Lembro-me bem de quando te conheci, éramos crianças tão diferentes, mas assim que meus olhos te encontraram fiquei encantada por você, isso para não dizer deslumbrada. Lembro-me também que não fui a única a reagir assim com sua presença, mas como uma jovem esperançosa achei que algo dentro de mim dizia que o que surgia dentro de mim era intenso demais para ser ignorado. Então eu alimentei aquele sentimento como alguém que rega um brotinho na esperança de que um dia ele vire uma grande árvore.

E esse brotinho, embora não fosse nem um pouco retribuído, continuou crescendo em silêncio dentro de mim. Por isso você nem deve imaginar o tamanho da felicidade que me tomou quando nos foi revelado que eu ficara na sua equipe, a equipe 7. Parecia até que os céus estavam dizendo: “continue assim, você está no caminho certo”.

Como fui tola.

Todavia não foi aí que eu percebi que estava errada. Não. Eu precisaria sofrer um pouco mais para poder entender o que se passava e o quão a realidade diferia de meus sonhos de contos de fada.

O primeiro grande impacto foi quando você nos abandonou para ficar sob a tutela de Orochimaru. Lembro-me muito bem do quanto me senti inútil e do quanto chorei no ombro de Naruto, completamente alheia a toda bagagem sentimental que eu estava jogando em cima dele. Ele chegou até a me prometer que lhe traria de volta, custe o que custasse, e para mim aquilo foi o bastante no momento. Se eu pudesse voltar no tempo, mudaria isso e pediria para que Naruto não persistisse em sua busca.

Infelizmente não é possível.

Assim passamos anos seguindo seus rastros, sempre alimentando aquele desejo impossível de lhe resgatar das garras de Orochimaru. Não que você precisasse ser resgatado, afinal foi por escolha própria que seguistes pelo lado negro.

O segundo grande impacto foi quando atacaste Naruto naquele esconderijo antigo de Orochimaru. Lembro-me bem do quão consternado o loiro ficou depois que, após tentar nos matar, você virou as costas e simplesmente foi embora. Meu coração já trincado sentiu as pequenas rachaduras crescerem e tornarem-se profundas; e novamente joguei o peso de toda a minha infelicidade nas costas do portador da raposa que aguentou tudo com lágrimas silenciosas.

Ao menos esses acontecimentos fizeram com que minha vontade de ficar mais forte crescesse consideravelmente, tanto que hoje sei que sou uma das melhores ninjas médias além de ter aprendido a me defender com a maestria digna da nossa antiga hokage.

Depois disso foram tantos encontros infrutíferos que, mesmo inconscientemente, passei a mudar de modo gradual meus pensamentos. Contudo, uma pequena parte de mim ainda mantinha fé de que conseguiria te convencer a esquecer toda aquela promessa duma vingança louca.

Mas aí você tentou me matar.

Se não fosse pela interferência de Naruto e Kakashi, eu provavelmente já estaria com meu nome gravado no monumento em Konoha. Foi aí que aquele amor que tanto me cegava e me fazia sofrer, começou a definhar e se tornar algo diferente. Ah, mas não se engane. Eu ainda chorei bastante por sua causa.

Tantas coisas aconteceram em seguida...

Você, Sasuke, conseguiu matar seu irmão, almejou a destruição completa de Konoha e matou muitas outras pessoas que talvez eu nunca vá ouvir falar, entretanto o pior mesmo foi você chegar na guerra contra Madara declarando que iria ser o próximo hokage. Àquela altura tudo que eu poderia sentir por você era pena. Pena por você ter se tornado alguém tão distorcido e perdido ao longo daqueles anos. Pena por você perceber tão tarde a grande falha que era sua vingança. Pena por você ter se tornado algo tão diferente do que era quando te conheci.

Enfim.

Fui tratada como lixo, desprezada, julgada como inútil, deixada para trás na primeira oportunidade. Fui alvo de sua vontade assassina, vivi para ver sua loucura se tornar quase irreversível. Chorei incansavelmente por um sentimento sem futuro e que eu achava, erroneamente, ser amor. Humilhei-me atrás de você, rastejei pedindo para que voltasse. Tudo para ser tratada cada vez pior a cada encontro.

O desespero quase me consumiu, todavia, com um esforço sobre-humano vindo de um lado de minha personalidade que eu nem sabia que existia, consegui me reerguer. Aprendi que existia motivos para continuar vivendo além do amor doentio que nutri por tanto tempo, percebi que sempre houve pessoas a minha volta que me amavam.

E por fim superei.

Naruto ainda cumpriu sua promessa e trouxe você para casa, mas no fundo eu sabia que nada mais seria exatamente como antes. Não que eu esteja reclamando, afinal sua ajuda na última batalha foi muito essencial. Conseguiu, inclusive, voltar como um herói para a vila. E te parabenizo por isso.

Contudo não confunda nossa situação por causa disso. Assim como não posso ignorar as suas investidas nos últimos meses. Não ache que te odeio, pois depois de tudo o que passamos aprendi ser uma pessoa melhor para mim mesma e a perdoar para esquecer mágoas passadas. Voltamos a ser amigos, no entanto, nada além disso.

Consegui te superar e a superar aquele sentimento corrosivo com muito esforço, e hoje tenho um amor-próprio mais forte do que em qualquer outro momento da minha vida.

Aprendi, enfim, a me amar e a prezar pelo o que sou, sem precisa depender de opiniões alheias. Sou ninja, sou médica, sou melhor amiga, e sou... Bem, Sakura.

Uma Sakura que jamais vai dar uma segunda chance para um sentimento tão nocivo. Algo, aliás, que nunca deveria ter passado de uma paixonite adolescente. Algo que me fez tão mal.

Portanto, te peço, Sasuke. Esqueça-me.