A Viagem escrita por netobtu


Capítulo 1
Capítulo 1




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                Ele finalmente havia acordado. Tinha sonhado alguma coisa. Mas o quê? Não se lembrava. Mas sabia que tinha sonhado. Lembrava-se de que havia alguém no sonho. Mas dormira demais, talvez o sonho fora longo demais. Costumava ter estes problemas de memória em relação a sonhos. Sabia que os tinha, mas quando acordava, tudo se apagava.

                A noite anterior também havia sido agitada. Só se lembra mesmo do primeiro copo. Era uma bebida de limão. Caipirinha. Vodka. Tinha virado de uma vez. Não estava bem aquela noite. Estava com amigos, mas, o que aquilo significava? Só se lembrava do primeiro copo, não sabia como havia chegado em casa. Do seu lado, ninguém. Estava só em seu apartamento pouco mobiliado. Havia mudado há pouco tempo e muitas de suas coisas ainda estavam em outro lugar. Distante, porém perto. Ele não queria ir buscar. O que havia sobrado era muito pesado para a mudança. Ele sabia que eram coisas muito valiosas, porém deixara em seu antigo lar.

                Preferiu levantar-se de uma vez. Seguiu para o banheiro. Escova. Pasta. Escovar. Lavou o rosto e olhou para o espelho. Velho. A barba mal feita mostrava o descaso. A lâmina estava logo ali ao lado. Mas não queria fazer a barba. Tanto fazia, já não havia mais por que fazer a barba. O mundo já havia acabado mesmo e ele era o único sobrevivente.

                Do lado de fora da janela, ele só via destruição. Parecia o apocalipse, mas não veio nenhum cavaleiro anunciando o fim, não veio nenhum messias. O fim simplesmente havia chegado. Só ele sobrevivera. Não sabia o que fazer. Olhou para sua carteira, tinha dinheiro e sua identidade estava lá. Novinha em folha, mas para quê? Não ia mais a lugar nenhum, ninguém mais iria pedir nada para ele. Afinal, como ele não ouviu o fim do mundo? Como pudera não prestar atenção? Tudo havia caído aos pedaços, só sobrara seu prédio, mas nenhum vizinho. Mas, espere. Algo se move lá embaixo, ele avista pela janela.

                Desce as escadas furiosamente, de pijama mesmo - uma calça de moletom e uma velha camiseta de uma velha banda - para abordar aquela pessoa. Ela já ia longe, mas ele conseguia ver que a conhecia. Longos cabelos, estavam maiores do que ele se lembrava. Tentou chamá-la, mas ela não parou. Correu atrás dela, ela estava em um compasso sem pressa alguma. Parecia estar alheia a toda aquela destruição. "Céus, ela não vê que tudo está caindo aos pedaços?", ele pensou. Finalmente havia alcançado-a. Com a excessão dos cabelos, era realmente como ele se lembrava dela.

                - Aonde você está indo? - ele perguntou.

                - A lugar algum. Tudo acabou mesmo. Não temos mais por que ficar aqui. A última nave partirá em cinco minutos. Você não vem?

                - Nave!? Do que você está falando?

                - Meu Deus, faz tempo que anunciaram. Você não vê televisão?

                - Mas... mas ontem estava tudo bem. Que maldito dia é hoje!?

                Ela disse o dia. Era impossível. Havia se passado quase meio ano desde o último dia marcado na sua agenda.

                - E para onde essas naves nos levam?

                - Eu não sei. Dizem que é para algum lugar melhor. Diferente, no mínimo. Afinal, isso tudo aqui explodiu.

                - Não consigo ir para qualquer lugar. E se estiverem nos escravizando? Aliás, quem fez essa destruição? Foram ets? Foi uma catástrofe?

                - Não sei. Não nos explicaram. Simplesmente tudo explodiu. Sobraram alguns. Dizem que vamos para outro planeta, não sei. É a nossa única chance.

                Ele decidiu ir. Não tinha mais por que ficar. Tudo havia fugido ao seu controle. Pelo jeito havia sido até demitido de seu trabalho. Tanto fazia para ele agora, tudo estava destruido.

                - Então espere que eu tenho que fazer a minha mala...

                - Não precisa. Nos darão roupas e tudo mais.

                E então eles foram, juntos. De alguma forma, ele sabia que conhecia essa pessoa, mas o cabelo dela realmente havia crescido. Mas sabia que confiava nela, que tinha que confiar nela. Decidiu ir então, junto com ela. Por fim ele se lembrou que um dia havia jurado que, com ela, iria para qualquer lugar. E era exatamente para qualquer lugar que eles estavam indo.


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