Capítulo 67 - Alguém coloque uma luz no caminho!

 E a vida universitária de nossos ocupados amigos continuava. Naquele segundo ano, Thiago, Mariana e César ficavam todos juntos apenas em matérias mais gerais, mas ainda mantinham seus laços de amizade.

- E então, César? Você terminou aquela lista de Física...sabe como é, eu não tive muito tempo essa semana e..

- Tá aqui! - responde o garoto, entregando sua lição para Thiago que sorri de orelha a orelha. Mariana já nem se admirava com isso.

- Você não tem vergonha? Já é a terceira vez que você faz isso esse ano! - reclama a namorada, mas Thiago parecia ter boas razões.

- Não tenho culpa! Trabalhando, fazendo iniciação e estudando para matérias mais difíceis como Cálculo III...não dá pra fazer tudo.

- Eu também trabalho, faço iniciação e também tenho Cálculo III...e ainda assim dou conta de todas as tarefas! - a loirinha contra-argumenta.

- Ah..é que você é incrível, né, amor? - ele abraça a garota, para ciúme geral de todos os cuecas próximos - Err...é impressão minha ou eu sinto vários olhares assassinos sempre que eu te abraço?

- Deve ser impressão sua - responde Mariana - Bom...e você, César? Anda cada vez mais calado...pode desabafar com a gente

- Ai, ai - ele suspira - A verdade...é que estou com problemas no coração

- O quê?! Isso é grave! Devia procurar um cardiologista! - exclama Thiago.

- Não é isso! Estou falando de problemas amorosos! - responde o garoto - Quer dizer...problemas pré-amorosos

- Pré-amorosos? - pergunta Mariana.

- Ah, entendi...não é amoroso simplesmente porque ainda não começou a amar!

- É...droga! - César praticamente chora. Mariana dá uns tapinhas no ombro dele.

- Eu entendo, eu entendo...a minha irmã parece não estar querendo nada ultimamente

- Mas não é só ela o problema....meus sentimentos estão muito divididos

- Ah, então tem alguém gostando de você? - pergunta Mariana.

- Na verdade..é alguém que eu gostava de mim

- Está falando da...

Nisso Raquel vê o trio conversando e se aproxima toda sorridente. Parecia estar se dando bem no seu curso.

- Oi, gente! Como vão?

- Ah! Raquel! - César fica mais alerta.

- Nossa...estava passando na biblioteca para pegar alguns livros. Gente, tem mesmo muita coisa para fazer.

- Muitos livros? - pergunta Mariana.

- Preciso me virar para achar um de Química. Acabaram todos os que estavam na biblioteca.

- Ah...se for o mesmo do ano passado...eu tenho em casa

- Sério, César! Valeu! Você é mesmo um bom amigo! Se puder emprestar ainda hoje...é só passar no quiosque Katana mais tarde...claro, se for incômodo, dá pra esperar até amanhã e..

- Imagina, imagina! Incômodo nenhum! Eu passo lá hoje mesmo! - responde o garoto prontamente.

- Obrigada! - ela sorri meigamente - Agora licença gente...preciso mesmo ir para a biblioteca, conversar umas coisas de um trabalho em grupo e só depois vou trabalhar. Vejo vocês mais tarde!

- Ela tá se esforçando mesmo, né? - repara Mariana - E você...César? Vai me dizer que está apaixonado pela Raquel?

- Sim...estou! - ele admite - Na verdade, também gosto da Renata, mas...por alguma razão, não consigo me decidir por nenhuma delas

- Mas por que não gostou dela na época que ela gostava de você? Sua paixão pela Renata era ainda mais forte? - pergunta Mariana.

- Bom...é que na época - mas aí ele para e pensa no que ia dizer - Bom...digamos que na época estava mesmo mais interessado na Renata. Hehe!

- Ah, sei.. - responde a loirinha, no fundo sabendo que César também tinha uma quedinha por ela no ano anterior. A verdade é que o rapaz tinha um coração que cabia mais de uma mesmo.

- Sou mesmo um burro! Burro, burro, burro! Por que só me interesso por garotas que não dão a mínima para mim? - ele se martiriza. Thiago tenta animá-lo.

- Calma, César. Fica frio. A vida é assim mesmo...a gente se apaixona por uma pessoa, e ao mesmo tempo se apaixona por outra, não consegue se decidir por nenhuma e ainda se sente um imbecil por não enxergar uma das pessoas que gostava quando ela ainda gostava de você e..

- Thiago, a vida não é assim e você não está ajudando o pobre do César - critica Mariana - Escuta, César, querido..err...quanto a Renata, ela realmente não tá a fim de nenhum compromisso sério agora...mas quanto a Raquel, acho que você tem uma chance

- Sério?

- Por que não tenta falar com ela de novo, já que vai entregar o livro? Pode ser sua chance

- Bom...se é assim...eu vou tentar

 Mariana e Thiago sorriem. Será que ajudaram o amigo? Bom, César era uma pessoa peculiar. Ele se apaixonava fácil, mas acabava se apaixonando por mais de uma garota ao mesmo tempo. Caso estranho, não? Naquela tarde, ele já estava caminhando em direção ao quiosque Katana onde Raquel trabalhava, disposto a se declarar a ela.

- É isso! Vou dizer o que sinto para Raquel! Se ela era tão apaixonada por mim, aposto que ainda deve sentir alguma coisa! Se bem que...ela nunca me dá oportunidade de falar...mas hoje vai ser diferente! Hoje eu vou resolver isso de uma vez por todas!

- Ah, oi César! - diz uma voz conhecida, enquanto o rapaz viajava em seus próprios pensamentos.

- Hã? É...é você, Renata? - César reconhece-a na hora. Ele nunca confundia as irmãs.

- Pois é. Tive que deixar o quiosque para comprar algumas coisinhas. Mas e aí? O que faz por aqui? Dando uma caminhada no fim de tarde na praia? Isso é saudável!

 Renata usava seu uniforme vermelho do quiosque Twin. Parecia ainda mais bonita do que antes. Ele acaba paralisado.

- Hã? Ah, sim...é...é...pois é...estou dando uma caminhada...hehe...é isso

- O que é isso? Um livro? Está aproveitando para ler também?

- Livro? Ah...esse livro? Pois é...estou estudando algumas coisas...hehe

- Sempre estudioso. É assim que se faz!

 Na verdade, César ainda não teve coragem de se desfazer de seu amor por Renata. Raquel estava lá, do outro lado, mas Renata estava ali, na sua frente. Como se decidir? Como?

- Bom...preciso ir. Bons estudos.

- Obrigado - é tudo que ele responde, enquanto internamente se detestava. Por que não conseguia se decidir por uma delas? O que o impedia? De qualquer forma, havia prometido entregar o livro para Raquel. O pobre garoto segue até o quiosque Katana e procura pela ruivinha.

- Err...boa tarde - ele entra, apesar de não encontrar muita gente por ali. Será que ela ainda não chegou? Talvez fosse melhor voltar outra hora. Mas quando ia se virando para ir embora, uma meiga oriental de óculos aparece na sua frente como um raio.

- Boa tarde. Posso ajudar? - diz Kate, com o sorriso simpático de sempre.

- Ah...você também é garçonete daqui, é verdade... - lembra-se César - Bom, eu precisava entregar esse livro para a Raquel. Ela está?

- Raquel foi comprar arroz. Deve voltar logo, né?

- Arroz...entendo...

- Sim. Arroz é muito importante para o nosso restaurante

- Imagino. Bom...acho que não conseguiria falar o que quero com ela mesmo...pode entregar a ela?

- Você é colega de faculdade dela? Lembro de você...esteve aqui naquela noite, né? Era amigo do único homem que derrotou a minha irmã

- Ah, sim...então você se lembra.

- Claro que sim. Principalmente a minha irmã. Ela arranjou um boneco com uma cara parecida com a dele e o espanca todas as noites. Agora, o maior objetivo da vida dela é derrotá-lo....de preferência numa partida de vida ou morte

 César não sabia se estranhava mais o fato da irmã dela querer se vingar de Thiago de forma tão doentia ou a tranquilidade em que Kate falava isso. De qualquer forma, Raquel não estava lá.

- Bem, era só isso que eu queria. Obrigado pela disposição - agradece César, entregando o livro para Kate. A japinha percebe que ele não estava muito contente e resolve, ao menos, oferecer alguma coisa.

- Mas ela volta logo. Não quer sentar e esperar? - pergunta a garota, mostrando uma das várias mesas vazias - Esse horário não tem quase ninguém. Parece estar precisando conversar com alguém.

 Embora tivesse seus amigos, nunca era demais ter mais alguém para compartilhar seus problemas. Tudo bem. Ele acaba aceitando o convite.

- Trago alguma coisa para você?

- Tem rolinho primavera?

- Somos japonesas, não chinesas.

- Ah, tá...que seja...então...tempurá?

- Está com sorte. Estamos com promoção de tempurá hoje - diz Kate, sorrindo.

 Mas será que essa conversa será tão tranquila assim?