Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 86
Capítulo 86




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Capítulo 86 - Serviço de babá

 Naquela quarta-feira, César caminha cantarolando até o ponto de ônibus no centro da cidade. Segurando um papel na mão que marcava algum tipo de endereço e com um mapa do Google Maps impresso, ele aguardava a chegada de sua condução. Coincidentemente, Thiago também passava por ali, segurando uma sacola com algumas revistas em quadrinhos. Ele reconhece rapidamente seu amigo no ponto e o cumprimentou.

- Hey! César! Passeando por aí? - chega o rapaz acenando. César sorri.

- Ah, oi, Thiago. Pois é...arranjei um emprego temporário

- Sério? Legal. Onde é? Algum estágio?

- Bem...não é algo tão grande assim - ele fala - A mulher desse endereço está pagando uma nota preta para tomar conta do bebê dela

- Bebê? Peraí...desde quando você é bom nessas coisas? - questiona Thiago, intrigado com uma ocupação tão peculiar do amigo.

- Desde que tive que cuidar duas vezes de meus irmãos menores - fala César.

- Não sabia que você tinha irmãos

- Eles moram na minha cidade. E também acho interessante aprender sobre essas coisas...pode te ajudar depois que você se casar

- Já decidiu com quem vai se casar? - pergunta Thiago, todo empolgado. César começa a pensar em suas duas paixões Renata e Raquel, e logo entra num conflito mental de novo.

- Aaaah! Não me pergunte! Ainda não me decidi! - ele coloca a mão na cabeça e acaba deixando cair o papel. Thiago analisa o endereço e, de alguma forma, acaba reconhecendo o local.

- Peraí.. - diz ele, antes de entregar o papel que recolheu a César - Esse local não me é estranho

- Não?

- Se importa de eu ir com você? Acho que conheço esse lugar, sim! - diz Thiago, mais ansioso.

- Mas o salário não vai ser tão alto e...

- Tudo bem. É que...tô cismado com uma coisa e também...queria aprender como cuidar de crianças para o casamento.

- Já pretende se casar com a Mariana? - estranha César.

- Bem, não agora, mas ninguém sabe o futuro, né? Hehe! - disfarça Thiago.

- Acho que ainda não acredita que eu sei cuidar de crianças, não é?

- Eu disse isso. Não disse, disse? Relaxa. Só quero aprender com você! - Thiago abraça o amigo com um dos braços - Além disso, estou de folga hoje. Ia passar a tarde lendo essas histórias em quadrinhos que acabaram de chegar e..

- Tá bom, tá bom. Vamos lá. O ônibus já tá chegando - diz César, avistando seu ônibus chegar. Thiago se anima e segue com o amigo até o endereço. Ao chegarem lá, César fica vislumbrado com a mansão que estava diante dele. Era mesmo...grande. Bem grande. 

- Uau! Isso é uam casa? - fala César.

- Sabia! Esse é o lugar! - Thiago estala os dedos. Ele já esteve lá antes. Pertencia a ninguém menos que uma grande estilista conhecida como Sara Sarina. Rica, poderosa e...dormia pelada, embora esse último detalhe não seja tão relevante para a carreira dela.

- Tá brincando? Já trabalhou aqui?

- Tenho boas e más lembranças daqui (*)...mas fiquei curioso em saber...a Dona Sara tem um filho pequeno? - Thiago se pergunta.

- Sara?

- Sara Sarina. É uma estilista famosa

- Como? É a mesma Sara que organizou aquele concurso de biquinis? (**)

- Ela mesma - responde Thiago.

- Ela não deixou o nome no anúncio do jornal...e eu tratei com a secretária dela...nem tinha ideia.

- Pois não? - pergunta o porteiro da casa. Thiago o cumprimenta e o homem logo se lembra da vez que o rapaz trabalhou ali sendo obrigado a usar uniforme de empregada. Apesar da risadinha, o porteiro avisa a patroa e deixa os dois entrarem. Thiago entra olhando de lado para o porteiro, que continuava rindo baixo.

- Por que ele tá rindo? - pergunta César.

- Não importa - diz Thiago - Bom. Vamos lá. Faz tempo que não vejo a Dona Sara...

- Ela é bem bonita, não é?

- Pois é...

- Aposto que também me acompanhou só pra tirar uma casquinha dela - César critica. Thiago fica vermelho.

- O quê? Claro que não! Nunca faria isso e... - ele não termina de falar pois sente uma mordida na canela. Era a cadelinha poodle dela: Pompom.

- Pompom! Sou eu...larga...não tá me reconhecendo? - grita Thiago.

- Pompom! O que estão fazendo com você? - era a voz da Sara, que chega na sala com roupas de grife caras, salto alto, perfumada e maquiada. Devia estar prestes a sair. De perto, era ainda mais linda.

- Ah, dona Sara! Bom vê-la de novo - diz Thiago.

- Você? Não pensei que fosse babá além de empregada - diz a madame, enquanto pega Pompom no colo.

- Na verdade...a senhora falou comigo. Ele veio apenas acompanhar o serviço - fala César.

- Ah...que seja - responde a mulher - Pois é...a babá que trabalha para mim não pode vir hoje e justo hoje apareceu uma reunião de emergência. Preciso de um substituto urgente para ela

- Pode contar comigo. Tenho experiência em cuidar de bebês - César garante. Sara sorri e entrega Pompom nos braços dele. O rapaz não entende.

- Parece que meu bebê gostou de você. Ótimo.

- Espere um pouco - balbucia o rapaz - O seu bebê é...

- A Pompom. É claro. Sou ocupada demais para ter uma família maior que essa.

- Ah, eu devia ter imaginado. Vamos cuidar direitinho de você, né, Pompom? - diz Thiago, tentando fazer carinho nela, só para ter sua mão mordida sem dó. Sara bronqueia.

- Tome cuidado com ela, seu bruto! Estou de olho em você

- Mas eu não fiz nada! - Thiago tenta se defender, mas Sara não quer ouvir desculpas. Ela se despede dos garotos e dá algumas orientações a mais, como as rações que ela precisa comer e a proporção exata de cada marca. Qualquer erro nisso, poderia resultar em um problema. Os dois ouvem com atenção e se despedem da patroa. Era isso.

- Quem diria? A grana vai ser mais fácil do que a gente pensava - fala Thiago.

- Só precisamos cuidar para que a cadelinha não faça bagunça e dar comida para ela. Vou receber até demais por isso - fala César.

- Heh! Realmente fiz bem em te acompanhar

- Claro. Vai poder ficar na mordomia a tarde inteira

- Você acha que sou esse tipo de folgado? Claro que não! E, ei...ela tem TV por assinatura

- Acha que podemos fazer isso?

- Ela falou que podíamos ficar à vontade, não falou? - diz Thiago - Vamos ver que canais ela tem...e...nossa, esse filme é muito bom!

- Deixa eu adivinhar...você vai ficar aí só de boa e eu fico olhando a Pompom. É isso?

- Como? Claro que não, César! Imagine! - fala Thiago - Vamos dar comida para a Pompom...aposto que ela dorme a tarde inteira depois que come

- Você acha?

- E a gente aproveita para fazer um lanchinho pra gente também. A cozinha dela deve ter bastante coisa gostosa

 A empregada estava lavando roupa, mas foi apresentada para os meninos antes de Sara sair. Ela diz que eles podiam pegar a ração da Pompom num armário do lado da porta da cozinha. Thiago vê várias marcas e sabores. César lembra a orientação da patroa.

- Ela disse que nas quartas a Pompom come 70% da ração Pedigree Pump sabor carne bovina e 30% de Dog Flavour sabor cordeiro.

- Sabor cordeiro? Isso deve ser caro à beça - diz Thiago, tirando as latas de ração do armarinho.

- Seja como for é melhor seguir a orientação à risca. A própria dona Sara disse que poderia ter problema se errássemos a proporção, não disse?

- Que tipo de problema pode ter? Ração cordeiro... - repete Thiago, enquanto ajuda César a colocar a ração na tigela na proporção pedida - Aliás...será que é bom?

- Como assim?

- Nunca experimentei carne de cordeiro. Será que é bom?

- Pelo amor, Thiago! Você não está pensando em experimentar a ração do cachorro, está?

- Ah, vá dizer que você nunca tentou fazer isso quando criança?

- Por que eu iria querer experimentar esse troço?

- Nem por curiosidade...fiz isso com a ração do cachorro lá em casa uma vez e até que não foi ruim.

 César fica boquiaberto com o passado no mínimo inusitado do amigo, mas ele já devia esperar algo assim. O que ele não esperava era Thiago experimentar uma colher inteira da ração de cordeiro.

- Cara! É bom! Lembra um pouco frango!

- Não acredito que você fez isso - César realmente não conseguia acreditar.

- Não quer nem um pouco?

- Coloca logo a ração dela! - bronqueia o amigo. Thiago acaba concordando e põe a ração, embora acabe invertendo as proporções.

- Você colocou na razão certa? - pergunta César.

- Claro. 70% de cordeiro e 30% de carne. Era isso, não?

César começa a suar. Faz-se um silêncio entre os dois e a expressão de César não era nada agradável.

- VOCÊ INVERTEU AS PROPORÇÕES, THIAGO?! - o garoto parecia mesmo assustado - E se acontecer alguma coisa?

- Foi mal, foi mal! - Thiago tenta se desculpar - Mas é que tava tão bom e fiquei falando tanto de cordeiro que acabei invertendo, mas que mal isso pode fazer?

 Acontece que Pompom já começou a comer a ração e logo depois começa a olhar para os meninos de um jeito mais enlouquecido.

- Err...Pompom? Sou eu...Thiago...você lembra de mim, né?

 Mas ela começa a correr e latir de forma desefreada, com vontade de comer o que viesse pela frente. Ela sai da cozinha e começa a morder as plantas, depois salta no sofá, morde as almofadas, depois pula no chão e sai correndo em disparada, enlouquecida e mordendo o que encontrasse. Nem o pé da mesa tava escapando. Thiago tenta pegá-la, mas é claro que é mordido. Ele a larga e a bichinha sai em disparada de novo.

- O que aconteceu? - pergunta Thiago.

- Diz de quem é a culpa? - fala César.

- Não é hora pra isso! Olha a bagunça que ela tá fazendo! - diz Thiago.

- O que houve? - a empregada de Sara chega na porta e vê a casa bagunçada - Ai, meu Cristo! A Dona Sara vai matar a gente!

- O que aconteceu com ela?

- Eu tava passando as roupas...vocês não deviam tá tomando conta dela? - pergunta a pobre empregada, tão assustada quanto eles.

- Err...só demos comida pra ela

- A Pompom tem todo um programa com comida...eu nunca entendo nada disso e por isso que a dona Sara chamou vocês! - grita a empregada - O que vocês fizeram de errado?

- Eu não sei! - fala Thiago.

- Não sabe? Isso tudo é culpa sua! - bronqueia César, mais desesperado do que bravo, embora seu lado interior com certeza estava muito bravo.

- Precisamos pegar a criatura de algum jeito! Ah! Isso deve servir! - Thiago pega uma cesta de roupas que estava na mão da empregada e atira em cima da cachorrinha quando ela passa perto dele. Ele consegue prendê-la na cesta, embora tenha que ficar em cima segurando.

- Não! - grita a empregada, com lágrimas nos olhos - São as roupas da dona Sara que eu acabei de passar

- Era isso ou a cara inteira - fala Thiago, enquanto se ouve a cadelinha mastigar alguns pedaços de pano.

- Acho que isso é um problema - diz César.

- Tinha muita coisa cara aqui dentro? - pergunta Thiago se dirigindo à empregada.

- Eram meias, meia-calças e roupas íntimas dela - fala a empregada.

- R-Roupas íntimas? - repete Thiago, gaguejando. César fala que não era hora de pensar nessas coisas. O que eles iriam fazer? Não tinham muita escolha a não ser vigiar a cesta até Sara voltar e amenizar a situação. E a cara que ela faz quando chega, duas horas depois, não era das melhores.

- Err...Dona Sara...a gente pode explicar tudo - fala Thiago, ainda em cima do cesto, com Pompom ali dentro, furiosa e louca para sair. Sara sequer consegue esboçar uma reação inicial diante da bagunça da casa e a crise em Pompom.

- Vocês...não deram as proporções certas, deram? - fala Sara, após se recuperar do choque inicial.

- Digamos que....confundimos um pouquinho - explica César.

- Se vocês dão mais carne de carneiro do que de boi para ela, a bichinha fica louca! Ela quer morder tudo pra sentir o gosto do carneiro de novo! Ela só melhora horas mais tarde....não acredito que fizeram isso!

- Desculpe! - os dois se desculpam em uníssono. Parece que até dar comida para cachorro resultava em confusão quando Thiago está envolvido. Algumas horas depois, Mariana atende o celular enquanto estudava alguma coisa.

- Como é que é? Vai trabalhar na casa da Sara Sarina por mais uma semana de novo? - ela pergunta, intrigada.


-  O César está comigo - fala Thiago - Precisamos...pagar algumas dívidas.

César podia sentir suas lágrimas de frustração escorrerem enquanto tirava pó dos móveis com um vestidinho de empregada, coisa que Thiago também foi obrigado a usar.

"Thiago...você me paga por isso...", César pensava interiormente. De fato, a vida ao lado de Thiago é mesmo cheia de emoções.

(*) = ver capítulos 07 a 09

(**) = ver capítulo 41


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