Capítulo 65 - ...os ratos fazem a festa

 A situação era simples e direta, porém trágica. Com seu Joaquim e dona Joana fora de casa no fim de semana, Dra. Fabíola, a próxima na hierarquia, seria a responsável pela casa. Contudo, aquela que devia ser a mais responsável acaba organizando a festa, para desespero da correta Mariana. E mudar a cabeça dela não vai ser fácil. Logo, mais pessoas chegam com mais pacotes.

- Aaah! Quem será agora? - Mariana já estava de ovo virado e Thiago sem sequer saber o que fazer. Ela abre a porta da frente e vê umas três garotas, uma loira e duas morenas, com várias caixas de isopor. Thiago já fica interessado.

- Oi - cumprimenta uma delas - É aqui que vai ter a festa do ano?

- Não sei do que estão falando! Vão embora! - grita Mariana, mas as garotas insistiam e gritam alguma coisa antes dela fechar a porta.

- Espera, espera..o endereço não é esse? Será que a Fabíola falou errado?

- Aí, galera! É aqui sim! - grita um dos caras que havia chegado com o som no capítulo anterior. As meninas os reconhecem e logo entram. O barulho já estava começando a aumentar.

- Ah, que susto! A genta já tava achando que errou o endereço - diz uma delas, aliviada - A gente trouxe bebidas e daqui a pouco o Salviano tá chegando com uns petiscos.

- Pelo que elas falaram, é só colocar na cozinha. Parece que a Fabíola tá se arrumando

- Atrasada como sempre. Ai, ela não muda nunca

Mariana já estava ficando mais furiosa do que de costume. Já Thiago observava o quanto as amigas de Fabíola eram bem torneadas, e, consequentemente, leva um puxão de orelha da namorada.

- Posso saber o que o senhor estava olhando?

- Err...nada...só estava admirado da cara de pau desse povo...só isso

- Mas a cara de pau mór ninguém supera. Vem comigo, vamos colocar a Fabíola na parede!

- O quê? Mas a gente já insistiu tanto e...

- Se o tio Joaquim descobre isso, estamos fritos. E é bem capaz de sobrar pra gente. Ai, meu Deus!

 Enquanto isso, Renata olhava como os malucos instalavam o equipamento de som, na maior tranquilidade. Mariana estapeia a própria testa ao ver essa cena.

- Com essa aí não tem tempo ruim. Vamos só nós dois mesmo

- Será que rola?

- Deixa de ser frouxo! - bronqueia Mariana, já na porta de Fabíola com Thiago sendo puxado pelas orelhas - Fabíola! Fabíola! Abre essa porta!

- Oi? Pode falar? - ela abre a porta. Só que ela estava terminando de se trocar e estava só de calcinha (e sem a parte de cima. Sim. Com os peitos à mostra). Thiago quase tem uma hemorragia nasal, mas Mariana cobre os olhos dele na hora.

- Sua louca! Coloca alguma roupa!

- Ai, calma, calma...eu não sabia que o Thiago tava com você. Já estava colocando um vestido.

 Mariana obriga Thiago a olhar para o outro lado, enquanto Fabíola colocava um vestido de festa. Ela estava realmente levando aquilo à sério. A loirinha estava possessa.

- Derreteu o pouco de juízo que tinha na sua cabeça? Quantas pessoas você convidou sem a gente saber?

- Ah...não deve vir muita gente...no máximo, umas sessenta pessoas

- Setenta?! Quanto você acha que essa pensão suporta?

- Ah, aqui é tipo coração de mãe. Sempre cabe mais um. Por quê? Vai dizer que chegou alguém?

- Até a hora da gente sair da sala, tinha pelo menos umas cinco pessoas.

- Ah, sim. Deve ser a galera do Joe`s.

- De onde?

- Joe`s - responde Fabíola, enquanto terminava de ajeitar uns brincos - É um barzinho que eu vou sempre. Eles tem um som legal.

- Ah, é verdade. A Renata tava comentando - diz Thiago, se voltando para frente, ainda com os olhos cobertos - Posso olhar?

- Thiago! De que lado você está?

- Eu só comentei

- Relaxa, gente - fala a médica, terminando de colocar seu vestido preto e pronta para a festa - Aproveitem a festa. Quando acabar é só a gente arrumar tudo e o tio Joaquim nem vai perceber a diferença!

- "A gente? " - retruca Mariana - Você que faz a bagunça e a gente ainda tem que ajudar?

- Se aproveitarem a balada..não vão poder tirar o corpo fora - provoca a doutora, já saindo para recepcionar os convidados.

- Fabíola! Fabíola! - mas os apelos da loirinha eram inúteis. A festa ia continuar de qualquer jeito. O que eles podiam fazer?

- Sabe, amor...acho que devíamos seguir o ditado - diz Thiago, depois de um suspiro de "não tem mais jeito"

- Ditado?

- É...aquele..."em Portugal, faça como os portugueses"

- Não seria "em Roma faça como os romanos"?

- Dá no mesmo. O que eu quero dizer é...a Fabíola vai fazer essa festa com a nossa autorização ou não. Então, vamos cair na farra e ajudar a limpar tudo. Vai dizer que não quer se divertir também?

- O quê? Seu irresponsável! Vai aceitar uma loucura dessas?

- Será que não é você que é estressada demais?

- Quem é estressada aqui?

- Gente, gente! - chega Renata com um prato cheio de salgadinhos - Eles tem cajuzinhos! E eu achando que uma festa da Fabíola só ia ter bebida!

- Perto dela você é o estresse em pessoa - diz Thiago, tentando fazer a namorada relaxar.

- Perto dela qualquer um é estressado! - completa Mariana - Renata! Você já se rendeu?

- Fazer o quê? Eles até colocaram música!

 E, de fato, uma música eletrônica tocava na pensão. E, ao voltar para a sala, havia mais que o triplo de pessoas desde que Mariana foi ao quarto da Fabíola.

- Cacetada...eles chegam todos juntos, né? - diz Thiago, embora a expressão brava de Mariana o tenha deixado calado. Parece que não tinha mais volta.

- Tá legal, tá legal. Vamos ver até onde isso vai dar. Mas vamos ficar de olho...se alguém aprontar algo muito grave, a gente dá um jeito - decreta a loirinha. Renata e Thiago dão de ombros, mas ela continua - Então...nada de beber ou fazer bobagens. Fiquem alertas e mantenham a ordem

- C-Claro. Pode deixar - diz Thiago - Vou começar...naquela pista de dança ali...sempre rola bagunça em pista de dança

- Nada disso. O senhor fica comigo - retruca Mariana, puxando-o pela orelha. Algum dia ele fica sem orelha - Esse lugar tá cheio de piriguetes oferecidas..e agora você é um cara comprometido

- Você não confia em mim, amor? - pergunta o pobre rapaz, mas Mariana apenas lança um olhar assustador.

- Em você eu confio...mas não confio na sua cabeça de baixo

- Como assim?

- Ah! A Raquel chegou! - grita Renata, acenando para a ruivinha que estava totalmente perdida.

- Gente! O que é isso? - ela pergunta, após uma difícil jornada ao passar pela área de dança - Vocês não avisaram que iam dar uma festa?

- Chegou mais cedo, Raquel - diz Renata.

- Ah! A Katia me dispensou mais cedo porque o movimento tava fraco - explica a garota - Mas o que está acontecendo aqui?

- Aí, gatinha! Chega mais...vem dançar - diz um cara, evidentemente bêbado, chegando perto de Raquel, que faz um olhar de medo e estranheza. Mariana trata logo de chutar o vagabundo dali.

- Aqui tá impossível de conversar! - diz Mariana - Bom, Raquel...resumindo. O tio Joaquim e a tia Joana viajaram e a Fabíola inventou de aproveitar para dar uma festa. E agora a gente tá aqui de mãos atadas

- Nossa...que bagunça. Isso vai dar um trabalho de arrumar - diz Raquel meigamente. Mariana suspira, mas a coisa alcançou uma proporção difícil mesmo.

- Aqui virou a casa da mãe Joana..e olha que a tia Joana nem tá em casa - comenta Thiago - Acho que o jeito é pelo menos alguém se manter sóbrio para manter a paz aqui dentro

- Alguém vírgula. Escuta aqui vocês três. Tratem de ficar de olho e avisar se tiver qualquer problema.

- Nossa, a Mariana parece uma segurança - brinca Raquel.

- Acho que ela puxou o papai...bem, a gente tem uma noção de artes marciais, então até que dá pra garantir a segurança sim - fala Renata, mais tranquila, impossível. Thiago também se lembra do pai delas (*) e não se admiraria se elas realmente soubessem lutar.

- Parece divertido! - Raquel se anima - Eu também estou mais ágil desde que comecei a trabalhar para a Katia. Podem deixar que eu detono quem folgar aqui. Hehe!

- Bom saber que estão animados - diz Fabíola, já recuperando a bebedeira de pouco tempo - Aproveitem bem...a noite é uma criança. Hihi....aí, Thiago, tá gatão hoje, heim? Te cuida, Mari!

- Hã?

- Já tá bêbada? A gente tá por conta mesmo! - Mari se lamenta - Circulando aí, gente! Fiquem alertas

 Os quatro (considerando Mariana e Thiago sempre andando juntos) circulam pela festa, vendo os tipos mais esquisitos. Desde pessoas de cabelo verde a góticos tomando banho de lua no quintal da casa. Era gente por todo o canto e andar já era difícil. Quando Raquel dá um grito. Vinha da direção do banheiro. Thiago e Mariana correm pra lá e veem um casal se agarrando. Só que o cara era um pouco familiar..

- Você aqui? - observa Thiago.

- Hã...vocês? Não estavam viajando? - era o Júlio. Para quem não lembra, o cara mais playboy da cidade.

- Quem são eles, Ju? - pergunta a loira de cabelos curtos que estava ficando com ele, enquanto Julio colocava sua camiseta toda surrada de volta. Ele tinha decidido aderir a um estilo mais humilde, mas parecia ser só fachada, afinal, ainda morava na mesma casa e recebia mesada dos pais.

- Ah..são só amigos e...aaah..Renatinha! Não é nada disso que está pensando...ela...ela foi só uma fraqueza...quem eu realmente amo é você e..

- Quê? - reclama a ficante - E você dizendo que ia ficar comigo pra sempre. Canalha!

 Ele recebe um tapa na cara e se joga em Mariana que devolve outro tapa.

- Renatinha...por que tanta violência?

- Que Renata o quê?! Eu sou a Mariana!

- Mariana? Ai, caraca...tantos cheiros e auras diferentes nessa festa que eu devo ter confundido

- Aí, Julio. Só na pegação, heim? - Fabíola passava pela porta do banheiro. Mariana aproveita.

- Não acredito que convidou até esse babaca!

- Ah, eu já tomei vários drinks com a ex-namorada do primo do amigo de primário dele...daí um chama o outro e já viu, né? Mas pelo menos vocês já se conhecem 

- A festa de vocês tá bombando! - diz Júlio - Bem simples, calminha, do jeito que eu gosto

- Cala a boca, Júlio! - reclama Mariana - E, só para não perder o costume: vê se fica longe da minha irmã!

- A Renatinha? Ela tá aqui?

- Alguém chamou? - diz Renata, que passava pelo corredor, curiosa para ver o que estava acontecendo - Nossa, quanta gente! Se não conhecesse vocês diria que estão fazendo uma suruba no banheiro!

- Para de falar besteira e...- Mariana congela - Renata! Cadê sua camiseta?!

- Ah, eu coloquei um top! Com tanta gente nessa festa o calor tá infernal!

- Ah...bem inteligente - diz Thiago, já babando ao ver os seios da cunhada.

- E você tá olhando o quê? - Mariana bronqueia.

- Nada, nada. Não é melhor a gente ir para outro lugar. A Raquel ainda quer ir ao banheiro, né?

- É verdade. Por favor...é rapidinho - a ruivinha pede encarecidamente.

- Vamos logo - fala Mariana - Ai, ai...já vi que a noite vai ser longa.

- Renatinha...você tá mesmo muito linda hoje, viu? E...

- Ah, Julio! Era você que tava aí? Só agora eu vi - repara a loirinha para a desolação do rapaz.

- Então...eu precisava dizer que eu te...

- Que me ama, né? É, eu sei, mas não rola. Ah, eles vão começar outra música! Tchau, Julio!

Enquanto isso, Mariana limpava o suor do rosto ao circular no meio de tanta gente.

"Aff..que calor. Tô com vontade de colocar um top também...mas só voltar para o meu quarto vai ser um perrengue só", ela pensa e volta a segurar Thiago pela mão, ou pelo menos era o que ela pensava.

- Tá com sede, Thiago? Deve ter pelo menos um refrigerante no meio de toda essa baderna e...

- Nossa, gatinha...normalmente sou eu que chego nas minas...hehe - diz um cara aleatório que Mariana pegou pela mão por engano. Ela arregala os olhos, mas logo se recupera e derruba o cara no chão com um golpe de judô extra-rápido.

- Eu,heim? Morre diabo! - diz a loirinha, agora saindo no meio da multidão à procura do namorado - Thiago! Thiago! Ai, onde aquele tonto se meteu?

- Essas minas... - diz o cara que Mariana atirou no chão ainda sem se levantar e totalmente ignorado pelo povo da festa - ...quem vai entendê-las?