Havia acabado o primeiro show da Out There Tour e Paul não poderia estar mais animado e cansado, afinal, não era fácil aguentar um show de quase três horas de duração aos 70 anos de idade e também deveria ser levado em consideração o fato de que o show era no Brasil, haja energia para acompanhar esse povo. A caminho do camarim, todos parabenizavam Paul, o primeiro show havia sido um sucesso e ele não poderia estar mais orgulhoso, mas tudo o que queria mesmo era apenas deitar e descansar um pouco.

Paul entrou no camarim e fechou a porta atrás de si, ele caminhou até uma mesinha que estava encostada na parede que dava de frente a porta e se serviu de uma boa dose de whisky, ele se sentia tão bem quando se apresentava ao vivo, era uma das coisas que ele mais amava, quando estava no palco esquecia de todos os problemas, não tinha algo melhor do que sentir a energia e o amor dos seus fãs, Paul sempre dizia que enquanto tiver apenas um fã que se sentisse inspirado por sua música , ele não iria se aposentar, música era sua vida, seu porto seguro, não conseguia se imaginar fazendo mais nada além de música. Seus pensamentos foram interrompidos quando ouviu alguém batendo na porta, Paul não pode conter a decepção, tudo o que queria naquele momento era ficar um pouco sozinho, a pessoa bateu de novo, ele colocou o copo na mesa e soltando um suspiro abriu a porta dando de cara com uma elegante mulher. Ela estava vestindo uma calça jeans preta, botas de cano baixo pretas, pulôver de gola rolê também na cor preta, óculos escuros e um enorme casaco branco, trazia nos braços uma bolsa Chanel e um envelope. Paul abriu um sorriso e a mulher entrou fechando a porta atrás de si:

—Demorou para chegar. — disse Paul entregando a Kris, sua assistente, um copo com whisky e sentando no sofá ao lado dela. Ela tirou os óculos e Paul notou o quanto a amiga parecia cansada.— Aconteceu alguma coisa?

─ Bom, estava saindo de casa para pegar o avião quando minha filha me ligou desesperada, ela pegou o marido dela na cama com outra, discutiu com ele e mandou ele ir embora, ele não gostou muito e tentou bater nela, mas ela conseguiu pedir ajuda. Peguei o primeiro avião que tinha para Nova York e fui encontrar com ela.

─Coitada. ─ disse Paul, ele foi um dos padrinhos de casamento de Amber e a considerava da família.─ Mas ela está bem?

─ Na medida do possível. Depois de tudo ter se acalmado um pouco, levei ela para Los Angeles e ela ficou na casa do pai, eu ia ficar com ela, mas ela falou que eu poderia vir, então peguei um voo para o Brasil e aqui estou. Quatro lugares de três países diferentes em menos de 24 horas, estou morta Paulie.

Paul colocou seu copo vazio no chão e pousou a mão no ombro de Kris que deitou a cabeça em seu ombro, ela sempre fazia isso quando queria que Paul a abraçasse e foi isso que ele fez, ele lhe deu um forte abraço e Kris se sentiu bem, ele depositou um beijo no topo de sua cabeça e sussurrou:

─ Não precisava ter vindo, poderia ter ficado lá com ela, vou mandar um carro te buscar e te levar para hotel, você toma um banho bem quente e descansa um pouco. Amanhã você volta para LA e vai ficar com a Am o tempo que precisar.

─ Não sei o que faria sem você Paulie, você é como um irmão para mim, eu te amo tanto.

─Eu também te amo Kris. ─Kris se soltou dos braços de Paul e se virou de frente para ele.

─ Antes de sair eu passei na sua casa e Nancy pediu para te entregar essa carta, é da Yoko.─ ela entregou o envelope para Paul, levantou e dando um beijo na testa dele, se despediu. ─ Vou para o hotel, te vejo amanhã de manhã? ─ Paul olhou para ela pensativo e levantou dizendo:

─ Vou com você, estou cansado. ─ Paul juntou suas coisas e foi para o hotel junto com Kris.

Paul chegou já tirando os sapatos, do quarto dava para ouvir perfeitamente o canto das pessoas que estavam acampando na entrada do hotel, não podia negar que amava aquilo, todo aquele mimo que seus fãs davam. Após um longo banho, ele já ia deitando para dormir, quando lembrou da carta de Yoko. Dentro da carta havia um bilhete e um outro envelope amarelado, o bilhete era de Yoko e dizia assim:

"Estava arrumando alguns livros antigos, quando notei que havia algo dentro de um, quando abro me deparo com uma carta de John endereçada a você. Fiquei muito surpresa com isso já que, todas as cartas que eu tinha conhecimento já lhe foi entregue, não faço ideia do conteúdo e mesmo com a curiosidade, não me atrevi a abrir. Enfim, isso é tudo meu caro amigo, espero te ver em breve e boa sorte com sua turnê. Com amor, Yoko."

Paul abriu o envelope amarelado e assim que abriu o papel reconheceu imediatamente aquela caligrafia, para sua surpresa não era a de John. Ele simplesmente não sabia como reagir. Como John poderia ter aquilo por tanto tempo e não comentou nada?

Paul olhou mais uma vez para o papel e parecia que haviam enfiado uma faca em seu peito, seus olhos encheram de lágrimas ao ler aquelas palavras repetidas vezes:

"Tanta coisa em minha mente, eu acho que eu penso demais
Leia entre essas linhas, o peso das palavras não ditas
Mas o tempo vem para descansar quando você está ao meu lado, que desfoca
E eu seguirei onde isso me leva
E os meus amanhãs longos para ser desconhecido
Quando tudo está abalado, seja minha segurança
Em um mundo incerto, dizem que você vai ser minha pedra
Alterar em cada vento
As areias do tempo não sabe o nosso nome
Oh nada é certo, mas certamente como nós estamos
Eu prometo que vai ficar na mesma
E eu nunca vi sempre
Mas eu sei que nós vamos permanecer."
—Shiarra

Shiarra Baker foi a melhor amiga e primeiro amor de Paul e desde o primeiro momento que a viu, nunca conseguiu tirá-la da cabeça. Ele sempre reconheceu que sua vida havia tomado aquele rumo por causa dela. Paul e John nunca haviam comentado sobre Shiarra para ninguém, ela era um segredo no qual eles guardaram em seus corações.