Hellfire Club escrita por Kali, Kali


Capítulo 10
Chapter 10 — Oh Death




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Eles decidiram deixar Portland antes do Sol aparecer; precisavam cobrir caminho o mais rápido possível se quisessem impedir a Morte a tempo. Laurel e seu espelho negro, Braeden, pesquisavam o máximo que podiam sobre os Cavaleiros e suas fraquezas, mas as fontes pareciam cada vaz mais escassas. O reflexo entraria em contato com sua provedora se tivesse alguma informação, o que trazia certo conforto para os quatro. A morena também explicou o acordo de "paz" que fizera com Asmodeus, e que ele seria um dos seus mais novos informantes.

Ela tentava não pensar no que havia acontecido na noite anterior, mas era praticamente inevitável. Castiel era uma das peças cruciais do terrível quebra-cabeça que reinava sobre suas memórias, e mesmo que não pudesse falar, ela sabia que ele estava disposto a ajudá-la se precisasse. Agora, passando a noite num motel em Olympia, Washington DC., Laurel começava a ter consciência de que cada vez mais seu primeiro destino se aproximava, e que logo logo estaria face a face com a própria Morte. Ela dedilhou os cabelos, jogando uma mecha para o lado direito da cabeça, e suspirou, encarando o teto do quarto enquanto repassava, pela sabe-se-lá-qual vez, quais eram suas essenciais informações sobre seu inimigo.

Não poderia ser morto, isso era muito mais do que óbvio. Perdia grande parte de seus poderes quando separado de seu amuleto — uma das quatro chaves para a nova Jaula. Então, como eles acabariam com seu alvo? Como poderiam trancafiá-lo num lugar onde ninguém pudesse livrá-lo sobre a Terra novamente? Ela imediatamente se sentou na cama, olhando para os outros três móveis à sua esquerda: Cass, Sam e Dean dormiam num sono pesado, apesar de terem suas mãos escondidas debaixo de seus travesseiros e, muito provavelmente, envoltas em armas para se defenderem se algo invadir o quarto durante a noite. Se seu plano desse certo e ocorresse como ela planejava, estaria de volta antes mesmo que eles acordassem e pudessem dizer "chimichanga".

Ela se levantou e jogou o casaco de Dean sob seus ombros, mas logo estalando os dedos para adquirir roupas mais confortáveis. Usando uma blusa sem mangas e sem estampas da cor azul, uma calça leggings preta e botas de cano alto de couro, ela marchou até a cama do Winchester mais velho e encaixou sorrateiramente sua mão debaixo do travesseiro, roçando seus dedos com os dele para poder pegar a adaga branca. Ergueu sua coluna novamente e avaliou o rosto, finalmente em paz, do homem deitado diante de si. Era uma cena até bonita de se ver; era raro momentos em que Dean parecia tão tranquilo, mesmo que o mundo dos sonhos não fosse o melhor para um caçador viver. Laurel sorriu, e inclinou-se novamente para depositar um beijo suave na bochecha dele, sentindo a barba rala roçar contra seus lábios. Ela os comprimiu ao ver o loiro dar um sorriso de lado, o que a levou a crer que ele estava tendo um dos típicos sonhos eróticos de um homem.

— Por favor, permaneçam inteiros até eu chegar. — ela murmurou baixinho, pegando a chave do Impala em cima da mesa e saindo do motel, fechando os olhos para ouvir a voz rouca de Braeden sussurrar em sua mente o local onde seu alvo se encontrava.

{...}

— Por que é que isso não me surpreende? 

A casa era luxuosa ao extremo. Paredes de granito, adornos de ouro e prata, um belíssimo lustre de cristal pendurando-se sob sua cabeça, tapetes de pele de animais raros e até mesmo extintos... Laurel sabia o quão exibida ela era, mas mesmo sim precisava de algo que a mesma possuía. E necessitava daquilo urgentemente. Os seguranças, usando ternos e óculos escuros, além da escuta em seus ouvidos, a guiavam para dentro da mansão em Salem, novamente no Oregon, enquanto ela observava cada quadro com bordas de ouro que penduravam-se pelas paredes vermelhas ao seu redor. Alguns eram agradáveis, como as imagens do Parthenon em toda sua glória ou do Monte Olimpo com o Palácio de Zeus, enquanto outros eram horrendos, como o retrato do Grande Incêndio de Roma e a destruição da cidade de Pompeia pelo vulcão Vesúvio.

Uma porta surgiu mais a frente, e o som da música clássica podia ser ouvida vindo de lá de dentro. O Soneto Nº 5, de Luís de Camões, era recitado por uma voz masculina e jovem, em português. Laurel entendia cada palavra, e rolou os olhos conforme o aparente servo continuava. Os seguranças que a acompanhavam lhe deram espaço para passar, abrindo a porta e revelando o quarto mergulhado em luxo e sua dona, tão extravagante quanto o cômodo.

As paredes, pintadas em vinho-arroxeado, estendiam-se ao redor para encontrarem-se num teto espelhado, que, entretanto, refletia a visão da cidade de Las Vegas à noite; uma paisagem realmente bonita. Velas presas em candelabros nas colunas de mármore branco iluminavam o ambiente, enquanto o som de uma das sinfonias do famoso compositor ecoava pelo local através de um piano fantasma. "Quanta modéstia...", Laurel zombou em silêncio com um rolar de olhos, trancafiando a cara de nojo em seu interior, "Ela preferiu um poltergeist ao invés de trazer o próprio Mozart". O tapete de pele de urso pardo estendia-se pelo chão até os pés de um sofá rosa de veludo onde, usando um vestido vermelho — preso pela nuca através de uma fivela de diamante —, saltos altos pretos de uma caríssima marca qualquer, e um cachecol felpudo onde a cabeça de uma raposa repousava em seu ombro, encontrava-se a bruxa a qual Laurel dirigira quase duzentos e cinquenta e sete quilômetros para achá-la. A mulher, de longos cabelos loiros e um sorriso cativante, ergueu-se do sofá alegremente e caminhou até o demônio, segurando-a pelos ombros e lhe dando dois beijos molhados em suas bochechas.

— Laur, querida! A quanto tempo! — ela exclamou, sorridente, voltando para seu sofá e estalando os dedos, fazendo uma das cadeiras de prata arrastar-se sozinha para a frente do mesmo, induzindo a morena a se sentar — Céus! Quando foi a última vez em que nos vimos mesmo?

— Quando você enlouqueceu Nero dizendo-lhe que os cristãos causariam sua ruína e o fez por fogo em toda Roma. — Laurel esclareceu, dando de ombros — Ele caiu direitinho.

— Nero era um babaca. Rico, poderoso e influente, mas um babaca. — a bruxa riu — Porém diga-me, minha querida, o que a trás até minha humilde mansão?

Ela se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, e deu um sorriso sem dentes, sua quase marca registrada; era amigável, mas por baixo da doçura deixava claro que faria o que fosse preciso para conseguir o que queria. A bruxa sustentou o olhar, em vista as milhares de vezes que ela própria recebera o mesmo.

— Quero sua caixa, Pandora.  

A mulher de cabelos dourados ficou em silêncio por alguns segundos. O sorriso largo rapidamente transformou-se numa gargalhada viva e audível, mas que logo morreu ao ver que Laurel não estava para brincadeiras. Era a primeira vez em que Pandora ouvia aquele pedido saindo da boca do demônio, e, apesar de surpreendente, era concebível. Afinal, fora Laurel quem conseguira o objeto para ela, e se não fosse por ela, não iria conseguir viver por tanto tempo, e não viveria na luxúria em que estava.

— Mas eu não posso! Você sabe que necessito dela para continuar viva. Ela não pode sair do meu domínio.

— Pandora, milhões de vidas humanas estão em jogo. A minha liberdade está em jogo. Sua caixa é a única coisa capaz de reter um Cavaleiro do Apocalipse e impedi-lo de fugir. — ela ergueu os olhos castanhos até os azuis da bruxa — Eu preciso dela. E sabe bem que eu não estaria a pedindo se não fosse extremamente necessário.

A mulher parou. Seus olhos congelaram num ponto qualquer do tapete de urso e por ali ficaram. Ela estava pensando. Considerando se valeria a pena morrer por vermes como os humanos. Então, voltou suas órbitas para Laurel, e o que a morena mais temia aconteceu. Eles tinham aquela pitada de insanidade, crueldade e pensamento homicida que ela adquiria quando enfiava algo em sua cabeça. E uma ideia estava estabelecida dentro dela; permanecer com sua caixa, não importasse quais fossem e por mais cruel que fossem as circunstâncias.

— Você sempre foi uma amiga excelente, Laurelzinha. — com um pulo, Pandora ergueu-se do sofá e estalou os dedos, fazendo a sala mergulhar num fogo ardente e laranja que fez a morena recordar-se, mesmo que brevemente, do inferno — Uma pena que vou ter que acabar com você.

A morena rapidamente saltou para fora da cadeira, pulando em cima de uma mesa de metal que ainda estava intacta, fugindo das chamas. A loira levantou suas mãos e gritou, direcionando-as para o demônio e lançando-lhe jatos de água benta. A pele de Laurel borbulhou e chiou, queimando, mas a mesma rolou para o lado e desviou do ataque, chutando uma das pernas de ferro da mesa e a jogando no chão, usando o móvel como uma barreira. Ofegante pela dor que sentia, ela sacou a adaga branca de sua cintura e a empunhou, esperando até que o som de água desaparecesse e o fogo tivesse sido extinguido. Uma vez que isso aconteceu, ela partiu para o ataque corpo a corpo.

Laurel atravessou a sala como um raio, aproximando-se de Pandora o suficiente para esfaqueá-la. Entretanto, a bruxa pulou para fora de sua mira e novamente estalou os dedos, fazendo uma armadura de aço substituir o vestido vermelho. Evocou também uma faca, e passou a investir contra a morena. As adagas se chocavam no ar, lançando fagulhas para todos os lados. Pandora acertou um corte contra o rosto de Laurel, logo abaixo do olho, e aquilo serviu para deixá-la ainda mais possessa. A bruxa não era a melhor das gladiadoras, isso era fato, mesmo tendo vivido uma boa parte da vida assistindo os grandes shows do Coliseu.

Laurel deu um rolamento para o lado, desviando de mais uma facada de Pandora, decidida a acabar com aquilo, e se ergueu num único joelho, cravando sua adaga branca no peito da loira, quebrando o aço e fazendo o sangue negro espirrar para todos os lados da sala, antes luxuosa, agora mergulhada na escuridão das cinzas. A bruxa gemeu, uma careta triste de dor implantada em seu rosto, e gritou, deixando que sua essência escapasse de seus lábios e corresse até infiltrar-se uma parede branca, logo atrás de um quadro abstrato. O corpo da loira dissipou-se às cinzas, que voaram em direção a lareira acesa. Laurel limpou o sangue de seus dedos que manchara suas roupas, mas deixara o casaco de Dean intacto, e caminhou até a parede, indiferente à morte da mulher. Ela era sua amiga, talvez a mais fiel que tivera, mas que não entendera a magnitude do pedido que tivera de fazer e pagou por isso. Era algo com que o demônio poderia conviver.

Ela caminhou até a parede e puxou o quadro, revelando um cofre. Com a adaga branca, Laurel cortou sua palma, deixando o sangue escorrer, e espalmou a fechadura, vendo-a se abrir. A caixa era retangular, de cor marrom-acobreado, onde entalhados no bronze celestial, desenhos de monstros terríveis e das mais horrendas tragédias mundiais se estendia, cuidadosa e manualmente representadas em seu exterior. O fecho de ouro a mantinha fortemente trancada. Ela segurou o objeto e teletransportou-se para o carro dos Winchester, com um sorriso no rosto.

Ela chegaria no motel antes do nascer do Sol.

{...}

— Levantem e brilhem, chimichan- 

— Bom dia, garotos.

Laurel sorriu, abrindo a porta e entrando no quarto, vendo Cass e Sam sentados em suas camas enquanto Dean punha Living on a Prayer para ecoar pelo cômodo através do rádio do motel. Ela estranhou a canção, que não parecia exatamente com o que o loiro costumava ouvir, mas apenas ignorou o fato, pondo seus pertences em cima da mesa de madeira, ao lado das chaves do Impala.

— Onde você estava?

Depois da noite que Laurel passara a chamar de sentimental, Castiel e Laurel desenvolveram ainda mais a incrível relação fraternal que tinham. Ela já não se irritava mais com sua aflição, enquanto ele parecia começar a se preocupar em dobro. Cass era protetor por instinto; ele era um anjo, e seu dever era proteger, guardar e zelar por aqueles que sente afeto. Ela apenas sorriu e se sentou na mesa ao lado de seus pertences, colocando o casaco de Dean na cadeira onde estava novamente.

— Fui dar uma voltinha.

— E o que é isso? — Sam apontou para as coisas na mesa. Havia, além da caixa, uma sacola com alguns sanduíches e um x-burguer para o irmão mais velho.

— Almoço.

— Não, Laurel. A caixa estranha de aparência assassina e mística do seu lado.

Um "oh" escapou dos lábios da mulher e ela sorriu, pousando os dedos esguios na tampa da ânfora retangular. Ela dedilhou os desenhos e alisou o fecho com cuidado.

— Isto aqui é nossa maior chance de impedir que os Cavaleiros escapem novamente. A caixa de Pandora vai mantê-los contidos, e eu serei a única a poder abri-la e fechá-la.

— Como pode ter certeza? — Dean não queria contrariá-la, mas já havia enfrentado o demônio antes. Ele sabia das artimanhas que ele era capaz de usar — Se for um pacto de sangue, Lúcifer com certeza já deve ter uma amostra daquela sua luta.

— A caixa não funciona com sangue. Ela só obedece àquele que sabe seu verdadeiro nome. E como Pandora se foi, eu sou a única que o conhece. — ela sorriu, vencedora, e deleitou-se com o lampejo de surpresa nos olhos esmeraldinos do Winchester — Então, meninos, comam e preparem-se. Temos um cavaleiro para aprisionar.

{...}

A cidade de Talkeetna era agora a dona do silêncio. O Sol escondia-se atrás das nuvens, assustado, e a chuva banhava o asfalto como um sussurro ao vento, um pedido de desculpas da natureza em relação ao que estava acontecendo. O Impala era o único carro que se movia em todas as ruas do local, as rodas girando enquanto seus passageiros observavam tamanha quietude cair sobre o bairro. As casas coloridas e de jardins verdes vivos estavam vazias. Não havia cães correndo pelos quintais, nem senhorinhas voltando do mercado, ou crianças felizes chegando da escola.

Tudo estava em paz. Numa quieta, mórbida e assustadora paz.

Dean precisou controlar a ansiedade de pisar fundo no acelerador e correr pelo asfalto molhado até onde Braeden dissera estar o cavaleiro. Ao seu lado, Castiel fechou os olhos, concentrando-se por alguns segundos apenas para ter a confirmação do que já desconfiava. Enquanto a Morte estivesse solta, ele estaria preso à cidade, sem seus poderes. Laurel, por outro lado, já havia desaparecido. O Winchester mais velho xingou alto e pisou no freio do carro ao ver a morena surgir diante dos faróis, usando uma calça jeans escura, botas pesadas e uma blusa preta de mangas compridas. Uma espada embainhada descansava em suas costas. Ela pousou uma mão no capô do carro ainda em movimento; sua frente se ergueu com tudo e fez o veículo parar, logo caindo com força contra o concreto. Os três passageiros restantes desceram do Impala.

— Você ficou maluca?! — Dean berrou em fúria, verificando toda a parte de baixo do automóvel com cuidado, como se ele fosse um recém-nascido — Pode ter ferrado com uma das suspensões!

— Seu Impala é o menor dos nossos problemas, Dean. — ela parecia ainda mais séria do que antes. A caixa, dentro de uma mochila em suas costas, pesou sob as omoplatas — Ceifadores por todos os lugares. Eles nos deixarão em paz, mas são sinônimos para bodes expiatórios.

Laurel sacou a arma de suas costas; a espada, no estilo Rei Arthur, encaixava-se perfeitamente em suas palmas habilidosas, e seu peso não parecia interferir em sua movimentação. A mulher esticou a lâmina, como um Conquistador, e pareceu pousar sua ponta afiada no ombro de alguém. Tal parte se tornou visível aos olhos dos irmãos, mas rapidamente desapareceu quando a placa de metal parou de tocá-lo.

— Eu tenho um plano, mas não posso falá-lo. Não com esses parasitas alcoviteiros ao nosso redor. Aqui, me deem suas mãos.

Os irmãos estenderam suas palmas. A morena pressionou a ponta de seu dedo contra a lâmina de sua espada, vendo uma pequena bolha rubra com odor de ferro surgindo em sua pele. Ela então rapidamente desenhou dois símbolos nas mãos dos Winchester, e tocou seus lábios com o mesmo dedo. Laurel fechou os olhos, e os rapazes imediatamente ouviram sua voz. Dentro de suas cabeças.

"Eu quero que vocês encontrem a cabeça da Morte e a destruam. Castiel e eu iremos distraí-lo, e assim que eu der o sinal, vocês precisam esmagá-la e queimar seus restos. Só então seremos capazes de colocar o Cavaleiro dentro da caixa."

— Meu Deus, isso é telepatia? — Dean havia esquecido o fato de Laurel ter quase arrebentado seu carro e a encarava surpreso — Eu posso ler sua mente?

O demônio rolou os olhos ao ver o caçador franziu o cenho e encará-la fixamente. Ele conseguia mesmo ser um babaca quando lhe convinha. Laurel virou-se para o anjo, e com um sinal de cabeça, eles desapareceram. Sam bufou com pesar, como se o peso da situação finalmente começasse a cair sobre seus ombros. Dean soltou o ar pelo nariz, irritado, e acertou um tapa contra o capô do carro, logo o alisando como um pedido de desculpas.

— Como é que a gente vai encontrar a droga da cabeça?!

"Décima rua à direita, galpão de carros usados."

A voz de Braeden ecoando em suas cabeças parecia ainda mais brutal e poderosa. Ambos os irmãos reprimiram um calafrio e entraram no Impala, o motorista apressado finalmente deixando o acelerador livre para enfim atravessar as ruas como um raio negro, com o único objetivo de dar um fim em tudo aquilo.

Naquele prédio velho, à quase vinte metros de onde o carro havia os deixado, Laurel e Castiel espreitavam, em silêncio, o que o Cavaleiro estava fazendo. Ceifadores, com os olhares vazios e totalmente estáticos, encaravam sem expressão seu rei enquanto este passeava entre corpos carbonizados como uma criança no dia de Natal. Uma leve aura sombria voltada para a cor preta circulava sua silhueta esguia, e sua casca era realmente bonita; cabelos curtos arrumados quase que impecavelmente num topete mesclavam sua cor entre o cinza, o castanho e o negro, tais quais os pelos faciais que cobriam seu queixo e maxilar. Os olhos escuros brilhavam em certa loucura e escárnio, direcionados para os corpos logo abaixo de sua visão. Ele usava um terno cinza de giz Armani, sapatos de couro cobriam-lhe os pés, e uma blusa de linho branca completava seu caro e estiloso visual. A Morte se sairia bem em Hollywood se não fosse homicida e um tanto... Louco.

Haviam alguns pobres bastardos amarrados nas pilastras do grande salão no qual o Cavaleiro e seus lacaios se encontravam. Eles ainda estavam surpreendentemente intactos, apesar de desacordados, e Castiel precisou ser segurado por Laurel ao ver que, no meio das quase seis pessoas amarradas, encontrava-se uma menininha ruiva de prováveis seis anos de idade. Ele leu as palavras estão perdidos se desenrolar pelos lábios do demônio e sentiu seus ombros pesarem uma tonelada quando a garota foi desatada da pilastra. Morte deu um sorriso doce tão bem interpretado que nem ao menos parecia carregar o tamanho menosprezo que ele carregava. O homem tocou a testa da menina, e sua pele imediatamente tornou-se pálida e sem vida, enquanto os braços desabavam na direção do chão e seu corpo se incendiava. O anjo engoliu em seco, e Laurel decidiu que estava na hora de terminar com todo aquele show de horrores.

Os seres divinos deixaram seu esconderijo, caminhando duramente na direção do homem. Este sorriu, e estalou os dedos, as dezenas de ceifadores que antes preenchiam o local, agora haviam desaparecido. A espada que a morena carregava nas costas parecia queimar em brasas de adrenalina, ela queria enfrentar aquele desgraçado e acabar com ele de uma vez por todas. Cass não discordava. Morte abriu os braços e fez uma reverência, sem nunca abandonar o sorrisinho irônico que marcava seu rosto.

— Um anjo e um demônio trabalhando em conjunto? Oh, isto é melhor do que eu esperava! — o homem riu alto, ultrapassando um corpo carbonizado para alcançar os dois — Eu até me apresentaria a vocês, mas acho que não será necessário.

— Morte. — Laurel cumprimentou com a cabeça —  O que está fazendo nessa cidade quase que insignificante?

Castiel a olhou um tanto ultrajado, mas a mulher lhe lançou um olhar repreensivo e duro, fazendo-o voltar sua atenção para o Cavaleiro.

— Cara Laurel, este lugar é perfeito! Tranquilo, sem igrejas ao redor, e quase nenhum anjo se importa com ela. Aliás, estou surpreso... Como encontraram-me aqui? Fui tão cuidadoso.

— Tenho meus contatos. — ela enfim sacou sua espada, saboreando o som da lâmina sendo puxada de sua bainha — Agora, superstar, temo em dizer que seu tempo no palco acabou.

Ela então atacou. Morte riu, desviando graciosamente do primeiro avanço da morena e acertou-lhe um tapa forte o suficiente para mandá-la de face contra uma pilastra. Ela rosnou, irritada, e virou-se rapidamente a tempo de bloquear o golpe que o Cavaleiro lhe direcionara, agora com um longo machado de duas lâminas. Naquele curto espaço de tempo, Castiel investiu contra o homem, acertando-lhe um corte em uma de suas pernas com sua lâmina de anjo. O Cavaleiro rugiu em dor, e cravou o punho de madeira com força contra o rosto do serafim, o som do maxilar se partindo ecoando pelo lugar vazio. Laurel berrou em fúria, seus olhos tornando-se negros e flamejantes. O ódio estrondeava por suas veias.

Sam desviou de uma adaga que cortava o ar na direção do seu pescoço. Ele cravou a lâmina de demônios no peito do homem ruivo, vendo seu corpo brilhar e desabar no chão. Com o último dos capangas da Morte fora do caminho, Dean suspirou pesado e passou as costas da mão contra sua testa, limpando o suor. Esperava que Laurel e Cass estivessem se saindo melhor, mas suas esperanças não eram muito válidas. Agora, com o galpão limpo, poderiam procurar pelo amuleto do Cavaleiro sem maiores problemas.  

"DEAN, SAM, ACABEM COM A CABEÇA. AGORA!"

Os irmãos se entreolharam quando a mensagem ecoou como um rugido em suas cabeças. Não foram mais do que dez minutos de procura, e logo a lamparina antiga de puro ferro, vidros imundos e carregando uma enorme cabeça com couro podre surgia diante de seus olhos. Dean colocou o objeto no chão, passando a mão discretamente contra o corpo de um dos demônios para limpar seus dedos, e acertou um chute forte contra o vidro do mesmo, lançando cacos afiados para todos os lados. A cabeça rolou como um pêndulo apodrecido e parou diante dos pés de Sam, que ergueu os olhos para o irmão com a mais pura expressão de nojo. Ele ergueu o punho fechado, e Dean fez o mesmo. Balançaram as mãos três vezes para cima e para baixo, e abriram suas palmas; o mais alto estendera todos os cinco dedos enquanto o menor mostrara apenas dois deles, ganhando o jogo e a aposta. Samuel bufou irritado e aceitou a marreta que o loiro o oferecera, segurando a ferramenta com as duas mãos e encarando a cabeça com repulsa.

Com um mover dos músculos superiores, ele esmagou o amuleto, lançando partes de cérebro deteriorado, pele podre e tudo mais que um resto mortal de mais de mil anos pudesse ter.

— Eu vou acabar com você, babyboy! — Morte rugiu, numa gargalhada louca, enquanto pressionava o peito de um Castiel brutalmente ferido contra o chão, e mantinha sua garganta sob a lâmina fumegante de seu machado. Laurel não conseguia se mover graças á um feitiço, tão ferida quanto o anjo — VOU ACABAR COM TODOS ESSES MALDITOS VERMES DE ASAS!

E ele estava prestes a decepar o serafim quando o machado pareceu saltar de suas mãos, que agora pegavam fogo. O homem agora gritava em pânico, sacudindo seus membros como um louco enquanto . Os membros de Laurel voltaram ao seu comando, e apesar do ombro deslocado, ela conseguiu tirar a mochila de suas omoplatas e arrancar a Caixa de Pandora da bolsa, abrindo sua tampa e gritando seu nome verdadeiro enquanto a erguia na direção do Cavaleiro. O som de sucção e os gritos de Morte ecoaram por segundos antes de finalmente serem engolidos pela caixa. Laurel desabou no chão, esgotada, enquanto Castiel sentia seu próprio sangue empapar seu sobretudo.

Um Cavaleiro havia sido vencido. Agora, restavam três.


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Notas finais do capítulo

eeeeeeeeeeee acabou!
Gente, eu tô ultra orgulhosa desse capítulo, vocês não tão entendendo, mto apaixonada mesmo!!!
DAUREL MEUS PAIS, LINDOS SIM!!
Bom acho que é só né...

Até o próximo ♥



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