O Andarilho escrita por netobtu


Capítulo 16
Capítulo 16




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            As pernas do Homem tremiam. Com certeza, se achassem eles ali e vissem o guarda da cela morto, os outros guardas vingariam aquela morte, realizando outras três: a dele, a do malabarista e a do cão. Os passos iam aumentando cada vez mais, o Homem estava paralisado. Cada passo parecia trazer sua morte mais perto. Já podia ouvir a morte chegando perto, um frio gelado passando por toda sua espinha.

            Foi quando olhou para trás e viu o malabarista sentado na cadeira do já morto guarda, vestindo as vestes do defunto, toda ensangüentada nas costas, o que era impossível de o Homem (ou qualquer um que entrasse pela porta da sala) perceber. Até o capuz do uniforme ele estava vestindo, deixando seu rosto envolto nas sombras. O barulho da morte e o vento gelado eram, claro, oriundos das facas do malabarista, que agora as jogava para cima e pegava, mirando a porta.

            - Vão você e o cão para dentro da cela, temos de sair daqui, e rápido. - disse o malabarista.

            O Homem não perguntou e foi para atrás das grades, tocando o cão junto, fechou a porta, e ficou observando a porta, o suor frio brotando de todos os poros de seu corpo, deixando-o cada vez mais angustiado. Os barulhos dos passos foram aumentando e ele pôde ouvir vozes, porém não conseguiu entender nenhuma palavra. Decidiu fechar os olhos e apenas ouvir.

 

- ! -

 

            O malabarista, por incrível que possa parecer, pelo pouco (ou muito) que o conhecemos, leitor, estava tenso. Fitando a porta (agora as facas já paradas) com os olhos inexistentes apertados. Cada vez mais os passos iam ficando mais próximos, as gargalhadas cada vez mais perto. Preparou as mãos próximas à cintura, onde as facas estavam guardadas, agora silenciosas. Quando achou que era a hora correta, ficou em posição de partida, quase flutuando sobre a cadeira (o que era mentira, pois seus pés estavam bem firmes no chão).

            Entrou o primeiro guarda, que olhou para o guarda sentado à mesa. Logo depois entrou o segundo guarda. Foi como que o tiro de partida de uma corrida para um atleta. Só que foi para o malabarista.

            Encapuzado e uniformizado como seus inimigos recém chegados, o malabarista levantou-se de um salto, já puxando duas facas, jogando-as para cima, o que fez a sala se encher de lamentações e gritos agonizantes, bem como de um vento sobrenatural. Os guardas nada puderam fazer, enquanto tentavam entender a situação, não sabendo se olhavam para as facas ou para a figura de capuz que vinha correndo para cima deles, já com as mãos para o alto puxando a primeira faca do ar e passando-a na garganta do primeiro, fazendo um rastro de sangue que, por um momento, parecia flutuar. Antes mesmo deste cair ao chão, morto, o segundo já experimentava a outra faca sendo enfiada em seu estômago, ao passo em que seu algoz, nosso malabarista, começava a rasgá-lo de fora a fora. Não houve tempo para gritos, a não ser o das próprias facas.

 

- ! -

 

            O Homem abriu os olhos, todo arrepiado e trêmulo, sentindo o frio proveniente das facas.

            - Acabou? - perguntou ao malabarista, que agora estava tirando o uniforme.

            - Sim, pode sair, vamos embora.

            Saiu da cela com o cão e se juntou ao malabarista, que estava guardando as facas ensangüentadas na cintura novamente.

            - Você nunca limpa elas? - perguntou o Homem.

            - Limpar para quê? - perguntou-lhe o malabarista.

            - Você guarda elas assim, todas cheias de sangue, é meio nojento.

            - Isso que você acha nojento corre nas suas veias.

            - Não sei nem por que eu tento manter uma conversa com você, é perda de tempo, você sempre sai, se esquiva. Vamos embora logo deste lugar, está cheirando a morte.

            Agora eles finalmente ultrapassaram a porta da sala e se depararam com o corredor de antes. O Homem olhou para a escuridão e se viu totalmente ferrado pela vida. Ele não sabia aonde estava, não sabia por que se encontrava ali e nem por que ainda estava vivo. Certamente alguém estava pregando alguma peça nele, era isto que devia passar na cabeça dele neste momento.

            - Para onde vamos? - perguntou o malabarista.

            - Sabe de uma coisa? Guie você, vai indo, você tem as facas e pelo jeito as maneja muito bem.

            - Não posso guiar.

            - Como não?

            - Não posso, sinto que vai sair errado se eu guiar, não sei aonde iríamos parar. Tenho medo.

            - Medo? Como assim? Você não sente dor, mas tem medo. Medo de quê?

            - De sumir, de não saber guiar como você. - finalizou o malabarista, dando um empurrão nas costas do Homem.


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