Como viemos parar aqui? - Segunda Temporada escrita por Influenza


Capítulo 7
Sinos Incessantes


Notas iniciais do capítulo

Yay! *-* Voltei aqui com outro capítulo, dessa vez centrado no nosso Itachi (ele estava bem apagadinho né, galera? Vamos dar um pouco de amor para ele ♥ ). Está enorme, acho que é até o maior cap. dessa fic :3 Vou fazer alguns esclarecimentos sobre o cap. nas notas finais. Espero que gostem ^-^

P.S.: No capítulo anterior, algumas pessoas ficaram em dúvida do porquê Sarada encontrou o Sasuke, mas nenhum dos NINJAS DE ELITE que estavam naquela casa o percebeu. Na verdade, foi um erro meu, pois eu esqueci de citar que Sarada havia ido ao quintal justamente para pegar o cobertorzinho, que estava no varal. Logo, o encontro foi completamente por acaso. Desculpem, galera. Eu já editei o cap. 4 e mencionei isso no finalzinho - mas vocês não precisam voltar lá para ler se não quiserem, já que eu já estou falando aqui para vocês. Queria agradecer às pessoas que me chamaram a atenção para esse fato, e se vocês encontrarem outra inconsistência na história que eu não tenha visto, galera, não hesitem em me dizer nos comentários, ok? ♥



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“Você traiu sua família.”

 

— Eu sei.

 

“Você matou todos eles.”

 

— Eu sei.

 

“Você tirou tudo o que eu amava.”

 

— ... Eu sei.

 

“Você me destruiu por dentro.”

 

— ... – A essa altura, Itachi já não conseguia sequer fazer suas cordas vocais funcionarem. Sentia como se sua voz houvesse desaparecido completamente. Ah, talvez seja a justiça. Afinal, Itachi é um monstro. Monstros não devem ter direito à palavra, somente ao julgamento.

 

E ele aceitará em silêncio o julgamento daquele a quem mais trará sofrimento.

 

“Agora eu te pergunto, nii-san. Por que não me matou também?”

 

A expressão do pequeno Sasuke transmitia nada além de tristeza e solidão. Embora não derramasse uma única lágrima, seus olhos traídos diziam que sua alma estava completamente destroçada. E, assim, a criança de 7 anos, que acabara de ver toda a sua família morta e de testemunhar a traição do irmão que praticamente idolatrava, parecia não ter nada que a fizesse desejar continuar.

 

Itachi começou a sufocar com esse pensamento. Não importa o quanto se esforçasse, o oxigênio não conseguia entrar. Era como se houvesse algo preso em sua garganta. Tinha certeza de que não era arrependimento; talvez só estivesse afogando-se na culpa.

 

O Uchiha se sentia tonto, e tentava desesperadamente e sem sucesso puxar o ar de volta. Quando sentiu que cairia, já sem forças, se apoiou nos joelhos, e com certeza estava num estado deplorável e digno de pena aos olhos. Porém, o pequeno Sasuke não alterou sua expressão; o que quer que o garoto estivesse vendo no irmão mais velho, não substituiu a tristeza e desolação que se encontrava em seu olhar.

 

 O triste Uchiha só olhava. Mais nada. Como se estivesse analisando se assistir o sofrimento daquele que destruiu sua vida deveria ser divertido ou não.

 

De repente, as badaladas de um sino ecoaram por aquela imensa escuridão.

 

A expressão de Sasuke se contorceu. Não havia mais sinal de tristeza. Quanto mais continuava olhando para o irmão mais novo, mais Itachi podia ver ódio naquele rosto delicado de um garoto que não tinha mais nada.

 

Nada, além do ódio que nutria pelo irmão mais velho que destruiu tudo.

 

Você traiu nossa família. Você matou todos eles. Você tirou tudo o que eu amava. Você me destruiu por dentro”. Os olhos de queimavam de uma fúria e mágoa que nunca deveria ser sentida por uma criança. Sasuke olhava seu irmão de cima, e seus lábios se contorceram em repulsa. “Você.”

 

Uma luz forte tomou conta da imensidão escura. Itachi teve que cobrir os olhos de tão brilhante que ela era. A sensação de sufocamento havia passado repentinamente, porém o Uchiha não conseguia se levantar. Não importa o quanto tentasse.

 

Quando abriu os olhos, ficou surpreso ao notar que Sasuke não era mais uma criança. Era um adolescente. Era o Sasuke da fotografia que vira no dia anterior. Embora todo o seu físico tenha mudado de uma criança para um jovem, seu semblante não se alterou; estampava o mesmo ódio e raiva que a criança demonstrara momentos antes.

 

“Como você ousa?”, indagou o irmão mais novo (que agora não parecia tão novo assim). “Como ousa ficar no mesmo lugar que eles como se nada tivesse acontecido?”

 

Itachi suspirou melancolicamente, e baixou a cabeça em resposta. Vendo que ele não responderia, Sasuke continuou:

 

Você é, de fato, um ser humano vil. Você não merece nem sequer estar na presença do papai e da mamãe, muito menos na de Sakura e Sarada. Por que não permaneceu morto?”

 

Itachi ouviu o barulho de uma lâmina roçando em alguma superfície dura – provavelmente o chão. Sentia Sasuke se aproximar. Mesmo assim, ele não levantou a cabeça para olhar.

 

“Um lixo como você não deveria nem ter pisado na minha casa.”. A voz de Sasuke ficava cada vez mais clara, como se ele estivesse se aproximando. O barulho de metal também ficava mais alto. “Saia de perto da minha filha. Saia de perto da minha esposa. Saia de perto da família que você tirou de mim, e que você não merece mais. E nem pense em chegar perto de mim.”

 

O som só cessou quando Sasuke parou de andar. Ele estava tão perto que Itachi, mesmo cabisbaixo, podia ver os pés do irmão. Embora o radar de perigo do Uchiha mais velho estivesse enlouquecido, tudo o que fez foi fechar os olhos e esperar.

 

“Porque...”

 

“Eu sempre vou de odiar.”, disse, enquanto a espada que segurava estava prestes a atingir o indefeso irmão mais velho.

 

~O~O~

Itachi acordou com um impacto. Havia caído no chão enquanto dormia. Suspirou, sem vontade alguma de se levantar; as altas badaladas de um sino inexistente ecoavam pela sua mente, lhe dando uma imensa dor de cabeça – talvez por causa do sonho que tivera. Desde que ele tomou aquela decisão, sonhos assim tornaram-se frequentes. Eles só nunca pareceram tão perto. Geralmente, quando despertam, as pessoas esquecem dos detalhes do sonho que tiveram, não é? Bem, Itachi não era um desses casos. As imagens sempre eram claras e detalhadas. Os detalhes do último sonho, em particular, ainda estavam claros e frescos em sua mente, e ele não poderia deixar de concordar com o Sasuke que estava lá.

No futuro, Itachi seria um criminoso. E naquele momento ele, de fato, estava no futuro. Ele já havia traído todos. Já havia feito seu amado irmãozinho sofrer o inimaginável. Já havia tirado metade da família de uma garotinha, a qual ela nunca conheceria. Era irônico o fato de que, no dia anterior, Sarada estava chorando pela eventual partida dos avós nos braços de quem primeiramente os tirou dela.

 

Não era justo Itachi permanecer naquele lugar cheio de luz. Não era justo com Sakura, com Sarada e muito menos com Sasuke. Era como se a presença dele maculasse o que Sasuke tanto se esforçou para construir.

A presença dele deve, a cada momento, enfraquecer um pouco mais a luz.

 

Tirou os cabelos dos olhos e, finalmente, levantou-se do chão, suspirando em derrota. Falaria com Sakura naquela manhã; pediria a ela para se mudar. Ela não precisaria se preocupar com as suspeitas de Mikoto e Fugaku sobre sua partida – o que, provavelmente, era a única coisa que a impedia de chutá-lo para fora daquela casa; caso perguntassem, Itachi inventaria algo.

Pegou a muda de roupas que Sakura gentilmente havia conseguido para ele e a vestiu. Tinha uma aparência antiga e um pouco desbotada – Sakura desculpou-se por isso –, porém cabia perfeitamente nele. Era um modelo de uma camisa azul-escura com o símbolo do clã Uchiha estampado atrás e um short branco. Muito tempo atrás, havia pertencido a Sasuke.

Antes de sair do quarto de hóspedes, Itachi perguntou-se quantas lágrimas de sofrimento já haviam se derramado nessas roupas.

~O~O~

 

Ao descer as escadas, encontrou Mikoto e Sakura na cozinha – usando roupas parecidíssimas, afinal a rosada emprestara uma de suas próprias roupas para a sogra –, preparando o café da manhã. Na mesa havia arroz cozido, sopa de missô, omeletes, suco, frutas, pães, queijo, geleia de morango e as mulheres Uchiha pareciam ter acabado de colocar uma torta no forno. Quando Mikoto percebeu a presença de Itachi, a mulher sorriu e o cumprimentou com um “bom dia”, sendo seguida por Sakura. O Uchiha retribuiu o cumprimento.

— Dormiu bem, filho? – Perguntou Mikoto para, logo em seguida, Itachi mentir, fazendo que ‘sim’ com a cabeça – Imaginei que sim. Você acordou tão tarde, querido.

— Tarde? – Itachi estava genuinamente surpreso com a informação. Não era do seu feitio acordar tarde. – Que horas são?

Sakura apontou para um grande relógio antigo – ele tinha até pêndulo! –  pendurado na parede: seus ponteiros batiam 8:13. Era realmente bem tarde e, por isso, Itachi sorriu torto e coçou a cabeça, envergonhado. Depois, percebeu que o pai não estava lá. Fugaku sempre acordava mais cedo que todos. Parecia até que madrugava, e era estritamente rígido com horários. O simples pensamento de que o mais velho poderia ainda estar dormindo lhe dava calafrios de tão fora da sua personalidade que aquele ato era.

— Cadê o papai?

— Ah, não faço a menor ideia. – Responde Mikoto despreocupadamente, se dirigindo à pia para lavar as panelas sujas enquanto Sakura os enxugava e guardava.

— Como?

— Bem, ele foi o primeiro a acordar, como sempre – A mãe explicou, concentrada nas panelas – Fugaku me acordou e disse que iria dar uma voltinha. Eu disse “ok”. Aí voltei a dormir.

  – Só que ninguém sabe aonde o Sr. Fugaku foi, porque ele não deixou sequer um bilhete – Itachi percebeu que Sakura revirou os olhos com irritação.

— Bem, não acho que havia necessidade – Mikoto defendeu o marido – Afinal, tenho plena confiança nas habilidades de meu marido. Estou certa de que não tem com o que se preocupar. – A mulher sorriu, orgulhosa.

— Mas não é com ele que estou preocupada... – A rosada sussurrou, mordendo o lábio com aflição.

A outra mulher sorriu compreensiva e olhou para Sakura com solidariedade.

— Eu sei o que está pensando, Sakura. E eu te entendo. Mas garanto que Fugaku não é de causar problemas. Confie em mim.

Mikoto tinha um olhar firme, enquanto Sakura apresentava um olhar enigmático. Como se as esmeraldas estivessem avaliando o quanto as palavras daquela mulher eram confiáveis. Até onde aquelas palavras tinham intenção de serem verdadeiras. Por fim, a rosada deu um longo e cansado suspiro e sorriu, envergonhada:

— Vamos mudar de assunto, sim? Vejamos... – Ela analisou ao redor, e seu olhar parou justamente em Itachi, que somente observava a conversa das duas mulheres, esperando a hora certa para se manifestar. Só não esperava que Sakura o chamaria primeiro – Ah! As roupas antigas do Sasuke-kun ficaram muito bem em você, Itachi! – Sakura abandonou suas tarefas para dar uma olhada mais de perto. Mikoto fechou a torneira e girou nos tornozelos para analisar o filho, embora não tenha se aproximado. – Pensei que ficariam pequenas, mas ficaram perfeitas.

— Obrigado, Sakura-san – Itachi sorriu educadamente – Vejo que as roupas que emprestou para minha mãe ficaram bem também.

— É mesmo, né? – Mikoto manifestou-se, colocando uma das mãos na cintura e uma nos cabelos, empurrando um dos pés para longe e ajustando sua coluna num ângulo questionável, fazendo uma pose um tanto engraçada. Parecia um daqueles personagens de filmes de terror que ficam possuídos por espíritos – Não estou moderna?

Sakura e Itachi gargalharam. Fora de casa, Mikoto era a primeira-dama do Clã Uchiha: forte, contida, educada e simplesmente perfeita. Porém, ocasionalmente, quando o clima tornava-se tenso na casa dos Uchiha, o oportuno bom humor de Mikoto sempre espalhava sorrisos na casa. Itachi se lembrava bem que a única vez que ouvira seu pai rir foi quando ela contara uma piada engraçadíssima. Ele não conseguia se lembrar exatamente o conteúdo da piada, mas recordava-se da risada suave do pai, que quase nunca era ouvida.

Seu coração se aqueceu com a lembrança e, depois, se apertou ao noticiar que, daqui a uma semana contando do segundo em que foram trazidos para aquele tempo, nunca mais teria a oportunidade de ouvir seu pai rir.

Porque ele estaria morto.

Quanto mais pensava, mais o soar do pêndulo do relógio antigo parecia ficar mais alto. Porém, o som que ouvia não era o que um pêndulo geralmente faria; parecia... O badalar de sinos. Como em seu sonho. O som aumentava cada vez mais, e estava ficando insuportável. Itachi começava a sentir a cabeça latejar. As duas mulheres não pareciam se incomodar, logo o Uchiha tinha certeza de que ele era o único a ouvir o som. Com certeza não estava psicologicamente estável.

Precisava falar com Sakura. Agora.

— Está linda mãe, como sempre – respondeu, sorrindo. Então, Itachi direcionou seu olhar para Sakura e, por fim, disse, hesitantemente: – Hã... Sakura-san, posso falar com você? A sós?

— Eu? – A rosada indagou, confusa. Sakura, então, encarou Mikoto com expectativa, como se pedisse permissão a uma companheira de trabalho para deixar seu posto.

A primeira-dama do clã Uchiha recuperou a compostura. De um ângulo duvidoso, sua coluna passou quase que imediatamente para uma postura perfeita, digna de uma rainha. Uma rainha de um dos clãs mais poderosos que já existiram na Terra. Contraditoriamente, Mikoto arregaçou as mangas, como se estivesse pronta para qualquer trabalho ao qual fosse designada. 

— Pode ir, Sakura – A Uchiha girou nos próprios calcanhares, voltando a ligar a torneira – Espero que algum dia vocês me contem esse segredo, está bem?

~O~O~

— Eu peço permissão para me mudar para outro lugar.

Sakura não poderia estar mais confusa. No dia anterior, Itachi parecia bem; até leu um livro com Sarada quando ela voltou para a sala de estar – misteriosamente determinada, diga-se de passagem. Aí ele acorda, a chama para conversar em particular no quintal da casa e PUF!, quer permissão para ir embora? Sério? Não fazia sentido nenhum na cabeça de Sakura.

É verdade que ele ainda poderia ser um impostor – embora Sakura, depois de várias palavras trocadas com aquelas pessoas, estivesse quase certa de que eram os autênticos Uchiha. Quase. Se por acaso fossem impostores, certamente agiriam da maneira mais correta possível para conquistá-la. Como se fossem a família perfeita. Porém, no dia anterior, ela não teve essa impressão – principalmente com Fugaku, que parecia se esforçar para contrariá-la sempre que possível. Não obstante, tudo ainda poderia ser um truque para confundi-la. Tanto que a rosada dormiu no quarto de Sarada com a criança, a fim de poder protegê-la caso qualquer coisa acontecesse.

Caso Itachi fosse mesmo um impostor, ela não via como pedir permissão para se mudar ajudaria em seja lá quais forem seus objetivos vis.

E, por isso, Sakura precisava dar um basta na situação. Ela encontraria repostas. Agora.

— Por que isso agora, Itachi? O colchão estava duro demais? Se for isso, podemos trocá-lo.

— Não, não é nada disso, Sakura-san. Eu só acho que é mais adequado eu me mudar.

— Então são as roupas? Ficaram apertadas? Mas parecem bem em você...

Sakura-san. — Itachi mordeu o lábio, como se estivesse preparando-se mentalmente para o que iria falar. Ele vai falar agora, pensou Sakura, entusiasmada. – Você sabe bem o porquê.

— Não, eu não sei não. – Respondeu a rosada, indagadora – Preciso que você me diga.

— ... – Itachi respirou fundo. Por fim, a fitou com firmeza. – Porque não é justo eu ficar aqui quando fui eu que tirei tudo o que meu irmão mais amava no mundo.

A tristeza nos olhos daquela pessoa era gritante e esmagadora. De acordo com o que Sasuke contara a ela sobre o irmão mais velho, aquelas palavras condiziam com o que Itachi era e como verdadeiramente agiria caso estivesse naquela situação de salto temporal. Pelo menos, era o que ela achava. O sofrimento parecia tão real e verdadeiro que Sakura não pôde deixar de se sentir triste por aquela pessoa.

Sendo o verdadeiro Itachi ou não.

 

— Hmm... Certo. Entendo o que quer dizer. Mas antes de eu te dar uma resposta, preciso de contar uma coisa.

— E o que é?

Uma piada.

Itachi esperava tudo, menos aquilo. O Uchiha piscava repetidamente, num estado quase estupefato. Uma piada? O que uma piada tinha a ver com a situação? Os sinos ainda estavam badalando em sua cabeça, então será que simplesmente ouvira errado? Ou será que finalmente havia ficado louco? Ficou em silêncio para que Sakura explicasse.

Sakura interpretou seu silêncio como um “sim”. Expressando um sorriso ao mesmo tempo divertido e desafiador, a rosada falou, rápida e objetiva:

— Toc-toc.

— Hã... Quem é?

— Desculpe, Sasuke.

Itachi arqueou as sobrancelhas, incerto quanto ao que devia dizer. No final, decidiu dar continuidade ao tradicional formato da piada:

— Er... “Desculpe, Sasuke” quem?

Desculpe, Sasuke.— Sakura insistiu.  Algo dizia ao interlocutor da piada que a rosada continuaria repetindo aquelas palavras, independentemente do que perguntasse para dar segmento à piada.

Tudo fica mais estranho a cada segundo, pensa Itachi. Não sabia exatamente o que Sakura queria dizer com aquilo ou pelo quê queria desculpar-se. Porém, ela o encarava cheia de expectativa. Ele tinha a sensação de que a intenção daquela piada não era ser engraçada; era quase como se... Sakura quisesse que ele completasse.

 

Oh.

 

Desculpe, Sasuke...

 

— Talvez numa próxima. – Itachi disse, calmamente, enquanto seus dedos indicador e médio paravam a centímetros da testa de Sakura. O “poke” na testa, sua marca, que sempre fazia em Sasuke. Os sons dos sinos pareciam ficar mais baixos com a lembrança.

— Oh, meu Deus. – A rosada usou as mãos para abafar um gritinho de surpresa com a realização de que os hóspedes que recebera em sua casa eram, de fato, a família Uchiha. E, naquele momento, com aquele gesto que era tão significativo e particular para seu marido, ela obteve, pela primeira vez, a certeza. E aquela simples certeza mudava completamente a situação. – São vocês mesmo! Vocês estão realmente aqui! Tipo, bem aqui! Na minha frente! Ai meu Deus, ai meu Deus! Sasuke-kun vai ficar tão feliz!

Tomada pela euforia, Sakura abraçou o garoto fortemente e o ergueu no alto com alegria, como se ele fosse uma pena. Enquanto era esmagado por uma rosada que não media sua força de tão eufórica, Itachi noticiou que ela com certeza era muito mais forte do que parecia. Muito.

 

Ele podia visualizar claramente seus ossos quebrando dali a alguns segundos.

— Sakura... Esmagando... Sem ar... – Itachi tentou com dificuldade.

— Ah! – Ela imediatamente o largou, e sorriu sem graça enquanto ele tossia para recuperar o fôlego. Era como se, do nada, sua parte espontânea, sorridente e aberta tivesse florescido com a realização (e Itachi não a culpa por ter estado hesitante anteriormente) – Desculpe.

Sakura ainda sorria eufórica como se não houvesse amanhã. Ela tinha uma expressão tão doce e aliviada, como se tivesse tirado um peso enorme dos ombros... Nem parece que acabou de perceber que, o tempo todo, esteve recebendo um verdadeiro assassino em sua casa.

— Não sabe o quanto eu esperei para ter uma conversa com vocês, uma conversa de verdade!— Itachi achou estranho o jeito como foi incluído no “vocês”, porém no segundo seguinte realizou que só poderia ser uma “conversa de verdade” para amaldiçoá-lo pelo que fizera. Ah, os sons aumentaram. Aqueles sinos já estavam lhe dando dor de cabeça novamente. Ele realmente deve ter enlouquecido de vez. – E eu também sempre quis que os pais do Sasuke-kun pudessem abençoar nosso casamento!

Ela tinha uma expressão sonhadora e ruborizada, enquanto enrolava os cabelos róseos com os dedos em sinal de constrangimento. Parecia uma adolescente que acabara de descobrir que sua paixão secreta retribuía seus sentimentos. Em seguida, seu semblante mudou subitamente para um completo desespero.

— Oh, meu Deus! Eu pensei que minha sogra e o marido dela eram espiões corruptos! E EU FALEI ISSO NA CARA DELA! – Exclamou, quase tão alto quanto os sinos da cabeça do Uchiha.

Sério que você disse isso? Com essas palavras?, pensou o garoto. Itachi não fazia nem ideia do motivo ou do contexto em que Sakura pôde falar aquelas palavras para Mikoto. Só sabia que ela já estava quase arrancando os cabelos por isso. E, em fatos, isso não importava, já que provavelmente nunca mais veria a rosada.

 

— Hã, Sakura-san...?

Sakura continuava balbuciando coisas como “eles realmente não eram espiões” e “preciso me desculpar assim que tiver chance”. Estava tão concentrada que parecia estar elaborando mil planos na cabeça para fazer o pedido de desculpas dar certo. Itachi não queria estragar o momento dela, mas não viu outra alternativa:

— Sakura-san, sobre o assunto sobre o qual viemos discutir...?

— Oh! – Sakura saiu de seu mundinho de mil planos e concentrou-se em Itachi, finalmente. A rosada limpou a garganta, recuperando a compostura, e sorriu, dizendo: – Desculpe por isso, Itachi. Permissão negada.

Ótimo, agora ele poderia deixar todos em paz e... Espere. O que?!

— O que quer dizer com “permissão negada”?!

— Quero dizer exatamente o que eu disse. Já que você veio me pedir permissão para ir embora, minha resposta é esta: por mim, você fica. – Sakura declarou, definitiva.

Aparentemente, nada estava fazendo sentido naquele dia para Itachi. Nem os sinos que ouvia, e muito menos Sakura. Aquela mulher de cabelo rosa só podia estar louca ao permitir que um assassino viva em sua casa. Um assassino que destruiu a vida de seu marido; um assassino que trouxe solidão para sua filha;

Um assassino que aniquilou um clã inteiro.

Será que ele teria que pedir diretamente ao Hokage por uma mudança? Itachi tinha certeza que, se explicasse seus motivos, o líder da vila iria ficar ao seu lad-

— Ei, sei o que está pensando. Nem adianta querer falar com o Hokage, porque ele é a pessoa que mais vai tentar te convencer a ficar. — Sakura abriu um sorriso vitorioso. – E pode acreditar, ele vai conseguir. Naruto pode ser muito convincente. Não é à toa que seu jutsu mais poderoso chama-se Discurso no Jutsu.

“E, no final, o Discurso no Jutsu nunca falha”, refletiu a Haruno-Uchiha, confiante na oratória do amigo – que era quase um talento natural àquele ponto.

— Mas, bem, não pense muito nisso. Vamos ver se Sarada já está acordada, sim? – Sakura iniciou sua caminhada de volta à casa dos Uchiha.

Quando ela passou reto por ele, Itachi teve a sensação de que só o que fez desde que acordou foi ficar atônito e perplexo. Parecia que nada se esforçava para fazer algum sentido dentro de sua cabeça. Algo o dizia que tudo aquilo, sim, deveria ter algum sentido, porém o próprio Itachi não conseguia alcançá-lo.

Contudo, tendo sentido ou não, Itachi não deixaria de buscar justiça. Justiça, em respeito ao sofrimento de seu irmão mais novo e de sua sobrinha.

— Eu não entendo! – Exclamou, e girou nos calcanhares para encarar Sakura, que interrompeu sua caminhada para virar-se e retribuir o olhar do cunhado. – Eu traí nossa família. Eu matei todos eles. Eu tirei tudo o que Sasuke amava. Eu o destruí por dentro. – Itachi parou, ofegante. Os sinos ficavam cada vez mais altos. Precisava de ar. Falar tudo aquilo em voz alta, mesmo tendo a certeza que ninguém além de Sakura estava ouvindo, exigiu mais de si mesmo do que imaginava. Quando se recuperou, continuou, não menos cansado: – E você sabe disso, Sakura-san. Então não entendo por que deixa um monstro como eu ficar.

Com exceção dos sons naturais, nenhum som poderia ser ouvido entre Sakura e Itachi. Somente, é claro, o barulho dos sinos, que só Itachi ouvia devido ao seu sonho. O sorriso já não estava presente no semblante da rosada; ela olhava seriamente para os olhos de Itachi, como se avaliasse o quanto deveria revelar. Segundos depois, Sakura deixou um longo suspiro sair de seus lábios e, em seguida, sorriu decidida:

— Você não vai tirar isso da cabeça, né, Itachi? – Pergunta retoricamente, enquanto encurta a distância que ela mesma colocou entre eles. – De fato, você traiu sua família. Você matou todos. Você tirou tudo o que Sasuke-kun amava. Você o destruiu por dentro. Tudo foi você.

Itachi não sabia o que esperar de Sakura mas, seja o que for, se sentia preparado para receber seu julgamento, o qual o badalar dos sinos não poderia ocultar de sua audição. Fechou os olhos, baixou a cabeça e esperou. Porém, surpreendeu-se quando sentiu a mão de Sakura gentilmente repousando em seu ombro, como se para confortá-lo. Quando abriu os olhos em surpresa, noticiou que os olhos da rosada, que havia se curvado para ficar do tamanho dele, eram tão gentis quanto. 

— Mas também foi você aquele que mais o amou, não foi?

Aquelas palavras foram como um baque para o coração de Itachi.

 

Porque ele sabia exatamente o que elas significavam.

 

De tudo o que acontecera naquela manhã, aquela com certeza foi a única que o deixara verdadeiramente sem palavras. E, de repente, tudo parecia ter o sentido que antes lhe faltava. Tudo o que mentiras tentam esconder, a verdade encontra. O problema é que ele não faz ideia se essa é uma notícia boa ou ruim. E, com certeza, ficaria refletindo pelo resto do dia sobre essa natureza dual.

— Espero que tenha pegado a dica. – Sakura piscou para ele, cúmplice, o tirando do transe – Agora, vamos! Insisto que venha comigo acordar Sarada porque, do jeito que ela já se apegou a você, na mesma hora que escutar sua voz já vai abrir os olhinhos! – E agarrou o pulso do cunhado, o conduzindo até sua casa, que agora era, temporariamente, também dele.

No caminho, ele não pôde deixar de notar o quão forte Sasuke era por ter reconstruído o que um dia fora destruído pelas mãos de seu irmão mais velho.

Os sinos finalmente haviam parado.


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Notas finais do capítulo

E chegamos ao fim do capítulo ^-^ Espero que tenham gostado! ♥ Sinto que eu tô explicando meus pontos de vista acerca dos assuntos dos capítulos em todas as notas finais, mas lá vai: Para mim, antes e depois do Massacre, Itachi sempre foi atormentado por essa realidade injusta que ele tornaria real. Ele é um ser humano, assim como o Naruto, o Sasuke e a Sakura, e matar as pessoas que você ama, mesmo que seja por um bem maior, é, sem sombra de dúvida, uma das coisas mais difíceis que alguém poderia fazer. Decidi representar o tormento de Itachi através de sonhos contínuos sobre seu pecado - e que, provavelmente, continuaram por um longo tempo depois do massacre. Não sei se vocês concordam ou se isso já foi mostrado no material original, mas de qualquer forma esse é o meu ponto de vista :D

Até o próximo, galera ♥



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