Music is Life escrita por Oliver


Capítulo 1
Faixa #1 - Home - Dotan


Notas iniciais do capítulo

Em todas as notas deixarei o link da música. Sempre na ordem "NOME DA MÚSICA - ARTISTA/BANDA".Não gosto de enrolar, espero que gostem. =)



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Não suporto os domingos. Tenho um problema sério com esse dia. É muito entediante. Na TV só passa programas de esportes, missas, “comédias” não tão engraçadas digamos assim, e por aí vai... Para ficar melhor, o calor é mais intenso. Sou meio paranoico com isso. A única coisa boa é que eu não trabalho neste dia. Não mais.

Ontem foi um dia tão bom. Fui a uma festa com as minhas amigas: Misty, Bell e Kelly. Bebemos horrores. A festa tocava músicas de estilo rock, pop e eletrônica. Adoramos! Não posso me esquecer nunca porque foi a segunda vez em que eu fiquei bêbado. Fiz coisas inusitadas das quais eu não quero nem comentar novamente com Misty.

Domingo de manhã se resume em assistir animes. Eu amo ficar deitado no sofá. Sempre com o ventilador por perto, pois no apartamento onde moro faz muito calor. Enquanto seleciono os animes no catalogo do Netflix, meu celular começa a receber várias mensagens. Fico me perguntando se alguém tá tão desesperado ou se é muito urgente pra falar comigo a uma hora dessas. Quando desbloqueio a tela de segurança, deslizo a barra de notificações, vejo que são mensagens de Bell no Whatsapp. Começo a ler aquelas frases cheias de “emojis” como ela sempre manda.

“Bom dia meu amor. Tudo bem? Quando você vai vir aqui em casa? Minha mãe tá me enchendo o saco perguntando isso. Já que da última vez que você esteve aqui, ela amou te conhecer. Só porque você elogiou a lasanha dela. Enfim. Se puder vir hoje, me avisa logo.”

Eu respondo poucos segundos depois.

“Pode ser hoje sim. Não tenho planos mesmo. Chegarei às 11:30. Beijos.”

Bell visualiza e me responde com um emoji feliz.


                Tenho dois notebooks. Um velho, lento, com defeitos e um outro novo que eu comprei recentemente da minha ex-cunhada. Nike. Ela é uma ótima amiga hoje em dia. Trabalhávamos juntos tempos atrás como atendentes em um restaurante. Pego o meu notebook novo no meu quarto, sento na minha cama desarrumada e faço o login no site do Facebook. Me deparo com uma sugestão de amizade: “Renato – 15 amigos em comum”. Sua foto me chama a atenção e logo clico em seu nome para poder visualizar o seu perfil. Ele é bem interessante. Trabalha como Personal Trainer. Pardo, lábios carnudos, olhos negros, nariz afilado, barba feita e músculos. Só consigo visualizar isso em sua foto de perfil.  Vou adicioná-lo. Pelo menos pra ele saber que eu existo, mesmo que não fale comigo. Fecho a aba e verifico os meus e-mails. Nada demais. Depois de alguns minutos depois, guardo o notebook e começo a me preparar para sair.

Não sei se é defeito, mas eu demoro muito para sair de casa. Lógico que para ir na padaria por exemplo, isso não acontece. Abro a porta do banheiro, fico parado diante do espelho analisando o meu rosto pra ver se tem algum cravo indesejável instalado sobre a minha pele. Tenho olhos castanhos claros, meu cabelo é fino e tem a mesma cor dos meus olhos. Minha altura é de 1,75 cm. Me considero um pouco alto. Acho que na minha idade, ter essa altura é realmente o ideal. O engraçado é que meu pai e minha mãe são baixos. Então não sei a quem eu puxei geneticamente falando. Sempre fui gordinho. Eu até estava mais magro tempos atrás, mas engordei novamente. Sou um ursinho digamos assim. Giro a torneira do chuveiro e começo a relaxar ao sentir a água caindo sobre as minhas costas. A temperatura está ótima. Nem fria, nem quente. Eu gosto assim. Ao sair do banheiro, caminho até o meu quarto para trocar de roupa. Não sou de ficar perdendo tempo pra escolher roupas. Pego qualquer camiseta e bermuda. Depois de 20 minutos da minha lentidão me trocando, se preparando, finalmente saio de casa.

O sol queima a minha pele. Em poucos minutos já começo a suar. Tenho um problema sério com transpiração. Se eu ficar 3 minutos exposto ao sol, já começo a derreter. Queria ser igual aquelas pessoas que mal soam quando saem de casa. Fazer o quê, né?

Caminho em direção a parada de ônibus. São apenas 2 quarteirões. Minha rua não é asfaltada, a poeira é muito intensa, faz poucos meses que moro por aqui. É um bairro tranquilo. A dona da casa onde moro, trabalha no mesmo que lugar que eu. Eu aluguei a casa dela no outono passado. A sorte é que o preço é bem barato. Em compensação, tenho que trocar tudo, pois ela não faz nenhuma melhoria na casa.

Falando em sorte, quando eu chego na parada, o ônibus que costuma demorar muito, acaba chegando em poucos segundos. E o melhor... ESTÁ VAZIO! Alegria de pobre. Subo aqueles três degraus, dou bom dia para o motorista, mas ele não me responde. Mal educado. Retiro o meu cartão de passagem e o aproximo a uma máquina azul estranha (para que a passagem seja descontada). Sempre sento no fundo. Antigamente, quando eu era criança, sempre gostava de sentar nas cadeiras altas que ficam próximas ao motorista. Foi até eu descobrir que essas cadeiras eram reservadas para os idosos, gestantes ou pessoas com deficiência. Sentar no fundo do ônibus até fica mais fácil pra descer, pois quando começa a ficar lotado, o caminho para a porta fica horrível! Pego os meus fones de ouvido dentro da minha mochila preta, conecto no celular e seleciono as músicas da minha banda favorita. O Paramore. Sou fã desde os meus 12 anos. Hoje tenho 20 anos. Então fazendo as contas... 8 anos! Parece até que foi ontem, quando eu estava assistindo um programa de clipes na MTV e de repente o clipe da música “Misery Business” começa a ser reproduzido. Eu pirei naquela hora. Desde então, me tornei fã da banda. Tenho todas as músicas no notebook, pôsteres, CDs e até uma tatuagem (símbolo) no meu pulso do meu braço direito. Amo música. Escuto praticamente 24 horas por dia. Deve ser porque o meu pai é músico. Embora eu nunca tive contato com ele. Acho que está no sangue.

Tenho uma mania de cantar baixo enquanto estou no ônibus. Bater os dedos na cadeira também. Como a maioria das músicas são internacionais, quando tem pessoas próximas, elas me olham como se eu fosse um estrangeiro. Quem me dera. Amo falar inglês. Se deixar, falo o tempo todo. Meu sonho é morar nos Estados Unidos ou até mesmo em qualquer outro país que tenha a língua inglesa como materna. Eu estaria realizado. Tenho esse sonho dos os meus 10 anos de idade. Quando eu descobri a língua inglesa. Comecei a estudar sozinho. Foi uma descoberta maravilhosa. Pouco tempo depois, tive minhas primeiras aulas na escola onde eu frequentava. A professora era maluca. Ela tinha cabelos grisalhos bem curtinhos, aparentava ter uns 60 anos, e fumava muito. O nome dela era Neide. Não sei ela morreu. Pela quantidade de cigarros que ela fumava... Não vou enterrar ninguém.

O ônibus está em alta velocidade. Melhor ainda. Só assim eu chego mais rápido até a casa de Bell. Estou com uma fome tão grande. Nem tomei café da manhã hoje. Não sei porquê, mas não sinto fome no instante em que desperto. A não ser que eu tenha comido muito durante à noite, resultando uma fome no outro dia pela manhã. Isso raramente ocorre. Sinto o vento forte no meu rosto ao abrir a janela do meu lado direito. Cheiro de mato. Tem uma floresta enorme próximo à estrada onde estou. Penso em muitas coisas quando estou ouvindo música e principalmente dentro do ônibus. Nem me dou conta que a próxima parada é onde eu devo descer.

Chegando na casa de Isa, sou recebido por dois cachorros poodles. Bem branquinhos e fofinhos. Quando eles chegam perto de mim, começam a latir. Fico parado sem saber o que fazer. Não tenho muito medo de cachorros. Só que às vezes, dependendo do “cachorro” eu fico assustado. Principalmente quando eles estão com um olhar raivoso e com dentes à mostra. É quando Bell aparece no terraço e intervém.

— Marley e Nina! Pra dentro! AGORA!

Os dois cachorrinhos a obedecem e seguem em direção à casinha deles que fica nos fundos da casa. Olho para os olhos verdes de Bell, estão brilhando ao ver que eu não cheguei atrasado. Ela vem em minha direção com um sorriso enorme e me abraça.

— Meu amor! Milagre você não chegou atrasado.
                - Acho que vai chover hoje! – respondo retribuindo com um sorriso também.
                - Vira essa boca pra lá. – Bell me solta aos poucos e olha nos meus olhos.

Ela está usando uma blusa branca sem estampa com um short. Ela é esbelta. Nem magra e nem gorda. É fofinha. Tem uma pele branquíssima. Seu cabelo é liso, longo e castanho. Ela é mais baixa do que eu.  Sua mãe surge no terraço e nos chama para entrar.

— Depois falamos sobre a festa de ontem. Tudo o que minha mãe sabe é que eu estava numa festinha de pijama na casa de Wallyson.
                - Não deixa de ser uma festa, ora bolas.
                - Vai te lascar, Kayo!

A lasanha estava deliciosa. Já era 2 da tarde, Bell e eu estávamos jogados no chão esperando a digestão. Comemos muito. Na verdade foi uma aposta valendo 30 reais. Adivinha quem ganhou? Ela mesma. Eu sou gordinho pelo fato de eu comer muita besteira, no entanto, não como muito digamos assim. Bell se levanta, pega um CD e coloca no aparelho de som. É quando a música “Raise Your Glass” começa a tocar. Ela é fã da cantora Pink. Nem sei cantar direito essa música, mas tem uma vibe legal. Ela muda de expressão facial quando olha pra mim. Daí percebo que ela não colocou a música à toa.

— O que houve? – pergunto.
                - É sobre Amanda.

Amanda é a namorada de Bell. Pelo menos até onde eu sei. Já que ela mora em outro estado, fica meio difícil manter esse “relacionamento” digamos assim.

— Eu acho que ela está me traindo. Ela está agindo diferente comigo nessas últimas semanas. O que você acha?
                - Pode ser que ela esteja ocupada: estudando, trabalhando ou algo do tipo.

              - Eu sei o que ela faz todos os dias.

— Tem certeza? – Bell se cala imediatamente. Ela sabe que não tem como realmente saber de fato o que Amanda está fazendo. Até porque as duas não se veem com tanta frequência. Embora elas moram em estados vizinhos, não é a mesma coisa do que namorar alguém que mora na sua cidade. Pelo menos.... Eu acho, né?

— O que eu devo fazer, Kayo?
                - Nesse caso, faça uma visita. Veja como ela reagirá.
                - Bem pensando.... Vou fazer isso.

As horas se passam e chega a hora de eu ir para casa. Me despeço de todos. Bell abre o portão para mim, como sempre, e eu caminho até a calçada. Ela me olha como se estivesse esperando que eu falasse algo em relação ao que aconteceu entre ela e Amanda. Quando penso em abrir a boca, para a minha surpresa ela começa a falar.

— E você? Não tem ninguém em mente?
                - Como assim?
                - Uma paquera, um ficante, sei lá...
                - Ah... Não.
                - Sei....
                - Para falar a verdade, hoje pela manhã, encontrei um perfil de um tal de “Renato”. Achei ele muito interessante. – Começo a rir pela cara de desconfiança que Bell expressa no momento.
                - Depois eu quero que você me mostre quem é, viu mocinho?
                - Pode deixar, bobinha.
                - Até mais, então.
                - Bye!

Caminho em direção a parada de ônibus. Os minutos vão se passando, e nada do transporte chegar. Começo a ficar entediado. Ando para um lado e para o outro. Sou desses. É quando eu recebo uma notificação no meu celular. Pego-o do meu bolso e visualizo o que está escrito: “ Renato aceitou a sua solicitação de amizade. ” Dou um pequeno sorriso. Pelo menos ele aceitou. Uma luz forte começa a iluminar onde estou, o ônibus chegou. A viagem não demora muito, como da primeira vez. Acho engraçado isso, a volta sempre é mais rápida do que a ida. Comigo sempre foi assim.

Passo a viagem olhando as fotos desbloqueadas do Renato. Ele é mais bonito do que eu imaginei. Ponho algumas músicas no mp3 player do celular e começo a escutar. O vento gelado da noite sopra fortemente contra o meu rosto. E nisso vai ressecando as pupilas dos meus olhos, dando uma sensação de sono. Eu amo isso. É por isso que eu gosto de ir à praia à noite.

Finalmente vou me aproximando de casa. Louco para tomar aquele banho.... Quando abro o portão, vejo que a porta da sala está escancarada. A grade da janela arrancada e um barulho bip-bip  da minha geladeira. Alguém deixou ela aberta. Minhas pernas se tremem. Meu coração acelera.

Fui assaltado.


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Notas finais do capítulo

Para o primeiro capítulo... As coisas são introduzidas, personagens e afins. E aí? O que acharam? Adorarei ler a opinião de vocês. Se identificou com algo? Não gostou de algo? Enfim. Segundo capítulo? Semana que vem =) Abração!



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