A Missão do Anjo escrita por Echo


Capítulo 4
As Vozes do Anjo.




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A Missão do Anjo.

As Vozes do Anjo.

O sinal que anunciava o final das aulas ressoou pelo colégio inteiro, fazendo os alunos voltaram-se e começarem a guardar seus materiais, todos saindo juntamente com a professora, ficando presos no movimento que era mais do que frequente na hora da saída. Mary Jane Whiles despediu-se de Charlie Jackson, que saiu correndo por entre os outros alunos. Esperou pacientemente Arthur Miles guardar suas coisas e colocar sua mochila sobre os ombros, para então olha-la com sua típica expressão de tédio.

— Você estava incrivelmente distraído durante a aula, Arthur! – a mestiça de cabelos louros comentou sorridente, rindo do olhar chateado lançado em sua direção. – Ah, por favor, só estou brincando com você!

— Eu só estava pensando, apenas isso. Nada demais. – o jovem Miles respondeu rapidamente, respirando fundo. – E quando a professora falou sobre mutação... não pude evitar de lembrar da mutação que essas coisas sofreram. Ugh, o passado me assombra, Mary Jane!

Enquanto Arthur narrava sobre seus pensamentos, Mary Jane sentiu uma breve brisa invadir a sala já vazia e soprar em seu pescoço, fazendo-a se arrepiar.

“Julgamento!”

“Perdida em um mundo desonesto!”

“Tola! Tola! Tola!”

“O Julgamento se aproxima!”

A mestiça arregalou os olhos e automaticamente tocou em sua bochecha, sem se importar que o jovem Miles ter notado aquele gesto involuntário. Parecia que milhares de vozes sussurravam em seus ouvidos fazendo-a olhar para os lados, certificando-se que nada estava ao seu lado.

“Com medo? Está com medo?”

“Hahah, que tola! Tolinha!”

“Pobre mestiça...”

“Fique atenta, Mary Jane!”

“O dia do Julgamento se aproxima!”

As vozes pareciam gritar em seus ouvidos, fazendo-a apenas se concentrar apenas naqueles gritos constantes, esquecendo-se que Arthur agora prendia sua atenção em sua figura, olhando-a com certo interesse.

“O dia do Julgamento se aproxima!”

“O Julgamento! O Julgamento!”

“Não tem como você fugir...”

“...muito menos se esconder!”

Depois de tal frase, um grito ensurdecedor tomou conta de sua audição, deixando-a desnorteada. Mary Jane colocou as mãos sobre seus ouvidos, grunhindo de dor ao ter seus tímpanos implorando por algo mais silencioso. O viajante no tempo arregalou os olhos, segurando de maneira rude os braços finos da mestiça, chacoalhando-a em um movimento de desespero.

— Whiles! Whiles! – em um movimento rápido, Mary Jane retirou suas mãos de seus ouvidos, finalmente percebendo que Arthur a chacoalhava com certa violência.

— Arthur... está me machucando. – a garota de cabelos louros choramingou, fazendo o garoto solta-la rapidamente, sem sequer pensar em se desculpar. Mary Jane respirou fundo e soltou o ar em um longo suspiro encarando um ponto fixo no chão. – Eu... eu estou bem. Só preciso... eu tenho que ir!

— Whiles! – Mary Jane virou-se rapidamente e correu até a janela da sala, subindo em seu parapeito. Arthur rosnou o sobrenome de Mary Jane, tentando chamar sua atenção. A garota de sardas olhou brevemente para trás antes de inclinar-se para frente e cair da janela, fazendo com que o jovem Miles sentisse seu coração parar; voltou a se acalmar ao ver a figura da mestiça sobrevoar por cima dos prédios, com suas tão características asas negras. – Mas que merda, Mary Jane...

. . . .

A filha do Arcanjo Oliver não se deu o trabalho de pousar em frente a calçada e entrar em sua casa pela porta da frente, simplesmente abriu a janela da sala e entrou rapidamente, fechando-a quase como um impulso. Jane Whiles, ao descer as escadas rapidamente ao ouvir aquele tão estranho barulho esbarrou com sua filha, que estava prestes a ir ao seu quarto.

— Querida, você chegou cedo! – Jane parecia assustada, isso era certo, mas espantou-se ao ver sua filha apenas balbuciar alguma coisa antes de subir as escadas rapidamente, ignorando os chamados da mãe. – Minha anjinha, o que houve? Que pressa é essa?

— Banheiro! – a mestiça gritou do alto da escada, rindo nervosamente. – Preciso ir ao banheiro! Já desço!

— Ah, tudo bem. – Jane respondeu compreensiva, mesmo que ainda estivesse em dúvida sobre aquela pressa toda. Enquanto descia as escadas e seguia em direção a cozinha, mal imaginava a correria que Mary Jane fazia no andar de cima.

Largou a mochila no chão, de qualquer jeito, e correu em direção ao banheiro, trancando-se lá ao entrar. Ofegante por sua própria euforia, Mary Jane apoiou suas mãos na bancada da pia, respirando fundo antes de soltar o ar em longos suspiros. Ergueu o olhar para o espalho, arregalando os olhos ao ver uma estranha figura negra atrás de si, lhe encarar com seus olhos famintos e seu sorriso quase que malicioso. Uma pressão fez-se em seu ombro, fazendo a garota soltar um grito e, quase que por instinto, fazer com que suas asas se agitassem, atingido o espelho, que facilmente quebrou-se, tendo seus pedaços espalhados pelo balcão.

Quando pode então sentir que três áureas aproximavam-se rapidamente, Mary Jane só teve tempo de pensar em destrancar a porta para a mesma ser quase arrombada pelo Arcanjo Gabriel e o anjo caído Lúcifer, que quase ocultavam a expressão de surpresa de Jane.

— Mary, minha querida, você está bem? – Jane passou por entre os dois homens da casa, embrulhando Mary Jane em seus braços, vendo com cautela a expressão de sua filha. – O que houve? Ouvimos você gritar e um barulho...

— Você quebrou o espelho? – Lúcifer, calmo como sempre, perguntou casualmente, vendo as bochechas da mestiça adquirirem um forte rubor.

— Sim, digo, não! Não foi de propósito! – atrapalhou-se em suas próprias palavras, afastando-se de sua mãe e gesticulando com ambas mãos. – Tem uma ótima razão para toda essa bagunça! É que... eu vi uma barata! Ela apareceu do nada, sério, e meio que me assustei... e acho que acabei causando essa confusão toda aqui.

— Barata? Não sinto a presença de nenhum outro ser vivo nesta casa. – Gabriel murmurou impaciente, olhando rapidamente para seu irmão. – Tem certeza que está tudo bem, Mary Jane? Está mais pálida que o normal.

— Vocês, homens da casa, não estão vendo que há uma barata nesta casa? – Jane perguntou divertida, cruzando os braços em frente ao peito enquanto encarava os rostos surpresos de ambos anjos. – Ugh, tirem esse bicho nojento da minha casa! Não precisam matá-la, apenas tirem-na daqui!

— Certo. – o Arcanjo de asas douradas crispou os lábios enquanto afastava-se da porta. – Vamos, Lúcifer, vamos achar essa pequena intrusa. Garanta que Mary Jane não cause nenhum estrago, e muito menos, machuque a si mesma.

Enquanto os dois anjos dividiam-se e procuravam pela misteriosa barata, Jane aconselhou sua filha a ir ao seu devido quarto, guardas a mochila que jazia no corredor, enquanto ela mesma cuidava daquela bagunça no banheiro.

— Desculpe, mamãe... prometo ser mais cuidadosa! – Mary Jane gritou enquanto corria até seu quarto.

A mestiça de sardas fechou a porta de seu quarto, encostando-se nela e deslizando até o chão, onde trouxe os joelhos até seu peito. As vozes enfim sumiram de sua cabeça, mas não aquela figura horrenda que estava atrás de si a poucos minutos atrás. Não conseguia entender o que se passava consigo, era tudo tão novo para si, principalmente aquela estranha O dia do Julgamento se aproxima.

Julgamento? Porque ela iria ser julgada? Pelo o que entendia, o Julgamento era onde Figuras e anjos eram julgados, condenados a viverem onde o Juiz decidia. Conhecia muitos anjos que foram considerados como caídos ao serem julgados pelo enorme Juiz – tal exemplo era Lúcifer, que quando fora banido do Paraíso, foi julgado seriamente pelo tão falado Juiz, tendo sua sentença como traidor.

Mas aqueles que eram julgados possuíam motivos para serem condenados, então porque Mary Jane receberia um julgamento? Sequer havia feito algum mal a alguém! Cuidava e respeitava a todos, como seus instintos de anjos lhe diziam. Ela era uma pessoa boa, então porque seria julgada?

Mary Jane já não conseguia mais pensar em nada, sequer a chegar a alguma resposta plausível para todas aquelas perguntas. Colocou sua mochila em uma cadeira e abriu a porta, sentindo o delicioso cheiro de comida no ar – em resposta, seu estomago deu enfim um sinal de vida.

— Mary, minha querida! – Jane chamou a mestiça no andar de baixo. – Venha comer~

. . . .

Arthur Miles não conseguia pensar em qualquer coisa que lhe distraísse enquanto dava uma pequena mordida em seu sanduíche. O ex-caçador de demônios vivia em um pequeno apartamento localizado em uma parte afastada no centro, um lugar tranquilo e com um mínimo de movimento.

Ao chegar naquela era, fora recebido pelo próprio Deus, que ordenou que alguns de seus anjos cuidassem do garoto. Aquele era o começo de sua nova vida, onde morou alguns anos com uma das guardiãs dos anjos; seu pequeno apartamento era aconchegante, do jeitinho que muitos dos anjos e aqueles que eram considerados como caídos deixaram para si.

Mesmo que estivesse com fome, não conseguia mais encontrar graça em seu sanduíche. Sua cabeça estava cheia de pensamentos sobre a estranha reação de Mary Jane e sua saída mais do que repentina. Mordeu a própria língua em desgosto, imaginando coisas terríveis.

Mary Jane Whiles, a mestiça em busca de sua missão como anjo, estava escondendo algo de si.

. . . .

Já se passava das 21h quando Mary Jane Whiles decidiu sair pela janela de seu quarto e caminhar um pouco pelas ruas frias de Creek Hill – bastaria apenas alguns minutos até perceberem que faltava uma áurea na casa.

Mesmo com um pouco movimento nas ruas, a mestiça olhou os dois lados da rua antes de atravessa-la, quase esbarrando em um homem que corria. O frio da noite em Creek Hill era agradável, um clima ótimo para se dormir e acordar disposto, mas naquele momento, vestindo apenas seu vestido branco com alças, o frio se tornava cruciante, fazendo-a esfregar os braços manchados de machucados já cicatrizados.

Sabia que deveria voltar, estava se aproximando da periferia da cidade, um lugar que se tornava altamente perigoso à noite, mas não estava com tanta vontade, ainda precisava organizar alguns pensamentos, deixar sua cabeça clara, sem pesos nem dúvidas.

Um baixo miado de um gato lhe chamou a atenção, antes da voz rouca e baixa de Arthur Miles chegar aos seus ouvidos.

— Mary Jane, – a mestiça se virou lentamente, vendo o garoto de cabelos negros usar uma roupa um tanto quanto grossa para aquela noite. – o que está fazendo andando pelas ruas a uma hora dessas? E ainda mais, na periferia? Não sabe o que pode lhe acontecer, importando se é ou não metade anjo?

— Eu precisava pensar, Arthur, tomar um a fresco. – a mestiça sorriu fracamente ao ver um pequeno gatinho branco olha-la com carinho. – Que fofo, não sabia que tinha um gato!

— Ah, não é meu. – o jovem Miles explicou rapidamente. – Alguém precisa pagar as contas da casa, então sendo necessário arranjar um emprego... cuido de bichos de estimação de pessoas, entende, como um pet shop ambulante. Neste exato momento, este rapazinho vai voltar para casa.

— Ah, sim... é melhor eu ir, não quero atrapalhar os seus negó–

— Quem disse que você vai embora? – o tom de voz de Arthur era autoritário, com uma leve pitada de preocupação. – A periferia não é um lugar muito legal de se andar por aí a noite, e repito que não importa se é um anjo ou não, coisas horríveis acontecem por aqui. – o jovem Miles deu de ombros. – Vou deixar esse rapaz com o porteiro e eu vou lhe acompanhar até sua casa, é muito mais seguro do que andar por aí sozinha, Whiles.

Mary Jane apenas concordou silenciosamente, vendo Arthur entrar no velho prédio atrás de si e debruçar-se sobre o balcão, à espera do porteiro. Enquanto esperava o amigo, a mestiça deu uma boa olhada ao seu redor, dando um passo para trás ao ver dois homens lhe olhando com segundas intenções – o mais baixo deles sobrou a fumaça de seu cigarro para cima, chamando a garota com o dedo indicador.

Que Deus tenha piedade de vocês. – a garota de sardas pensou tentando manter a calma. Uma pressão fez-se em seu ombro, como mais cedo, fazendo-a soltar um grito e mostra suas asas, novamente naquele seu instinto de proteção.

— Mas que merda, Mary Jane! Encolha essas coisas, não consigo ver! – Mary Jane corou bruscamente, sentindo-se mais do que envergonhada ao abaixar suas asas. Arthur massageou o rosto. – Ugh, se eu soubesse que os anjos fazem isso, teria feito questão de me manter longe de vocês!

— Eu... eu sinto muito! Achei que fosse... – a jovem de cabelos louros atrapalhou-se em suas próprias palavras, aproximando-se do viajante. – Achei que fosse um... homem. Perdoe-me Arthur, prometo tomar mais cuidado!

— Homem? – o garoto de cabelos negros olhou para o lado, cerrando seus olhos negros ao deparar-se com aqueles dois desconhecidos, ainda olhando a mestiça com certo interesse. – É melhor sairmos daqui... eu lhe avisei que a periferia era perigosa!

Arthur, sem delicadeza alguma, pegou a mão da mestiça e arrastou-a consigo para longe daquela área da cidade, resmungando qualquer coisa enquanto a mesma se desculpava e prometia ser mais cuidadosa. Ao chegarem a um lugar seguro, o garoto soltou a pequena mão da mestiça, andando ao seu lado com o rosto vermelho de raiva.

— Minha era foi devastada por demônios, e nem por isso esses malditos estupradores, ou qualquer merda que eles forem, agiam! Qualquer um era executado, sendo uma pessoa boa ou ruim!

— Arthur, você está me deixando um pouco desconfortável com esse assunto. – Mary Jane gemeu dolorida, enrolando-se em suas asas para tentar se aquecer contra o frio da noite.

— Desculpa... é que eu estou um pouco estressado com isso. – sentindo a adrenalina baixar em seu corpo, Arthur sequer reclamou quando uma das asas de Mary Jane lhe cobriram, trazendo-o para mais perto do corpo pequeno – ao menos, estaria perto o suficiente para ter certeza que a mesma não se machucaria. – O que foi aquele faniquito no final da aula? Porque você saiu do nada?

— Eu... não sei. – a mestiça gemeu culpada, rangendo os dentes. – Eu realmente não sei, Arthur... foi tão repentino que acho que sequer pensei sobre o que estava fazendo. Sinto muito por lhe preocupar.

— Não fiquei preocupado, só curioso!

— Mas estou com um pressentimento ruim... estou com medo, acho. – ao erguer o olhar, a mestiça percebeu que já estava mais do que perto de casa. Escondeu suas asas e virou-se timidamente para Arthur, adquirindo um leve rubor em suas bochechas. – Obrigado.

Os lábios finos de Mary Jane chocaram-se contra a bochecha corada de Arthur, sorrindo timidamente antes de virar-se e correr em direção a casa, sobrevoando a cerca viva que cercava o quintal. O jovem Miles tossiu fracamente antes de virar-se e caminhar em direção ao seu próprio apartamento, praguejando ao sentir seu rosto esquentar cada vez mais.


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Notas finais do capítulo

Ally Madson está aí por uma breve referência de minha saga de Creepypasta, onde Lúcifer meio que aparece por lá.



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