pra casa. Mas ainda estou muito preocupado por ela estar doente... Enfim, eu acho que ela é a garota certa! Falei sobre absolutamente TUDO com Deus. É tão agradável ter sempre alguém pra te ouvir, ainda mais quando é alguém que pode te ajudar.

Eu pedia uma colega desde que o Folker “declarou guerra” contra mim. Eu só queria alguém que me ouvisse, mas Deus me deu exatamente a garota com quem eu quero me casar... Mas nem sempre o que eu quero é melhor pra mim... Aí eu estou um pouco confuso.

Olho a Quésia de longe desde que ela veio morar aqui... Eu não criava paixão com ela, mas... Ela é estonteante! Sério mesmo! Pelo menos na minha opinião... O Wendel disse que a Qué parece uma daquelas bonecas malignas de porcelana, só que preta, com olheiras e cabelo bagunçado. Eu discordo... Sempre quis tirar fotos dela. Eu consegui, no primeiro dia de aula e quando eu fui à casa dela e ela estava dormindo. Acho que ela já percebeu em algum momento... Tenho medo dela pensar que eu sou um maníaco ou algo assim. Numa coisa o Wendel está certo, ela parece muito com uma boneca. Eu amo olhar pra aquela garota. Não tem como pessoas tão bonitas quanto ela terem sido feitas por uma explosão, seria sorte demais.

Quando eu cheguei em casa, o Wendy estava sentado no meu sofá, jogando vídeo game. Eu contei tudo o que aconteceu comigo e a Quésia até agora, já que ele sempre tem bons conselhos pra me dar.

—Você é doente mental, cara?! –ele pausou o jogo, depois de eu terminar.

—O que foi?

—Ela sabe que você é canadense?

—Sim. Por quê?

—Até onde eu sei, os canadenses não são muito chegados a contato físico.

—Bem... Mais ou menos... Depende.

—Tanto faz. O importante é: Não valorize a Quésia.

—Hã?

—Você me entendeu.

—Por que não?

—Mulheres são manipuladoras e mimadas. Quando ela perceber que você tá afim dela, ela vai se aproveitar disso.

—Eu não acho que a Quésia vá fazer uma coisa dessas...

—Você é muito inocente, Hebrom. Não sabe muita coisa sobre o sexo feminino.

—Falou o garoto que não sai de casa por causa de vídeo game. –o meu irmão apareceu na sala falando.

—Eu já tive muitas namoradas. –Wendy retrucou.

—Até onde eu saiba, todas foram virtuais.

—Não briguem... –tentei parar os dois, antes que piorasse.

—Não estamos brigando, estamos debatendo civilizadamente. –Zac disse e o Wendel voltou a jogar.

—Certo então... Com licença. –fui ao meu quarto.

O Wendel é um dos meus melhores amigos, o Zacur também é um ótimo irmão... Eu detesto quando eles ficam se atracando desse jeito. Eles têm algumas coisas parecidas na personalidade, acho que é isso que os faz brigar.

Fiquei sentado na cama, olhando o jardim de trás... É lindo. Maravilhoso, se for comparar com a minha casa antiga. Eu não tinha vizinhos lá no norte quando morava com meu tio, era uma casa no meio do nada, praticamente... Me deixava triste olhar ao redor no inverno e só achar neve, neve e mais neve... Mas ultimamente eu ando procurando agradecer durante todas as circunstâncias... Só que tem coisas me acossando.

—Será que a Quésia acredita em Você?... –sussurrei. – Eu tenho medo de ela não acreditar... Tenho medo dela não aceitar o que o Senhor tem pra ela... Eu queria tanto que aquele sorriso dela fosse mais constante. E creio que Você também queira... Não estou conseguindo me expressar... Você sabe o que estou sentindo. Por favor, me dê o que preciso dizer e fazer pra ela acreditar no Senhor... Não só acreditar, mas Te aceitar. Dá pra ver no rosto dela que tem algo faltando. Amor, talvez... O Senhor é amor. Eu queria que ela visse Você através de mim... Vou tentar fazer alguma coisa. Comprar flores... Acho que é uma boa ideia. Obrigado por me ouvir... Muito obrigado. –eu já estava quase chorando, mas, subitamente, comecei a rir. Comecei a pular em cima da cama abraçando meu travesseiro. –Ela vai pra igreja comigo!

—Hebrom, para com isso! –minha mãe passou em frente à porta.

—Desculpe. –me sentei.

—Maninho... –o Zac entrou no quarto.

—Irmão! Oi! Eu queria falar com você.

—Eu também queria falar com você...

—Posso falar primeiro?

—Ah, claro...

—Obrigado... Eh... Eu queria agradecer por você me deixar sentar junto dos seus amigos no refeitório na Quarta...

—Hein? O Andreas e o Yamada são TEUS amigos. E não precisa agradecer.

—Precisa sim... Você sabe que eu ficaria sozinho se você não deixasse eu sentar perto de vocês e que tem mais amigos do que eu... Eu não estou reclamando... Tem aquela coisa de qualidade é melhor que quantidade... Seja o que for, obrigado mesmo.

—Não tem por onde, cara... Mas eu preciso falar uma coisa muito importante com você agora. Aquela que eu não consegui explicar muito bem quando você estava tendo aula de Educação Física.

—Pode falar.

—Hebrom! –meu pai me chamou.

—Ahm... Espera, irmão. É rapidinho, eu acho... Me desculpe. –eu saí do quarto meio duvidoso.

—Tá, sem problema. Volta logo!

—O que foi, pai?

—Eu preciso que você vá à floricultura da minha irmã e compre algumas flores. Pode ser? –ele entregou o dinheiro em minhas mãos.

—Flo... Flores?

—Isso, pra sua mãe. São aquelas plantinhas que...

—Não, eu sei o que são, pai! É que... Eu vou sozinho?

—Sim... Por quê? Quer que eu chame o seu irmão?

—Não! Eu já vou. –me virei para sair, mas dei meia volta e tomei coragem pra fazer uma pergunta. –Pai, você me dá dinheiro?

—Pra que?

—Comprar flores.

—Mas eu já te dei o dinheiro.

Ele ainda deve achar que eu sou um retardado... Se bem que ele está certo em alguns aspectos... Eu era mesmo um idiota.

—Eu sei! Mas eu quero comprar outras flores. –quando eu disse isso, meu pai fez uma cara de desconfiado.

—Flores? Pra quem?

—É que tem uma menina lá na escola... A que eu fui estudar na casa dela e...

—Ah! Já entendi! Não precisa dar detalhes, toma. –ele entregou o mesmo valor que tinha me dado.

—Mas isso é muito...

—Não é muito quando se trata da minha nora.

—Nora?!

—O grau de parentesco que ela vai ter quando...

—Não, pai! Eu sei o que é nora! Só que não é nada disso que você está pensando!

—Aham, aham, vai comprar logo. A sua mãe vai acabar ouvindo a nossa conversa. As flores são uma surpresa. –ele foi me empurrando calmamente até a porta.

Eu amo muito o meu pai, mas às vezes ele não me escuta... Estou até achando estranho ele ter deixado eu ir à loja da minha tia sozinho. Ele nunca me deixa andar sozinho. Isso desde sempre. Ele melhorou um pouco depois de eu voltar pra igreja e parar de andar com o Folk... E deixar de ser idiota.

 

Fatos psíquicos de Zacur

O Hebrom me largou vegetando no quarto... Será que ele fez alguma besteira de novo? Meu pai não costuma demorar em conversas, só quando é pra broncas. Eu esperei por mais alguns minutos e fui ver o que tinha acontecido.

—Cadê o Hebrom? –perguntei ao meu pai, que estava sentado na sua poltrona da sala anotando algumas coisas em um caderno e fazendo contas.

—Saiu... Por quê?

—Eu precisava falar com ele.

—Você devia ter falado antes.

—Mas eu...! Ah, esquece. Sabe se ele levou o celular?

—Levou não.

—Tá... Eu espero.


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