Suzanna

Estava há quase uma semana na cidade e Lauren não veio me procurar e nem ligou. Já estava perdendo as esperanças de vê-la novamente. Não podia ficar tanto tempo afastada da empresa, eu era a presidente, mas isso não me dava o direito de sumir por tanto tempo. Minha família já estava desconfiando, ninguém sabia que estava no Maine, vim dizendo que iria fazer uma viagem de negócios.

A lembrança do seu rostinho gordinho e suas bochechas rosadas esteve na minha mente todos esses anos. Nunca esqueci minha filha, nem por um minuto.

Escutei batidas na porta do quarto, e abri achando que era meu café.

—Lauren... – falei surpresa. Ela estava na porta de mãos dadas com a menina que vi no dia que fui procura-la. – Que surpresa boa – falei sorrindo. – Entrem.

As duas entraram ainda de mãos dadas.

Er... Suzanna, essa aqui é minha noiva Amélia – Olhei para a menina morena e sorri feliz.

—Muito prazer minha querida – disse estendendo a mão para ela que retribuiu na mesma hora. – Não sabia que já estavam para casar...

—Só fiz o pedido por enquanto, vamos nos casar depois que terminamos a faculdade.

—Foi o que combinamos com nossas mães... – Amélia disse e na mesma hora ficou sem graça.  – Desculpa senhora...

—Tudo bem minha querida! Aquelas mulheres são as mães da minha menina, não tenho problema com isso. – Lauren abriu um sorriso tímido.

—Vamos nos sentar – disse a apontando para o sofá. – Imagino o porquê que está aqui Lauren.

Ela se sentou com Amélia ao seu lado.

—Quero saber tudo Suzanna... – Ela falou sem graça.

—Seu pedido é uma ordem minha querida – disse sorrindo. – Parece que foi ontem...

Alguns anos atrás...

—Temos que fugir daqui! – estava desesperada, minha mãe acabava de descobrir sobre minha gravidez, e agora estava no apartamento de Michael implorando para que fossemos embora hoje mesmo.

—Calma Suzanna, me conte o que houve? – Michael era estudante de jornalismo, e fazia estagio em uma das empresas da minha família na assessoria de imprensa. Nos conhecemos por acaso, no meio do corredor da presidência. Meu pai aquele dia resolveu me levar a empresa, para começar a conhecer os negócios da família, já que no ano seguinte ia para faculdade cursar administração, como ele sempre quis.

Minha família é rica, uma das mais poderosas do país, dona de varias marcas de doces. Bem a carga era pesada e era minha já que era a filha mais velha. Meu pai apesar de exigente com meus estudos, sempre foi bom comigo ,paciente e me deixou livre para escolher  assumir ou não a empresa, porem não tive muito escolha por parte da minha mãe que ao contrario do meu pai, sempre me empurrou para o mundo dos negócios e paras os melhores partidos do país.

Foi em um desses dias de “conhecer o trabalho do papai”, como ele carinhosamente chamava, que esbarrei com Michael no corredor. Ele era um dos destaques da empresa, e meu pai tinha grande fé no seu futuro ali dentro. Foi ele mesmo que nos apresentou naquele dia, posso dizer que a atração foi imediata, e depois desse dia não nos desgrudamos mais.

Minha mãe descobriu um tempo depois, e proibiu Michael de me ver, nos encontrávamos as escondidas no seu apartamento, quando eu conseguia fugir das aulas.

—Mamãe descobriu que estou gravida! – disse me sentando no sofá, ele se abaixou na minha frente.

—Sabe que fosse qualquer coisa por vocês! – falou alisando minha barriga, e um sorriso brotou no meu rosto.

—Então vamos embora daqui Michael ,ela nunca ira me deixar ficar com vocês! – falei chorando.

Ele levantou e andou de um lado para o outro.

—Ok .Vamos embora – disse sorrindo. – Hoje a noite você me encontra aqui na porta do prédio, vou estar esperado você com tudo pronto, ok?! – Corri e o abracei.

—Estarei aqui meu amor.

Horas depois...

Tinha arrumado minha mochila com poucas roupas, coloquei um casaco com capuz e sai  do meu quarto ,a mansão era imensa mas tinha seus truques e passagens secretas .Era meia noite, a casa estava silenciosa, os seguranças estavam de prontidão na portas da casa, porem tinha a passagem que dava direto para a casa da piscina. Entrei com cuidado sem fazer barulho pela porta que dava acesso a passagem, e corri como pude pelo corredor estreito até a outra casa. Minutos depois estava saindo direto na casa da piscina, Verifiquei pelas janelas e não tinha ninguém em volta da casa, esse era o momento. Corri em disparada pelo jardim, até o portão antigo do outro lado da casa, ninguém mais usava esse portão e estava coberto pelas folhas.

Subi no portão com cuidado e pulei direto pra rua. Corri como nunca, até chegar na estrada principal e pegar um taxi até a casa de Michael.

Minutos depois estava em frente ao seu apartamento, e logo avistei seu carro do outro lado da rua.

—Você veio! – ele me puxou para um beijo assim que entrei no carro.

—Vamos embora daqui – falei sorrindo. Michael ligou o carro. Eu estava livre para viver minha vida com ele e meu bebe, que ainda não sabia o sexo.

Michael dirigiu por alguns quilômetros até frear bruscamente no meio da estrada.

—O que foi isso?! – falei assustada.

—Você esta bem? – Ele perguntou preocupado.

—Sim. – Falei passando a mão pela minha barriga.

Um farol piscou forte na nossa frente e depois mais dois carros nos cercaram.

Cinco homens de terno com o brasão da minha família desceram do carro, eu sabia o que aquilo significava.

—Senhorita desça do carro, por favor. – Um dos seguranças falou batendo no vidro do carro.

—Ela não vai a lugar nenhum! – Michael disse acelerando o carro. – Sai da frente, agora!

—Senhorita Mars, por favor saia do carro agora! – Eles pediram de novo.

—Vamos embora Michael! – falei segurando em seu braço.

Ele avançou com o carro no mesmo momento, assustando os seguranças e fazendo os mesmos se jogarem para o lado.

Segundo depois escutamos disparos e o barulho dos pneus do carro estourando.

—Merda! – Michael bateu no volante.

Nessa altura eu já estava desesperada.

—O que vamos fazer?

—Ninguém vai te levar daqui, fique calma! – Michael disse segurando meu queixo. Ele juntou seus lábios no meu, até que alguém abriu a porta do carro arrancando ele de dentro.

Os cinco seguranças jogaram Michael no chão e bateram até ele perder as forças. Eu tentei impedir claro, mas fui segurada por um deles. Naquela maldita estrada só se escutava meus gritos de desespero, e o barulho dos socos e chutes que Michael levava.

—O soltem seus idiotas! – falei tentando me soltar.

Até que outro carro chegou e parou bem na nossa frente, o motorista desceu e abriu a porta para alguém.

Meu desespero aumentou quando escutei ecoando pela estrada o barulho daqueles saltos.

—Mamãe... – Balbuciei.

Ela parou perto de Michael e olhou com nojo para o seu corpo                caído, já inconsciente.

—O que você fez?! – disse com desprezo.

Ela sorriu.

—Solte minha filha! – disse ao segurança.

Livrei-me do aperto das suas mãos, e tentei correr até Michael, agora sendo impedida pela minha mãe.

—Me solta! – gritei.

—Vamos, para com isso menina! – disse irritada. Fui arrastada até o carro por ela, que praticamente me jogou dentro. –Agora vamos para casa, de onde você nunca devia ter saído. – disse se sentando ao meu lado. – Para casa Richard. – Falou com o chofer.

—Porque fez isso? – disse chorando.

—Pelo seu futuro, aquele garoto não era pra você! E não me aborreça mais com essa sandice menina – disse entre os dentes.

Fomos embora e nada mais falado até chegarmos em casa.

Entrei correndo e subi as escadas sem olhar para trás.

Escutei seus saltos pelo corredor até que ela abriu a porta do meu quarto.

—Arrume suas malas, você vai para casa de campo amanha cedo.

—Eu não quero ir para aquele lugar! Você não pode me obrigar! – disse gritando.

—Fale baixo – falou irritada. – Você fara o que eu mandar, ou então seu namoradinho sofrera as consequências. – riu diabólica.

Gelei nessa hora.

—O que fez com Michael?

—Ouse não me obedecer e vera! –disse e em seguida se retirou.

Joguei algumas coisas no chão e chorei me jogando na cama.

Na manhã seguinte minha mãe estava me acordando, e me puxando para o carro.

Pegamos o jatinho até nossa casa de campo que ficava na Virginia.

Minha mãe me deixou lá sem dizer mais nada. Deixou ordens para que eu não saísse de casa e não recebesse visitas.

Passei toda a gravidez naquela casa, vendo minha barriga crescer aos poucos, e meu bebe se mexer mais a cada dia. Não tive uma gravidez feliz, não tive um enxoval. Nada.

Simplesmente fui largada naquela casa por nove meses. Minhas únicas companhias eram os empregados por quem me afeiçoei muito.

Em uma noite chuvosa, comecei a sentir as primeiras contrações. Uma das empregadas da casa ligou para emergência e fui direto ao hospital da cidade.

Depois de 10 horas de trabalho de parto, meu bebe nasceu.

—Parabéns mamãe, é uma linda menina! – disse o medico.

Minutos depois a enfermeira me trouxe você. Era linda .Parecia um anjo.

Fiquei com você por mais dois dias no hospital e no dia seguinte um dos empregados me buscou.

Passamos mais três dias juntas, até que ela voltou para me buscar.

—Arrume as malas Suzanna vamos voltar para casa. – disse ríspida.

—Não quer conhece-la? – falei levando você até ela. Minha mãe virou a cara e saiu.

Aquilo me doeu muito, mas prometi nunca ser daquele jeito com você. Ia criar você de uma forma diferente, e se possível longe daquela sujeira toda.

Não consegui cumprir minha promessa não do jeito que queria. Dois dias depois você sumiu do meu quarto e nunca mais a vi.

Voltando....

—Você não fez nada? Não quis saber onde eu estava? – Lauren perguntou.

—Eu procurei você todos os dias, durante esses 18 anos... – disse de cabeça baixa. – Ainda posso ouvir a voz dela me dizendo: “A menina esta bem, agora faça o que se preparou a vida toda, assuma a empresa da família. Você terá outros filhos, nem ira se lembrar dessa. Agora chega de escândalos Suzanna, ou quem sofrera as consequências dessa vez será o bebe.”— As lagrimas já desciam sem controle. – Tempos depois descobri que ela colocou você para adoção em um orfanato em Boston. Contratei um detetive particular para seguir seus rastros ,demorou muito tempo até conseguirmos encontrar algum rastro seu ,descobri que você tinha sido adotada e estava morando em Boston. Minha mãe nunca disse uma palavra sobre você ,assim como meu pai não sabia do ocorrido e nem meus irmãos, já que ela me escondeu aquele tempo todo na casa de campo e inventou uma desculpa de intercambio na França. Ninguém sabia sobre você ,nem sobre Michael e seu sumiço.

Lauren estava sem palavras .Depois de um algum tempo ela perguntou.

—E Michael, o que aconteceu com ele?

Respirei fundo.

—Não sei – sorri triste. – Nunca encontrei nenhuma pista dele. Nada. Ela nunca me contou o que fez com ele – disse abaixando a cabeça.

—Uau... – Amélia falou. – Parece historia de filme...

—Porque agora? – Lauren perguntou.

—Descobri uma pista sua em Boston há alguns anos atras ,mas depois perdemos você de vista de novo, foi a poucos meses que descobrimos que veio para essa cidade. Só queria ver você e explicar que nunca quis deixar você minha filha, nunca. – Me aproximei dela que se afastou.

—Olha... Não sei o que dizer ,o que fazer – Falou se levantando junto com a namorada. – Mas não posso te prometer nada, eu não vou largar minhas mães...

—Eu não quero isso de maneira nenhuma, tenho uma divida com elas. Você se tornou uma linda mulher, forte e de caráter. Tudo o que eu queria que você fosse. – Peguei em sua mão e ela não recuou dessa vez.

— Obrigada por me contar Suzanna – disse sorrindo.

—Obrigada por me dar essa chance minha filha – me aproximei e abracei Lauren pela primeira vez, não controlei as lagrimas. – Eu te amo Lauren! – disse apertando minha filha em um forte abraço. – Se me permitir gostaria de participar  da sua vida...

Lauren me olhou e depois encarou a namorada que sorriu para ela.

—Seria bom conhecer você um pouco mais Suzanna...

Aquelas palavras encheram meu coração de esperança.