Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 93
Capítulo 93




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Capítulo 93 - A Noite do Medo

 Por incrível que pareça, era uma noite silenciosa de sexta na pensão do tio Joaquim. Tudo bem, era preciso lembrar que tio Joaquim estava dormindo cedo, dona Joana havia saído para passar o fim de semana na casa de uma parente e Stephany tinha resolvido passar a noite na casa de uma amiga, mas mesmo assim as coisas estavam bem quietas. Talvez, fosse o clima mais pesado do filme que Thiago, Mariana, Renata e Fabíola  estavam assistindo na sala. A médica estava de regata e shortinho, esparramada no sofá maior, comendo um pouco de amendoim acompanhado de cerveja (obviamente). Renata estava sentada na poltrona do outro lado da sala, enquanto Mariana estava usando o mesmo pijama que a irmã, junto com Thiago na outra poltrona, segurando uma tigela de pipocas. Parecia uma sexta-feira própria para cinema em casa, embora Mariana não gostasse muito de filmes de terror. E a chuva que estava prestes a cair lá fora também não ajudava a amenizar o mal estar da garota.

 - Aaaaiii! - Mari desvia o olhar da televisão, abraçando-se em Thiago. Renata dá risada enquanto pega amendoim da tigela de Fabiola.

- Não acredito que justo você é a mais medrosa daqui, Mari - ri Fabíola.

- Cala a boca! Eu detesto essas cenas violentas!

- Mas é só um filme - Thiago tenta confortar a namorada - Ninguém morreu de verdade durante as filmagens

- É um filme bem realista - acrescenta Renata - Vocês viram como ele cortou os braços dela com aquela serra elétrica?

- Eu vi! - Fabíola se anima, ajoelhando-se no sofá - E olha que foi só o segundo assassinato! Mais para frente deve vir coisa pior!

- Que horror! - Mariana coloca uma almofada na frente de cada orelha, querendo evitar escutar aquilo tudo - Como consegue dormir à noite vendo filmes assim?

- Eu sou médica, querida. Eu TENHO que ter estômago para ver essas coisas - explica Fabíola, tomando mais um gole de cerveja.

- Irrc! Por isso que escolhi engenharia - reclama Mariana, ainda com as almofadas tapando as orelhas. Thiago tenta acalmá-la com um abraço.

- Calma, amor. Calma. Eu tô aqui, não tô?

- Eu sei... - mas Mariana ainda parecia impressionada - É que eu odeio esse tipo de filme! Quem teve a ideia de alugar isso aí?

- Foi o Thiago - responde Renata.

- Como é que é, ô namorado da onça? - Mariana parecia ter mudado de humor - Você que escolheu essa porcaria?

- Bom...é que eu não sabia que você não gostava desse tipo de filme e...

- Tsc. Você ainda não me conhece direito mesmo, né? - reclama a loirinha - Acho esses filmes uma idiotice!

- Shhh! Eles estão falando alguma coisa - Fabíola pede silêncio para continuar a ver o filme.

- Pode assistir - retruca Mari - Eu que não fico mais aqui

- Ah, que é isso, amor? Pode continuar com a gente

- Vou para a cozinha tomar água e ler alguma coisa no quarto. Bom proveito - responde Mariana.

 Thiago faz uma cara de chateação. Renata dá risada. Parece que a ideia do rapaz não tinha dado muito certo.

- Xii, Thiago - fala Renata, depois que a irmã sai de cena - Seu plano falhou

- Não era bem um plano...bom, no fundo eu só...

- Shhh! Vocês querem ver o filme ou não? - reclama Fabíola.

 A verdade é que Thiago tinha alugado um filme de terror esperando mesmo que Mariana ficasse impressionada para se agarrar ainda mais com ele. Pena que isso não aconteceu exatamente como ele queria.

* Imaginação do Thiago *

 - Aaaaiii...Thi! Não quero ver! - grita Mariana, se encolhendo no colo de Thiago para desviar o olhar da televisão.

- Tudo bem, tudo bem - Thiago a beija carinhosamente - É só um filme

- Tô com medo, Thi...eu...eu posso dormir no seu quarto essa noite?

- Ah, mas é claro. Estarei lá o tempo todo para te proteger.

- Isso se eu conseguir dormir...se eu não conseguir dormir...a gente pode fazer outra coisa, né?

- Claro. Hehe!

* Fim da imaginação do Thiago *

- Hehe...hehehe - Thiago continuava rindo. Fabíola e Renata se entreolham constrangidas, mas no fundo elas já tinham se acostumado com as esquisitices do garoto. Enquanto isso, Mariana estava na cozinha, bebendo água e ainda pensando no quanto aquele filme de terror era idiota. "Não que eu tenha medo", ela pensa, "Mas...sei lá...é de tão mau gosto e...". Nisso ela ouve um barulho estranho. Havia alguma coisa lá fora? Tinha começado a chover. O que alguém poderia querer naquela hora? Mesmo sem querer, Mari começa a lembrar do assassino do filme e fica meio receosa. Ela volta para a sala, em passos lentos.

- Thiago - ela chama o namorado baixinho.

- Hã? Eu? - o rapaz se levanta e segue na direção da loirinha - O que houve?

- Você pode vir comigo um instante?

- Hã? O que foi?

- Só um instante

"O que será que é? Assim...sozinho com ela...será? Bom, não custa nada ir ver, né?", pensa o garoto, já imaginando bobagens a mais. Só que, ao chegar na cozinha, ele percebe que o assunto não era bem aquele.

- Tá ouvindo?

- Ouvindo o quê? - pergunta Thiago.

- Um barulho...parece que tem alguém querendo entrar

- Querendo..entrar? - repete Thiago, sentindo-se arrepiar.

- É. Dá uma olhada lá fora.

- Eu?

- É. Você. O Tio Joaquim tá dormindo e você é o único homem da casa. Você tem que proteger a gente

- Não é melhor chamar a polícia e...

- Pode ser só um gato ou um ladrão assassino, mas...dá uma olhada lá, Thi...não precisa chegar perto...eu tô preocupada

- Um gato! Claro! Só pode ser um gato..hehe - fala Thiago, sem a mínima vontade (e coragem) de olhar lá fora.

- Você acha? Mas vê se é mesmo

- Ora, Mari. Acha que eu não vou conhecer o barulho de um gato quando ver um?

 Só que o barulho fica mais constante e eles ouvem alguns passos se aproximando. Os dois gelam.

- Isso parece... - murmura Thiago

- Ser alguém - concorda Mariana.

 O casal grita e corre para a sala. Fabíola já fica irritada.

- Ai, caramba! Já vi que vocês não querem que eu termine de ver esse filme, né?

- É que...é que...tem alguém na casa! - gagueja Mariana, assustada.

- Claro! O tio Joaquim, né? - fala Renata.

- Não é isso! Tem alguém querendo entrar! - fala Thiago, tão assustado quanto.

- Que é isso, Mari? Você não mantém a calma sempre? - pergunta Fabíola.

- Ela deve estar impressionada por causa do filme - comenta Renata.

- Que mané filme! Com esse mundo violento de hoje, só pode ser um ladrão...droga

- Ladrão? Mas aqui só tem pé rapado - lembra Fabíola.

- Ai...alguém liga para a polícia e...

Mas nisso dá um trovão e a luz se apaga. Ótimo. As coisas só melhoravam. Thiago fica mais assustado e se abraça a namorada. Ou pelo menos a quem ele achava que era sua namorada.

- Calma, calma...eu tô aqui

- É...tô vendo - responde a voz.

- Eu te protejo, amor. Pode deixar - Thaigo dá um beijinho no rosto dela, mas a resposta foi meio estranha.

- Obrigada, Thiago, mas não é melhor proteger a Mariana que é sua namorada? - sorri Renata, a pessoa que Thiago estava agarrando.

- Thiagooo!!! - Mariana já estava deixando a raiva entrar no lugar do medo - O que você tá fazendo?

- Calma, Mari. Ele só me abraçou sem querer

- É...foi sem querer - fala Thiago, embora ainda estivesse agarrado à cunhada.

- Então...já pode me soltar, Thiago

- Hã? Claro, claro..

- É que eu não tô te vendo, Thiago...mas quando a luz voltar...

- Eu já acho uma vela ou o meu celular e...cacetada...os barulhos aumentaram - comenta Fabíola, ao ouvir mais movimentos estranhos na porta da cozinha e algumas batidas.

- Está...batendo na porta? - pergunta Mariana.

- Está. Ele vai arrombar a porta! - exclama Thiago. Nisso, as batidas aumentam ainda mais - Ai, Mari! Acalme-se! - Thiago abraça alguém mais uma vez.

- Eu tô calma, Thiago...mas não vou poder procurar com você agarrado em mim desse jeito - reclama Fabíola, para deixar Mariana ainda mais irritada.

- Thiago! Seu...como se atreve a fazer essas sem-vergonhices na minha cara? Se eu te pego

- Não foi por mal!

- Se aproveitando do escurinho pra tirar casquinha de todas, heim, Thiago? Que taradão, né? - ri Renata, mas Mariana não estava vendo graça nenhuma.

- Thiago...se eu te pego.

- Tem problemas maiores aqui, Mari! 

 E, de fato, as batidas aumentavam. Fabíola se aproxima da porta da cozinha de onde vinham as batidas, graças a iluminação de seu celular que ela encontrou na mesa e, surpreendentemente, vê que a ameaça era menor do que pensava.

- A Fabíola chegou lá para ver o que é? - pergunta Mariana.

- Ela é mesmo a mais corajosa - comenta Thiago. Nisso, outro trovão acontece e dessa vez ele agarra Mariana mesmo - Err...é você, né, Mari?

- Dessa vez sou eu - responde a loirinha - Mas..o que aconteceu com a Fabíola?

- Não é melhor a gente ir ver? - sugere Renata, mas não precisou muito. Eles logo sentem duas presenças chegando. Agora Thiago agarrava Mariana cada vez mais forte.

- Aaah...são dois - fala Renata.

- Será que ele transformou a Fabíola em zumbi? Coitada! - diz Mariana.

- Não quero morrer! Eu ainda sou virgem! - lamenta-se Thiago. Mariana ainda arranja forças para dar um tapa nele.

- Mas nem à beira da morte você consegue parar de pensar besteira?

 Só que vendo de perto, a ameaça não era nada demais. Era só a Raquel.

- Oi, oi, gente - fala a ruivinha, molhada.

- Raquel?! - os três se espantam.

- É. A Raquel - fala Fabíola - Por que você estava tentando entrar pela porta dos fundos?

- Então...eu esqueci minha chave e ninguém ouviu a campainha. Daí eu pulei o muro, lembrei que a porta dos fundos é a última a fechar e pensei que estivesse aberta, mas eu me enganei. E o pior que começou a chover e ninguém ouvia eu bater.

- Ah...sabia. Só podia ser a Raquel. É verdade. Ela ainda estava trabalhando - diz Thiago - Suspeitei desde o princípio

- Ah, claro - fala Mariana.

- Nossa. Acabou a luz, né? Que escuro - diz Raquel, ainda tateando para deixar sua bolsa na mesa. Nisso, outro trovão estoura - Aaah...trovão!

 Raquel se vira e acaba abraçando Thiago. Claro que ele não reclama, mas por azar, Mariana estava com o celular lanterna de Fabíola naquele momento. Nem é necessário dizer que Thiago levou outro tapa.

- Até a luz voltar...ninguém abraça mais ninguém, tá bom?

- Desculpa...é que eu detesto trovões - fala Raquel.

- É...tadinha dela, Mari - provoca Renata.

- Calem-se! - grita a loirinha. Parece que a impressão do filme de terror se foi e Mariana assume a liderança de novo. É...no fim, foi mesmo uma das noites mais barulhentas da pensão.


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